A máquina de guerra de Obama (2)

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Planos nucleares dos EUA

6/4/2010, Jack A Smith, Asia Times Online (excerto)

Tradução de Caia Fittipaldi

A Revisão da Postura Nuclear [orig. Nuclear Posture Review (NPR)] é documento muito importante, porque faz referência às armas mais mortíferas que a humanidade jamais conheceu. O relatório ferve de ambiguidades. Primeiro, declara que o presidente Obama trabalha para “um mundo sem armas nucleares”, mas reconhece que talvez não o alcance “até o fim de sua [do presidente] vida”.

Em seguida, declara que depois da Guerra Fria “A ameaça de guerra nuclear global tornou-se mais remota, mas aumentou o risco de ataque nuclear”, porque algum terrorista pode trabalhar para trazer uma arma atômica para dentro dos EUA. Assume-se que esse perigo é maior hoje, do que durante a Guerra Fria, mas nada aí está muito claro.

A declaração visa a significar, provavelmente, que algum agente da Al-Qaeda pode entrar nos EUA portando uma arma nuclear e pode detoná-la ali. Nesse caso, é estranho que a mais recente Revisão da Postura Nuclear dos EUA não explique que, no caso improvável de que uma arma caia em mãos erradas, a possibilidade de um ataque nuclear terrorista é excepcionalmente reduzida por inúmeras e complexas razões técnicas, e pelo fato de que esse tipo de arma tem muitos complexos mecanismos antidetonação. Em vez desse tipo de explicação, oferece-se mais um medo exagerado com o qual a população terá de lidar.

O New York Times e inúmeros websites publicaram o seguinte comentário sobre terrorismo nuclear: “Micah Zenko, membro da Comissão de Relações Exteriores, especialista e autor de livro de história nuclear disse que “O medo de um ataque nuclear clandestino em solo dos EUA nasceu no início da era nuclear. Nada de novo quanto a isso, embora não se falasse em terrorismo nos anos 1950s (…). Se considerarmos que essa ameaça existe há mais de 60 anos, vê-se que há pouco, de fato, a temer.”

Uma dos memoráveis comentários da Posture Review veio de Robert Haddick, editor do Small Wars Journal, de 9/4/2010:

“Os autores da (…) Revisão Nuclear 2010 tentam passar duas mensagens. A primeira visa a demonstrar que o governo dos EUA está introduzindo mudanças significativas na doutrina e na estrutura de força das armas nucleares, mudanças que poriam o mundo mais próximo de livrar-se das armas nucleares. A segunda afirma que os EUA não estão fazendo nada nessa direção e, de fato, continuam a ser a maior potência nuclear, já plenamente modernizada.”

A Revisão da Postura Nuclear lista “cinco objetivos-chaves de nossas armas e de nossa postura nuclear”, abaixo listadas:

1. Evitar a proliferação e o terrorismo nuclear.

2. Reduzir o papel das armas nucleares dos EUA na estratégia de segurança nacional do país.

3. Manter a contenção estratégica e a estabilidade no plano de reduzidas forças nucleares.

4. Reforçar a contenção regional e oferecer garantias aos aliados e parceiros dos EUA.

5. Preservar um arsenal nuclear seguro, protegido e efetivo.

Discutiremos adiante os itens 1 e 2, os mais importantes.

“Evitar a proliferação e o terrorismo nuclear” é objetivo valioso, mas o modo como o governo Obama aborda o problema não é técnico, é inadequado e é politicamente motivado. Não se vê qualquer empenho, no documento, para explicar por que o completo desarmamento nuclear – único meio de realmente eliminar a possibilidade de proliferação nuclear, de terrorismo nuclear e de guerra nuclear – não seria possível nos próximos 35 anos (período estimado da vida de Obama); sem qualquer garantia de que seja realmente tentado algum dia.

Os EUA foram o principal obstáculo ao completo desarmamento nuclear durante e depois da Guerra Fria. A URSS várias vezes pregou o desarmamento nuclear e chegou a propor desarmamento geral e completo do aparato militar dos países, inclusive das armas nucleares. Em janeiro de 1986, vários anos antes do colapso da URSS, resultado de contradições políticas e econômicas internas, o presidente Mikhail Gorbachev apresentou outro plano – pelo qual o completo desarmamento estaria concluído à altura do ano 2000. Embora vários setores do establishment nos EUA vissem com bons olhos esses planos e propostas, a maioria sempre se opôs, e continua a opor-se até hoje.

Se Washington claramente propusesse o desarmamento total das nove nações nucleares hoje sob supervisão da ONU, o mais provável é que essa proposta resultasse em tratado para eliminar todas as armas nucleares em apenas alguns poucos anos.

Nessa conexão, quando o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (NPT) foi assinado em 1970, supunha-se que várias nações que então possuíam bombas atômicas começassem a reduzir gradualmente seus arsenais, até o desarmamento nuclear total. Lá se vão 40 anos e, embora Rússia e EUA tenham reduzido seus arsenais, o objetivo final continua absurdamente distante. Há muito tempo, de fato, já se poderia desconfiar do que estava por vir.

O esforço de Obama para conter a proliferação não pode ser de modo algum sincero, dado que se recusa a condenar ou aplicar sanções contra três dos quatro países que produziram número considerável de armas atômicas ilegais, em total violação dos termos do Tratado de Não-Proliferação, porque todos são aliados dos EUA – Índia, Paquistão e Israel. Em vez disso, Obama põe-se a vociferar sanções e ameaças de ataque nuclear contra a República Popular Democrática da Coreia, que tem umas poucas ogivas nucleares relativamente pequenas.

O mais revelador de tudo, porém, é que a Nova Postura Nuclear inclui clara ameaça de ataque nuclear punitivo contra o Irã, que não tem armas nucleares e repetidas vezes comprometeu-se a não produzi-las. Eis o texto completo da ameaça contra o Irã: “Os EUA não usarão nem ameaçam usar armas nucleares contra Estados não nucleares que sejam signatários do Tratado de Não-Proliferação Nuclear e cumpram suas obrigações”. (O Irã tem sido acusado de violar o Tratado, em função de alguns incidentes menores.)

Eis o que o atual secretário de Defesa Gates comentou sobre essa frase: “A Nova Postura Nuclear dos EUA traz mensagem muito forte para Irã e Coreia do Norte, porque, embora seja política explícita, bem clara em outros itens do documento, estados como Irã e Coreia nos preocupam de modo especial, porque não respeitam o Tratado de Não-Proliferação. E basicamente todas as opções estão sobre a mesa no que tenha a ver com países dessa categoria, assim como com atores não-estatais que possam adquirir armas nucleares.”

A expressão “todas as opções estão sobre a mesa”, que Gates repetiu no parágrafo adiante, para enfatizar, é marca-registrada dos discursos de George W. Bush-Barack Obama, sempre que querem ameaçar alguns países menores cujo comportamento desagrade à Casa Branca. Jamais se ouviu coisa semelhante contra a bem-protegida Rússia.

Robert Parry, editor do website Consortium News, escreveu dia 18/4: “O mais espantoso, provavelmente, nos comentários de Obama – e na resposta descuidada da mídia de notícias nos EUA – é que o presidente parece estar explorando disputas técnicas para trair o princípio mais amplo, de que Estados nucleares não podem, em nenhum caso, ameaçar com destruição nuclear os Estados não-nucleares.”

O presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad respondeu com as seguintes palavras: “Nem Bush jamais disse o que Obama tem dito.”

Teerã já impetrou reclamação formal na ONU, como informa o porta-voz do Ministério de Relações Estrangeiras do Irã, que observou que “essas ameaças provam que os países nucleares, que têm arsenais atômicos, são, eles sim, a maior ameaça a pesar sobre a segurança global”.

O Irã defende empenhadamente o completo desarmamento nuclear. Na Cúpula da Liga Árabe, na Líbia, dia 28/3/2010, os delegados iranianos exigiram um Oriente Médio sem bombas atômicas. E exigiram também que a Agência Internacional de Energia Atômica suspenda a assistência técnica aos programas nucleares de Israel, se Israel continuar a impedir qualquer visita dos inspetores da ONU.

O segundo objetivo da Nova Postura Nuclear é “reduzir o papel das armas nucleares dos EUA na estratégia de segurança nacional do país.” Nada aí obriga a reduzir o número das bombas, instaladas e prontas para serem detonadas ou armazenadas: só se trata de reduzir o papel das bombas.

Fato é que há pelo menos uma muito boa razão para reduzir o papel das bombas atômicas: os EUA estão desenvolvendo uma gigantesca alternativa não-nuclear de ataque. É conhecida pelo nome de “Prompt Global Strike (PGS)” [aproximadamente “Rápido Ataque Global” e, às vezes, “Conventional Prompt Global Strike (CPGS)” [aproximadamente “Rápido Ataque Global Convencional”].

O governo dos EUA sabe que há problemas muito graves no uso de armas nucleares. Essas armas podem ter alguma justificativa como instrumento de contenção, para impedir o primeiro ataque, porque se sabe que ataque e retaliação resultarão em inevitável destruição mútua. E todo o planeta objetaria contra ataque nuclear preventivo unilateral contra Estado não-nuclear.

Por exemplo, se o bombardeamento ordenado pelo governo Bush para causar “choque e horror” em Bagdá tivesse incluído bombas atômicas, o protesto mundial – que já houve sem bombas atômicas! – teria sido mil vezes maior; o mundo não perdoaria, ou pelo menos, parte significativa da população mundial ficaria contra os EUA. Além do mais, a operação multiplicaria o número de países que passariam a dedicar-se a construir suas bombas, como fez a República Popular Democrática da Coreia, para prevenir-se contra ataques nucleares.

O documento da Nova Postura Nuclear faz rapidíssima referência ao Prompt Global Strike (PGS), revelando que o Pentágono “estuda atualmente uma mistura de capacidades de ataque em longa distância, incluindo bombardeiros pesados e recursos para rápido ataque global não nuclear”. “Global Strike” [ataque global] normalmente significaria bombas nucleares e mísseis com ogivas nucleares. PGS ou CPGS significam armas convencionais, ou seja, armas não nucleares.

O sistema de Rápido Ataque Global é constituído de mísseis de alta velocidade, satélites para mapeamento e outros instrumento de alta tecnologia militar, para lançar ataque não-nuclear devastador, a partir de uma base militar nos EUA, e destruir qualquer alvo, em qualquer ponto do mundo, em menos de uma hora. O objetivo é contornar o impasse que se cria pela oposição de todos, em todo o mundo, a ataques nucleares contra países não-nucleares –, e assim se reforça poderosamente o projeto de dominação militar de pleno espectro do governo Obama.

O artigo original, em inglês, pode ser lido em:

http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/LE06Ak02.html


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Comentários

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Fabio_Passos

Os eua são a expressão mais corrupta do poder.

Quem não se submete pode ser destruído. Exterminado.

Democracia?
Óbvio que não.

Os eua são uma das mais odiosas e sanguinárias ditaduras da história humana.
Agem em escala global.

Malditos assassinos que ameaçam todos os que não lhe obedecem.

Milton Hayek

Tema 9 – Investigaciones del Proyecto Censurado 2009
Testimonios de veteranos de Irak y Afganistán
por Aaron Glantz *, Aimee Allison, Laila Al-Arian, Esther Manilla, Chris Hedges, Soldado de Invierno (Colectivo)*

Gracias a valientes y honestos testimonios de combatientes veteranos estadounidenses de las guerras de Irak y Afganistán que la opinión pública internacional puede tener una información verídica y realista —a falta de una cobertura honesta por parte de la prensa comercial —de los acontecimientos de estas invasiones así como las verdaderas causas y razones que empujaron al ex presidente George W. Bush a cometerlas, hoy continuadas por el premio Nobel de la Paz Barack Obama.
http://www.voltairenet.org/article165244.html

FabioT

obama é só um fantoche

José Eduardo Camargo

O óbvio: Os EUA vão destruir o mundo! E isso poderá ocorrer ainda no governo Obama. Não por ele! Ocorre que os presidentes e o Congresso daquele país há décadas não tem qualquer controle sobre seu poderio bélico. O chamado complexo-industrial-militar é um superpoder paralelo, senão o único poder!

Leonidas de Souza

Em resumo: A ideologia da Direita continua sendo o medo.

Antonio Alves

07/05/2010 – 08h42
Oposição ataca PT com estrutura da Câmara
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da Reportagem Local

A oposição usou a estrutura da Câmara para orientar deputados a defender as ideias do tucano José Serra nos debates da campanha. Além disso, servidores de dois gabinetes, do DEM e do PP, repassaram por e-mail funcional mensagens com ataques à pré-candidata petista Dilma Rousseff, informa reportagem de Valdo Cruz e Andreza Matais, publicada na edição desta sexta-feira da Folha (íntegra disponível para assinantes do UOL e do jornal).

Segundo a reportagem, documentos mostram que ofícios com timbre da Câmara, assinados pelo líder do DEM, Paulo Bornhausen (SC), distribuíram "paper" para a campanha do tucano, com a orientação de que parlamentares da oposição deveriam utilizá-lo em discursos e entrevistas.

A

augustinho

Para quem nao teve oportunidade de checar ate hoje um dado importante deste tema.
O numero real de veteranos de guerra daquele país. Dados oficiais do "Ibge' deles, 2004, atrasados
um pouco portanto. "Se segura pra ficar de pé", voce ai da cadeira!
Sao 23,2 milhoes (isso mesmo milhoes) de vets como eles chamam. Ainda tem milhares de vivos da Coreia.
USD 87 bi anuais de pensoes & afins. Usd 36.5 mil anual cada em média.Muito mutilados
Ah e mais de um milhao de mulheres. E la tem muito mais.
Isso ajuda a completar o -dantesco-quadro?

eduardo ayrton

eu concordo com borges não dá para imaginar que nenhum pais vá se desarmar (nuclearmente) em troca da paz mundial…o brasil como potencia emergente deve investir pesado em tecnologia balistica(escudo anti missil) e nuclear…ve se ninguem meche com a corea do norte.

Red Pepper

rsss Só para descontrair… acho que os americanos se preocupam desnecessariamente…
Recentemente andei revendo a famosa série dos anos 80 (MacGyver – Profissão Perigo) rss que era exibido durante a guerra fria… é só recrutarem novamente o agente ou usá-lo no treinamento do atual pessoal da defesa norte americana que tudo se resolve kkkk
Em um dos episódios o cara veda um vazamento de um tanque de ácido sulfúrico com barras de chocolate… kkkk
Certamente a metodologia MacGyver é muito, muito, mas muito mesmo mais barata que todo esse aparato existente ou qualquer outro que venha a ser projetado, afinal quem tem um MacGyver não precisa sequer de arma de fogo para vencer qualquer inimigo, muito menos armamento nuclear rsss

Abraços,

JS – RJ

Glecio_Tavares

Eu sou contra. Acho que devemos retomar o rumo no sentido da pacificação mundial. De que nos adianta uma bomba se eles tem HAARP, armas biológicas, pulso eletromagnético, e tantas outras que nem sabemos? No caso de armamentos estamos muito atrás. Nem vale a pena gastar dinheiro com coisas diferentes de aviões e submarinos para controle territorial.
Cobramos qual moral tem os EUA com 5500 bombas e vamos começar a monta-las também?

O Brasileiro

Quem tem o poder???
O poder não está nas armas, nucleares ou não.
O poder estar em poder ou não alimentar povos inteiros durante longos períodos de guerra, de escassez.
O poder está em ter ou não medicamentos essenciais para tratar epidemias que possam surgir.
O poder está em ter ou não fontes energéticas ininterruptas.
O poder está em ter água potável e também água para a agropecuária e para as indústrias, principalmente num período de mudanças climáticas.
As armas, nucleares ou não, são meio, não fim! E são sério obstáculo à obtenção dos fins, pois seu eventual uso inutilizaria boa parte dos recursos aos quais me referi!
Portanto, o alicerce de uma guerra atômica é não ser atingido por armas atômicas! E nem ter os seus recursos atingidos por elas!
Armas atômicas só servem mesmo ou para dizimar povos inteiros ou para intimidação; jamais para conquista de recursos naturais… ou alguém ai vai tomar água com altos níveis de radiação?

aurélio

Vou continuar a tentar até que vcs. compreendam: artefatos nucleares sujos de baixa potencia (10-50 kt), são de produção fácil, os problemas ficam maiores depois: 1) como torna-los efetivos 2) tecnologia de misseis 3) tecnologia de veiculos de reentrada (ogivas) 5) precisão e fiabilidade – a tecnologia de uma "bomba", qualquer fisico sabe, tendo 25 – 30 kgs de uranio a 95% ou plutonio, gatilho e base, tá pronto !!, vem dos anos 40 do século passado.

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Ubaldo

Sou a favor que o Brasil desenvolva sua bomba nuclear. Para fins pacíficos. Ou seja, para evitar que seja atacado.
Será que o Lula tem peito de contrariar nossa Constituição e de peitar os EUA?
Os EUA não poderão dizer que não devemos ter a bomba porque somos terroristas, como eles dizem do Irã.

    borges

    Talvez seja hora de o Brasil desenvolver sua bomba nuclear. Minha pergunta, diferente da sua é: Será que a sociedade Brasileira quer isto? Será que precisamos disto. Governos são irrelevantes, até porque são, em sua essência, iguais.

    daniel

    Se o Lula peitar, nem impeachment sofre, vai preso na hora!

    Leider_Lincoln

    Segunda vez seguida que eu positivo seus comentários, Ubaldo.

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