Rennan Martins: A guerra de Eduardo Cunha contra Rodrigo Janot visa encobrir o quê?

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Eduardo Cunha

Eduardo Cunha e o baixo clero deslumbrado

por Rennan Martins, no Desenvolvimentistas, via e-mail

No último domingo o jornal O Globo publicou entrevista com o presidente da Câmara dos Deputados, senhor Eduardo Cunha. Repleta de tiradas ácidas e arroubos, a matéria demonstra um político deslumbrado, convencido de que chegou ao topo do poder. À vontade diante da imprensa aliada, o político deu mostra de seu caráter autoritário e da total falta de compromisso com o país.

A manchete já diz a que veio o parlamentar: “A gente finge que está lá (no governo). E eles também”. Destemido de eventuais represálias, Cunha diz o que qualquer observador minimamente atento constata. A despeito do discurso de independência com o qual se elegeu presidente da casa, o que se vê é um político que desfruta das benesses de ser situação ao mesmo tempo em que encaminha a agenda derrotada nas urnas.

O peemedebista abriu diversas frentes de projetos que representam retrocesso do ponto de vista da esquerda. Atualmente tramitam, a toque de caixa, o PL 4330, que regulariza a terceirização ilimitada, a PEC 451 que enfraquecerá o SUS, transformando a saúde não mais em direito mas em serviço fornecido pelas corporações privadas de seguro, e ainda a PEC 171 que, aprovada pela CCJ última terça-feira (31), prevê a redução da maioridade penal para 16 anos.

Incluído na lista dos suspeitos de envolvimento no esquema investigado pela Operação Lava-Jato, o deputado não enxerga isso como um impedimento em relação a CPI da Petrobras que instalou. Muito pelo contrário, o próprio foi quem indicou o colega de partido, Hugo Motta, da Paraíba, para presidir os midiáticos “inquéritos” parlamentares.

Quando inquirido sobre a pretensão do PMDB de obter mais cargos junto as fileiras governamentais, tira do bolso que quer se manter longe do que chama de “ladrões técnicos”. Alega que um monte de “malandro” o circula com propósitos escusos, enquanto ele se mantém limpo, trabalhando retamente na representação dos diversos interesses privados que o financiam

Disposto a flexibilizar o ajuste fiscal aos abonados, Eduardo Cunha esclarece que a Medida Provisória 669, que extinguiria os benefícios fiscais as empresas, precisa chegar ao Congresso na forma de projeto de lei. No entanto, quando o tópico é a restrição de direitos trabalhistas não há essa exigência, ou seja, para arrochar os de baixo são admitidas medidas de efeito imediato, já com os de cima é necessário todo o demorado rito do PL. Se lembrarmos que o Congresso triplicou o orçamento do fundo partidário para este ano, fica evidente que este articulista  acertou quando em fevereiro disse que sua gestão seria de “populismo” para os privilegiados e arrocho aos trabalhadores.

Lembrado de que basta a presidenta Dilma e o vice Michel Temer viajarem para que ele assuma o Palácio do Planalto, Cunha faz troça do ex-ministro da educação, Cid Gomes, demitido justamente por falar algumas verdades a ele no plenário da Câmara.

Por fim, dando mostra de seu desrespeito completo à divisão de poderes e à democracia em si, que pressupõe os freios e contrapesos, Eduardo Cunha declara que está em “guerra aberta” contra o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Ora, se está tão confiante da própria lisura qual é a razão de interferir tiranicamente no trabalho da justiça? A guerra em questão visa encobrir algo?

Como cristão que se declara, o deputado deveria atentar aos ensinamentos de Salomão que constam no livro de Provérbios, que no capítulo 16, versículo 18, alerta que “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda.”

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italo

Ninguém questionaria porque o nome do Cunha não havia vazado para a imprensa, se é que não vazou, enquanto conquistava a Presidência da Câmara antes do Janot revelar os nomes publicamente. O entrevistador é apoiador do entrevistado, não tem como se sair mal. fala sério.

FrancoAtirador

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Daqui a uns anos as Penitenciárias braZileiras
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terão a Alas-Berçário para Encarceramento
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de ‘Criminosos’ Pretos e Pobres Periféricos.
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(http://jornalggn.com.br/blog/urariano-mota/a-criminalizacao-dos-sem-aniversario-por-urariano-mota)

ANDRE

http://br29.com.br/aecio-deve-ser-incluido-nas-investigacoes-da-lava-jato-provas-ja-sao-suficientes/
Aécio deve ser incluído nas investigações da Lava Jato. Provas já são suficientes

Desarquivamento – De acordo com os parlamentares do PT, o senador tucano Aécio Neves deve ser incluído nas investigações da Operação Lava Jato, uma vez que já existem “provas suficientes” para a abertura de inquérito. O entendimento dos parlamentares petistas é reforçado pelo Sindicato dos Advogados de São Paulo, que também solicitou à PGR o desarquivamento do pedido de investigação contra Aécio Neves.

“Esquecido” pela justiça e ignorado por setores da mídia brasileira, a Lista de Furnas – esquema de desvio de verbas da Companhia Energética de Minas Gerais para abastecer as eleições do PSDB, voltou ao centro de debate. Isto porque, nesta semana, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot convidou para uma conversa os deputados federais do PT mineiro, Padre João e Adelmo Leão e o deputado estadual também de Minas Gerais, Rogério Correia.

Motivou o convite de Janot o fato dos parlamentares mineiros terem protocolado na Procuradoria Geral da República (PGR), no último dia 19, um pedido para investigação do envolvimento do ex-candidato à Presidência da República, presidente do PSDB e senador Aécio Neves (PSDB-MG) no desvio de recursos de Furnas. Participaram também do encontro com o procurador, os deputados Pedro Uczai (PT-SC) e Fernando Marroni (PT-RS).

O deputado Padre João contou que a conversa com o procurador durou mais de uma hora. Segundo ele, nessa conversa, os parlamentares detalharam sobre a Lista de Furnas, apontando que, na lista, existem pessoas que receberam recursos do esquema e estão dispostas a testemunhar. Além disso, explicou Padre João, o debate girou em torno do trabalho de investigação da procuradora Andrea Bayão. Nesse ponto, segundo o deputado, o procurador se mostrou “surpreso” sobre as razões desses processos se encontrarem nos Estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais.

“O procurador se mostrou um pouco surpreso porque os processos referem-se a uma pessoa de foro privilegiado. Eu creio que ele vai solicitar que esses processos subam para a PGR porque é de competência dele”, avaliou Padre João. O petista disse ainda se sentir confiante porque, segundo ele, ficou claro que o procurador-geral da República demonstrou compreensão diante da complexidade do caso.

“Então, estamos dando trilhas legais e verdadeiras para que a PGR abra inquérito para apurar e investigar. Isso, com certeza, vai dar maior credibilidade a essa instituição que, graças a Deus, já não é a mesma de passados recentes”, frisou.

O caso – O nome do tucano aparece como um dos principais envolvidos no esquema de Furnas. Segundo a lista do lobista Nilton Monteiro, autenticada pela Polícia Federal, entre os tucanos envolvidos, Aécio Neves aparece recebendo um repasse no valor de R$ 5,5 milhões.

Recentemente, o nome do senador mineiro foi excluído pelo procurador Rodrigo Janot da lista de investigados na Operação Lava-Jato, embora o pivô do esquema, o doleiro Alberto Yousseff, tenha afirmado em delação premiada que o tucano estaria envolvido no esquema. No depoimento gravado em vídeo, Yousseff afirma ter transportado para o ex-deputado pelo PP José Janene propinas pagas pela empresa Bauruense por contratos em Furnas.

O doleiro disse ainda que a influência do senador tucano sobre uma diretoria de Furnas rendeu a ele pagamentos mensais entre 1994 e 2001.

O esquema relatado pelo doleiro foi alvo de uma denúncia realizada em 2012 pela então procuradora do Ministério Público Federal no Rio de Janeiro, Andrea Bayão. À época da denúncia, a procuradora já havia acumulado provas que apontavam para a abertura de um inquérito.

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