Wagner Iglecias: Novo é bom, mas não o novo do PT

Tempo de leitura: 3 min

Haddad na Mira

Por Wagner Iglecias*, especial para o Maria Frô

08/11/2013

Fernando Haddad é um dos principais nomes da geração de petistas que ganhou proeminência após o surgimento do escândalo do Mensalão do PT, em 2005.

Enquanto velhas lideranças como José Dirceu, José Genoíno e João Paulo Cunha viveram profundo desgaste de suas imagens perante a opinião pública, Haddad, assim como já havia ocorrido com Dilma e poderá ocorrer com Alexandre Padilha, foi uma das novas apostas do PT para manter-se competitivo eleitoralmente.

No caso dele, deu certo e acabou eleito prefeito de São Paulo.

Mas mal iniciou sua gestão e já foi quase abalroado pelas manifestações de junho, tendo sofrido o desgaste da manutenção do aumento da tarifa de ônibus, mais tarde revogada em constrangedora cerimônia televisiva em que pareceu secundar o governador tucano Geraldo Alckmin, na sede do governo do estado.

Como bem se sabe, em política é sempre muito importante dar o tom do debate, tomar a dianteira da agenda pública, manter a oposição no córner e fazer com que ela simplesmente reaja, ao invés de ser a protagonista da cena.

Nesse sentido, a gestão Haddad saiu das cordas nas quais se encontrava em junho e retomou o protagonismo do debate ao propor o reajuste escalonado e progressivo do IPTU na cidade de São Paulo, nos fazendo lembrar a todos que política tributária, antes de servir para irrigar os cofres do poder público, existe para promover justiça social.

Não a toa os setores mais reacionários da cidade passaram a bombardear a medida diuturnamente, e com liminares concedidas por juízes o reajuste está, por enquanto, suspenso.

Mesmo com grande parte da cidade estando isenta do pagamento do tributo, ou ter tido redução em relação ao que foi pago no ano passado, ou ter tido aumento abaixo dos índices oficiais de inflação, a maioria dos paulistanos está neste momento convencida de que o reajuste do IPTU foi uma grande maldade por parte da prefeitura. Esta é uma guerra que Haddad está por enquanto perdendo para a direita.

A outra guerra que pode estar começando a ser perdida é do desbaratamento do esquema de corrupção pelo qual fiscais municipais teriam desviado cerca de meio bilhão de reais dos cofres da prefeitura durante a gestão de Gilberto Kassab.

Notícias dão destaque ao fato de que um dos principais secretários de Haddad teria recebido R$ 200 mil destes fiscais a título de financiamento de sua campanha eleitoral para vereador ano passado. É algo que precisa ser esclarecido.

Mas manchetes capciosas e textos de colunistas sabidamente anti-petistas parecem querer debitar na conta de Haddad e do petismo os malfeitos que supostamente teriam ocorrido em gestões de partidos de direita, como o PSD (Kassab) e o PSDB (José Serra).

Um famoso colunista carioca chega mesmo a afirmar que PT e PSDB disputarão, na eleição de 2014, um campeonato particular para ver quem roubou mais.

Ai surge a pergunta: a quem interessa isso, a criação dessa ideia de um mar de lama generalizado? E quem se beneficia disso, desta tentativa de enojar o eleitorado em relação aos partidos tradicionais e mais conhecidos?

Talvez àqueles partidos e candidatos que se apresentam como puros, quase apolíticos, e diferentes de tudo que está ai?

A eleição de 2014 está na ordem do dia, e o combate permanente às medidas protagonizadas pela gestão de Haddad à frente da prefeitura de São Paulo é parte da guerra maior que se anuncia, pelo governo do estado de São Paulo e pela Presidência da República.

E vou além: desgastar Haddad é não apenas jogar água no chope petista para 2014, como tentar a inviabilizar o nome de um político jovem, ponderado e firme, como é caso do prefeito paulistano, o qual é um nome que pode vir a ser uma alternativa do petismo para vôos maiores num cenário futuro para além do próximo mandato presidencial.

*Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor do Curso de Graduação em Gestão de Políticas Públicas e do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da USP.

Leia também:

Nabil Bonduki: Mídia faz até isentos ficarem “enfurecidos” contra o IPTU de Haddad


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

J Souza

Uma hora diminuem impostos sobre carros, eletrônicos, tablets, móveis e outras “porcarias”.
Outra hora aumentam os impostos sobre os imóveis.

Uma hora prometem bilhões nos currais eleitorais dos políticos da base aliada ou dão (via BNDES) bilhões do tesouro para empresas privadas mal geridas.
Outra hora dizem que vão cumprir o superávit fiscal para pagar juros da dívida eterna (que continua aumentando para reelegerem-se “ad aeternum”…), cortando investimentos inclusive em saúde e segurança pública.

Uma hora dizem que vão combater a inflação.
Outra hora autorizam gatilhos inflacionários “previstos em contratos” de reajustes para tarifas públicas privatizadas.

É nesse ritmo “bipolar” que os partidos no poder vão enganando os eleitores para se manterem onde estão…

lukas

Haddad faz parte do petismo cheiroso. Me parece ser este o futuro do PT: menos barba e mais banho.

Ana Cruzzeli

A questão é 2014? SIM
A questão é inviabilizar a propositura de nomes novos ao governo central no futuro e Haddad é nome que pode ser sim lançado no futuro? SIM

Mas a questão central é simples:

SOBREVIVÊNCIA

A direita não pode mais se dar ao luxo de pensar em 2018 eles não tem tanto lastro assim. A questão de 2014 é crucial com toda a certeza, mas o caso Haddad é mais sensivel, a questão já é 2016 é ele ser o boi de piranha da vez.
O Haddad foi muito sábio, ele colocou todos as questão polêmicas já nesse 2013, já no primeiro ano de governo. Ele sabia que a coisa seria dura e se lançasse questões complexas para mais adiante seria ruim para continuidade do projeto de esquerda para além de 2016.
O PT e todas as forças de esquerda tem essa janela de oportunidade em 2014 para destronar o PSDB e sua sua laia. Quando o Haddad lança luz a gestão Kassab/Serra ele está dando muita munição para o Padilha em 2014
O Haddad está jogando para si todo o ódio da direita e assim facilitar a vida do Padilha. O Haddad é bom companheiro, a esquerda pensa em grupo e não são voluntariosos. Cada qual paga com sacrificio para que outros possam também fazer a sua parte.
Em 2012 muitos se sacrificaram para que Haddad fosse prefeito, hoje Haddad retribui na mesma moeda. Volto a dizer, para entender como esses petralhas e comunistas pensam basta observar um formigueiro.
Pensar coletivamente é tudo minha gente. A caminhada é dura e cada um terá a cicatriz da batalha, Haddad terá a sua.

Pedrop Henrique Florêncio

Agora entendi o porque da propaganda da ISTOÉ.

Pedrop Henrique Florêncio

Sr. Dimas

Começaram as exonerações dos anti-petistas (porque não diz tucanos ou reacionários? Assuma pô!) Está repercutindo que auditores das administrações reacionárias anteriores estavam roubando a prefeitura meio bilhão. Dariam uma enorme ajuda para fazer com que esses R$ 00,20 não fossem necessários nem nogociar com o governo federal a quitação de dívidas contraídas pelo Kassab e o Padrinho político Serra.

Como disse o próprio Haddad e o Lula em outras ocasiões o monopólio faz com que isentos e desinformados da periferia reajam institivamente contrao aumento do IPTU dos mais afortunados.

Haddad começou com a corregedoria (que convenientemente não existia) e já começou a colocar os nomes nos bois. A mídia tucana descaradamente tenta esfumaçar o escândalo bancando a estapafúrdia idéia de que os tais corruptos nomeados pelo Serra/Kassab (do que vive o Serra?) estavam contribuindo para a campanha de petistas?

Cara como os reacionários ignoram esse tipo de pretexto? No mensalão bancaram a idéia de que é neceesário pagar para que a bancada da própria situação inclusive do próprio partido votassem o que votariam do conttrário seriam oposição.

Coragem Haddad a mídia de hoje não está mais com a corda toda da época da Marta. As manifestações de Junho queimaram mais a mídia do que qualquer um, ignorar isso sim é leviano. Dilma leva no primeiro turno, mas 70% da população não confia na imprenssa Marrom!

Dimas

Os petistas podem achar que ao defender seus governos estão colaborando com o partido. Na minha opinião trata-se de um grande erro. A tentativa de bom mocismo do PT não ajuda a esclarecer a população. No fundo, não acredito que este partido tenha algo a acrescentar. A Prefeitura paulistana está infestada de anti-petistas ocupando os cargos de confiança. Até hoje, tirando estas grandes ações (IPTU e corredores) o dia-a-dia da administração continua no marasmo. Pior, secretarias ligadas ao social vem reduzindo as verbas. Em breve, a base dos funcionários acabará por se levantar contra Haddad sob os alegres olhares das chefias.

    Julio Silveira

    Dimas, você tocou no ponto.
    O PT tem se revelado um partido que no poder se imiscui com a herança maldita que recebe do passado ao invés de expurga-la.
    Discursa sobre um bom mocismo mas não se empenha em expor o mal mocismo de seus adversários exorcizando-os, ao contrário. Parecem acreditar que isso lhes trará um armistício com estes. Deixam nas costas dos seus abnegados militantes, muitos pouco realistas, o papel de contrapor aos seus opositores, mas isso com cada vez menos ferramentas.
    O Haddad, nesse negocio do imposto, trás o novo mais velho do mundo e isso já do conhecimento da cidadania. Criar novidades mal explicadas, de surpresa, sem propor um debate com a sociedade de seu município, onde o conhecimento sobre suas boas intenções ficam restritas ao seu circulo de privilegiados que acreditam ser a cidadania seus apêndices, mas ao contrário e até por isso, parece mesmo ser uma facada pelas costas da cidadania, que não é obrigada a intuir suas boas intenções. Não credito nessa falha por ingenuidade, afinal a falta de comunicação tem sido cobrada direto deste partido. E se não tem boa comunicação, talvez seja por que de fato se arvorem em arrogância ou não tenham nada a ser dito, só restando a cidadania se defender. Ao partido rever seus conceitos com humildade, sem procurar justificativas ou atribuir aos outros a culpa pelos que buscam se defender.

Tiao Macalé

Podem chorar o quanto quiserem…

Eu já cantei essa pedra e vou repetir: o Haddad será o sucessor da Dilma na Presidência da República!!!

José X.

Podem colocar mais um problema aí na conta do Haddad: as mudanças no trânsito. Não sei se estas mudanças vão ser boas ou não, mas isso é irrelevante>: elas *também* serão usadas pra crucificar o Haddad. Espero que ele tenha boa saúde e boa cabeça, porque esse 3 anos que restam de seu mandato sendo bombardeado diariamente pelos bandidos da mídia e da oposição podem envelhecê-lo rapidamente.

Deixe seu comentário

Leia também