por dr. Rosinha, em seu site
A credibilidade é um requisito imprescindível tanto para o exercício profissional do jornalismo quanto para o exercício de qualquer mandato público.
No último dia 9 de junho, minha credibilidade como parlamentar foi alvo de um sério ataque, que não poderia ficar sem resposta. Talvez por desinformação, o jornalista André Trigueiro, em sua conta no twitter, afirmou com todas as letras que naquele dia eu teria ido à sede da Anvisa “fazer lobby em favor do metamidofós”.
Usado em lavouras de algodão, amendoim, batata, feijão, soja e tomate, o metamidofós é um inseticida que pode prejudicar o desenvolvimento do feto, além de afetar os sistemas neurológico, imunológico, reprodutor e endócrino. Já proibido na União Europeia e em outros países do mundo, está fase de banimento também no Brasil.
Tamanha foi a gravidade da insinuação que, imediatamente, passei a receber mensagens de diversas pessoas, alertando para o referido ataque. A todas elas, expresso aqui a minha gratidão.
Ainda que eu não tivesse um histórico de combate aos agrotóxicos, tal acusação, para não ser leviana, deveria vir acompanhada por algum elemento de prova, o que não aconteceu.
A luta do nosso mandato contra os agrotóxicos não apenas é amplamente reconhecida pelos movimentos sociais, como inclusive há vários projetos de lei de minha autoria contra esses venenos em tramitação no Congresso Nacional.
Depois da polêmica no twitter, recebi uma mensagem, via e-mail, do presidente da Anvisa, Dirceu Barbano. “Quanto às afirmações do jornalista em seu blog, considero que devem ser compreendidas como conclusões dele sobre o conteúdo e a natureza de uma reunião da qual ele não participou”, diz trecho da mensagem.
Ao que complemento: O jornalista em questão não apenas não participou, como acabou por testar em público uma hipótese falsa. Hipótese que repudio com veemência e classifico como calúnia.
No dia seguinte, André Trigueiro propôs encerrar a polêmica no Twitter, pediu desculpas e ofereceu espaço para eu me manifestar em seu blog. “Se sentiu ofendido, peço desculpas”, escreveu.
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Reunião na Anvisa
Há cerca de um ano conheci no meu gabinete na Câmara dos Deputados o senhor Michael Haradom, que me procurou em nome da empresa Fersol. De imediato perguntei o que desejava, já que sou –-e deixei isso claro a ele na oportunidade–, ideologicamente contra o uso de venenos.
Ele me respondeu que me procurava justamente por ser contra os agrotóxicos, e que desejava conversar sobre os procedimentos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Estive não uma, mas duas vezes na sede da Anvisa em reuniões das quais também participou Haradom, e em nenhuma delas para fazer lobby em favor de nenhum veneno. A primeira foi para conversar sobre as regras do registro de genéricos do setor.
A segunda reunião, a de 9 de junho, ocorreu após o diretor ter informado que uma ação de vistoria da Anvisa em sua empresa foi acompanhada pela polícia e pela Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), ligada à Secretaria do Meio Ambiente do governo paulista. Segundo ele, esse mesmo acompanhamento não teria se repetido em visitas de fiscalização a outras empresas.
Relatou ainda a suspeita de o fato ter ocorrido em favor das grandes empresas produtoras de venenos e em prejuízo da sua. O objetivo do encontro foi esclarecer esta situação específica.
Jamais eu iria até a sede da Anvisa, assim como os que comigo foram, para defender a liberação de qualquer veneno, ainda mais o metamidofós. Até porque sabemos da autoridade técnica, científica e profissional que a Anvisa conquistou, e que respeitamos. Da mesma forma sabemos que a proibição liberação de venenos não é uma decisão unilateral e solitária da Anvisa.
Na reunião na sede da Anvisa ficou esclarecido que a polícia que acompanhou a fiscalização foi a Polícia Civil de São Paulo, e não a Polícia Federal. Que tanto a “visita” da polícia como a da Cetesb não ocorreram por solicitação da Anvisa. Também foi esclarecido que todos os desdobramentos posteriores às “visitas” não foram de responsabilidade da agência.
Nesta mesma reunião, perante todos (é possível checar isso com os demais presentes) reafirmei minha posição ideológica contrária aos agrotóxicos. Como médico pediatra com especialidade em saúde pública e em saúde do trabalhador, não poderia ser diferente. Conheço perfeitamente os malefícios desses venenos.
Sobre o metamidofós
O inseticida metamidofós é um organofosforado. Considerado tóxico, é enquadrado nas classes toxicológicas I ou II (altamente tóxicas). Como qualquer outro organofosforado, o metamidofós pode causar neuropatias e pode prejudicar o desenvolvimento embriofetal.
Segundo estudos científicos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o produto causa prejuízos imunológicos e toxicidade ao sistema endócrino.
Pela alta toxicidade, o metamidofós já foi banido em vários países, como China, Indonésia, Paquistão, Costa do Marfim, Japão, Samoa e nos países da União Europeia. No Brasil, está com data marcada para ser banido: a indústria pode produzi-lo até o próximo dia 30 de junho, a comercialização poderá ser feita até dezembro deste ano e a utilização, até 30 de junho de 2012. Decisão que eu apoio e espero que se concretize.
A decisão de seu banimento foi discutida e aprovada na Comissão de Reavaliação, da qual também fazem parte a Fiocruz, o Ministério da Agricultura e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama). Portanto, reafirmo, não foi uma decisão solitária. Se fosse para fazer lobby, como foi insinuado, eu teria visitado cada um desses órgãos.
Contribuição recusada
Aproveito este lamentável episódio para citar um fato ocorrido em 2006. Na campanha eleitoral daquele ano, recebi um telefonema de um empresário dizendo que queria fazer uma doação em dinheiro. Disse-me que queria me ajudar pela minha história de seriedade e honestidade política ao longo da minha vida pública. E que nada queria em troca.
A campanha de 2006 foi uma das mais difíceis da minha vida. Na noite do lançamento da campanha, eu estava internado na unidade de terapia intensiva (UTI). Na manhã daquele dia, tinha sido submetido a uma cirurgia cardíaca, que me tirou totalmente das ruas até 20 dias antes das eleições. Estava, portanto, necessitando de apoio político e de recursos financeiros.
Estava convalescente, em casa, quando recebi o telefonema. Dei o número do telefone e solicitei ao interlocutor que entrasse em contato com a pessoa responsável pelos recursos financeiros da minha campanha.
Assim que acabei de falar, desliguei o telefone e telefonei à tesoureira da nossa campanha para reafirmar minha posição: só aceitar contribuição legal e que não se contraponham aos meus princípios, exigência que elimina os fabricantes de agrotóxicos.
No contato com a responsável pela campanha, o empresário identificou-se como da indústria de agrotóxicos (não era da Fersol). Por esta razão, mesmo dentro da legalidade, os recursos não foram aceitos.
Afinal, tal “ajuda” iria depor contra a minha ideologia e os meus princípios. Relato este fato para que o leitor e a leitora, bem como o proprietário deste blog, saiba quem eu sou.
Checar previamente as informações, ouvir o outro lado, não tentar transformar meras hipóteses em fatos e admitir eventuais erros são condutas mínimas que se deve exigir de qualquer pessoa.
Profissionais de imprensa ou não, em redes sociais na internet ou fora dela, todas as pessoas precisam agir com responsabilidade antes de divulgar suas hipóteses em público. Do contrário, jamais terão confiança, nem crédito.
Dr. Rosinha, médico pediatra, especialista em Saúde Pública e em Medicina do Trabalho. Ex-presidente do Parlamento do Mercosul, exerce o mandato de deputado federal pelo PT do Paraná.




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