Dr. Rosinha: Vi e vivi tudo na China a 300 por hora

Tempo de leitura: 4 min

Universidade-001Reitor Dr. Qi Dong, da Universidade Normal de Beijing, e Dr. Rosinha, que, após reunião, recebeu uma réplica do símbolo da instituição

​​​​A vista ​de​ 300 por hora

Dr. Rosinha​, especial para o Viomundo​

Cheguei de uma viagem a China. Antes de viajar pedi à embaixada ​chinesa no Uruguai que me arrumasse alguma leitura/informação sobre o país que em breve visitaria.

Presentearam-me com três livros, um dos quais ‘China, 2014’. É um livro de dados básicos, generalidades da história, população e etnias, sistema político, economia, vida social, etc.

No livro, há várias fotos e aquelas feitas por tomada aérea vêm especificando que a foto é “a vista de pájaro”. Poético. Dizer e/ou escrever, “A vista de pájaro”. Quanto a dizer que a foto foi feita a partir de uma tomada aérea, é algo meramente técnico.

Não especificam a vista de que pássaro, a que velocidade e a que altura. Não o fazem até porque cada espécie de pássaro voa a uma velocidade diferente, e cada uma delas tem velocidade máxima. Cada espécie tem uma altura específica para voar e planar.

O poético do “a vista de pájaro” é o pássaro parado, planando, passeando e observando. Coisa impossível de ser feita em meia dúzia de dias e à velocidade que fiz.

Enquanto o livro traz fotos “a vista de pájaro”, eu procurei fazer uma foto “a vista de 300 km­/hora”. Minha foto nesta velocidade não tem como ser nítida. Meus olhos não têm a técnica de nenhuma máquina eletrônica, e tampouco a minha velocidade e altura possibilitam “a vista de um pájaro”. Meu voo foi ao rés do chão ou a poucos metros acima.

Uso o termo “a vista de 300 Km/hora” e ao rés do chão porque assim foi minha viagem. Poucos dias, portanto pouco debate, pouca leitura e, consequentemente, pouca informação. Além disso, o devido cuidado, porque não conheço a história de uma civilização milenar.

Fui à China através do professor Evandro Menezes de Carvalho, que pessoalmente e através de seu artigo “A China e seus dois Ocidentes. Qual é o nosso…”, publicado na revista ‘China Hoje’, muito me ensinou em tão poucos dias.

​Avisa o professor: ​há todos os tipos de clichês. ​”A China confusionista, do chinês mal-educado, da culinária peculiar”, e se ficarmos com os clichês ficaremos com “um país que não existe”.

Tive a oportunidade de fazer uma viagem de trem de Pequim a Shangai. Durante a viagem, li um pouco sobre a China e fiz algumas anotações do que vi em um trem a 300 quilômetros por hora.

A China mantém relações políticas com o Brasil há mais de 200 anos. Há que se registrar que em 1812 a China montou um pavilhão no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, portanto no Brasil imperial. Hoje, mantemos com a China uma forte relação comercial, e ela é a principal compradora de commodities do Brasil.

​O desenvolvimento econômico da China é feito através de planejamento quinquenal. Atualmente, o país está executando o XII Plano Quinquenal (2011-2015), que tem, entre outros, os seguintes objetivos: ampliar o mercado interno; impulsionar o desenvolvimento das indústrias estratégicas e as de manufaturas avançadas, ou seja, investir em inovação tecnológica; elevar o nível de pesquisa científica; e reforçar a proteção da propriedade intelectual.

Todos os objetivos levam a ampliar o mercado interno e a se preparar para ocupá-lo com a própria produção e a disputar mercado mundial. Nenhum país faz isso solitariamente, o faz com aliados.

​Fui a China a convite da Universidade Fundan, de Shangai, para participar do “The Second Internacional Seminaron BRICS Studies –​ ​NewConcept for Developmentand BRICS Cooperation”, organizado pelo Center for BRICS Studies, FDDI, FundanUniversity.​ O convite para participar de tal seminário demonstra o interesse em buscar aliados. Aliança não só com o Brasil, mas com ​o ​Mercosul.

Em 2002 o Brasil exportava somente US$ 4,1 bilhões para o Mercosul. Já em 2013, incluída a Venezuela no bloco, as nossas exportações saltaram para US$ 32,4 bilhões, um crescimento de 617%. Chamo a atenção ​para o fato de ​que​,​ conforme dados da OMC​,​ as exportações mundiais cresceram​ ​180%. Ou seja, o crescimento das exportações dentro do Mercosul foi​,​ no mesmo período​,​ muito superior ao crescimento das exportações mundiais.

O único bloco que cresceu mais que o Mercosul, em termos de absorção de exportações brasileiras, foi o do BRICs, graças às importações de commodities da China. Estes dados novamente demonstram a importância dos BRICS e do Mercosul para o Brasil.

​Atualmente, nenhuma decisão de relevância, em qualquer assunto internacional, é tomada sem levar em consideração os BRICS. Se antes era um grupo de sete (G7) países que decidiam o destino do mundo, hoje é o G-20, do qual o Brasil (com Lula e Dilma) faz parte e é um dos fundadores.

Antes, tínhamos o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional que decidiam, hoje temos o Banco dos BRICS (constituído no governo Dilma), que será uma alternativa à velha arquitetura financeira.​

Pouco vi, mas alguma coisa vi a ‘300 por hora’. Vi um território com inúmeras construções (edifícios, pontes, viadutos, dutos, rodovias, ferrovias, etc.); cortado por torres de transmissão de energia (a China é a maior consumidora do mundo) e de comunicação; plantações com e sem irrigação e em estufas; sistemas de captação de energia eólica e solar; trens de alta e baixa velocidade, de passageiros e de carga. Só não vi espaços vazios.

Vi também muita vontade de trabalhar com o Brasil, os BRICS, o Mercosul e a América Latina.

Após, mesmo tendo ficado poucos dias e ter participado de poucas, ou seja, ter vivido tudo a ‘300 por hora’, volto da China com a mesma pergunta do artigo de Evandro Carvalho, qual dos Ocidentes é o nosso?

​A resposta a esta pergunta somos nós que temos que dar.​ ​Se quisermos alcançar uma velocidade de 300 por hora e um mundo multipolar​,​ tem​os​ que saber construí-lo.

Dr. Rosinha, médico pediatra e servidor público, ex-deputado federal (PT-PR).

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Comentários

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Mário SF Alves

“​A resposta a esta pergunta somos nós que temos que dar.​ ​Se quisermos alcançar uma velocidade de 300 por hora e um mundo multipolar​,​ tem​os​ que saber construí-lo.”
_________________________________
Se formulação acima estiver errada, o Dr. Rosinha pode ter a certeza de que não errou sozinho.

E quem disse que precisa ser teórico do desenvolvimento pra entender que não há saída civilizatória fora da referida multipolaridade?
,

FrancoAtirador

.
.
(https://www.youtube.com/user/videosmst/videos)
.
.

    Mário SF Alves

    Indispensável. Direto pros favoritos.
    Valeu.
    Obrigado, FrancoAtirador.

Sérgio

Será que existirá Brasil no BRICS, ou o B não fará mais parte após o golpe que já está às portas? Ou MERCOSUL? Prontos a voar nova e eternamente nas Asas da Panair pilotado pelo Capo di tutti i capi Marino!

    Mário SF Alves

    Bate na madeira, irmão.
    Xô, mangalô, 03 veis!
    ____________________
    Fora a brincadeira, essa é uma questão séria e uma dúvida bastante pertinente.

Lukas

Como é o movimento sindical por lá?

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