Miguel do Rosário: A infantaria mais agressiva de Carlos Lacerda

Tempo de leitura: 3 min

Lacerda, hoje, se daria bem melhor

Os novos desafios da luta política

04/02/2013

por Miguel do Rosário, no Cafezinho 

Vivesse em nosso tempo, Carlos Lacerda teria hoje muito melhores condições de ser candidato à presidência da república do que em sua época, pois hoje os meios de comunicação chegam em todos os brasileiros, não apenas em setores elitizados da classe média urbana, como nos anos 50 ou 60. Entretanto, mesmo chegando a todos, a classe média urbana continua sendo a infantaria mais agressiva de seu exército. E quando falo exército, não uso metáforas. As ameaças do neolacerdismo a seus adversários são físicas, quase militares, como estas de Noblat em sua coluna de hoje, na qual dá “conselhos” ao novo presidente do Congresso Nacional:

Nada de voar em avião de carreira — a não ser para o exterior. E sob a condição de ser o último passageiro a embarcar na primeira classe, discretamente. Assim evitará o risco de ser ofendido pelos demais passageiros da econômica. Pelo mesmo motivo, nada de frequentar shoppings. Em Maceió, talvez seja possível. CUIDADO REDOBRADO quando estiver em Brasília. Aqui todo mundo conhece todo mundo. Nem mesmo disfarçado dá para bater perna à beira do Lago Paranoá. Matricular-se em academias? Nem pensar.

Ao escrever isso, Noblat não apenas ameaça Renan, ele também incita seus leitores a agredirem o senador.

Mencionei Lacerda porque a volta triunfal de Renan Calheiros ao centro do palco, como presidente do Congresso Nacional, num gesto de inesperado desafio do PMDB à mídia, meio que forçará a oposição, ou as oposições, a adotarem o discurso moral como bandeira número um.

O “corvo” seguramente saberia usar Renan Calheiros para fazer um excelente estrago na base eleitoral governista. De qualquer forma, mesmo sem Lacerda, haverá danos. O discurso da oposição em 2014 já está escrito. Mensalão, José Dirceu, Maluf, Sarney e Renan Calheiros. Eis a cara do governo Dilma. Vote diferente. Vote Marina, Aécio, Campos.

Os votos cativos da Dilma, ainda herdados de Lula, porém, estão mais ou menos garantidos. O que estará em jogo, mais uma vez, é tentativa de jogar a eleição para o segundo turno através da divisão do eleitorado. Marina Silva pode conseguir uma boa perfomance em 2014. Eduardo Campos, que eu antes achava não fosse candidato, por causa de suas reiteradas afirmações de apoio à reeleição de Dilma, hoje é uma incógnita. E uma incógnita em vários sentidos. Para ele, talvez seja útil ser candidato, por dar oportunidade a si mesmo de alcançar projeção nacional, e melhorar o desempenho de seus candidatos proporcionais. Para Dilma, o governador de Pernambuco poderá ser um interessante interlocutor na campanha, alguém com quem fazer dobradinha nos debates para bater no PSDB, além de possivelmente roubar votos mais da oposição (Aécio e Marina) do que do PT.

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O maior desafio do petismo, nesse momento, é desenvolver um discurso coerente para justificar as alianças que tem feito, ao longo dos últimos anos. A foto com Maluf lhe valeu, por exemplo, um acordo político com o PP, cujo tempo de TV com certeza ajudou na vitória de Haddad em São Paulo. Mas trouxe um prejuízo de longo prazo à imagem do PT junto à setores mais sensíveis da classe média.

Repito o gráfico que publiquei há algumas semanas, extraído do Estadão, trazendo os números mais recentes do Ibope :

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