Vinicios Betiol: Já estamos na fase da implementação do Reich no Brasil

Tempo de leitura: 4 min
Arquitetura da Destruição

Negando o nazismo, o “terceiro reich” está se implementando

Por Vinicios Betiol*

Depois da Segundo Guerra Mundial os defensores do nazismo e do fascismo se esconderam no mais putrefato fundo do esgoto.

Esses dois termos passaram a ser intolerados socialmente e criminalizado na maior parte do mundo.

Sem força e com medo, seus seguidores não tinham a coragem de expor seus abjetos pensamentos.

Assim foi durante décadas, mas sua existência não estava acabada e sim cristalizada, esperando o momento oportuno para voltar.

Porém, eles tinham uma grande dificuldade de sair do ostracismo causada pelo peso dos termos “nazismo” e “fascismo”. Então encontraram a fórmula ideal para ressurgir: recriar o discurso nazifascista, sem se assumir nazifascista.

Dessa forma, puderam retirar o peso das costas causado pelo desgaste com os nomes e símbolos dessa ideologia.

Obviamente que era necessário encontrar o contexto histórico adequado para isso. E infelizmente esse contexto é o que vivemos.

O nazifascismo se alimenta do caos, da ignorância e usa o controle da informação como instrumento de poder.

O mundo vive uma série de distúrbios sociais e econômicos, como crises migratórias; desemprego; precarização do trabalho; violência urbana e corrupção.

As pessoas estão insatisfeitas e anseiam por mudanças. Somado a isso, temos o baixo grau de compreensão social e histórico por boa parte da população.

Para completar a cereja do bolo, temos o uso desordenado das redes sociais por uma população que não estava preparada para receber e filtrar um grande número de informações.

A reorganização dos grupos nazifascistas podem estão se resumir em quatro fatores: negação do nome; caos social; ignorância e mau uso das redes sociais.

Esse é o cenário em que eles ensaiam voltar para fazer o que não conseguiram no século passado.

O nazifascismo é uma ideologia supremacista; ultranacionalista e ultraconservadora. Sendo assim, apelam para a defesa do país contra um suposto inimigo.

Nessa luta insana em nome da pátria renegam tudo aquilo que não consideram como “os verdadeiros valores nacionais tradicionais”.

É por isso que os nazistas perseguiam estrangeiros; comunistas; gays e tudo o que não consideravam atos dos grupos tradicionais alemães.

No Brasil atual, esse discurso com apelo ultranacionalista e ultraconservador vem sendo gradativamente aplicado através do uso das redes sociais, sobretudo se aproveitando do fator “ignorância” de parte da população.

As redes sociais permitem levar uma ideologia de forma simplista e de fácil compreensão.

Nenhum professor de história explicará todo o complicado contexto do nazifascismo através de um meme ou de um vídeo sensacionalista contendo fake news.

Mas os nazifascistas não têm esse compromisso com a verdade. Só precisam angariar seguidores.

Então produzem conteúdo com base em notícias falsas ou sensacionalistas.

O objetivo deles é sempre causar revolta de modo com que transformem pessoas pouco instruídas em massa de manobra, apelidadas na internet como “gados”.

Para as pessoas instruídas a atuação nazifascista desses grupos estava muito clara. Até porque eles copiaram a ideologia quase que idêntica.

Os pilares do nazifascismo (supremacia, ultranacionalismo e ultraconservadorismo) servem de base para tudo o que fazem.

Obviamente que atualizados para o ano de 2020.

Troca-se o discurso de ódio ultranacionalista contra o imigrante judeu pelo imigrante haitiano ou muçulmano, além de um ou outro ajuste ao atual recorte espaço-temporal, o restante chega ser descarado.

Até mesmo bordões nazistas como “Alemanha acima de tudo” foram recriados na versão brasileira.

O discurso ultraconservador da ku klux klan de se autointitular “cidadãos de bem” também foi apropriado pela extrema direita nacional.

Mas ainda assim eles seguem a tática de negar que são nazifascistas, embora percam o controle emocional e se deixem transparecer em alguns momentos, como foi no caso do secretário de cultura que em um transe sórdido recriou, gravou e divulgou o cenário e fala histórica de Goebbels, um dos líderes do regime nazista.

Talvez se ele tivesse o mesmo discurso, mas sem copiar o cenário e as palavras, nenhum dos seguidores da extrema direita perceberia que estavam aclamando um discurso nazista.

O problema é que a polarização tem ficado cada vez maior.

Aqueles que compreendem o que está ocorrendo estão inquietos e não querem deixar o que ocorreu na Alemanha acontecer aqui.

Por outro lado, os nazifascistas não querem perder o espaço que já conquistaram em nossa sociedade e estão se radicalizando.

Cada vez mais fica difícil deles esconderem seus reais propósitos e já começam a assumir símbolos e pautas que camuflavam até então.

Estamos hoje no momento em que já falam abertamente em fazer uma ditadura para perseguir os opositores; já expõe bandeiras e símbolos utilizados por nazifascistas; além de pregarem o ódio aos antifascistas, que nada mais é do que um grupo contrário ao nazismo e ao fascismo.

Por que alguém que não é nazista ou fascista se incomodaria tanto com um grupo de combate a essas ideologias nefastas?

O primeiro passo para a implementação do nazifascismo no Brasil já foi concluído, com a criação de uma base ideológica, mesmo que disfarçada.

Esse processo foi consideravelmente lento e durou os últimos anos.

Estamos agora no segundo passo, que se consiste nas ameaças à democracia; às instituições e a todos que pensam diferente.

Os ataques são coordenados e seus seguidores estão tomados pelo ódio.

Esse ódio leva a uma gigantesca cegueira e essas pessoas perdem a capacidade de raciocinar. A maioria deles não faz ideia ao que estão servindo.

Diante do nível de radicalização e tensão, estamos perto do início do terceiro passo: o “Terceiro Reich”.

Se esse terceiro passo for dado, eles poderão iniciar uma ditadura e fazer o mesmo que Hitler fez com todos aqueles que não considerava pertencentes à Alemanha e ao modelo tradicional de vida alemão.

A ideologia já foi posta, a ameaça já foi feita, vamos esperar o pior acontecer?

Deixou de ser um debate entre esquerda e direta, socialistas e capitalistas.

Estamos falando sobre civilidade ou barbárie, democracia ou ditadura.

Não é mais uma questão de política e sim de caráter.

Não nos cabe orgulho ou individualismo neste momento.

É hora de todos os que não querem uma ditadura nazifascista se juntarem, independente de posição política.

Mesmo que não sejam aliados políticos, nada impede de defenderem uma nobre causa em comum.

É preciso defender as instituições e a democracia.

Sem isso, nem opositores ideológicos ou políticos poderemos ter no futuro.

Não há como voltar no tempo e mudar o que aconteceu na Alemanha, mas podemos nos posicionar e mudar nossa história que será contada no futuro.

Como será que nossa geração será lembrada nos livros de história?

A que sucumbiu ao nazifascismo ou a que resistiu a ele?

*Pós-graduado e Mestre na área de Geopolítica pela UERJ


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Comentários

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henrique de oliveira

Fico pensando como um povo inteiro ainda tem medo de militares covardes de pijama e de falastrões de meia tigela.É só bater o pé que essa gente se caga.

Zé Maria

Olha, com essa Mídia Venal, Corrupta, Comprada e Vendida,
se aproveitando do Neofascismo para implementar, à força,
um Projeto Anti-Econômico e Anti-Social no País, tá difícil.
As Empresas de Comunicação estão literalmente cobrando
pelo apoio ao (des)governo Bolsonaro/Guedes/Mourão.
E a Globo ainda tira uma lasquinha do Genocida do Planalto
para promover o Dória, o PSDB e toda a Corja Ultra-Neoliberal,
escanteando os Partidos de Esquerda dos Protestos de Rua.
Em Porto Alegre, por exemplo, a TV afiliada da Globo chegou
ao ponto de dizer que houve duas manifestações pelas ruas:
uma contra o Racismo e outra contra o Fascismo; como se
fossem movimentos distintos.

Henrique Martins

Bolsonaro já disse certa vez que a ditadura tinha que ter matado ‘uns trinta mil’
Pois é. Por castigo já temos 37 mil mortos pela Covid no governo dele. Considerando que ele tratou a pandemia de ‘gripizinha’ e que ainda não chegamos no pico, ao final dela não vou me surpreender se umas 30 mil mortos forem colocadas na conta dele. É a lei do retorno. Esse homem com certeza vai ser acusado de genocida. Pelo jeito a providência divina está dr olho nele.

Antenor

Faço minhas as suas palavras.

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