Egito rejeita “ajuda” e condições impostas pelo FMI

Tempo de leitura: 3 min

O Egito recusou as condições impostas pelo Fundo Monetário Internacional para conceder-lhe o empréstimo solicitado de mais de 3 bilhões de euros, por entender que violam a soberania nacional e atendendo à pressão exercida por manifestações populares. A decisão foi anunciada pelos governantes militares que assumiram o poder após a queda de Mubarak. Algumas das condições impostas pelo FMI e pelo Banco Mundial incluíam a privatização de bancos e uma maciça redução dos subsídios para energia e alimentos e já tinham desagradado a população.

por Emad Mekay, no IPS, via Carta Maior

O general Sameh Sadeq, integrante do conselho militar governante, afirmou que foram suspensos outros pacotes que estavam sendo negociados com o Banco Mundial em razão de “cinco condições que atentavam contra os princípios de soberania nacional”, informaram vários jornais locais. Mas não foram dados mais detalhes sobre o assunto.

Se tivesse aceito, o Egito seria o primeiro país a receber dinheiro do FMI no Oriente Médio após a Primavera Árabe, levante popular contra os regimes autoritários apoiados pelo Ocidente iniciado no ano passado. O FMI anunciou em maio, durante a cúpula do Grupo dos Oito países mais ricos do mundo, que poderia emprestar mais de 24 bilhões de euros aos Estados do Oriente Médio nos próximos anos.

O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, anunciou nesse mesmo mês que poderia conceder cerca de 4 bilhões de euros em dois anos ao Egito e à Tunísia para contribuir para a modernização das suas economias. O Cairo teria recebido 3,1 bilhões de euros desse pacote. Os movimentos revolucionários começaram nesses dois países antes de se espalhar pela região.

A declaração feita no dia 28 pelo general Sadeq contradiz as do primeiro-ministro, Essam Sharaf, e do ministro das Finanças, Samir Radwan, sobre os empréstimos não estarem acompanhados de condições. Os funcionários ocupam os cargos interinamente desde a queda do presidente Hosni Mubarak em 11 de fevereiro deste ano. Ambos defenderam publicamente a necessidade de empréstimos para espantar o fantasma do déficit, principal argumento de muitos países que solicitam ajuda das duas instituições multilaterais de crédito.

A decisão foi anunciada pelos governantes militares que assumiram o poder após a queda de Mubarak. Algumas das condições impostas pelo FMI e pelo Banco Mundial incluíam a privatização de bancos e uma maciça redução dos subsídios para energia e alimentos e já tinham desagradado a população.

O ministro das Finanças teve que voltar atrás e escreveu no seu site que a decisão de rejeitar os empréstimos ocorreu após “debate público e consultas ao Conselho Supremo das Forças Armadas” (CSFA), à frente do governo interino. Também informou que após modificar o déficit orçamental este ficou em 15,4 bilhões de euros, em relação aos 19,6 bilhões de euros previstos antes de aceitar o empréstimo do FMI.

O CSFA, que cumpre funções presidenciais até ser eleito o novo parlamento em setembro, disse que os fundos locais e regionais permitem não recorrer às instituições multilaterais de crédito. “Pode-se cobrir o déficit com o mercado local e com empréstimos e assistência de nações amigas e outras instituições internacionais”, diz a declaração do Ministério das Finanças.

Nas últimas semanas, Arábia Saudita, Estados Unidos e Quatar, entre outros, prometeram grandes somas de dinheiro ao Egito. Os bancos locais podem cobrir facilmente o déficit, afirmou Moustapha Abdelsalam, especialista do jornal de negócios Al Alam Alyoum. O governo conseguiu 13,8 bilhões de euros internamente.

A decisão do CSFA acompanhou os protestos populares. Vários ativistas alertaram que, com os novos empréstimos o Egito poderia ficar sujeito às condições do Banco Mundial e do FMI, bem como à pressão externa, o que muitas pessoas temiam que pudesse acabar com a revolução.

“Os empréstimos do exterior contradizem os princípios da revolução que reclamavam ser livres de toda pressão, local e estrangeira”, diz uma declaração do Conselho de Administração Revolucionária, uma organização não governamental formada após a queda de Mubarak por defensores da democracia que enfrentaram as forças de segurança do regime. “O povo egípcio, que está começando uma nova era, não quer fazê-lo com novos empréstimos. Preferimos passar fome a mendigar a essas instituições”, afirma o comunicado.

Surpreendeu a solicitude do governo de Sharaf por ser interino e não ter suficiente autoridade. Foi criticado por tomar essa decisão carecendo de representação popular.

O Banco Mundial, o FMI e outros bancos multilaterais de desenvolvimento anunciaram a “Associação Deauville para o Oriente Médio” para conceder empréstimos a outros países da região, no contexto da cúpula do G-8 realizada em maio nessa cidade francesa. O Banco Mundial prometeu 3,1 bilhões de euros ao Egito nos próximos dois anos para compensar a queda das reservas e o orçamento, e financiar as mudanças económicas a fim de fortalecer os seus projetos de investimento e créditos.

Agora é esperar para ver se desta vez os países da região seguirão o exemplo do Egito.


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Comentários

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Marcelo

Resumindo , o FMI empresta mas antes voce tem que tirar beneficios do povo para dar a banqueiros . Simples assim .

    João

    vc tem q tirar "beneficios" do povo por um motivo bem simples:

    vc está quebrado e não tem dinheiro pra manter os "beneficios" q te quebraram!

    a não ser q vc pense q estão te emprestando dinheiro pra vc continuar gastando mais do q pode…

Nelson

A receita do FMI para o Egito em nada difere da apregoada para outros países: apenas, mais do mesmo.
Ou seja, mais desregulamentações, mais privatizações, menos direitos trabalhistas e menos investimentos nas necessidades básicas do conjunto da população.
Do outro lado, mais oportunidades para o grande empresariado, nacional e estrangeiro, fazer lucros cada vez maiores.
Então, o povo egípcio tem mais é que voltar às ruas e exigir de seus governantes o rompimento com o FMI e o início de um novo caminho, verdadeiramente autônomo, na tentativa de um desenvolvimento realmente sustentável.

Marco A Rodrigues

Não duvido que depois disso a otan(otanstão), vá querer atacar o Egito.

João

o negócio funciona assim…

um país, qualquer país, faz tudo errado e quebra!

aí, vai ao FMI pedir dinheiro e o FMI diz: país, se quiser dinheiro emprestado tem q parar de fazer as bobagens q fez vc quebrar!

e se o país quiser pegar o "dindin" pra não quebrar, tem q fazer o seu dever de casa…

se não quiser o dinheiro, pode continuar a fazer as bobagens de forma independente!

viu como é simples!?

    Nestor

    Não é não, eles mesmo providenciam a quebra do pais para depois entrarem neste pais mandando. So que eles quebraram a cara com o Egito pois não aceitou a exigencia do FMI, isso sim é ser patriota e soberano.

    João

    q bobagem, meu senhor… quem quebrou o Egito foi… o Egito!!!!!!!!

    onde o Sr vê patriotismo e soberania em não se pegar dinheiro emprestado?

    o Egito decidiu q não queria o emprestimo do FMI… e tinha todo o direito de não querer…
    o FMI definiu condições pra emprestar o dinheiro… e tinha todo o direito de faze-lo…

    transformar essa situação em "afirmação de soberania" e "demosntração de patriotismo" é tolice…

Lousan

que bonzinho o FMI querendo emprestar 24 bilhões de euros, será que é porque querem ganhar presente do papai noel?
parabens para o Egito e que sirva de exemplo para as demais nações e políticos

Bonifa

Um pequeno sinal de que a insanidade mental ainda não tomou conta de toda a Europa: Advogado francês entra com representação contra a OTAN por Crimes de Guerra na Líbia:
.
O advogado francês Marcel Ceccaldi anuncou haver entrado em nome do Governo da Líbia com uma carta ao procurador da Corte penal internacional contestando suas investigações e demandando um inquérito por crimes de guerra contra a OTAN. O inquérito do procurador argentino Luis Moreno-Ocampo que resultou na emissão pelo TPI em 27 de junho de um mandado de prisão contra Kadafi e seus filhos por crimes contra a humanidade “Não foi realizado dentro das regras internacionalmente aceitas", denunciou o advogado numa conferência de imprensa. Afirmou também que “A OTAN começou bombardeando objetivos militares e depois continuou seus bombardeios contra alvos civis.” http://www.lemonde.fr/libye/article/2011/07/04/li

Chico Doido

O ocidente deveria devolver o patrimônio arqueológico egipicio , a começar pelas múmias . O Brasil fará sua parte , devolverá algumas múmias tucanas .

    tiago tobias

    ahahaha, vai devolver o padim cerra e o fernandinho

SILOÉ -RJ

É chegada hora do mundo Árabe criar o seu próprio FMI, senão… se escaparem das guerras cujo alvo são as petrolíferas, perderam as mesmas em troca da recuperação econômica e de sobrevivência de seus países.
O mesmo deveria fazer os países do Merco-sul.
Parabéns ao Egito por não cair nesta esparrela.

Jean Scharlau

Pois é, e o Lula, depois de pagar o FMI para 'livrar-se dele, pela porta da frente', lhe dá um caminhão de dinheiro, para que possa continuar a 'fazer das suas' a outros países em condições mais precárias. Lamentável, para dizer o mínimo. E foi alardeado como grande feito do governo. Esquizofrenia calculada, aparentemente.

    riorevolta

    Isso é capitalismo.

    Dinheiro é o principal produto vendido pelo mundo, de preferencia em suaves prestações pela vida toda.

    Lula foi o mais capitalista dos presidentes que já tivemos.

    Capitalismo sério e não pilhagem e privataria.

    felipe

    "Capitalismo sério"… interessante. Sinceramente não tenho certeza se queria conotar uma coisa boa ou ruim… se for uma coisa ruim achei fantástica a sua ironia! Se for uma coisa boa me deixou bastante curioso em saber como isso seria. De qualquer forma parabéns pelo texto, pois, me despertou sensações. rs

    Courtinho

    O que é capitalismo sério? Existe em algum lugar? Para mim, ele se baeia em ganância e egoísmo.

João PR

Parabéns ao Egito.
Não posso deixar de transcrever parte da matéria: "O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, anunciou nesse mesmo mês que poderia conceder cerca de 4 bilhões de euros em dois anos ao Egito e à Tunísia para contribuir para a modernização das suas economias".
Sabemos o que significa "modernização das suas economias"!!! Arrocho, privatização, e precarização das relações trabalhistas.
A Europa deveria se envergonhar ao fazer esta oferta via FMI. O Egito já foi explorado como colônia da Inglaterra. Deixem os egípcios em paz, e devolvam as obras de arte e as múmias que roubaram do povo egípcio!!!!! (isto ninguém fala).

Carlos Cruz

Os "donos" do mundo e seus representantes capatazes FMI e Banco Mundial tentam reverter a independencia politica egipcia com dinheiro. Acostumados a corromper, oferecem dinheiro, muito, aos novos governantes egipcios.. Em uma região sensivel como o Oriente Médio o Egito não pode ser livre. Assim, "ajudando", voltam a dar as cartas em uma nova ditadura, agora economica. Se o Egito não é uma ditadura "amiga", façamos uma ditadura economica. Eles conhecem bem como "emprestar para ajudar nações e a liberdade". Oferecem bilhoes e volta a corrente da escravidão. Há preço para a liberdade, pensam eles. Pimenta nos olhos dos outros é refresco…Vide exemplo da Grecia, Brasil, Argentina, Bolivia, Peru, Nicaragua, Venezuela, Mexico, Islandia, Portugal, Espanha, Italia, etc

Fabio_Passos

Faz muito bem o Egito.

Tenta atender os anseios de sua população… e não as ordens das oligarquias financeiras internacionais.

Juliano

“O povo egípcio, que está começando uma nova era, não quer fazê-lo com novos empréstimos. Preferimos passar fome a mendigar a essas instituições”, afirma o comunicado. os USA não aprendem mesmo. o buraco é mais embaixo. o povo egipcio, árabe (meu povo) não baixa pra qualquer um não. não são como outros povos que tem sangue de barata não, eles tem orgulho, honra e não aceitaram a submissão jamais. não fizeram a revolução para serem submissos aos USA, isso nunca!!! mesmo porque o tio sam já era. o dia que o mundo entender que essa potencia jamais foi uma potencia, muito pelo contrario, só jogou sujo e todos cairam em suas armadilhas, aí sim, o povo ser livre!!! as nações serão livres para sempre!!!

Elisabeth

Que discaro do FMI!!! Sempre de olho nas privatizações… E o EGITO mandou bem…. mas veremos como tudo vai caminhar com os outros paises da "primavera Arabe"!!!

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