A OTAN se dá o papel de derrubar governos

Tempo de leitura: 3 min

Guerra da OTAN na Líbia?

28/3/2011, MK Bhadrakumar, Indian Punchline

Tradução do coletivo da Vila Vudu

72 horas depois de a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) ter sido incumbida pelas potências ocidentais da tarefa de fazer valer uma zona aérea de exclusão e um embargo de armas na Líbia, a aliança deu grande salto adiante. O próprio corpo que toma decisões da própria OTAN decidiu que a própria OTAN ficará encarregada de implantar também todas as demais decisões da Resolução n. 1.973 do Conselho de Segurança da ONU sobre a Líbia [R-1973].

Declaração da OTAN, feita em Bruxelas no final desse domingo, mal disfarçava o tom triunfalista: “É passo muito significativo, que prova a capacidade da OTAN para empreender ação decisiva”.

Mas tem gato na tuba.

A declaração da OTAN nada diz sobre quem estaria esperando que a OTAN “provasse” alguma coisa, ou que “ação decisiva” a OTAN agora por-se-á a “empreender”. A questão, de fato, é que a OTAN afinal recebeu a chance de provar-se ela mesma – de provar que é a única organização militar em escala global que pode intervir militarmente e “empreender ação decisiva” contra qualquer país (fora do mundo ocidental, sempre, é claro).

Não há dúvida que se trata de “passo muito significativo” no que tenha a ver com a segurança internacional. O Conceito Estratégico adotado na cúpula da OTAN em Lisboa [1], novembro passado, definiu que o objetivo da aliança seria constituir-se como organização de segurança global. Mas ninguém do mundo externo, naquele momento, jamais supôs que o objetivo seria alcançado nesse prazo recorde.

A realidade política é que a R-1.073 não atribuiu nenhum papel específico à OTAN. A própria OTAN se autoatribuiu um papel e esse específico papel.

As potências ocidentais interpretaram unilateralmente a R-1.973 e incluíram nela os raids aéreos contra forças do governo líbio para, militarmente, alterar o equilíbrio militar na Líbia a favor dos ‘rebeldes’. Agora, também a OTAN por-se-á a atacar militarmente a Líbia.

Em termos mais simples, a OTAN acaba de entrar no sangrento negócio de derrubar governos, “mudança de regimes”, em países fora da Europa nos quais interesses ocidentais sejam ameaçados.

A declaração da OTAN dizia que a aliança está preparada para “iniciar imediatamente a operação efetiva”. Significa que a OTAN já sabia que seria encarregada dessa ação e manteve-se em estado de prontidão, enquanto todos os analistas ocidentais, pela imprensa, sugeriam que a aliança estaria sendo empurrada para um dilema. Muito evidentemente tudo acontece segundo plano bem preparado – armar os ‘rebeldes’ líbios; instigar o conflito até situação extrema; e, então, interferir diretamente, com poder bélico gigantesco, para derrubar um governo, digo, para “mudar um regime”.

É a primeira vez que a OTAN inicia operação militar na África/Oriente Médio. As operações “fora de área”, da OTAN começaram, no mundo, nos Bálcãs, quando se tratou de dividir a antiga Iugoslávia; e a guerra do Afeganistão forneceu o cenário para que a OTAN chegasse à Ásia sul e central.

Ninguém precisa esperar o resultado da conferência das potências ocidentais que acontecerá em Londres na 3ª-feira, para entender as dimensões políticas da missão da OTAN na Líbia.

As potências ocidentais estão passando a perna na ONU, depois de obter uma “legitimidade”, de fato, uma folha de parreira, mediante a R-1.073. Os dois membros que têm poder de veto no Conselho de Segurança – Rússia e China – já acionaram as respectivas máquinas de propaganda, mas é altamente improvável que algum dos dois considere, mesmo que remotamente, a possibilidade de convocar sessão do Conselho de Segurança para enfrentar, de fato as novas dimensões do problema da Líbia. Assim sendo, EUA, França e Inglaterra estão totalmente livres para desenhar como bem entendam a missão da OTAN. Se os ataques aéreos não conseguirem arrancar de lá o governo Gaddafi, a OTAN será convocada para mandar suas tropas de ocupação por terra.

É possível até que Rússia e China estejam estimando que não será de todo mau para seus interesses, se o ocidente envolver-se em guerra na Líbia. Ocupados na Líbia, diminuem os riscos de que a OTAN e o ocidente se metam pelos quintais russos ou chineses, pelo menos por algum tempo.

Assim sendo, só resta a União Africana para protestar contra operações militares decididas unilateralmente contra o governo líbio. O problema é que, como dizem que Stalin teria perguntado sobre o papa: “Quantas divisões tem a União Africana?”. A resposta é óbvia: ‘Zilch’, necas.

Feliz, só o presidente Barack Obama, dos EUA. Afinal, é a OTAN, não os EUA, que inauguram um novo, grande espaço, para longas guerras.

[1] Ver, interessantíssimo, “Cercar a Rússia, visar a China: O verdadeiro papel da OTAN na grande estratégia dos EUA”, 2/12/2010, Diana Johnstone, Counterpunch (http://www.counterpunch.org/johnstone11182010.html ), traduzido por Margarida Ferreira, para ODiarioinfo (http://www.odiario.info/?p=1887&print=1 ).


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Comentários

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brz

Gostaria de ressaltar aqui um pouco das diferenças entre democratas e republicanos, os reps não estão nem aí pra ONU, chutam ela como cachorro morto em busca da guerra e os demos (de lá) fazem ótimo uso dela, e além disso, tentando de todas as formas camuflas seus objetivos: a guerra. Usam a ONU, a Otan, o diabo a quatro, mas no fundo o objetivo é o mesmo. Para aqueles que empolgaram-se com a eleição de Obama, eu digo, e já havia dito quando da eleição: mudam-se os atores mas a peça é a mesma.
Criticam o socialismo pelo partido único, mas vejam as estruturas políticas dos EUA, um bi-partidarismo que fazem a mesma coisa de maneiras diferentes. E as democracias européias-ocidentais com seus parlamentarismos, suas monarquias constitucionais…

Roberto Santos

Foi oficializada a intervenção militar terceirizada com fins de golpe de estado.
Quando leio esse tipo de notícia, até ouço a Marcha Imperial de "Guerra nas Estrelas".
Agora o clube nuclear está podendo tudo! Se o Brasil quiser participar do clube, isto é, ter lugar no Conselho de Segurança da ONU, precisa mostrar poder explodindo umas bombinhas atômicas (a Índia pode).

Assim caminha a humanidade. A questão é: para onde?

niveo campos e souza

EUA, EUROPA, OTAN e ONU é tudo um lamaçal só de mentiras, cinismo, prepotências, arrogâncias e mentiras, etc, etc
E ajudados pela grande imprensa… Dá nojo.

Niveo Campos

Carlos Cruz

O que a EUropA tem a oferecer ao mundo? O colonialismo? As guerras santas internas da Inquisição? As guerras do incio do seculo passado? As torturas, roubos e massacres dos nativos da Africa, Oceania, Oriente, Oriente Médio, Américas? O capitalismo desumano? A historia de sua estoria é outra, diferente da contada nos livros de Historia. E estão quebrados, depois da farra com as riquezas do mundo que sempre surrupiaram. Agora, em um momento de dissolução do dolar e do euro, inventam guerras de conquista. O novo colonialismo, neo-colonialismo. Mas estão quebrados! Armas poderosas possuem, mas tirando os artefatos nucleares (terão coragem de usar?), similares são compradas no mercado negro. Já não lutam contra flexas, paus e pedras. O ódio a seus paises é enorme e tende a aumentar em novas guerras de pilhagem. O tempo mostrara o erro e a loucura da guerra. Sobreviverão?

monge scéptico

"ARTIGAO"
Piratas modernos; assaltando a mão armada, a luz do dia. Claro que os "rebeldes" podem
vender o petróleo,bem baratinho a eles, os ianque et quadrilha. Deve ter doidos aqui, pen-
-sando poderiamos estar nesse clube deplorável de assassinos chamado OTAN.
A onu há que deveria ter sido dissolvida. Só subsiste ali por estar em território ianque. É
uma pobre casa de tolerância, onde a USA é o "cafetão mor". Estão pôdres. Inclua-se ai
o PIG.
Esses "rebeldes" são a escória da humanidade, nem seus problemas internos sabem ge-
-rir por si.
E os mortos civis? Nem o papa pia?

Gustavo Pamplona

Interessante o artigo… já sabemos disto e como eu voltei a comentar algo diferente (digamos… minha peculiaridade) lá vai.

Vocês repararam que a mídia televisiva parou de falar no número de mortes do terremoto do Japão? E até eu tinha comentado e outros leitores aqui também comentaram que a mídia parece querer tentar diminuir o impacto da tragédia.

Bom… de acordo com esta notícia do R7
http://noticias.r7.com/internacional/noticias/vaz

Já passa dos 11.000 mortos e mais de 17.000 desaparecidos.

Bonifa

Perderam qualquer pudor. Para eles, agora, tudo é permitido. E para completar, o Secretário Geral da ONU é um zero à esquerda.

Antonio Almeida

NATO = Neocolonialists Allow Tyranny Opportunistically

    Marat

    Fantástico!!!!!!!!!!!!
    Espero que esses vermes imundos sejam destruídos pela própria ganância!

Marcelo Fraga

A OTAN já opera dessa forma há anos, mas só agora formalizou a medida. E, para os EUA, a vantagem é que ficam debaixo do manto da OTAN para realizarem as tais medidas. Uma espécie de blindagem.

É uma espécie de "não podem mais acusar os EUA de golpismo; se querem falar alguma coisa, que falem da OTAN".

Cercando a Rússia e a China com a mão do gato | Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] Leia sobre o novo passo dado pela OTAN, na Líbia.   […]

FrancoAtirador

.
OS EUA E A GUERRA CIVIL NA LÍBIA

"…Nós acertamos defesas aéreas (…) Nós miramos em tanques e bens militares que estavam sufocando vilas e cidades e nós cortamos muitas das fontes de abastecimento… nós paramos o avanço mortal de Kadafi "
(Barack Obama, em pronunciamento nesta 2ª-feira, para responder às críticas contra o obscuro envolvimento dos EUA em mais uma guerra)

"Os EUA disseram nesta segunda-feira, 28, que os rebeldes líbios podem vender o petróleo extraído das áreas ocupadas por eles Segundo o Departamento do Tesouro americano, os insurgentes poderão tirar proveito do produto, a principal fonte de riqueza da Líbia…"
(Reuters)

"Na realidade, na Líbia, Estados Unidos, França a Inglaterra estão a participar da guerra civil, apoiando os rebeldes, como a Alemanha nazista fez durante a guerra civil na Espanha (1936-1939), quando bombardearam não apenas Guernica, mas diversas outras cidades, estreando seus bombardeiros Junkers Ju 52 e Heinkel He 111, bem como os caças Messerschmitt e Junkers Ju 87, que destruíram 386 aviões dos republicanos.."
(Moniz Bandeira em entrevista a Marco Aurélio Weissheimer na Carta Maior)

Carta Maior; 3ª-feira, 29/03/2011

Íntegra da entrevista de Moniz Bandeira em:

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMos

Tania Guimaraes

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

Quem nao viu a mesma mazela no Iraque, so sem nome de OTAN, e cego voluntario. isto ja e velho

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