Dr. Rosinha: Sem qualquer exagero, a Caravana de Lula é uma epopeia

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Lula no Paraná. Foto: Joka Madruga

Lula no Paraná. Foto: Joka Madruga

A Caravana de Lula pode muito bem ser definida como uma epopeia

por Dr. Rosinha*, especial para o Viomundo

Seria abuso e/ou excesso escrever que a Caravana Lula é uma epopeia?

Cada qual vai julgar por sua inconsciência (desculpe ou obrigado, Mia Couto), se é ou não uma epopeia.

Muitos dos que participarão e participaram da Caravana Lula pelo Brasil dirão que é uma epopeia que pode ou não ser narrada em um longo poema.

Outros dirão que não. De qualquer maneira, é uma “aventura fabulosa” (Houaiss) e que deve ser narrada.

Não sou poeta, nem mesmo um narrador adequado, melhor, não sou narrador de fatos e de histórias, mesmo das que participo. Somente escrevo o pouco que vi, vivi e sinto.

Não posso escrever a epopeia da Caravana pelo Nordeste, mas posso escrever umas notas sobre a Caravana do Sul. Acompanhei e participei no trecho do Paraná, meu estado: e aqui foi uma epopeia!

Dias 26, 27 e 28, acompanhei a Caravana pelo Paraná. Acompanhei com a presença física ou na angústia da desinformação e da espera nos locais do evento.

Angústia por que a todo momento chegavam informações das barreiras que os fascistas erguiam. Barreira físicas, como pedras, pneus queimados, ameaça de espancamentos e de tiros. Sempre uma ameaça até a sua concretização.

Na Caravana também teve espera. Nas epopeias, quando superado um fato, espera-se pelo seguinte, que pode ser de alegria ou tristeza, de ousadia ou medo, de avanço ou de recuo, de riso ou de choro, de confiança ou de desconfiança.

E assim, dia após dia, aquilo que poderá vir a ser um poema épico, melhor, a Caravana, avançou.

Nas esperas, mesmo quando há muita gente ao seu redor, sempre há o momento da solidão. A solidão da espera.

Nas esperas, há também a apreensão.

Apreensivo esperava, torcia para que nada de grave ocorresse com a Caravana, com o Lula e/ou com qualquer um que com ele vive a epopeia de percorrer mais uma vez o Brasil.

A apreensão aumentava com as informações desencontradas: foi assim o inicio da Caravana. A Caravana Lula chegava ao Paraná ameaçada e a principal ameaça era dirigida ao Lula. A integridade física de Lula era constantemente ameaçada. Infelizmente continua ameaçada.

Rodovias obstruídas por ensandecidos fascistas. Alguns sequer sabem que são fascistas, estão mais para idiotas. Os idiotas podem ser perigosos, tanto quanto os fascistas.

A violência que começou no início da Caravana no Rio Grande do Sul serviu para estimular os catarinenses e os paranaenses a seguirem o mesmo caminho: o da intolerância e de agressões.

Pelas redes sociais, acompanhava o verdadeiro horror de fúria: troca de mensagens de como obstruir a passagem da caravana, de como espancar pessoas e ameaçá-las de morte tendo como alvo principal o Lula.

E assim, ao longo do caminho, muitas pessoas foram agredidas e feridas. Pessoas que só queriam ver o Lula. Pessoas que ainda carregam esperança no peito, alegria e brilhos nos olhos. Pessoas que sonham em viver uma vida melhor.

Porém, o Brasil atual, criado pela mídia privada, encabeçada pela Rede Globo e pelas redes sociais, não tolera a diversidade de pensamento. Não tolera que você pense diferente dos seus interesses.

Em suas mensagens, deixam explícitos: “ou pensa como eu ou morre”. Querem matar as opiniões diferentes e, se não conseguem matá-las, têm que matar a pessoa que pensa diferente.

Ao longo da Caravana, a inatividade, omissão e a conivência dos órgãos de segurança permitiram uma onda de violência. Somam-se a isto as declarações e estímulos de líderes políticos, como a senadora Ana Amélia (PP/RS), que disse que o erguer um rebenque para bater não é violência.

Políticos do Partido Social Liberal (PSL), como os deputados Bolsonaro (RJ) e Franceschini (PR), que estimulam por gestos e palavras a violência e pregam o assassinato de Lula.

Tiros foram disparados contra os ônibus da Caravana e três deles atingiram dois ônibus. Foram atingidos em suas laterais e de lados diferentes, ou seja, foi armada uma tocaia.

A Caravana no Paraná, assim como nos outros estados, tinha sua razão temática: agricultura familiar, reforma agrária, educação e a luta do povo.

A Caravana no Paraná começou por Francisco Beltrão, município marcado pelo simbolismo das lutas camponesas. No final da década de 1950, os posseiros lutaram para ter direito à terra e a conquistaram. Hoje, os pequenos agricultores da região são responsáveis por mais de 70% da economia regional.

Em Francisco Beltrão, um grupo de cerca de 100 pessoas, vindas de toda a região, tentou impedir o ato e, numa demonstração de xenofobia, gritavam: “temos sangue europeu”.

Ignorantes não conhecem a história dos seus antepassados. Seus avós e bisavós pobres fugiram da Europa, onde a fome era endêmica. Vieram para o Brasil e aqui, após muita luta, inclusive armada (a histórica Revolta dos Posseiros), conquistaram a terra para tirar dela a comida que lhes faltava na Europa.

Na segunda etapa da Caravana, em Foz do Iguaçu, por conivência da Polícia Militar (PM), um grupo de fascistas se aproximou do local do evento.

Para evitar um confronto, os mesmos policiais, que no momento anterior foram coniventes com os fascistas, foram obrigados a retirá-los.

Ao retirá-los, como é de praxe por parte da Polícia Militar do Paraná, foram usadas bombas de efeito moral. No meio desta ação, ouvi o grito de “policia fascista”.

Não sei se a PM do Paraná é fascista, sei que às vezes agem como fascistas, mas o idiota que deu este grito sequer sabe o que é fascismo, pois seus atos demonstram que fascista é ele.

No território da reforma agrária, Quedas do Iguaçu, o povo, debaixo de uma chuva fina e intermitente, com alguns intervalos de chuva forte, esperou por mais de três horas.

Enquanto o povo na praça ouvia o Lula, fascistas preparavam uma tocaia. Cerca de 20 quilômetros após sair de Quedas do Iguaçu rumo a Laranjeiras do Sul, dois ônibus da Caravana foram atingidos por tiros. O objetivo: matar Lula.

Depois desse fato, os fascistas e o setor de segurança pública do Paraná começam a soltar boatos, desinformação e mentiras. A primeira mentira foi a que Lula chegou a Laranjeiras de helicóptero.

Mentira: eu estava no ônibus com Lula.

A partir daí, vieram mentiras atrás de mentiras e pior, com parte da imprensa, dando crédito aos mentirosos.

A Caravana encerrou-se em um extraordinário e monumental ato político (suprapartidário) em Curitiba.

No dia 30, após receber os meus agradecimentos pela organização e participação na Caravana, o amigo G. P. me enviou a seguinte mensagem:

“Foi muito importante a caravana em muitos aspectos. O Lula parece sobre-humano. Tem uma energia de garoto. A gente reclama de ficar uns minutos em pé, esperando a fala dele e acha que depois de vários e duros dias ele vai estar um caco e ele chega com uma energia de outro mundo. […]. Parabéns companheiro por organizar a resistência na ex-República de Curitiba, que vem se transformando na República da Resistência ao Fascismo”.

Concluo: não é abuso e/ou excesso escrever que a Caravana Lula é uma epopeia.

*Dr. Rosinha é presidente do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores do Paraná (PT-PR).

Leia também:

O alerta de Breno Altman sobre a ascensão do fascismo


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