Tatiana Merlino: “Seguiremos em busca de Justiça contra Ustra e os outros torturadores do meu tio”

Tempo de leitura: 2 min

O jornalista Luiz Eduardo Merlino (à esquerda) morreu em 1971 devido a atos de tortura comandados e praticados pelo coronel Ustra nas dependências do DOI-CODI, em São Paulo

por Conceição Lemes

Depois de décadas de luta pela responsabilização da morte do jornalista Luiz Eduardo da Rocha Merlino, a família obtém uma vitória na Justiça.

Em decisão inédita, a juíza Claudia de Lima Menge,  da 20ª Vara Cível do foro central de São Paulo, condenou o  coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra  a pagar uma indenização de R$ 100 mil à família de Merlino, morto sob tortura em 19 de julho de 1971, nas dependências do DOI-Codi.

“Embora nenhum dinheiro possa repor uma vida, essa ação foi nossa única saída para responsabilizar o coronel Ustra, já que com a interpretação da Lei de Anistia que vigora hoje no país os crimes ações penais não possam ser movidas”, comemora a jornalista Tatiana Merlino. “A decisão significa muito para a família. Para se ter uma ideia, minha avó, Iracema Merlino, moveu uma ação contra a União em 79, que foi extinta. Antes dessa ação, a família já havia movido também uma ação ‘civil declaratória’, que foi extinta em 2008.”

Militantes do Partido Operário Comunista (POC), Merlino e Angela Mendes de Almeida estavam clandestinos desde 1968. Em 1971, após um período na França, o jornalista voltou ao Brasil. Em 15 de julho, quando visitava a família em Santos, litoral paulista, foi levado preso por agentes do DOI-Codi.

Segundo relatos de testemunhas, nas dependências do órgão Merlino passou por severas sessões de tortura, que acarretaram sua morte quatro dias depois. Companheiros de prisão, entre eles o ex-ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Vanucchi, afirmam tê-lo visto com evidentes sintomas de falta de circulação nas pernas, consequência das horas no “pau de arara”.

A versão oficial da sua morte foi de suicídio: ele teria se jogado na frente de um carro quando era transportado ao Rio Grande do Sul para reconhecer colegas militantes.

“A sentença da juíza Cláudia Menge, portanto, é excelente”, afirma Tatiana. “E seguiremos em busca de justiça contra Ustra e os outros torturadores de meu tio Luiz Merlino.”

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Ramalho

Ustra é apenas um pau mandado. Claro que tem de ser punido, mas e os mandantes? Os mandantes não serão punidos?

Os mandantes são os oficiais generais baderneiros, indisciplinados, que sublevaram-se em motim e traíram seus comandantes, em especial o comandante-em-chefe das forças armadas,o presidente da república. Traíram as forças armadas,sujando para sempre a sua história, e traíram o Brasil e os brasileiros. São estes os maiores culpados, em nome dos quais as torturas foram praticadas. São culpados pois transformaram as forças armadas em bando armado, um bando sem disciplina, sem ética e sem moral, um bando armado sem controle, e bando armado é capaz de todas e quaisquer atrocidades.

Punição severa para os amotinados golpistas de 1964. Só a punição severa dos golpistas, mesmo post mortem, desestimulará novos golpes no Brasil. Punição aos torturadores, mas, principalmente, punição aos golpistas.

    Pitagoras

    E estes assassinos continuam à solta vociferando e tramando contra uma ainda tímida democracia, em vez de reconhecerem os crimes que cometeram.

Lu Witovisk

Falando em ditadura, ai vai:

PSDB apoia oficialmente golpistas paraguaios:

http://altamiroborges.blogspot.com.br/2012/06/psdb-apoia-o-golpe-no-paraguai.html

Mardones Ferreira

É isso aí. Luta e coragem para vencer.

Parabéns à família de todos os perseguidos, presos, torturados e mortos pela ditadura que iniciou-se em 1964.

Ainda há juízes no Brasil para horror daqueles que desejam fazer do Brasil um imenso Paraguai, com todo respeito ao povo paraguaio.

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