A estratégia (e os temores) dos EUA na Líbia

Tempo de leitura: 2 min

21/3/2011

por MK Bhadrakumar, Indian Punchline

Tradução do Coletivo da Vila Vudu

O secretário de Defesa dos EUA Robert Gates lançou alguma luz sobre as recentes discussões nos EUA sobre a Líbia. Em conversa com jornalistas a caminho da Rússia, Gates (que é a voz do Pentágono) destacou alguns pontos ‘difíceis’:

a) operacionalmente, impor uma zona ‘no-fly’ , só isso, tem de começar com ataque à Líbia. Por isso, ataques aéreos estão previstos na Resolução n. 1.073;

b) operações futuras têm de manter-se nos limites autorizados pela R-1.973 ou o próprio consenso que há em torno da operação ficará ameaçado;

c) a missão está sendo conduzida por coalizão muito diversificada e, nesse contexto, acrescentar adiante novos objetivos “criará um problema”;

d) por isso, a missão tem de ser implantar a zona aérea de exclusão, “cumprir o mandato [do CSONU] e voltar à tática das sanções etc.”;

e) a Liga Árabe tem problemas para operar sob comando da OTAN; por isso é preciso achar uma via alternativa, de modo que o comando e o controle da máquina pela  OTAN sejam usados, sem que  se trate de missão da OTAN, literalmente: “sem a bandeira da OTAN”;

f) não interessa aos EUA envolver-se demais no conflito; os líbios que resolvam as coisas;

g) nada de tropas de ocupação, e ponto final;

h) os EUA estão oferecendo “capacidades excepcionais” no front de operações, trabalho que estará concluído “em questão de dias”, e, em seguida, a responsabilidade passará a outros da coalizão. “Os EUA terão papel militar na coalizão, mas não o papel principal”;

i) há “fortes indicações de vários estados árabes de que participarão”; e

j) difícil prever desenvolvimentos futuros. Os EUA não desejam romper com a Líbia e “não acho que os EUA devam fazer coisa alguma para estimular qualquer partição ou divisão”.

Interessa considerar o pano de fundo dessa avaliação de Gates. Foi difícil alcançar consenso em torno da intervenção militar, mesmo depois de uma maratona de reuniões no quartel-general da OTAN em Bruxelas. A Turquia sempre foi, e assim se manteve, contrária a qualquer intervenção militar e tem poder de veto em qualquer decisão da OTAN. A Liga Árabe prevarica. Em resumo, EUA, Grã-Bretanha e França estão no limbo, no momento.

Apesar do otimismo de Gates, o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, disse no domingo que “o que aconteceu na Líbia difere do objetivo de impor uma zona aérea de exclusão. Só queremos proteger civis. Não queremos bombardear civis.”

Gates também expõe a crescente preocupação nos EUA, de que é possível que se estejam metendo em mais um atoleiro. Howard McKeon, deputado Republicano, presidente da Comissão de Serviços Armados da Câmara de Deputados, disse que “preocupa-me o uso de força militar na ausência de qualquer claro objetivo político. Por que envolver os EUA numa missão humanitária cujo objetivo político e duração todos ignoramos?”


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Comentários

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SILOÉ

Errata:
g) "Nada de tropas de ocupação, as petrolíferas já são nossa, e ponto final;

João

Que enrascada se meteu a OTAN sob o comando dos EEUU!!
O mundo precisava de tudo, menos de mais uma guerra. E, a pergunta que não quer calar: quem sustentará, financeiramente, mais uma guerra? Os EEUU, que estão quebrados? A Alemanha, que tenta salvar a zona do euro? A França, com sua economiazinha? A Itália?
Em suma: que atoleiro!

Pedro

Coitado do Obama, virou genocida sem querer. Governar um país falido que só pensa em produzir armas e inventar guerras para vendê-las e usá-las não é coisa para um intelectualzinho formado nesse celeiro de estúpidos que são as universidades americanas.

Antonio Alves

Ou seja, a COMUNIDADE DOS PIRATAS INTERNACIONAL quer que a LIGA DOS DITADORES ÁRABES tomem frente na guerra conta o ditador Líbio

Ronaldo Irion

Em suma, os EUA são acima de tudo os mandantes! Depois do genocídio inicial, deixarão que os chacais acumpliciados terminem o serviço, e lhes repassem parte (a maior parte) do butim!

Carlos

Se fosse próximo à Presidenta Dilma, eu sugeriria que ela impugnasse a aquisição dos aviões que a FAB precisa, de qualquer um desses países agressores.

Julio Silveira

Ai está, novamente aparecendo o resultado da hipocriata politica externa americana para o mundo, mais um tirano ganhando até admiradores no Brasil e certamente em outras partes do mundo.
Vivemos a era onde ser ciminoso, tirano ou assassino passa a ser relativo crimes iguais avaliam-se diferente conforme o amigo. O mundo está virando uma gangue.

Marcelo Fraga

f) não interessa aos EUA envolver-se demais no conflito; os líbios que resolvam as coisas;

Os líbios se matam para tomar o país de volta, e depois chegam os EEUU e tomam de assalto o petróleo. É mais fácil e mais barato. Quem perde é a indútria bélica.

Espertos esses ianques.

beattrice

"É possível que estejam se emtendo em mais um atoleiro".
Ou é muito otimista e faltou a todas as aulas de história americana desde criança, ou é muito cínico.

Bonifa

Amr Moussa provavelmente queimou seu já pequeno capital político para se apresentar candidato às eleições presidenciais do Egito. Procurou provavelmente se apresentar como o candidato confiável do Ocidente, ao ser um dos primeiros a manifestarem-se em favor da "zona de exclusão aérea". O arrependimento tardio é falso, porque é impossível que um líder importante como ele não soubesse de antemão do que de fato se tratava. Mas as novas lideranças egípcias sabem perfeitamente que ele agora só se sustenta no apoio de ditaduras como a de Mubarak, dentro da Liga Árabe.
Robert Gate disse outras coisas interessantes, também. Talvez para tranquilizar um pouco Sarkozi, escancarou que o objetivo final dos EUA na "nova Odisséia" era mesmo a "mudança de regime" (ação condenada pela ONU), o que significa na prática trucidar o Kadafi. Mas adiantou,para desalento do Sarkozi, que isto seria muito difícil, já que ninguém poderia advinhar onde o Kadafi está metido.

Fabio

Viva Kadafi, esta vencendo os malditos falcões do norte,rsrs

Maria Dirce

A marca americana foi deixada na Líbia, eles podem cair fora com algum pretexto, mas o estrago em todos os sentidos esta feito.O mundo cansou desse povo bélico e cínico!!!!!

Luana

Então, uma guerra no Iraque, outra no Afeganistão, um terremoto no Japão e uma Líbia armada para confronto terrestre que levaria divisões internas, como já está acontecendo e a necessidade de negociação entre ambos. Eles viram que corre o risco de se avizinhar um novo Iraque, Azenha.

Os custos são altos com um Japão que não comprará bônus, mas que terá de vendê-los para refazer-se e uma China que limitou tais compras. Fica complicado manter tudo isso, ainda mais diante de uma Europa que não se recuperou plenamente.

E quanto as outras rebeliões no mundo árabe? Até a mídia não mostra o Bahren, neh? Não se sabe o que anda acontecendo por lá, é preciso verificar via redes sociais.

augusto

mais ou menos por ai mesmo.
nao acho que china russia lhes mandarao (aos khadafinos) armas. Alguem mandará, via argelia é mais facil.
Ai os rebeldes vencem, obtem alguma unidade inicial pra ter o trunfo de exportar o oleo do país, e depois
começam a conflitar entre si a moda tribal etc. .Porem, neste estagio ja mais bem armados e com dinheiro europeu suficiente. Ai o desdobramento pode ou nao resultar em divisão da Libia: o Gates so falou em "nao incentivar" a divisão dela, nao disse nao aceitar!
Isto é perfeitamente compativel com a existencia futura de facçoes pro-khadafi mesmo com este ja morto, porque no Yemen por ex. ha faz tempo uma guerrilha separatista, o país continua sob controle da americanérrima ditadura Saleh.
Mas tem sempre o imponderável de almeida, nos sabemos disso.

Paylo

O americano está chegando à conclusão que é melhor com o Kadafi que sem o Kadaffi. A ONU pisou na jaca. Na Líbia são 140 tribos que lutam pelo poder. O ditador libio consegue dialogar com a maioria delas. O americano não conhece ninguém.

Alexei_Alves

Vou arriscar algumas previsões.
Exclusão aérea, em si, não derrota soldados a pé. A próxima tática da pseudo-OTAN será enviar armas e dinheiro aos rebeldes.
Não creio que a ajuda em tropas dos países árabes consiga mudar muita coisa. Os países da liga árabe já passam por problemas internos demais. Aliás, faltou dizer que estes "aliados" são exatamente as outras ditaduras do mundo árabe (arábia saudita, argélia, jordania, omã, yemen, etc…).
Com isso os rebeldes se aproximarão das ditaduras por aliança, e pelo simples fato de estarem usando armas. Logo logo vão mandar a democracia às favas. A única meta será derrubar Kadafi e chegar no poder. Se um dia chegarem, começarão a brigar entre si pelo poder e o derramamento de sangue continuará.

que belo atoleiro.

Como os rebeldes tem algum petróleo, não precisarão produzir heroína, como no afeganistão (pelo menos isso), mas cessarão qualquer investimentos fora material bélico dos dois lados. Toda a economia do pais vai pro brejo. Se Kadafi começar a ganhar, aumentará o apoio bélico aos rebeldes. Se Kadafi começar a perder a guerra, china, rússia e irã lhes enviarão armas secretamente. A guerra se prolongará, e com isso mais e mais pessoas morrerão. Os dois lados se tornarão, gradativamente mais cruéis e qualquer que seja o vencedor, estará cada vez mais distante da democracia.

parabéns, humanidade. Você conseguiu novamente.

Paz

    Bruno

    Só sei que os países da OTAN se meteram até o pescoço dado a informação de que os grupos petrolíferos que estão lá serão apeados de lá por Kaddafi.

    Não tem volta. Se o ocidente perder lá, tchau ENI, tchau Total Group, tchau BP… O ocidente está enterrado lá e ponto.

    Bonifa

    Tudo pode ser negociado. Ainda há tempo. Menos para o desespero do Sarkozi em matar o Kadafi.

    Ana cruzzeli

    Alexei
    Sua análise é muito boa, mas há uma terceira. O povo líbio em sua maioria é muito nacionalista, acredito que o Kadafi se fortalece a medida que o país é bombardeado. Eles já perceram as manobras para re-instalação da familia imperial por parte da coalizão. Depois dos ataques da OTAN até os rebeldes contrarios Kadafi mas também contrarios a familia imperial, se juntaram contra a OTAN.
    A coalizão está batendo cabeça ultimamente por essa simples razão. A guerra pode se prolongar contudo se não matarem Kadafi nada feito. Observe que a primeira tentava foi essa, assassinar o Kadafi em sua residencia. Eles queriam matá-lo já no primeiro dia, coitados erraram o alvo.
    Esse Kadafi tem o corpo fechado com toda a certeza e para colaborar os espiões ingleses são muito incompetentes.

    Alexei_Alves

    Pensando bem… creio que a China não enviaria armas para o Kadafi não. Só dinheiro (de olho nos investimentos pós-guerra apostando numa vitória do kadafi). Mas a Russia, eu boto fé que mandará armas. Tudo que mais agradaria aos russo é ver a OTAN sendo humilhada. A essa hora ja estão pensando em algum meio de contrabandear misseis terra ar pelo deserto…

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