Carta aberta aos senadores e deputados federal

Tempo de leitura: 2 min

de Eduardo Diniz,  por e-mail

Senhores Senadores da República e Deputados Federais,

É com muita humildade que solicito a ajuda de Vossas Excelências em favor 486.196 bancários do Brasil que estão neste momento em plena negociação salarial, e em greve desde o dia 27/09/2011.

É preciso que os Representantes do Povo intercedam junto aos poucos banqueiros do Brasil e ao Governo Federal (Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal), e que abordem o tema Distribuição de Renda.

Segundo o Dieese, os bancários desligados no 1º semestre de 2011 ganhavam em média R$ 4.054,14. Vamos multiplicar este valor pela quantidade de bancários: 486.196. A conclusão é que a folha salarial da categoria bancária atinge a cifra incrível de R$ 1.976.106.651,44 por mês e R$ 23.653.279.817,28 anuais.  É isto mesmo, R$ 23,6 bilhões de reais.

É importante destacar que os bancários não estão concentrados em uma pequena região de um Estado da Federação. Em dezembro de 2010, segundo dados do CAGED, na região Norte eram 16.151 bancários; na Nordeste, 57.724; na Sudeste, 294.093; na região Sul, 69.748; e na Centro-Oeste, 45.381. Pode-se concluir então, que os R$ 23 bilhões da folha de pagamento dos bancários contribuem para a economia da maioria das cidades brasileiras.

Outra informação importante da Pesquisa de Emprego Bancário do Dieese, ano 3 – nº 10 de agosto de 2011, é sobre a média dos salários dos funcionários admitidos. De janeiro a junho de 2011 foram contratados 30.537 bancários, sendo 17.658 escriturários com remuneração média de R$ 1.477.66. Considerando que o salário mínimo necessário é de R$ 2.278,77, também segundo o Dieese, pode-se concluir que um bancário que exerce a função de escriturário irá gastar sua remuneração apenas com os itens básicos de sobrevivência. O escriturário e quase todos os demais bancários gastam os salários na própria cidade. O dinheiro é repassado ao padeiro, ao verdureiro, ao açougueiro, ao dono da escola do filho.

Os banqueiros ofereceram 7,8% de aumento na primeira rodada, e depois 8%. O Banpará fechou acordo com 10%. Em primeira análise, parece que é muito pouco para tanta discussão, greve e desgastes emocionais. Afinal, 7,8% ou 10% de aumento para quem ganha R$ 1.477,66 é muito pouco. Mas vamos voltar ao número da Folha de Pagamento Anual dos Bancários: 7,8% sobre R$ 23,6 bilhões resulta R$ 1,8 bilhões; 10% resulta R$ 2,3 bilhões. Ou seja, insistir nas negociações, por mais penosa que seja uma greve, pode resultar em mais R$ 520.372.155,98 devidamente distribuídos aos bancários, que repassarão aos padeiros, verdureiros, açougueiros, aos donos das escolas dos filhos.

Senhores Senadores e Deputados,

Diante da realidade demonstrada neste breve resumo sobre a categoria bancária e sua contribuição para com a economia brasileira, é esperado pelo menos algumas palavras no plenário em favor destes tão sofridos trabalhadores. É claro que, se possível, uma ligação telefônica para algum conhecido banqueiro poderia surtir um efeito melhor.

Com muito respeito,

Eduardo Baltazar Diniz, bancário desde 1984.

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Quando recorrem ao Marx, é que a coisa realmente anda feia


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Comentários

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Roger

O sistema bancário é aquele que aufere lucros emprestando dinheiro que não é seu, através do mecanismo de expansão da moeda. Acompanhem o exemplo real, com numeros fictícios.

Quando o tesouro precisa de 1 Bilhão de reais, emite 1,001 bilhão em titulos publicos, resgatáveis a longo prazo (20 anos). Ou seja, R$ 1.000.000,00 serao pagos aos possuidores desses titulos (Bancos, em sua maioria, mas tambem fundos de pensao, fundos de investimento, empresas e pessoas fisicas que investem em titulos do tesouro), isso a titulo de juros, em 20 anos. Claro que ninguem fica com esse dinheiro por 20 anos; os titulos circulam no mercado, sendo vendidos e recomprados com agio ou desagio.

Esse 1 bilhão é depositado numa conta do tesouro no BB. 40% deve "dormir" à noite no Bacen (o compulsório), ou seja, R$ 400 milhões. Com isso, o BB pode emprestar R$ 1,4 bilhões para a Petrobrás, e cobrar juros por isso. É isso mesmo: os R$ 400 milhões de reais foram "gerados do nada"! Da seguinte forma:

R$ 1 bilhão depositados pelo tesouro + 60% (o inverso dos 40% que é recolhido ao Bacen) desse 1 bilhão (R$ 400 milhões) = R$ 1,4 bilhões que podem ser emprestados. É assim que se expande o suprimento monetário.

Controlando esse percentual do compulsório, o Bacen controla a liquidez de moeda no meio circulante, e portanto seu valor. O dinheiro "criado" tira seu valor do dinheiro existente. Mais dinheiro circulando, menos ele vale. Menos dinheiro, mais ele vale. Aumenta o compulsorio, aumenta o poder de compra do dinheiro, porque circula menos dinheiro (deflação). Diminui o compulsório, diminui o poder de compra do dinheiro, porque circula mais dinheiro (inflação).

A Petrobrás deposita esses R$ 1,4 bilhões em sua conta do BB. Descontados os 40% do Banco Central (R$ 560 milhoes), essa agencia do BB terá R$ 1,96 bilhões para emprestar. Empresta a uma grande empreiteira, que deposita toda essa grana na conta de seus fornecedores, no Bradesco. Agora o Bradesco pode emprestar R$ 2,744 bilhoes, cobrando juros por isso.

É claro que esse é um exemplo simplório. Mas acontece que o princípio disso, é que o dinheiro vai sendo expandido a partir de uma demanda por emprestimo. Ou seja, o dinheiro é criado a partir de uma dívida. Por isso os Estados vivem endividados, a divida publica é gigantesca.

E a banca vai fazendo seus lucros… e os bancários adoecendo.

maria luiza

Muito importante as opiniões e reflexões de todos os comentários..sou professora em Minas e sou solidária a toda luta de trabalhador ,pois sem bem o que é ser desrespeitada quando reivindicamos salário justo …. a vcs bancários minha solidariedade e que vençam na luta ….

Julio Silveira

Como pode? o banqueiro tem lucros absurdos, quando vão quebrar por má administração surgem logo com um Proer, dinheiro publico para salvar bancos e banqueiros, com o argumento de "defender a economia". Nisso o boa parte dos bancários dessas instituições, via de regra, perdem o emprego. Os Salários são estrategicamente combinados pelo patronato para serem pagos com muito poucas diferenças em instituições diferentes, quando não iguais. Lucros, todos tem, as margens percentuais diferentes, mas o salário dos profissionais são estranhamente muito parecidos, e são negociados sempre em unissono pelos banqueiros, que esperam sempre pelas greves da categoria, para quando esta insuportavel. Ninguem vê, mas será que isso também não é uma forma de Cartel?

Eduardo Diniz

Nota do autor do post:

Após 24 horas do envio do email a todos os Senadores e Deputados Federais, apenas o Senador Zeze Perrela do PDT de Minas Gerais e o Deputado Ruy Carneiro responderam o email, que de certa forma, é uma resposta aos 486 mil bancários do Brasil.

Pergunto:
Será que os 486 mil bancários e a população brasileira não merecem mais atenção por parte dos eleitos Representantes do Povo sobre um assunto tão urgente?

Onde estão os Senadores e Deputados do Partido dos Trabalhadores? Aliás, partido este que voto desde sua fundação…

Copio na integra as respostas recebidas:

Resposta do Senador Zeze Perrela do PDT de Minas Gerais:
Senhor Eduardo.
O Senador Zeze Perrella agradece a mensagem enviada e se solidariza com a situação exposta.
Ressalta sua preocupação com a questão da greve dos bancários, afirmando estar, no Senado Federal, atento a esse assunto.
Cordialmente,
Assessoria do Senador Zeze Perrella
Gabinete do Senador Zeze Perrella
[email protected]
(61) 3303-2191

Resposta da Assessoria do Deputado Ruy Carneiro do PSDB da Paraiba:
Eduardo,
Irei encaminhar as suas colocações para o Dep. Ruy Carneiro. Estudaremos uma medida de intervenção.
Atenciosamente,
Mariza Cabral
Assessora Parlamentar
Dep. Ruy Carneiro
(PSDB-PB)

eunice

Capitalismo é isso aí. Na Espanha também. Na itália também. Na Grécia também.Nos States também.
Aceitem ou votem no socialismo, ao menos para apertar essa gente má.

Marcio H Silva

O autor dos post poderia ter citado o LUCRO que o sistema bancário Brasileiro aufere em um ano. Poderia também descrever a lucraticidade auferida nos ultimos 10 anos, mostrando o ganho ano a ano com aumento do lucro anualmente e comparando com os ganhos dos funcionários dos bancos. Seria bem esclarecedor para os deputados e senadores que não sabem quanto custa 1 litro de leite e 1 caixa de fosforo.

julio

O dinheiro mais bem gasto é o salário. Dinheiro que gira gera mais impostos. É mais interessante para todos.
Mas, aí vem essa máfia bancaria, extorquindo clientes com juros absurdos. E pagando salários baixos.

    João

    Não é só a máfia bancária, o governo federal também vem promovendo vários arrochos salariais dando como desculpa a crise financeira internacional. Como a Dilma pretende combater a crise com o aquecimento interno do consumo se a tônica do governo e da iniciativa privada é o arrocho salarial? Esta contradição tem que ser respondida. Sem falar que a maioria do povo brasileiro já está no vermelho graças aos baixos salários e aos juros exorbitantes cobrados pelo mercado financeiro.

    Sanches

    Dilma hoje, após a vitoria, mais parece um Obama que tanto prometeu e bandeou-se à direita, traindo seus eleitores. É a nossa Obama de saias! Cumprindo ordens do Min.da Fazenda, a quem são subordinados, o BB, CEF e BNB se escondem demagogicamente atras da FEBRABAN, e seus administradores estão preocupados apenas com o lucro e dividendos. Segundo o jornal Diário do Nordeste as estatais repassaram em 2010 149 bi em dividendos ao governo. Se para isso tiver que expulsar pobres de dentro delas e perseguir empregados, será feito. Nosso Obama de saias tambem está em guerra, mas contra seus eleitores.

marcio gaúcho

É isso aí, Eduardo!
Pelas responsabilidades inerentes na função de bancário: lidar com o dinheiro dos clientes, sigilo bancário, venda de produtos, metas, estresse e assédio moral o dia inteiro, etc., nosso salário está muito aquém do que merecemos. Os bancários – funcionários do banco, pagam muito mais imposto de renda do que os próprios banqueiros e, também do que o prório banco, proporcionalmente à renda. Essas greves anuais tem passado do limite aceitável, tanto aos bancários, quanto aos prejuízos causados aos clientes. Os bancos estão, irresponsavelmente, pagando para ver, em detrimento da sociedade.

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