O “aceno” de Jilmar Tatto
Por Valter Pomar*, em seu blog

Jilmar Tatto é um dos doze parlamentares petistas que votou a favor da PEC das prerrogativas.
Diante da péssima repercussão, divulgou uma explicação.
A explicação de Tatto começa por algo óbvio: a correlação de forças no Congresso é muito ruim para nós, cabendo ao PT o “dever” de “garantir a governabilidade e buscar o diálogo permanente”.
Acontece que o “dever” é do Partido, não de fulano ou beltrano.
Portanto, se fosse o caso de votar a favor da tal PEC, a decisão caberia à direção do Partido, da qual Tatto faz parte e cuja executiva reuniu-se na manhã do mesmo dia em que ocorreu a polêmica votação.
Mas nem a direção do Partido, nem a bancada do Partido recomendaram voto na tal PEC.
Portanto, o tal “dever” não serve de justificativa para o voto que os 12 deram a favor da PEC das prerrogativas.
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Mas para Tatto, ao menos nesse caso, a chave do dever parece estar noutro lugar: “a liberação do Governo para que a base votasse livremente, parte da bancada do PT optou por votar com a maioria nesta PEC por entender que seria o gesto necessário aos partidos do dito Centrão, para evitar o mal maior que é a aprovação da PEC da Anistia”.
Se entendi direito, é assim: se o governo tivesse indicado votar contra, Jilmar teria obedecido. Mas como o governo liberou, Jilmar votou de acordo com o que acha que é seu “dever”.
Entretanto, como no fundo Jilmar sabe que seu voto pode não “evitar o mal maior”, ele amplia a aposta e diz que seu gesto abriria “caminho para a votação da MP da conta de luz, a isenção do Imposto de Renda para quem ganha R$ 5 mil, redução do IR para quem ganha até R$ 7,5 mil, a taxação dos super-ricos, o fim da escala 6×1 e a Tarifa Zero no transporte público”.
Ou seja: o voto de Jilmar supostamente nos ajudaria em toda a pauta do povo. Um evidente exagero, por diversos motivos.
Jilmar termina sua explicação dizendo não esperar “concordância” nem “complacência”, só um debate “respeitoso” e “sem ataques pessoais”.
Assim sendo: quanto ao mérito, especialmente no atual contexto, a PEC das prerrogativas não merece o voto de nenhum parlamentar de esquerda, por ser como Tatto mesmo reconhece um “retrocesso”.
Para além do mérito, há o contexto. A péssima repercussão indica que os 12 cometeram, na melhor das hipóteses, um erro de avaliação.
Esse erro tem uma causa, denominada há tempos de “cretinismo parlamentar”, ou seja: achar que o Parlamento é o centro do mundo, importando pouco o que acontece fora dele.
Nas últimas semanas, saímos da defensiva e crescemos nas pesquisas porque fomos para o enfrentamento, não capitulando de antemão à correlação de forças existente no Congresso. O comportamento dos 12 nesse episódio foi na contramão disso.
O mais grave, contudo, é quando (para citar um amigo) o cretinismo parlamentar é mais cretino que parlamentar.
Nestes casos, o pragmatismo não dá resultados e o “aceno” em questão assume um formato que não vou descrever aqui para não ofender sensibilidades.
Valter Pomar é professor da UFABC (Universidade Federal do ABC)
Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
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Jeferson Miola: Súcia parlamentar




Comentários
Zé Maria
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Fazer “Acenos” Para o Fascismo e o Neoliberalismo.
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Nelson
Bah!
Cara de pau pura, ou cretinismo mesmo, como aventou o Pomar. Ou coisa pior.
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Diz o eminente “pralamentar” que cento e trinta parlamentares são de esquerda. Será que são mesmo? E, com uma grande maioria contra era preciso ceder aqui para ganhar ali.
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Ora, ceder num ponto em que a própria esquerda passou a chamar PEC da Blindagem de Bandidos? O que é que a maioria do povo deve pensar da esquerda diante de uma capitulação dessas?
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Ademais, como a direita, e a mídia hegemônica, vai usar e abusar da divulgação dessa “cagada” da esquerda, essa mesma esquerda vai acabar se sentindo ainda mais inferiorizada nessa correlação de forças. Daí resultando que vai ceder ainda mais para conquistar algo na contrapartida?
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Sim, as pautas enumeradas pelo “pralamentar” são importantes. Porém, não justificam que a esquerda entregue seu capital ético, o que ainda resta, em troca.
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E no que iríamos ceder se fôssemos tentar aprovar outras propostas de muitíssimo maior vulto, imprescindíveis para colocar o país nos trilhos, como a necessária revogação das “reformas” Trabalhista e da Previdência, do Marco do Saneamento, do Teto dos Gastos, da PPI da Petrobras, das extremadamente danosas privatizações?