Gilson Caroni Filho: Serra, um press release perigoso

Tempo de leitura: 3 min

Serra, um press release perigoso

Gilson Caroni Filho, na Carta Maior

Sem fortuna nem virtù, a candidatura Serra deve ser encarada como de fato se apresenta: uma irresponsabilidade política que busca construir sua persona a partir de clichês oratórios de desqualificação da principal oponente, a ex-ministra Dilma Rousseff. O teatro político que pretende montar, tentando se valorizar no jogo da sucessão, pode vir a se revelar o fracasso da temporada, não só pela fragilidade pessoal do ator como pela biografia do elenco de apoio. Mais dia menos dia, terá que descer a cortina, encerrando a apresentação.

Quando diz não ser “ventríloquo de marqueteiro nem de partido, nem de comitês, nem de frações, nem de todas aquelas organizações antigas de natureza bolchevique, que do bolchevismo só ficaram com a curtição pelo poder, porque utopia não ficou nenhuma”, importantes perguntas se impõem. Afinal, por quem fala José Serra? Ou, melhor: quem, dissimulando o timbre natural da própria voz, fala por ele? Quem é o boneco nesse jogo mal-ajambrado?

A coligação oposicionista é uma gigantesca operação de engodo promovida pela mesma dupla (PSDB/DEM) que, entre 1994 e 2002, se superava, dia após dia, em matéria de socialização de prejuízos privados e entrega do patrimônio público. Em oito anos o país quebrou duas vezes, as dívidas, interna e externa, cresceram descontroladamente. O grau de dependência se precipitou e a desigualdade alastrou-se.

O descaso com a questão social – vista até hoje pelos tucanos como um estorvo para as contas do governo – fez com que a miséria e o aviltamento dos salários se expandissem. Dados do Banco Mundial, em 1997, apontavam 36 milhões de brasileiros com renda inferior a US$30, o que explica o número assustador de crianças que trocavam a infância e a escola pelo trabalho precoce. Enquanto isso, o governo FHC excluía o imposto sobre as grandes fortunas do seu pacote fiscal. Quebra-se o país, jamais um banco, ensinava o príncipe dos sociólogos.

Em 2001, a mudança no fluxo de capitais agravaria o desequilíbrio externo brasileiro, com a entrada de recursos estrangeiros caindo US$ 10 bilhões em relação ao ano anterior. Para piorar a situação, cresceria a remessa de lucros e dividendos, devido à crescente internacionalização da economia ocorrida na segunda metade da década de 1990. Tudo isso levava a uma valorização excessiva do dólar.

E o que fazia FHC e seu séquito diante da crise do modelo? Segundo o Sindicato da Micro e Pequena Indústria de São Paulo (Simpi), enquanto 80% das microempresas estavam inadimplentes, o governo arquitetava, via BNDES, o socorro das grandes corporações endividadas em dólar. De fato, uma garantia ao mercado que “aquelas velhas organizações bolcheviques” jamais ousariam dar.

É o retorno de catástrofes dessa natureza que a candidatura Serra promete. O neoliberalismo, expressão recente da direita, não hesitará em fazer uso de conhecidas “reengenharias” para destruir o Estado, deixando sobreviver somente os órgãos que garantam os interesses mercantis. Serra é o ventríloquo de um grupo que está convencido de que é necessário reciclar o manual de terra arrasada. O pequeno remanejamento da aliança partidária que deu apoio ao governo de FHC não traz novidades substantivas. O que é o PPS senão o adorno de conhecidos arrivistas?

O DEM (antigo PFL) tem um histórico de hipocrisia, cinismo e empulhação. A mudança de nome, apontada por suas lideranças como primeiro passo de ajustamento necessário, não resistiu a duas primaveras. A operação “Caixa de Pandora”, apontando o governador de Brasília, José Roberto Arruda, como principal articulador de um esquema de corrupção envolvendo integrantes do seu governo, empresa com contratos públicos e deputados distritais, revelou o DNA da “novidade”.

Das minúcias, futricas, esperneios, conselhos e advertências desse espectro político, a grande imprensa recolhe a matéria-prima para fazer seus boletins de campanha. José Serra, o acaciano retórico, produto híbrido do latifúndio com a banca, é um personagem de press release. Não deve ser levado a sério quando fala em modernidade. Seu projeto autoritário precisa da mídia com poder de Estado e do mercado como única instância de legitimação.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil


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Comentários

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ciro araujo

Abril Educação compra Anglo e forma novo vice-líder do setor
Os 211 mil alunos e as 484 escolas do Anglo se somarão às 350 unidades do Sistema de Ensino SER; grupo deve faturar R$ 500 milhões

Marina Gazzoni, iG São Paulo | 12/07/2010 18:34

A Abril Educação anunciou nesta segunda-feira a aquisição de todas as empresas do grupo de ensino Anglo. O valor do negócio não foi divulgado, mas a expectativa da Abril é que o segmento de educação atinja uma receita de R$ 500 milhões neste ano, já considerando as duas marcas. Com este resultado, a Abril Educação será o segundo grupo de ensino do país, atrás apenas da rede Positivo.

O Anglo possui 211 mil alunos em suas 484 escolas das bandeiras Anglo Sistema de Ensino, Anglo Vestibulares e SIGA, empresa de preparação para concursos públicos. A Abril Educação já detinha o controle das editoras Ática e Scipione, especializadas em livros didáticos, e o Sistema de Ensino SER, que reúne 85 mil alunos em suas 350 unidades.

Gestão

As duas empresas continuarão a operar separadamente. Os executivos Guilherme Faiguenboim e Assaf Faiguenboim, que representam os fundadores do Anglo, continuarão à frente da empresa, ao lado de Manoel Amorim, presidente da Abril Educação.

carlos hely

Por essas e outra que DILMA irá vencer já no primeiro turno!

Pedro Ayres

É muito boa a análise feita por Gilson Caroni, por sinal, dono de um elegante texto, pois, mesmo sem ter vivido àqueles tempos de 1963/64 lá na sede da UNE, recupera um quadro que já era bem visível – o extremado personalismo e um certo aniticomunismo light, típico de alguns quadros da AP oriundos da JUC. É até engraçada a observação do José Serra a respeito da "curtição pelo poder, porque utopia não ficou nenhuma", cultivada por bolcheviques brasileiros, quando, a exemplo do que faz até hoje, já tinha o blasé comportamento de acordar somente depois das 12 horas, embora adorasse o semanal uso da ponte-aérea Rio-São Paulo para visitas familiares. Ou seja, tinha um acendrado gosto pelos ritos e pequenos privilégios do cargo, o que nem sempre tinha correspondência no dia-a-dia da entidade. Uma prática que, pelo visto, mesmo sem ter sido um dos bolcheviques nacionais no discricionário usufruto do poder, fez questão de cultivar com esmero e exemplo de um bom executivo.
Entretanto, como não poderia deixar de ser, faz a mais perfeita confissão de seu ideário político ao "afirmar" o fim da utopia, da mesma forma que Fukuyama disse que a História tinha acabado. Ou seja, como tem uma visão arrivista dos processos históricos e políticos, jamais seria capaz de sonhar um sonho impossível e dele fazer o seu rumo. Assim, nada mais natural do que mudar a polarização de sua bússola política, embora, como a análise prospectiva não é o ponto forte de quem pensa desse modo, quando os polos naturais e verdadeiros começam a determinar os concretos pontos cardeais do processo histórico, só resta a "tática' da desqualificação do adversário e a mentira como meio de convencimento massivo.

LUIZ CARLOS DA SILVA

to com sono!!!

Roberto Locatelli

Caramba, o prof. Gilson não perdoa, massacra!

Morvan

Belíssimo texto, este do sr. Caroni. O perigo de uma eventual (felizmente, a cada dia mais remota) escolha do Zé Pedágio para presidir o país reside no fato de ele espelhar a própria mídia que o sustenta: ambos são – sobejamente – sacripantas. Quer dizer, para eles importa conseguir o objetivo. Como seria conquistado, e a qual custo…
Não se pode nem alegar, no caso do partido político cognominado PIG, ausência de alternativas ao Zé Obcecado, pois todos aqueles que a ele se apuseram como alternativa eleitoral, dentro do arco de alianças do PSDB/PFL e associados, levaram uma "dossiezada" mortal. É o próprio modus operandi dos Zé Obcecado / PIG que lhes colocou neste feitiço do tempo; a derrota é iminente, eles sabem disto. O "rega-bofes" oferecido pela matriaraca dos Marinho à grande Dilma parece corroborar e até mesmo afunilar esta assertiva.
Longa vida à mulher de luta Dilma Roussef. E viva o povo brasileiro.
Morvan

Antonio Lyra Filho

Henderson, não se necessita de argumento novo, basta o velho.

SérgioFerraz

Quem viveu os tempos tenebrosos do neo-liberalismo sabe bem o mal que o mesmo causou para população brasileira.
Quanto a Serra, quem até pouco tempo o teve como governador, sabe que suas idéias e sua maneira de pensar a administração pública continua a mesma, aquela do estado mínimo.

ttonucci

Fortuna e Virtú, Maquiavel. Um príncipe "furado".

beattrice

Esse texto mostra à perfeição como funciona a máquina tucana, e para constatar o resultado dela a longuissimo prazo, basta olhar o descaso social e o endividamento econômico de SP, o retrato acabado do "fracasso da temporada, não só pela fragilidade pessoal do ator como pela biografia do elenco de apoio".

robledo

Serra é um candidato tão fuleiro que precisa utilizar os programas do Lula para inventar o seu. Não tem idéias na área social, até porque seu partido é um partido de elites para as elites, e seu partido poste os demos fazem parte do que existe de mais atrasado neste país em termos de política, remontando os mesmos coronéis do século 18.

monge scéptico

Pé de pato mangalô tres vezes!!. É fato. E o artigo só nos aviva a memória. O discurso de serra é vazio
de conteúdo. EleDISCURSA para si mesmo e um pequeno grupo de áulicos que por condicionamento
segue o toque da sinêta(plim plim).
Temo por esses discursos, por que nosso povo, ainda é muito marcado pelos
"senhores", os 'coroné" antigos dono da vida e da morte e também do voto nos interiores do BRASIL.
Por atavismo e por não querer "problemas", ainda dão ouvidos a esses cantos de sereia. ARGHHH!!!!

Ed.

Os argumentos são realmente velhos, Hend. Um dos paises com maiores recursos naturais e potenciais do mundo foi mantido no atraso por séculos, graças a gente hoje representada pelo Chirico, para privilégio de poucos…

O novo é que começou a mudar… Tenha medo não! … A esperança venceu o medo…

PS: O que vc quis dizer com "sobre-eminente" é vampiro voando alto, certo?

Jorge de Souza

Acho que esse Henderson_hds é o próprio Serra com pseudonimo. Ninguém seria são burro assim.

    Marat

    O Serra não fala por si, ele usa o Mainard e o Azevedo…

Carlos

Insisto: que Henderson discorra sobre a tal "tese de doutorado" do Serra – aquele que, feito a Conceição (que não é a Lemes), "ninguém sabe, ninguém viu"….

Marat

O Serra, a exemplo de Maluf, Alckmin, FHC, Collor et caterva é mais uma infeliz invenção da direita, devidamente incensada pela nossa torpe imprensa!

luiz alberto barbosa

Nao muda a ladainha porque o SERRA nao muda ele foi e continua sendo o apce do NEOLIBERALISMO, AUTORITARISMO e NOJO A POBRE. Obviamente aqueles que sao rejeitados tambem o rejeitam. MINHAS HOMENAGENS POSTUMAS A ELE.

Vlado

Caro Henderson_hds,
É muito provável que você tenha razão ao afirmar que os críticos "dizem sempre a mesma coisa" sobre José Serra.
O problema é que o ex-governador comete sempre as mesmas estultices, diz as mesmas bobagens e age da sempre da mesma forma autoritária. Tenha certeza que se ele começar a fazer bobagens novas e inusitadas as críticas também mudarão.
Abraços e um bom final de semana
Vlado

@kalangus

Henderson, o problema é que o Serra é sempre essa "mesma coisa", e nós de São Paulo (a parte mais espertinha) já sabe o que virá com ele no governo. Eu como professor do estado iria procurar outra profissão.

    Henderson_hds

    Ele propõe gratificações pela capacidade do professor.
    Ele colocou duas professoras na mesma sala.

    E a Apeoesp admitiu que a greve era eleitoral.

    São Paulo está acima da média brasileira no que concerne à educação.

    Carlos

    Por que as universidades paulistas fugiram do Eben?

    Carlos

    Ops!
    ENEM.

    Ed.

    Parece que vc não leu o post. Há uma avassaladora "fortuna" de resultados comparativos favoráveis à Lula contra FHC e seu ministro "diretor estratégico" da privataria. E nos traz "trocadinhos" farsescos de "propostas de efeito", como professor dando 10 a todo mundo pra receber moedas a mais e 2 professores onde falta professor. Muitos estados estão "acima da média". Estatística básica.
    O Serra não faz o que fala, e fala o que não fez . É dissimulado. E não parece uma pessoa emocio nalmente saudável. E tem intenções e ações pouco transparentes. Parece na verdade um sujeito até perigoso com o poder…
    Vc parece aquele torcedor para quem contra "argumentos não há fatos"…

    @kalangus

    Pois é..as idéias de quem segue outras termina assim: http://revistaeducacao.uol.com.br/textos.asp?codi
    Prá vc ver que copiar nem sempre é um bom negócio..lá já está terminando..quanto tempo vai demorar para perceberem aqui?
    Amigo…nunca vi duas professoras por sala..e quando vi sim, foram estagiárias..pessoas que nem formadas eram..e em uma escola apenas que trabalhei de tempo integral.
    A greve não teve a força que vc diz, pois saiu pouco na mídia que adora o trololó do Serra..mas conseguimos derrubar a secretária..Olha..acho melhor vc buscar outra fonte de informação..faz tempo que São Paulo anda atrás..e por ser o estado mais rico da federação deveria estar beeem na frente..não acha?

    Marcelo

    Nunca me referi a ninguém no universo digital desta forma, mas serei obrigado: CALA A BOCA OFÉLIA.

    beattrice

    Os trolls estão muito despreparados, não combinam com um candidato tão "preparado".

    Sergio Castro

    Mentir é muito feio, Henderson, resultado recente das pesquisas de performance escolar mostra SP lá em baixo.

Luiz Carlos

Henderson, o problema é que o Serra é sempre essa "mesma coisa", e nós de São Paulo (a parte mais espertinha) já sabe o que virá com ele no governo. Eu como professor do estado iria procurar outra profissão.
Mas..acho que vai dar Dilma, né? Ah..por que vc não aproveita e fala pro tio rei abrir os comentários para pessoas que pensam diferente dele?

Jairo_Beraldo

É realmente de impressionar como o Zé é um péssimo ator. Não consegue enganar nem o mais retardado mental. Suas falas são sonsas, destila mentiras cabeludas de forma tal, que faz com que as pessoas riem de tanta sordidez. Pobre Zé….

J. Eduardo Camargo

De fato, Serra representa o atraso do atraso do atraso! Ele, os demo-tucanos e a mídia grande decadente sonham com a volta do Brasil à condição de Banana Republic. Um país de "bom tamanho" para os inefáveis 30 milhões de privilegiados e "aspirantes ao privilégio", diria Mino Carta. Um país em que a maioria dos cidadãos (ou não-cidadãos, na visão torpe deles!) deve padecer na pobreza, na miséria absoluta, na violência e na desesperança. Desse Brasil de pesadelo, eu quero, todos devemos querer, distância total!

Carlos

Cabra porreta o Caroni!

Henderson_hds

Deu-me medo essa dissertação. Nunca havia ouvido. Esse é o mal de vocês: na ânsia de desconsiderar o sobre-eminente José Serra, dizem sempre a mesma coisa. Qual é essa "mesma Coisa"? Esse texto do Gílson resume bem. Uma ladainha que se sucede ano após ano. Nenhum argumento novo.

    Sergio Castro

    Sobre-eminente, o Serra? Esta é a maior estultice que já li por aqui, vê se cresce homem!

    Scan

    Mas o que fazer? O D. Chirico é sempre o mesmo boneco de ventríloco, ano após ano.
    Se ele mudasse os discursos (hua! hua! hua!) poderíamos escrever coisas diferentes.
    Mas não! É sempre o mesmo trololó.
    Temos criatividade, mas ele não ajuda…
    Sentimos muito, Henderson, mas tente o blog do Reynaldo, o "jênio". Aqui voce está meio deslocado, sua pontuação é baixíssima e temos mais o que fazer além ouvir sandices de puxa-sacos da direitalha decadente.

    jose dantas

    Que texto maravilhoso. Estou mandando para todos os meus contatos de e-mails, Já imaginou henderson se não existisse a internet? O Brasil estaria cheio de zumbis como vc. fabricados em série por essa imprensa nojenta que domina o país.

    Christian Schulz

    Esse "sobre-eminente" entregou o estilo Hariovaldo Prado.

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