
por Débora Figueiredo, via e-mail
Cid Gomes está confirmado como novo Ministro da Educação. Votei na Dilma com esperança de, pelo menos, ser mais representada do que seria por Aécio.
Sou professora, moro em Fortaleza e SEI o que o nosso ex governador é capaz de fazer com os professores. A Universidade Estadual constantemente em greve, os professores do Estado precisam se humilhar pra conseguir direitos.
São explorados, têm que conviver com todo tipo de situação, inclusive perigosa, em sala de aula. Cid Gomes é uma vergonha para a educação. Nas palavras dele, professor deveria trabalhar por amor. Um homem debochado.
Votei na Dilma, mas, desde o começo, fiquei de olho nas propostas dela para a educação. Não desceu aquele comentário sobre o alto número de disciplinas, tendo ainda “Filosofia e Sociologia”. A presidente precisa entender que nessas eleições, grande parte das pessoas que não votaram nela, sofria de carência de estudos na área de humanas.
Pessoas sem estudo de História, Geografia Crítica, Filosofia e Sociologia. Pessoas que não sabem o sentido de palavras/expressões como: democracia, ditadura, totalitarismo, socialismo, comunismo, liberdade de expressão, moral, ética, etc. Pessoas que não conhecem a história do próprio país.
Tenho relatos de pessoas que viveram a época da ditadura militar e descrevem o período como se tivesse sido um paraíso na terra, enquanto outras estavam sendo torturadas sem que aquelas soubessem. Muita coisa era escondida.
Pouca gente sabe nesse país a influência que a mídia tem na construção da opinião da massa. Poucas famílias comandam a mídia desse país e estas poucas não são imparciais, mas, sim, descaradamente estimulam um ódio fervoroso contra um governo que olha para os mais necessitados.
A presidente precisa entender o quanto é importante e necessário estimular o ensino das humanas de forma maciça para que a própria forma dela de governar seja melhor entendida (embora ultimamente com suas decisões e escolhas nem mesmo sei se ela pretende mesmo ser entendida).
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Democracia, ditadura, totalitarismo, socialismo, comunismo, liberdade de expressão, moral, ética, influência da mídia e garantia de direitos, por exemplo, são apenas alguns dos temas que podem ser abordados em aulas de Filosofia de forma aprofundada com o objetivo de formar pessoas e garantir que elas consigam pensar por si próprias e desenvolver um pensamento crítico.
Temas estes que podem ser trabalhados de forma interdisciplinar com disciplinas como Produção Textual, Sociologia e História. Disciplinas estas que podem e devem trabalhar juntas, mas que JAMAIS serem mescladas a fim de reduzir a carga horária, o que traria prejuízo para todas estas disciplinas individualmente.
Nas palavras de Bertrand Russel: “(…) um regime socialista poderia, com o tempo, tornar-se seguro o bastante para não temer a crítica (…)”.
Sei que estamos longe de um regime socialista, mas penso que se o Estado continuar a ignorar a importância do desenvolvimento do pensamento crítico da nossa população, vai ser cada vez mais difícil garantir que governos que priorizam a redução da desigualdade (entre outras coisas) consigam se manter no poder.
Entendo também que a presidente, percebendo que o país está crescendo muito, privilegia a formação de engenheiros e técnicos para que estes possam ajudar no crescimento do “progresso” brasileiro (Vide Ciências sem Fronteiras, Escolas Técnicas, PRONATEC, etc.), PORÉM, insisto, formar técnicos (ou pessoas de quaisquer outras áreas) sem o desenvolvimento crítico dessas pessoas, vai nos levar a um país como este que vimos nas eleições de 2014, com pessoas reproduzindo ideias visivelmente fascistas, sem qualquer noção da realidade e de conceitos básicos.
Não votei no candidato Aécio por ter acompanhado o que foi feito com os professores no Ensino Médio (responsabilidade do GOVERNO) em Minas Gerais. A maneira como o candidato tratava a educação é de causar-me asco.
E agora terei de passar pelo transtorno de ter Cid Gomes como Ministro da Educação?
Reproduzo aqui a carta feita por uma professora de Português do Estado do Ceará ao ex Governador Cid Gomes há alguns anos, mas ainda tão atual:
“Excelência,
Preciso dizer-lhe publicamente que votei muito mal nas últimas eleições estaduais!
Sou professora de Língua Portuguesa, Literatura e Redação e me dedico à profissão intensamente há vinte anos. Votei em Vossa Excelência por o senhor apoiar a campanha de Dilma Roussef. Há quatro revelações que devo fazer aos professores para que possam me desculpar esse ato falho, embora saiba que muitos deles agiram como eu, pois acreditaram em suas propostas de fazer avançar a educação no Estado. É justo que o senhor as conheça!
1. A primeira é a de que, na verdade, não havia, no Ceará, nenhum candidato dos que disputavam mais veementemente o Governo que fosse convincente, apesar do grande aparato midiático. Dos males, porém, viesse o menor. O senhor pelo menos contribuiu na campanha da Presidenta. O meu prejuízo não foi completo.
2. A segunda confissão é a de que, como o senhor, tentei ser esperta, pois votei em alguém de quem, mesmo não esperando um bom mandato, contribuía para o meu objetivo. Reconheço, contudo, que o senhor me superou no lucro de tudo isso, por ter sabido se apoiar na minha candidata para se eleger.
3. A terceira é a de que não esperava ver colegas escrachados, humilhados, surrados, feridos, ensanguentados, desmaiados, tratados sem o mínimo respeito, como se vítimas dos famosos anos de chumbo da Ditadura Militar, principalmente ocorrendo este fato na Assembleia Legislativa, Casa que deveria defender os interesses da classe em vez de, subservientemente, ceder aos seus caprichos. Felizmente a população já sabe que apenas quatro Deputados votaram contrariamente ao plano de Vossa Excelência. Não será só o senhor a perder no próximo pleito, mas também todos os que, ao contrário dos quatro, “ferraram” os professores (Esta é a expressão: “ferraram”, pois não consigo ser educada e suave diante de barbaridades e brutalidades).
4. A quarta e última é a de que nunca me orgulhei tanto de ser professora. Estou feliz por saber que os meus colegas, os meus digníssimos colegas estão enfrentando como heróis seu autoritarismo e por saber que teremos avanços a partir de agora, pois a história dos professores cearenses muda a partir de agora, bem como a sua!
Continuemos, agora apenas entre nós! Não posso perder a oportunidade de satisfazer a uma curiosidade! Preciso perguntar-lhe: se o estudo do professor não tem valor no Ceará, que valor terá o do aluno? Ah, já sei… o senhor manda distribuir computadores a alguns. Quero lembrar que não são bobos. Vão recebê-los, mas não vão compensar as perdas do ano letivo!
Refiro-me à desvalorização da pesquisa e da obtenção de conhecimentos. Os professores, ao se submeterem a cursos como Especializações e Mestrados, desejam adquirir conhecimentos que difundirão para crianças e jovens do nosso Estado. Sei que não devem obter um título apenas nem principalmente para terem algum acréscimo financeiro em seus vencimentos. Seu maior anseio deve ser aprender mais, para ensinar mais e melhor. Esse argumento, porém, não pode dar sustento à desonestidade e à injustiça. O que se deve pagar a mais ao professor especializado, mestre ou doutor por essa conquista e pelos esforços necessários a ela tem que ser justo, e não desrespeitoso.
Não deve se assemelhar a uma esmola, como a que o Governo de Vossa Excelência insiste em garantir. É necessário que todos os cearenses, da capital e de todos os outros municípios, saibam que a proposta para essa recompensa é humilhante e que precisaria que fosse decuplicada para corresponder a uma pequena porcentagem do subsidio de Vossa Excelência, que não precisou mostrar diploma nem provar conhecimento algum para governar o Estado. Para ser Governador, basta não ser analfabeto.
Algo mais grave!
Trato ainda de algo mais grave: do seu desrespeito ao professor. Suas infelizes frases, reveladoras do grande desdém que Vossa Excelência não soube esconder em seu discurso, magoaram a todos nós, e não apenas aos colegas da rede estadual. A sua sugestão de que professores devem trabalhar por amor só poderia ser aceita se eles não comessem; se não quisessem garantir às suas famílias pelo menos uma diminuta parcela dos benefícios que o senhor garante à sua e a si mesmo; se não se vestissem, se não precisassem pagar por energia, água, telefone e, o que já é impossível, se não precisassem de livros e de outros recursos para o seu crescimento intelectual.
Não posso deixar de comentar também sobre a sua declaração de que o professor que queira ganhar melhor deve migrar para a escola privada. Vossa Excelência não se preocupa com a evasão dos professores da rede estadual? Isso não seria problema? Outros seriam contratados? Não interessa a permanência dos professores por muito tempo no serviço público, para que projetos tenham continuidade e outros benefícios ocorram? A escola privada realmente se mostra mais justa que a pública para com o professor? Esse pensamento de Vossa Excelência é lastimável!
Por que falo tanto?
Não tenho interesses partidários nem sou membro da oposição. Mas sou uma professora! E mais: sou especialista e mestra. Não gosto de ver meu esforço desvalorizado. Não adentrei o serviço público de educação. Não tive o desprendimento e o heroísmo dos meus digníssimos colegas da educação pública do Estado do Ceará, os quais respeito muito. Não me considero, porém, culpada por não acompanhá-los em tamanho esforço porque, ao contrário de Vossa Excelência, não concordo que eu deva trabalhar só por amor, mas também por dinheiro.
Não digo que a sua visão de que o professor ou qualquer outro profissional deva trabalhar por amor é ingênua, pois ingênua seria eu se assim pensasse. Digo sim que é uma máxima cruel, insensível, revoltante, além de ridícula! Além de respeitar o professor, lamento pelo desdém de que ele é vítima, pelas humilhações a que é submetido. É absurdo um professor precisar destinar-se à Assembleia Legislativa do Ceará para reivindicar desgastantemente um direito garantido por lei que Vossa Excelência insiste em desrespeitar: o direito a um piso salarial de aproximadamente R$ 1100,00.
Um apelo…
Pense melhor, Excelência. Deixe a sensibilidade superar a arrogância e a indiferença pelas necessidades sociais. Seja prudente! O senhor já perdeu por tudo que tem feito!
Um aviso…
Não é só o professor da rede estadual que está insatisfeito, mas também o da rede privada de ensino, bem como outros segmentos. Não há causa sem efeito!
Sem mais,
Ritacy de Azevedo Teles
P.S.: O tratamento respeitoso de “Vossa Excelência” é mera convenção gramatical da qual não consigo me desvencilhar. Não deve entendê-lo literalmente.”
PS do Viomundo: Dilma está montando o ministério da crise econômica, que se agrava em todo o mundo e terá impacto duradouro no Brasil. Neste sentido, é o “ministério do medo”, para ganhar votação no Congresso ou pelo menos impedir derrotas fragorosas. Um ministério que privilegia absolutamente a governabilidade.
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