Igor Felippe: Lava Jato, demolição do Congresso e futuro de Dilma

Tempo de leitura: 5 min

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O martelo martela dia-e-noite

Governo Dilma quer enfrentar crise institucional abraçado com entidades patronais

Por Igor Felippe, dezembro 2, 2014 19:13, no Escrevinhador

Um segmento de jornalistas, blogueiros e analistas políticos que tem feito avaliações sobre o novo ministério do governo Dilma Rousseff enxerga nas escolhas da presidenta uma estratégia do governo para consolidar uma base aliada no Congresso Nacional.

As indicações dos senadores Kátia Abreu (PMDB-TO) e do Armando Monteiro Neto (PTB-PE) teriam como objetivo amarrar seus respectivos partidos para aprovar projetos de interesse do governo e barrar as iniciativas da oposição.

Meu amigo Luiz Carlos Azenha vê na matemática do Congresso a razão para as escolhas da presidenta, em uma conjuntura de redução da bancada do PT e crescimento da bancada ruralista.

“A bancada ruralista, de acordo com a Frente Parlamentar Agropecuária, tem o potencial de atingir 257 dos 513 deputados, ou 50% do Congresso. Além disso, o PMDB não é um parceiro confiável. Mais ainda, estamos diante de uma investigação da Petrobras cujo futuro é impossível prever. Por isso, do ponto de vista de sobrevivência política — friso, da matemática do Congresso –, faz todo o sentido indicar Kátia Abreu, do PMDB, para o ministério”, escreve Azenha (clique aqui para ler).

No entanto, o que intriga é que os senadores escolhidos não parecem ser os melhores nomes para consolidar a base parlamentar do governo.

Filiada ao DEM, Kátia Abreu foi uma dura opositora do governo Lula. Na transição para o governo Dilma, entrou para o PSD. Depois, foi para o PMDB, se aproximando da presidenta e fazendo um movimento calculado para se cacifar para o ministério.

Assim, Kátia Abreu é considerada uma “cristã nova” na bancada do PMDB, que não assumiu a indicação dela para o Ministério da Agricultura. Dilma está fazendo um esforço para incluí-la na cota do partido, mas existe a possibilidade dela entrar na cota pessoal da presidenta. Além disso, a ruralista ficou isolada na Frente Parlamentar da Agropecuária, com a aproximação com o governo.

O caso de Armando Monteiro Neto não é muito diferente, já que ele faz parte de uma ala minoritária do partido que defende a proximidade ao governo. A maioria da direção do PTB de Armando Monteiro Neto deu apoio formal a Aécio Neves na eleição presidencial. Derrotado no partido, o empresário aliado ao PT em Pernambuco apoiou a presidenta Dilma.

Kátia Abreu e Armando Monteiro Neto não controlam as máquinas partidárias nem representam as bancadas de parlamentares de seus partidos. Embora os ministérios e os benefícios que podem ser concedidos funcionem como um ímã para atrair deputados e senadores, esses não são os melhores nomes para consolidar a base do governo.

Dilma sabe dessa situação e, mesmo assim, optou por essas personalidades, que tiveram fidelidade à presidenta em um momento de divisão dos seus partidos. No entanto, a razão para a nomeação desses nomes parece que está fora do Congresso Nacional.

Se a dupla não ocupa papel de destaque nos seus partidos, tem bastante influência nas suas entidades de classe, a CNA (Confederação Nacional da Agricultura) e a CNI (Confederação Nacional das Indústrias). Aí está a chave para entender as nomeações.

A definição do nome do Ministério da Fazenda trilhou o mesmo caminho. O primeiro nome na lista era Luiz Carlos Trabuco, presidente do Banco Bradesco, que ocupa o Conselho Consultivo da FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos). O comandante do banco Lázaro Brandão não liberou o preferido de Dilma, mas indicou e emplacou Joaquim Levy no posto.

Dilma parece estar mais preocupada em agregar as principais entidades empresariais do país ao governo do que com os deputados e senadores. Por quê? Porque a Operação Lava Jato vai demolir o Congresso Nacional. Ainda não se sabe quantos parlamentares serão atingidos pelas investigações, mas as especulações apontam de 80 a 250 deputados e senadores citados pelos delatores.

O governo tem essas informações e está construindo um andaime para além do Congresso para garantir sua sustentação para enfrentar a demolição, que começará com uma crise profunda do Parlamento, apimentada com a eleição do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB) para a presidência da Câmara.

A tática da presidenta Dilma para enfrentar o vendaval que virá com a Operação Lava Jato é garantir a sustentação do governo por fora do sistema político, se equilibrando nas entidades dos banqueiros, dos industriais e dos fazendeiros.

Em vez de negociar com intermediários (deputados e senadores), a presidenta abre seu governo para representantes orgânicos do poder econômico, que financiam as campanhas dos parlamentares, com a expectativa de aplacar uma ofensiva dos setores conservadores no quadro de uma crise institucional.

A conta que o governo faz não fecha porque as entidades patronais estão tão enferrujadas quanto as engrenagens da política institucional. Tanto a CNI como a CNA passaram por um processo de burocratização, que cria um fosso com suas bases e mantêm no comando figuras que se confundem com o sistema político-partidário.

O principal símbolo dessa fusão é o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo ), Paulo Skaf, que tem colocado seus interesses pessoais à frente da entidade que comanda, criando fissuras no seio da burguesia industrial paulista.

A Febraban representa um punhado de banqueiros e atua mais nos bastidores, então não são tão visíveis os elos dos banqueiros com os políticos. No entanto, as tabelas do TSE com as contas dos partidos demonstram o volume de recursos destinado para o financiamento das campanhas eleitorais…

A crise do sistema político que demolirá o Congresso Nacional, com o impacto das investigações da Operação Lava Jato, terá como efeito dominó um vendaval nas entidades patronais que estão associadas ao modelo institucional vigente desde a Constituição de 1988.

Assim, o governo deveria se escorar e fortalecer as organizações progressistas, movimentos sociais, centrais sindicais e entidades estudantis, que defendem a única proposta que responde ao quadro de crise generalizada das instituições: a convocação de uma Assembleia Constituinte Exclusiva do Sistema Político para fazer as mudanças que um Congresso submetido ao poder econômico não tem capacidade para realizar.

Ao entregar o ministério aos representantes dos banqueiros, latifundiários e industriais, Dilma desgasta o patrimônio político construído no segundo turno e perde força no campo progressista, que pode sustentar a democracia ao pressionar o governo a dar um passo à frente com a convocação de uma Constituinte, para desatar o nó das reformas estruturais.

O horizonte político é bastante nebuloso e o céu está fechando. O governo Dilma admite a gravidade da crise que virá ao construir um andaime para além do Congresso para sobreviver diante do quadro de instabilidade institucional, mas ao se agarrar às entidades patronais terá pouca capacidade de resistência e pode levá-las junto para o buraco negro da política brasileira.

PS do Viomundo: A esta altura, Dilma e Lula sabem muito mais sobre a Lava Jato que qualquer um de nós. Como escrevi, o futuro da crise é completamente imprevisível. De certa forma, o PT é refém do próprio quadro que ajudou a desenhar: não teve a ousadia de criar meios alternativos de comunicação que permitissem à opinião pública acesso a uma versão alternativa à apresentada pelas famílias midiáticas que apostam na criminalização do PT enquanto protegem o PSDB.

Leia também:

Renato Rovai: A Lava Jato e a demolição do PT


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Comentários

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O Mar da Silva

Parabéns Azenha. Esse monstro representado pela distorção dos fatos e invenções de verdades que o PIG representa poderia ter menos força se o governo não despejasse centenas de milhões de reais por meio de anúncios de estatais. Não precisaria de aprovação de lei no Congresso para isso.

O PT se tornou vítima do que criou quando abriu mão de quase toda a sua história de uma mudança pela via democrática ao se aliar ao PMDB e afins oferecendo favores sem cobrar fidelidade com uma pauta de reformas mínima.

Não sei quem foram os líderes do partido que patrocinaram essa guinada, mas o resultado está aí: os ganhos sociais não foram fruto de alteração na estrutura de acumulação que impera na sociedade e nem de leis que garantissem recursos e estrutura para uma boa coberto de serviços públicos.

Maria Aparecida

Quem governa o país são essas entidades patronais enferrujadas e não organizações progressistas, movimentos sociais, centrais sindicais e entidades estudantis!

Dilma vai usar essas entidades patronais para dar espaço aos verdadeiros donos da governabilidade deste país!

O MOMENTO É DE ESPERA!!!

    WANDERLEY SANTOS FERRAZ

    noticias ruins para o PIG, o Y-BOFE, tornou a se vender; dessa vez foi prá valer e sem retorno. a empresa alemã compradora, sinaliza que o seu trabalho é sério, dá prá imaginar que não faz O PAPELÃO QUE O Y-BOFE sempre fez, como sócio do PIG. os marinhos já estão atrás da presidenta DILMA; sabe se lá o que eles querem!, será sobre a LEY DOS MÉDIOS, essa REGULAÇÃO, creio que não tem preço, o govervo e a sociedade devem falar mais alto, em fim chegou nossa hora. a óia, coitada, tá frita, vai se resumindo cada vez mais…nem os consultórios e escritórios querem esse material para os clientes em sala de espera…perceberam que os clientes observam mais outras alternativas de leituras rápidas e temas diferenciados, também uma baita de TV a cabo 42p fixada na parede, com imagem de qualidade;;;como fica a ESPIA?, (fora é claro)!, O momento está maduro para promover as REFORMAS dos “três poderes”, a presidenta tem na população, creio, um refôrço fundamental para incrementá-las….É ESSE MUDA MAIS…que o país precisa….

Regina Fe

Não é crível que meia dúzia, ou menos que isso, de famílias dominem a mídia num país continental e rico em diversidade como o Brasil. A Dilma e o PT têm a obrigação de enfrentar essa questão. No mínimo, o PT precisa ter um jornal popular e distribuir nas ruas, como esses tantos panfletos que são entregues em São Paulo nos metrôs e nas avenidas corporativas. Escolhi o PT, o Lula e a Dilma para mudarem o Brasil e mostrar a verdade. Dilma disse no segundo turno que a palavra chave seria verdade. Agora, não pode aceitar as mentiras criadas diuturnamente pela máfia do pig. O PT e a Dilma e o Lula não têm o direito de se omitir mais. Não podem ser condescendentes ou se acovardar.

FrancoAtirador

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Alguém ainda tem alguma dúvida de que existe uma ampla articulação

entre Diplomatas, Parlamentares do Congresso, Governadores de Estado,

Membros do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal,

Industriais e Banqueiros, todos associados com os Empresários de Mídia,

para cassar o registro do Partido dos Trabalhadores e derrubar o Governo?
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Mauro Assis

Eu já nem acho possível que a Dilma seja tão ingênua de buscar esse apoio nas classes patronais… é mias ou menos igual o Jango andou costeando o alambrado dos milicos em 64, e deu no que deu.

Eu acho que ela simplesmente vai colher o que plantou: uma divisão entre ricos e pobres, se elegeu com o voto dos pobres mas quem manda mesmo são os ricos.

FrancoAtirador

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CAUSA E EFEITO

“O PT é refém do próprio quadro que ajudou a desenhar:
não teve a ousadia de criar meios alternativos de comunicação
que permitissem à opinião pública acesso a uma versão alternativa
à apresentada pelas famílias midiáticas
que apostam na criminalização do PT enquanto protegem o PSDB”
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