Vivaldo Barbosa: Episódio do senador e seu dinheiro sujo nas partes íntimas nos serve de lição sobre corrupção e política

Tempo de leitura: 3 min
Jair e Chico, o senador do dinheiro sujo nas nádegas. Reprodução

CORRUPÇÃO E POLÍTICA

Por Vivaldo Barbosa*

Este episódio do senador e o dinheiro nas suas regiões íntimas é bem elucidativo para compreensão de fatos recentes da vida republicana brasileira.

É evidente que não se deve atribuir isto ao governo atual, nem ao presidente Bolsonaro.

Mas o fato de ele ser vice-líder do governo, dos líderes do governo no Senado e na Câmara estarem sendo processados por corrupção e terem sido objeto de buscas e apreensões é revelador do quanto se lida com os interesses da República com tanto descuido e até mesmo descaso.

As situações de corrupção rondam todos os tipos de governo, mas são evidentemente mais presentes nos ambientes conservadores e onde mais circulam interesses econômicos e o mundo do dinheiro.

E também em ambientes progressistas menos cuidadosos.

Me lembro da advertência de Leonel Brizola na primeira reunião do secretariado em seu governo no Rio de Janeiro, em 1983:

“Tomem cuidado. Em seus gabinetes nunca vai circular uma mãe com filho no colo passando fome. Por lá vão andar larápios e gente cuidando de interesses às vezes escusos. E notem que eles (o outro lado, o conservadorismo) vão estar sempre nos mirando”.

A questão da corrupção tem sido uma arma de ação política decisiva em muitos momentos no Brasil e em outros países.

Criou-se a figura do “mar de lama” para derrubar o Presidente Vargas.

Em 1964, deram o golpe para combater a corrupção e o comunismo. Não encontraram nada, nem uma coisa nem outra. Mas isto não importava, os meios de comunicação estavam aí para criar o clima.

Agora, nos episódios mais recentes do criado mensalão, da derrubada da Presidente Dilma, na retirada de Lula das eleições e sua prisão e nos fatos que levaram à eleição de Bolsonaro, outro fator entrou em cena: o Judiciário e o Ministério Público. No meio, o acordo com o Ministério da Justiça dos Estados Unidos.

Igualmente, a participação dos meios de comunicação.

Os juízes e promotores que se reuniram como a República de Curitiba e seu pé no Tribunal Federal de Porto Alegre e no STJ e Supremo elegeram o combate à corrupção como missão.

Passaram por cima das leis, da Constituição e da natureza das suas instituições.

A missão do Judiciário e do MP é combater todos os crimes, seja de que natureza for.

A lei, que emana dos poderes eletivos na República, é que classifica os crimes. Algumas leis chamam até de hediondos alguns crimes. Não compete a juiz ou promotor esta classificação.

A primeira lei da República, do Ministro da Justiça Campos Salles, dizia que a função do Ministério Público era fiscalizar a execução do direito, em sentido bem amplo.

Aliás, por definição teórica, o MP é considerado o fiscal da lei. E assim o é o juiz.

Dar preferência a combater determinado crime, classificá-lo com penas maiores ou menos severas é da esfera da política.

Para tanto, tem que se ir a praças públicas, subir no caixotinho, pedir votos e chegar ao Congresso Nacional. E fazer as leis.

Ser promotor, procurador ou juiz não dá direito a fazer distinções, nem ter preferências.

Justificam que corrupção retira recursos de saúde, educação e outras necessidades.

Por acaso o contrabando também não?

Falta de arrecadação adequada, falhas na fiscalização ou outros delitos?

Os procuradores e os juízes da República de Curitiba elegeram a corrupção como missão com nítidos propósitos políticos.

E até se acertaram com o FBI e Ministério da Justiça americano. E com respaldo dos meios de comunicação, total apoio.

Tudo ficou claro com os diálogos que travaram a respeito, como revelados.

O procurador Dellagnol, um celerado neste propósito, chegou a visualizar um centro de corrupção que mapeou e a imprensa difundiu com gosto especial. E o juiz Moro todo engajado na campanha do Bolsonaro.

Este episódio do senador e de seu dinheiro sujo nos serve de lição: para enfrentarmos a corrupção é necessário um esforço geral, uma ação da República, de todas as instituições, todos temos de estar envolvidos.

Não podemos deixar que sirva mais a propósitos de derrubada de governos, de tomada de poder.

* Vivaldo Barbosa é advogado,  professor e coordenador do Movimento O Trabalhismo. Brizolista e trabalhista histórico, foi deputado federal constituinte pelo PDT e secretário da Justiça de Brizola.


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Comentários

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Zé Maria

É verdade, Professor Vivaldo.

A Sonegação de Impostos, por exemplo,
retira mais Dinheiro Público da Saúde
do que esses casos de corrupção aí.

Aliás, está na hora de o Congresso
criminalizar os Sonegadores e
fazê-los pagar o que devem,
não isentá-los como é feito e
defendido por Guedes e Maia.

Henrique Martins

https://www.brasil247.com/midia/wall-street-journal-mark-zuckerberg-orienta-o-facebook-para-favorecer-direita-e-prejudicar-sites-e-iniciativas-de-esquerda

Isso é só a ponta do iceberg. O Facebook foi usado para promover a Primavera Árabe e insuflar as manifestações de junho de 2013 contra o governo Dilma Rousseff. Depois que o golpe foi descoberto imediatamente Mark comprou o WhatsApp e agora a rede está sendo usada para propagar fake news e eleger governantes de extrema direita, além de derrubar governos.
Mark está a serviço do demônio.

Roberto Garcia

bela contribuição. esse vivaldo deveria escrever mais. precisamos de gente como ele.

Henrique Martins

https://www.diariodocentrodomundo.com.br/video-apresentadora-da-record-passa-pano-em-robinho-e-fala-em-prostituicao-e-algo-programado/

Robinho – cidadão do bem – se comparou publicamente ao demônio que nos governa. Obviamente que ele pediu ao demônio dono da Record para mandar a moça fazer o serviço sujo para passar um pano. Afinal, não fica bem ser comparado ou elogiado por estuprador.
A propósito, é impressionante até onde uma pessoa pode descer para manter um emprego na TV.

Henrique Martins

Obviamente a apresentadora foi intimada por Edir Macedo a fazer essa defesa de Robinho a mando de Bolsonaro já que o jogador – cidadão do bem – se comparou a ele.
Afinal não fica bem ser comparado a um estuprador.

    LUIZ GOMES MOREIRA

    Isto é fichinha para p fulano, pois ele disse que não estrupava a deputada porque era feia e não era seu tipo. Creio que o ROBINHO aprendeu com ele. Bom aluno.

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