Philipp Lichterbeck: A linguagem que separa Lula e Bolsonaro mostra a diferença entre os dois projetos para o Brasil

Tempo de leitura: 4 min
Fotos: Reprodução de vídeo de Ricardo Stuckert e Alan Santos/PR

A linguagem que separa Lula e Bolsonaro

Enquanto a retórica do atual presidente é abstrata e revela medos, a do petista é concreta e confiante. As linguagens mostram a diferença entre os dois projetos pelo país

Por Philipp Lichterbeck, no DW

No último domingo (24/09), estive na quadra da escola de samba Portela, no bairro carioca de Madureira.

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, havia convidado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para fazer um comício a uma semana da eleição, o que, é claro, também deveria colocar em evidência o próprio Paes.

Para o candidato presidencial do PT, foi como jogar em casa. As ruas ao redor da Portela estavam completamente vermelhas, e era quase impossível chegar até a quadra, que a certa altura acabou fechando as portas, por ter atingido lotação máxima.

Quem afirmava, como se lê muitas vezes nas redes bolsonaristas, que Lula não ousa estar no meio do povo e não mobiliza ninguém, recebeu uma lição.

Após quatro anos de abstinência e medo da agressão dos bolsonaristas, brasileiros de esquerda e progressistas têm novamente coragem de mostrar publicamente suas cores e símbolos – e também agitar a bandeira nacional, porque não querem deixá-la para os extremistas de direita.

Quando Lula chegou, mostrou mais uma vez porque ele é capaz de mobilizar a gente como nenhum outro político da esquerda. Tem a ver com sua lendária ascensão de filho de uma mãe solteira pobre com oito filhos a chefe de Estado.

Sua história lhe dá credibilidade. A isso se soma sua retórica simples, que sempre toca mais o coração do que a razão.

Um terceiro fator é que muitos brasileiros se lembram com certa nostalgia dos anos 2000, quando o Brasil crescia economicamente, os salários subiam, e a pobreza caía.

Após várias semanas acompanhando a campanha eleitoral, identifiquei perfis de eleitores que também se confirmaram na Portela.

O eleitor típico de Bolsonaro é mais velho, de pele mais clara, do sexo masculino, mais rico e com maior nível de educação formal.

Ele se sente ameaçado por “comunismo”, “ideologia de gênero” e “globalismo”. Coloquei os termos entre aspas porque são invenções de estrategistas de direita.

Não há comunismo no Brasil (mesmo em 13 anos de PT, nenhuma empresa foi estatizada), não há ideologia de gênero, nem ideologia de globalização (se estiver errado, agradeceria se alguém me mostrasse os manifestos e princípios dessas ideologias).

São termos que agrupam os difusos medos de mudanças sociais. Muitos eleitores de Bolsonaro não conseguem lidar com esses medos – do feminismo, por exemplo –, que muitas vezes levam à agressão.

Os eleitores de Lula, por sua vez, são de pele mais escura, menos abastados, têm menor nível de educação formal e são mais jovens. Também é um eleitorado mais feminino. Isso também fica claro na Portela.

E eles reagem a expressões completamente diferentes das dos apoiadores de Bolsonaro. São também duas linguagens diferentes que separam os seguidores de Lula e os bolsonaristas. Isso não apenas expressa duas formas diferentes de pensar, mas também duas formas de percepção, sentimento e prioridades.

Esta é provavelmente a maior diferença que caracteriza os eleitores de Bolsonaro: eles podem se dar ao luxo de temer um “comunismo” imaginário.

Já para os eleitores de Lula, o aspecto material é mais importante. Enquanto nos eventos de Bolsonaro há mais aplausos quando ele fala sobre Deus, os militares, a pátria e ele mesmo, o povo de Lula aplaude quando ele diz que as mães do Brasil querem alimentar bem seus filhos e vesti-los bem, querem mandá-los para a escola e a universidade.

Ou quando ele apela ao orgulho nacional e diz que a Petrobras tem condições de extrair petróleo do pré-sal porque seu governo investiu em ciência e tecnologia e vai voltar a fazê-lo.

Lula é, na maioria das vezes, concreto; Bolsonaro costuma ser abstrato.

Quando Lula diz que Bolsonaro viajou para o funeral da rainha, mas não dedicou uma única palavra de lamento pelas quase 700 mil mortes por covid-19 no Brasil, algumas pessoas na Portela vão às lágrimas.

Bolsonaro sempre afirma em seus comícios: “Lamentamos todas as mortes”.

Agora ele deveria contar uma história pessoal sobre o quanto se comoveu com a morte de um brasileiro específico – como faria Lula. Mas ele não tem nada a oferecer.

Bolsonaro discursa muito sobre Deus, os militares, a pátria e a família mas nunca preenche os conceitos com conteúdo. A retórica de Bolsonaro é fria, distante e desperta ressentimentos; a retórica de Lula é concreta, direta e desperta esperanças.

No evento com Lula na Portela, não foi um problema me identificar como jornalista estrangeiro e fazer perguntas, inclusive críticas, como sobre o Petrolão.

Os participantes responderam com seriedade e sem agressão. Por outro lado, quem incluir a menor crítica ao “mito” numa pergunta, num evento com Bolsonaro – sobre os 51 imóveis que sua família pagou em dinheiro, por exemplo – tem que temer ser agredido verbalmente e até atacado fisicamente.

Ao caminhar para o trem após o evento na Portela, passou um carro, em que o motorista batia na porta como um louco e gritava para o povo de camiseta e bonés vermelhos: “Aqui é Bolsonaro. Acabou, acabou!”

Já no próximo domingo poderá ser revelado para quem acabou.

*Philipp Lichterbeck queria abrir um novo capítulo em sua vida quando se mudou de Berlim para o Rio, em 2012. Desde então, colabora com reportagens sobre o Brasil e demais países da América Latina para jornais da Alemanha,Suíça e Áustria Ele viaja frequentemente entre Alemanha, Brasil e outros países do continente americano. 

Leia também:

Em carta aberta, deputados portugueses advertem para ameaças sistemáticas de Bolsonaro à democracia e incitação da violência

ABI repudia censura da Justiça às reportagens do UOL sobre imóveis dos Bolsonaro: ‘É inconstitucional’; nota

Eliara Santana: Sobrevivemos para reconstruir o Brasil


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

https://twitter.com/i/status/1578752630876213249

A Satanização da Esquerda pela Extrema-Direita

https://twitter.com/FelipeNeto/status/1578752630876213249

NAIR PAIVA DE OLIVEIRA

A mãe de Lula e seus irmaos nao era mãe solteira. De onde voces tiraram isso ?????????? Pesquisem e nao passem informações erradas.

RiaJ Otim

Pelo que entendi, o mito quer aqui a mesma democracia que há em Cuba, por exemplo: a oposição só ganha eleição se tiver mais de 200% dos votos úteis.

Zé Maria

.

Bolsonaristas podem ter combinado inscrições em massa
para serem mesários, revelam Técnicos do TSE

Eleição deste ano terá 840 Mil Voluntários, 48% do Total;
um crescimento de 93%.em relação a eleição passada.

Íntegra da Reportagem:

https://vermelho.org.br/2022/09/25/bolsonaristas-podem-ter-combinado-inscricoes-em-massa-para-serem-mesarios/

.

Zé Maria

.

“O Realismo Fantástico Latino Americano
virou Cena de Jardim de Infância”
no braZil dos Bolsolões

“PF investiga pagamentos à família de Michelle,
que muda de assunto atacando Bruna Marquezine”:
“Feia”

Jornalista Bob Fernandes
No Canal do YouTube:

https://youtu.be/p0PN0OT86KY

.

Zé Maria

.
Notícias TSE

Na Sede do TSE, Presidente da Corte Recebe Representantes
de Centrais Sindicais de Trabalhadores

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, recebeu nesta terça-feira (27), em Brasília, os dirigentes de seis centrais sindicais representantes dos trabalhadores.

Durante o encontro, as entidades manifestaram preocupação com a segurança de eleitores, bem como de servidores e mesários que trabalharão nas eleições do dia 2 de outubro, e solicitaram que sejam tomadas medidas imediatas que garantam a tranquilidade do processo eleitoral.

Os presidentes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sérgio Nobre; da Força Sindical, Miguel Torres; da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah; e da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo, entregaram a Moraes um documento pedindo que sejam adotadas cinco medidas de combate à violência.

O documento também é assinado pelo presidente da Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), Oswaldo Augusto de Barros, e pelo secretário-geral da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Álvaro Egea.

Segundo o documento, a preocupação é baseada no aumento da violência política registrada nos últimos meses e que tem resultado em agressões, assassinatos e ataques a jornalistas, pesquisadores, militantes e candidatos de oposição.
“É dramático termos de enfrentar esse tipo de regressão no padrão das relações políticas quando concebemos que o respeito e a tolerância são bases para o exercício livre do direito de opinião e de escolha pelo voto”,
diz o texto.

O documento solicita, ainda, que seja adotado um plano de segurança após o primeiro e o segundo turno das eleições.

“Registramos que é imperativa a defesa da Democracia e a preservação do Estado Democrático de Direito.

Dessa forma, reiteramos nossa confiança no processo eleitoral conduzido pelo TSE e na coordenação de todos os trabalhos por parte dessa Presidência”,
reiteram.

https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2022/Setembro/na-sede-do-tse-presidente-da-corte-recebe-representantes-de-centrais-sindicais

    Zé Maria

    Bolsonarista invade bar em cidade cearense,
    pergunta “quem vota no Lula?”
    e esfaqueia e mata eleitor petista

    Vítima trabalhava como caseiro em sítios
    e deixa filho de 10 anos de idade.

    Um homem entrou em um bar localizado em Cascavel, no Ceará, esfaqueou e matou um cliente após a vítima se manifestar como eleitor do candidato Lula (PT).

    O crime aconteceu no sábado, 24.
    A Polícia Civil do Ceará investiga o crime.

    A vítima de 39 anos, Antônio Carlos Silva de Lima, não tinha antecedentes criminais e o suspeito do crime é um homem de 59 anos, com passagens por lesão corporal dolosa.

    O POVO apurou, com uma fonte da Segurança Pública, que o criminoso teria chegado transtornado no local e gritado “quem é eleitor do Lula aqui?”.
    A vítima então teria dito: “Eu sou!”
    e, posteriormente, o criminoso desferiu-lhe uma facada no tórax na altura das costelas.

    A pessoa chegou a ser socorrida, mas não resistiu aos ferimentos.

    Por meio de nota, a Polícia Civil informou que o caso é investigado pela Delegacia Metropolitana de Cascavel e que está em diligências para prender o homem, que foi identificado.
    “Com base nas informações colhidas no local do crime, a motivação foi política.
    No dia, a vítima chegou a ser socorrida, mas morreu durante atendimento médico.
    As buscas pelo suspeito seguem”, informa a nota.

    Carlos foi sepultado no domingo, 25, em Guanaces, Cascavel.
    Ele trabalhava como caseiro de sítios na região.

    O caseiro assassinado deixa um filho de 10 anos de idade.

    (Fonte: Jornal O Povo)

Deixe seu comentário

Leia também