Presidenta dos Bancários de SP: Brasil continua a ter o maior juro real do mundo, afetando as pessoas e o país

Tempo de leitura: 3 min
Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Bancários de SP e protesto contra os juros altos na região da avenida Paulista, na capital. Fotos: Spbancários

Da Redação

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, nesta quarta-feira, 02/08, cortar a taxa básica de juros da economia (Selic) em 0,5 ponto percentual.

Em consequência, a Selic foi de 13,75% para 13,25% ao ano.

É o primeiro corte nos juros em três anos.

Mesmo assim, o Brasil continua tendo o maior juro real do mundo, atenta Neiva Ribeiro no artigo Quais os impactos dos altos juros no Brasil? 

Neiva Ribeiro é presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.

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QUAIS OS IMPACTOS DOS ALTOS JUROS NO BRASIL? 

Por Neiva Ribeiro*, portal do Spbancários

Apesar do corte de 0,5 ponto percentual nesta quarta-feira 2, os juros no Brasil estão longe de estar no patamar ideal. Somos o país com o juro mais real do mundo.

Mas o que impacta na vida das pessoas e no país?

Juros altos comprometem o crescimento do Brasil, à medida que os investimentos produtivos são afetados, estimulando investimentos no mercado financeiro com retorno garantido de juros altos.

O real também se valoriza em relação ao dólar, o que pode desestimular exportações e estimular importações, afetando o nível interno da atividade econômica.

Interfere, neste sentido, na geração de emprego e renda, inibindo efeito multiplicador e inviabilizando o dinamismo da economia.

Numa espécie de efeito dominó, menor atividade da renda impacta na arrecadação de tributos, ou seja, no orçamento público, diminuindo a capacidade do Estado em investimentos sociais.

Os gastos do governo com juros da dívida pública sobem, comprometendo parcela maior do orçamento público.

Estima-se que caso a Selic já fosse de 9,5% ao ano, conforme prevê projeção do Boletim Focus do BC para 2024, o Brasil iria economizar cerca de R$ 182 bilhões ao ano só com o pagamento de juros da dívida.

Em relação ao Sistema Financeiro, a taxa de juros elevada dificulta a tomada de crédito, encarecendo-o e tornando-o mais restrito ao tomador.

Os bancos passam a ser mais cautelosos nas concessões, sendo mais seletivos e exigentes para quem busca recursos financeiros.

De acordo com pesquisa da CNI, Confederação Nacional da Indústria, a dificuldade mais citada pelas empresas industriais na obtenção de crédito foi o nível elevado das taxas de juros, independentemente da modalidade do crédito.

A Pesquisa Sondagem Especial da CNI contou com a participação de 2022 empresas industriais, sendo 808 pequenas empresas, 712 médias empresas e 502 grandes empresas.

Para as empresas que afirmaram ter dificuldades na contratação/renovação de crédito, 71% apontaram a taxa de juros elevada como fator determinante.

Na esteira da elevação de juros do BCB, os juros bancários também vêm subindo, contribuindo para onerar o orçamento de famílias e empresas e, consequentemente, elevando a inadimplência num ciclo vicioso.

O percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer, em junho, atingiu 78,5% das famílias no país, as que se consideram muito endividadas são 18,5%. O total de famílias com dívidas atrasadas chegou a 29,2%.

Dos consumidores com dívidas atrasadas, 4 em cada 10 entraram em junho sem condições de pagar os compromissos de meses anteriores, maior proporção desde agosto de 2021. Os juros elevados dificultam a melhora desse quadro.

O volume de consumidores com atrasos há mais de 90 dias também cresceu, alcançando 46% do total de inadimplentes em junho. Ou seja, a cada 100 consumidores com dívidas atrasadas, 46 possuem atrasos há mais de três meses.

O sistema financeiro precisa se comprometer com o desenvolvimento do país e é urgente que se responsabilize com a construção de um pacto social civilizado e democrático.

*Neiva Ribeiro é presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.

Leia também:

Fernando Safatle: A política do Banco Central está em contradição total com o programa do governo Lula

Roberto Amaral: Lula e o poder dos derrotados


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Comentários

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Zé Maria

https://t.co/mVq4rkv6rp

“Copom baixou a taxa de juros em apenas 0,5%.
Para a CUT manter a Selic num patamar de 13%
impede o crescimento econômico e a geração
de emprego e renda.”

Leia a nota completa aqui: https://abrir.link/QGHGU

https://twitter.com/CUT_Brasil/status/1687065853215281152
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Reduzir a Taxa de Juros de 13,75% para 13,25%,
com o IPCA acumulado em 3% ao ano e caindo,
na real, não faz a menor diferença. Efeito Nulo.
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