Eliara Santana: Sobrevivemos para reconstruir o Brasil

Por Eliara Santana*, em seu perfil de rede social

Daqui a uma semana, estaremos todos nos encontrando de novo com este exercício democrático de escolher nossos representantes. Não foi nada fácil chegar a esta eleição de 2022.

Desde o dia 30 de novembro de 2014, quando o irresponsável Aécio Neves declarou que havia perdido a eleição daquele ano “para uma organização criminosa”, que nós do campo da esquerda, do campo progressista, eleitores do PT, passamos a ser rotulados e tratados como inimigos e defensores da corrupção.

Vieram então as grandes manifestações de março de 2015 contra o segundo governo Dilma; os patos amarelos em cena, fazendo dancinhas e nos intimidando – já não podíamos usar vermelho impunemente no Brasil.

Veio o fatídico 4 de março de 2016, quando o performático e cretino juiz Sérgio Moro determinou a condução coercitiva de Lula, avisando antes a Globo, cujos helicópteros chegaram ao local determinado antes da PF.

Veio o tenebroso 16 de março de 2016, quando o mesmo juiz liberou para o JN, com exclusividade, a divulgação de áudios de conversas grampeadas do ex-presidente Lula, o que incluía conversas com a então presidenta Dilma.

Eram tempos dominados pelos patos amarelos da Fiesp. E nós, progressistas, que víamos a série de absurdos que ocorriam, sem que nenhuma autoridade ou instituição dissesse ou fizesse nada, éramos ali os inimigos que usavam vermelho.

Tudo foi piorando demais numa velocidade incrível.

Veio o impeachment, coroamento do golpe contra a presidenta Dilma. A vida, cada vez mais, queria da gente muita coragem… mas estava difícil, muito difícil.

Veio a prisão de Lula. Aquele discurso em São Bernardo que deixou a gente com um bolo gigantesco na garganta – era a dor imensa de ver um projeto de Nação sendo esfacelado e moído. Um país se perdia ali.

Veio a eleição de 2018. O horror político, civilizatório, humano que respondia pelo nome de Jair Bolsonaro.

Ah, como foi duro ver aquele inominável incomível usar um aparato fabuloso de produção e disseminação de fake news pra enganar as pessoas e ganhar a eleição.

Foi muito difícil, em vários sentidos. A vida piorou. Assistimos à degradação do país, perda de renda, de empregos, precarização de tudo. Nos tornamos mais tristes e acabrunhados. Não estava fácil seguir em frente.

Veio a pandemia. E o que estava muito ruim se tornou quase insuportável.

Vimos o descaso absoluto e a indiferença do execrável eleito presidente. Muitos amores de muitas pessoas poderiam estar vivos hoje não fosse a absurda condução da pandemia feita por Bolsonaro, que preferia fazer propaganda de remédio pra verme.

Mas sobrevivemos. A vida quer da gente é coragem, o mar da história é agitado – então, por que haveríamos de ficar tristes?

Tínhamos uns aos outros, esse mar de afeto foi avassalador de verdade. O afeto foi e é revolucionário – vocês me ouvirão dizer isso até o fim dos meus dias – e nos salvou a todos.

Foi potente a nossa luta, a nossa corrente, as mãos que se entrelaçaram, as escutas atentas, as conversas com pessoas que eram tão chegadas, mas se tornaram, o carinho mesmo à distância…

E chegamos até aqui.

E hoje vamos celebrar. O afeto, os amores, a vida, a chance de reconstruir esse país.

Não será fácil, muita coisa se perdeu, o tecido social está muito esgarçado, o sistema de desinformação é potente, mas a vontade de fazer deste um país de verdade é enorme – e a gente já tem tarimba pra enfrentar dificuldades, né?

Simbora, minha gente querida. Lula está, neste momento, todo galante na quadra da Portela.

Hoje tem CarnaLula em todo o país. Merecemos celebrar com alegria.

Vamos eleger o filho de dona Lindu e mostrar que não é possível deter a chegada da primavera mesmo com todas as dificuldades.

Beijão pra todos vocês. E obrigada pela rede potente de afeto.

*Eliara Santana é jornalista, doutora em Linguística e Língua Portuguesa e pesquisadora do Observatório das Eleições e da Democracia e pesquisadora colaboradora do IEL/Unicamp. Coordenou o curso “Desinformação, Letramento Midiático e Democracia no Brasil”, promovido pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), e foi co-coordenadora do I Ciclo de Letramento Midiático do PPGL da Universidade Federal do Rio Grande

Leia também:

Com Dilma, Esquivel e Chico, o necessário documentário A Fantástica Fábrica de Golpes. Assista e compartilhe já!

Paulo Metri: Os dias depois de amanhã

Marilena Chauí: Refazer o país exige que a esquerda encontre seus pontos em comum