Maria Carlotto: É erro de análise interpretar a escalada do governo Netanyahu contra Lula como crise diplomática

Tempo de leitura: 3 min
Maria Carlotto: ''As fotos para lá de simpáticas de Blinken com Lula agora de manhã [quarta-feira, 21/02], em Brasília, seguida de declarações e, principalmente, não-declarações evidenciam que crise diplomática é delírio de quem não entende o que está acontecendo. Fotos: Arquivo pessoal e Ricardo Stuckert/PR

Por Maria Caramez Carlotto*, em perfil de rede social

A escalada do governo Netanyahu contra Lula não deve ser lida como crise diplomática entre países. Isso é um erro crasso de análise!

Trata-se de uma investida política da extrema-direita mundial, que funciona em rede, contra um governo democrático que querem enfraquecer.

Explico:

1- Está marcado um protesto pró-Bolsonaro crucial para a sobrevida da extrema-direita brasileira nesta semana e a extrema-direita israelense está jogando para incendiar a opinião pública brasileira e fortalecer Bolsonaro. Eles funcionam por fortalecimento cruzado, entendam isso.

2- Isso explica os tuítes em português, totalmente fora do tom do ministro de relações exteriores de Israel, Israel Katz, do partido de extrema-direita de Netanyahu o LIKUD. Para que isso se não para intervir na política interna do Brasil?

3- Antes disso, em novembro do ano passado, o embaixador de Israel no Brasil encontrou Bolsonaro, líder da oposição, no Congresso Nacional no que foi então considerado uma clara intromissão em assuntos internos por qualquer um que entende minimamente de relações internacionais.

Vale notar que, na minha opinião, errou o governo brasileiro ao não expulsá-lo naquela ocasião ou, ao menos, convocá-lo para dar explicações.

4- Sobretudo porque o encontro veio no bojo daquele episódio hiper controverso da prisão de supostos terroristas do Hezbolah no Brasil por uma ação da Polícia Federal que, segundo o próprio Netanyahu em rede social, contou com a colaboração da agência de inteligência de Israel, o Mossad.

Vale notar, de novo, que, na época, alguns analistas mais ainda atentos viram nisso uma ação de contra inteligência para, na verdade, incidir sobre a opinião pública brasileira e sua percepção sobre a guerra em curso, considerando hostil pelo governo Netanyahu.

5- Por falar em inteligência e contra inteligência, começava a vir à tona nessa época e com mais força a partir de janeiro o escândalo da Abin paralela que tinha como centro um software de espionagem israelense usado pelos bolsonaristas para espionar adversários.

6- O que interessa aqui é que se este software – o FirstMile – foi adquirido formalmente pelo Estado Brasileiro no governo Temer, não é o caso do Darkmetter, um programa criado pelo exército de Israel e adquirido informalmente pelo Gabinete do Ódio segundo reportagem do Intercept.

7- É preciso mais pesquisas e investigações, mas é possível dizer que as colaborações formais e informais entre a extrema-direita brasileira e a extrema-direita israelense são intensas e é à luz delas que, na minha opinião, os ataques desferidos a Lula devem ser interpretados.

8- Aliás, essa colaboração é global. Ou já nos esquecemos que Milei, eleito, fez sua primeira viagem internacional para Israel e, na sequência, de passagem nos EUA, fez uma peregrinação por símbolos da comunidade judaica no país?

9- É por tudo isso, a meu ver, que dentro do espaço político-diplomático disponível, o governo Biden e os principais governos Europeus ameaçados pela extrema-direita ficaram ao lado de Lula e não de Israel.

As fotos para lá de simpáticas de Blinken com Lula agora de manhã [quarta-feira, 21/02], em Brasília, seguida de declarações e, principalmente, não-declarações evidenciam que crise diplomática é delírio de quem não entende o que está acontecendo.

10- Só a imprensa provinciana e o extremo-centro igualmente desavisado não perceberam o verdadeiro contexto político em jogo e viram nesse episódio uma oportunidade para atacar Lula e enfraquecer a esquerda e puxar seu governo mais ainda para a direita.

11-Demorou, mas acho que perceberam e estão se reposicionando.

12- Em tempo, eu não compartilho da visão, a meu ver distorcida, de que Lula negou o holocausto e flertou com o antissemitismo.

Lula, de maneira negociada com líderes mundiais, subiu o tom consideravelmente para alertar Israel que o massacre de Rafah no Ramadã não será tolerado.

13- Não usou a palavra holocausto, mas mencionou Hitler. O fez para alertar que a luta contra o fascismo, ontem e hoje, também conta com articulação global. O resto é resto pessoal.

*Maria Caramez Carlotto, doutora em Sociologia pela USP, é professora do curso de Relações Internacionais  e do Programa de Pós-graduação em Economia Política Mundial da Universidade Federal do ABC (UFABC). Integra o Grupo de Estudos e Pesquisa Science in Circulation, ligado ao Instituto de Estudos Avançados e Cultura da Unifesp, uma Rede de Pesquisa que integra pesquisadores nacionais e estrangeiros, de diferentes disciplinas, que estudam circulação internacional de conhecimento. 

Leia também

Jeferson Miola: Ataque a Lula é bóia de salvação de Israel para tentar sair do isolamento mundial

Jair de Souza: Lula massacrado pela mídia corporativa por comparar crimes de Israel com os do nazismo de Hitler

Valter Pomar: O governo de Israel deveria ”aprender História e pedir desculpas”


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

.

“O maior erro da análise sobre a fala de Lula
é a Negação de que Israel tenha como propósito
a Aniquilação do Povo Palestino.

Quem assistiu as audiências na CIJ (de Haia),
viu vasto material comprobatório de que existe
uma intencionalidade do governo de Israel
na aniquilação da população de Gaza.

Além disso, há vasto material também de falas
dos ministros de Netanyahu desumanizando palestinos.

Existe sim um plano de aniquilação da população em Gaza,
existe uma desumanização da população local e
quando há esse quadro formado qualquer analista
vê o risco real de genocídio.

É justamente por isso, que a denuncia da África do Sul
contra Israel foi aceita no Tribunal de Haia.

Tecnicamente a CIJ compreende que existe
uma possibilidade real de genocídio

Logo, não cabe a nenhum jornalista brasileiro negar os fatos
pq se sente pessoalmente ofendido com a acusação
que é baseada em questões técnicas.

A mídia brasileira está ignorando um julgamento histórico
que ocorre nesse momento na CIJ sobre a ocupação irregular
dos territórios palestinos.

A mídia não tem quer tomar lado, tem que relatar fatos.
e analistas devem ser extremamente cautelosos e responsáveis
em sua fala.

Não existe crise internacional.
A ‘crise’ com Israel não faz cócegas para economia do Brasil
e não arranha a imagem do Brasil internacionalmente

O Brasil está entre as dez maiores potencias do mundo
e tudo que estão falando é para gerar instabilidade interna
e criar um cenário igual ao de 2016.

Fiquem atentos.”

https://twitter.com/biazitagomes/status/1760416888889221348

Zé Maria

.
.
Não há intenção da Imprensa Nazi-Sionista InternZional,
inclusive a do braZil, em Ser Racional e Lógica nas ‘Análises.

Há sim a Má-Fé de tentar formar um Senso Comum a favor
de isRéu, Contra Atos e Ações Críticas ao Genocídio em Gaza.

É um Movimento Neoliberal Fascista de Extrema-Direita
para angariar Votos para seus Candidatos, Aqui e nos EUA.

O Governo de Extrema-Diretia de isRéu não tem ‘Diplomacia’,
tem sim Política de Disseminação de Fake News e Violência.
.
.
Excerto

“As colaborações formais e informais entre a extrema-direita brasileira
e a extrema-direita israelense são intensas e é à luz delas que os ataques
desferidos a Lula devem ser interpretados. Aliás, essa colaboração é global.”
.
.

Deixe seu comentário

Leia também