Mauricio Dias: Cunha e Renan, hipocrisia, corporativismo e fisiologismo

Tempo de leitura: 2 min

eduardo cunha e renan -pozzebom/agencia brasil

Foto: Marcelo Camargo/ABr

Rosa dos Ventos

A cara do Brasil

De como os atuais congressistas melhor espelham comportamentos e demandas dos seus representados

por Mauricio Dias, em CartaCapital

Diante de um governo fragilizado por forte crise decorrente da soma de conflitos políticos e de problemas econômicos, o Congresso Brasileiro, cuja regra é o vício e a exceção é a virtude, aproxima mais claramente hoje a identidade entre os eleitores e os eleitos. A semelhança vai muito além da coincidência. Não há nada de novo nessa situação, mas pela primeira vez é possível perceber com mais nitidez a cara do Brasil refletida em um Senado capitaneado pelo alagoano Renan Calheiros e uma Câmara, pelo deputado fluminense Eduardo Cunha. É tamanha a semelhança entre representantes e representados que o resultado faz lembrar o trabalho de criação de bons escultores em mármore de Carrara.

A hipocrisia reinante regalou-se com a costura feita pelo governo, via fisiologismo, para consolidar o apoio dos deputados à primeira aprovação de uma Medida Provisória no contexto do ajuste fiscal. Uma vitória política de Dilma.

Parece, entretanto, que nunca antes governo algum usou esse sistema de troca para evitar dissidências na base político-partidária. Fisiologismo e corporativismo são moedas antigas, condenáveis, em circulação no mercado político.

Sempre foi assim. No Império, as comendas; na República, as prebendas. Está nos anais da história mais recente ou, pelo menos nos arquivos deste colunista, um exemplo sintomático disso. Em 2002, no correr de uma entrevista ao extinto Jornal do Brasil impresso, o diplomata Paulo Tarso Flecha de Lima, iniciado nas negociações entre Executivo e Legislativo no gabinete de Juscelino Kubitschek, contou que a resistência dos parlamentares durava até serem chamados para uma conversa no Catete. O presidente dizia: “Do que vocês precisam?”

E assim tudo se resolvia. Os aliados não se encantavam somente com o histórico sorriso do Nono, apelido do amável  JK.

Naquele tempo, “anos dourados” para quem tinha o convite da festa, o Congresso girava, em geral, em torno de uma elite mais escolarizada do que rica. O pulso das duas casas podia ser medido por alguns líderes e políticos mais destacados, ambos eleitos pelos coronéis rurais.

Senado e Câmara eram, então, resquícios do portentoso Parlamento do Segundo Reinado, inspirado no parlamentarismo britânico. Prevalecia, no ocaso do Império, a política dos barões assinalados. Os candidatos faziam curta peregrinação entre os eleitores, um jogo de cena, porque tinham garantidos os votos controlados por eficientes cabos eleitorais.

Onde está o maior erro dessa história até então? Está na composição qualificada e na representação falsa.

O deslocamento maciço de pessoas do interior para as grandes cidades provocou mudanças fortes no processo eleitoral. Os coronéis rurais perderam força. Praticamente desapareceram. O dinheiro passou a ser o senhor das votações. A televisão tornou-se um instrumento fundamental e decretou o fim dos palanques. Houve um encarecimento monumental nos custos das campanhas.

Diante disso, o controle de postos privilegiados nas administrações públicas passou a ser o gerador de disputa e de recursos para os partidos. A representação de hoje é menos qualificada. É, porém, mais representativa.

Leia também:

Jandira Feghali age contra os machistas do Congresso


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Julio Silveira

O problema brasileiro é antigo. Osvaldo Cruz, para combater a febre amarela na cidade do Rio de Janeiro, enfrentou resistencia cerrada de moradores que entendiam o ato da necessidade de vacinação em massa como uma intromissão indevida em seus lares. Osvaldo resistiu e enfrentou rebeliões popupares, mas ao fim, vencedor, ficou reconhecido como um dos homens mais especiais da história deste país. Alguns poderão perguntar, e o que tem a ver? A esses provaveis questionadores eu diria que o que tem a ver é que o povo ignorante, que rejeitou a profilaxia que os contaminava, continua vivo resistindo no DNA de seus descendentes. Esses que se recusam a entender que os mesmos virus politicos que lhes destroem, e a sociedade, são acolhidos por eles em suas casas. A resistencia popular a evolução salutar é uma marca forte em nossa sociedade. E de certa forma neste caso, politico, é estimulado, já que os vetores de nossas doenças sociais tem as prerrogativas de mando e labutam por sua manutenção. A sorte do Osvaldo é que naquele tempo os mosquitos anofeles não tinham representantes com voz. Coisa que hoje, por incrivel que pareça, quem duvida de que não se encontre?

José Werley

Caro Leo, entrar nesse joguinho de “teria feito”, “tivesse sido”, é uma maneira falaciosa de debater. Por mais que se faça um esforço analítico sobre caminhos que se poderia ter seguido no passado, ainda assim o que nos interessa é o que cada gocerno, Lula e FHC, fizeram quando estiveram no poder. Isto é fato consumado. Já aconteceu. Se tu queres justificar as asneiras feitas por FHC e seus asseclas, apresente seus argumentos.
O fato, inquestionável e inexorável, é que se colocarmos os números de um de outro, FHC fica tão pífio perto de Lula que chaga-se a ter dó do engomado invejoso.

pedro Jacintho

eito PT de governar. Não dá para comparar.Deve ser por isso que os Tucanos não gostam de comparações, afinal terá que lembrar ao povo, de memória curta o que eles faziam quando estavam no poder. Percebem que em suas propagandas políticas não mostram nada do que FHC fez, a razão é simples não fizeram nada, aliás, passaram oito anos desconstruindo o que seus antecessores fizeram. O Brasil quando FHC começou seu mandato era a 10ª economia mundial e terminou seu mandato colocando o Brasil na posição de 12ª. Promoveu as privatizações alegando que as empresas estatais eram deficitárias, pois bem o país tinha uma dívida pública comparativamente ao PIB de 32%, no entanto era de se supor que com a arrecadação na venda das empresas e a eliminação do tal deficit a dívida pública diminuiria, mas pasmem! esta dívida subiu para 68% do PIB. A Vale foi vendida por 4 bilhões de dólares com 700 milhões e caixa quando seu valor verdadeiro era estimado em 50 bilhões de dólares. O país foi entregue ao Lula com uma reserva internacional feita com um empréstimo de 30 bilhões com o FMI. Veio Lula, não vendeu nada do que restou para vender, pagou a dívida com o FMI, virou seu credor, e hoje temos a maior reserva em dólares de toda a nossa história, tal reserva é maior que a própria dívida externa existente, ou seja pela primeira vez temos uma dívida externa menor que nossas reservas cambiais. Os EUA tem o Brasil como o seu quarto maior credor. Tenho que concordar com os tucanos, realmente não da para comparar o incomparável, ou seja é torcer para que o povo esqueça. O PT luta para que a mídia mostre o que fizeram e faz de bom ao país, já ao passo que o PSDB faz de tudo para que ninguém descubra o quanto fizeram de mal ao país. Outra curiosidade, eles não fazem propostas, apenas reclamam da vitória do adversário desrespeitando os eleitores que não votaram neles e até mesmo os que votaram neles, pois quem não reconhece uma derrota nas urnas não merece o voto de ninguém, a não ser os votos dos lunáticos que apoiam ditaduras. isso tem uma explicação, que não é exatamente falta de proposta, afinal eles as tem, só não podem dizer porque terão que admitir explicitamente o quanto são lesa pátrias. Esta gente sempre ganhou eleições na base da mentira e agora não podem mais mentir sem que em tempo real venha o desmentido, ou seja o monopólio da mentira caiu por terra. Agora a mentira vai ter que conviver com a verdade, só que esta tem vida longa e a outra tem pernas curtas. Perderam entreguistas!

    Leo

    OK, moderadores! Vamos lá…
    .
    Pedro Jacintho, o que Lula teria feito a partir de janeiro de 1995, caso tivesse sido eleito em 1994? Inverta os períodos de administração e responda. Verás que suas argumentações não se sustentam.
    .
    Abraços.

Deixe seu comentário

Leia também