Pomar diz que Gregório Duvivier tenta “se reconciliar com aqueles que odeiam o PT”

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terça-feira, 11 de agosto de 2015

Sobre Duvivier

por Valter Pomar, em seu blog

Que aos 16 anos Duvivier se considerasse prepotente e tivesse uma visão heroica sobre o poder de seu voto, tudo bem, é ele quem está dizendo e não serei eu a contrariar.

Mas não está tudo bem quando em 2015 ele faz uma revisão histórica, na qual sinaliza para a esquerda mas vira para a direita.

Pois é este o conteúdo político real da frase segundo a qual “quem elegeu o Lula — isso logo ficou claro — foi o José Alencar, os Sarney, o Garotinho, foi aquela Carta aos Brasileiros e a promessa de que o Lulinha era Paz, Amor e Continuidade. Sobretudo continuidade”.

Parece uma crítica pela esquerda, mas é uma crítica impotente. E falsa.

Quem elegeu o Lula em 2002 foi tudo junto e misturado. Que tenham prevalecido uns e não outros, foi resultado da disputa política. Na qual gente que acreditava no poder mediúnico do voto, na prática (por ação ou inação) ajudou o predomínio dos conservadores.

Também me impressiona o parágrafo a seguir, que tanto pode ser lido como uma crítica de esquerda, como pode ser lido como um chororô impotente, mas acima de tudo é falso, falso: “Lula só alugou esse apartamento por quatro anos porque assinou um contrato de locação onde prometia entregar o imóvel i-gual-zi-nho. E Lula, por quatro anos, foi um inquilino dos sonhos — tanto é que renovou o contrato e ainda foi fiador da locatária seguinte. Fizeram algumas mudanças — as empregadas passaram a ganhar mais —, mas não fizeram o mais importante: uma desratização. Muito pelo contrário: os ratos de sempre fizeram a festa”.

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Notem: Duvivier fala de 2003 a 2006. Me digam, senhores e senhoras, não falta algo nesta descrição?

Lembram de 2005? Pois é. Que “inquilino dos sonhos” foi este que quase foi despejado?

Mas o que importa é a conclusão, certo? E a conclusão é igualzinha a da direita coxinha, a saber: que o problema são os ratos.

Aliás, coxinhas de direita e nazistas sempre terminam com a imagem dos ratos. Pois no fundo no fundo parecem mesmo estar preocupados em saber quem mexeu no queijo deles.

E notem que “divertido”: a mensagem fundamental do texto é… se reconciliar com aqueles que odeiam o PT.

Palavras dele: “Caros amigos que odeiam o PT: podem ter certeza de que odeio o PT tanto quanto vocês — mas por razões diferentes”.

É o “jeito de pensar de certa esquerda que a direita adora”, que acha que se diferencia cantando a mesma música mas com letra diferente. Tipo japonês tem quatro filhos…

Esta esquerda que a direita adora tem seus representantes no governo, mas também tem seus representantes na oposição.

O mais “legal” de tudo é que, ao fim e ao cabo, a conclusão é: “o PT é indefensável”.

E como nesta visão de mundo quem está movendo a ação de despejo são os “ratos que o PT não teve coragem de expulsar”, os que pensam que “não fomos nós que elegemos Lula” podem lavar as mãos.

E ficar olhando.

E odiando.

*****

Por que odiar o PT

Por Gregório Duvivier em 10 de agosto de 2015, na Folha

A primeira vez que me deparei com uma urna eletrônica foi para votar no Lula. E Lula se elegeu, depois de três tentativas malfadadas.

Lágrimas grossas escorriam pelo meu rosto: com a prepotência característica dos 16 anos, tive a certeza de que era o meu voto que tinha feito toda a diferença.

A rua estava cheia de pessoas da minha idade que tinham essa mesma certeza. O Brasil tinha acabado de ganhar uma Copa do Mundo, mas a euforia agora era ainda maior: foi a gente que fez o gol da virada. Parecia que o Brasil tinha jeito, e o jeito era a gente — essa gente que nasceu de 1982 a 1986 e votava agora pela primeira vez.

Acabaram-se os problemas do Brasil — a gente chegou. Lembro das ruas cheias, das bandeiras do PT, lembro de abraçar desconhecidos na Cinelândia — Lula lá, brilha uma estrela.

Logo vi que não era o meu voto que tinha feito o Lula se eleger, nem o dos meus amigos, nem o da minha geração. Quem elegeu o Lula — isso logo ficou claro — foi o José Alencar, os Sarney, o Garotinho, foi aquela Carta aos Brasileiros e a promessa de que o Lulinha era Paz, Amor e Continuidade. Sobretudo continuidade.

Lula só alugou esse apartamento por quatro anos porque assinou um contrato de locação onde prometia entregar o imóvel i-gual-zi-nho. E Lula, por quatro anos, foi um inquilino dos sonhos — tanto é que renovou o contrato e ainda foi fiador da locatária seguinte. Fizeram algumas mudanças — as empregadas passaram a ganhar mais —, mas não fizeram o mais importante: uma desratização.

Muito pelo contrário: os ratos de sempre fizeram a festa.

Caros amigos que odeiam o PT: podem ter certeza de que odeio o PT tanto quanto vocês — mas por razões diferentes. Odeio porque ele cumpriu a promessa de continuidade. Odeio porque ele não rompeu com os esquemas que o antecederam. Odeio por causa de Belo Monte e do total descompromisso com qualquer questão ambiental e indígena. Odeio porque nunca os bancos lucraram tanto.

Odeio pela liberdade e pelos ministérios que ele deu ao PMDB. Odeio pelos incentivos à indústria automobilística e à indústria bélica. Odeio porque o Brasil hoje exporta armas para Iêmen, Paquistão, Israel e porque as revoltas do Oriente Médio foram sufocadas com armas brasileiras. Odeio porque acabaram de cortar 3/4 das bolsas da Capes.

O PT é indefensável — cavou esse abismo com seus pés. Mas assim como não fomos nós que elegemos Lula, engana-se quem vai às ruas e acha que está tirando Dilma do poder. Quem está movendo essa ação de despejo são os ratos que o PT não teve coragem de expulsar.

PS do Viomundo: Por mais justas que sejam muitas das críticas de Duvivier ao PT, o texto dele acaba legitimando o discurso do ódio.

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