Valter Pomar: O governo de Israel deveria ”aprender História e pedir desculpas”

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Valter Pomar: O presidente Lula não menciona a palavra holocausto em sua declaração. Ele disse exatamente o seguinte: "O que está acontecendo na Faixa de Gaza, com o povo palestino, não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando o Hitler resolveu matar os judeus". Acima, Israel Katz, ministro de Relações Exteriores de Israel, e o presidente Lula. Fotos: Reprodução do X e Ricardo STuckert/PR

O governo de Israel deveria “aprender História e pedir desculpas”

“Uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”

Por Valter Pomar, em seu blog

Dizem que a frase é de Joseph Goebbels.

Se não é, poderia ser.

A frase é apropriada para qualificar a postura de governantes de Israel, que atacam a declaração de Lula, feita em Adis Abeba.

A declaração foi a seguinte: “O que está acontecendo na Faixa de Gaza, com o povo palestino, não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando o Hitler resolveu matar os judeus”.

A resposta do Benjamin Netanyahu foi, em resumo: “As palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e graves. Trata-se de banalizar o Holocausto e de tentar prejudicar o povo judeu e o direito de Israel se defender. Comparar Israel ao Holocausto nazista e a Hitler é cruzar uma linha vermelha. Israel luta pela sua defesa e pela garantia do seu futuro até à vitória completa e faz isso ao mesmo tempo que defende o direito internacional”.

Em resumo: “holocausto”.

A frase de Lula cita o holocausto? Não.

Repitamos o que Lula falou: “quando o Hitler resolveu matar os judeus”.

Falou do ponto de partida, não do ponto de chegada.

E, também por isso, a comparação está correta, politica e historicamente.

Aliás, os pontos de contato entre o nazismo e o sionismo vem sendo apontados, há tempos, por celebridades como Einstein e Hanna Arendt, por judeus que estiveram presos nos campos de concentração, por intelectuais mundo afora, ontem e hoje.

Por exemplo, ver aqui o que disse Masha Gessen:

Mesmo assim, alguns isentões sinceros e vários espertalhões laureados seguem repetindo que teria havido “imprecisão histórica” na crítica de Lula.

Alguns chegam a falar em “revisionismo”.

Houve, não.

Primeiro, porque nazismo e sionismo são variantes do racismo. E, na base do racismo, do sionismo e do nazismo está a desumanização do oponente.

Para o sionismo raiz, os palestinos não seriam seres humanos.

Para os nazistas, homossexuais, ciganos, judeus, comunistas e outros “indesejados” não seriam seres humanos.

Disseminar esta “compreensão” desumanizada, como é óbvio, contribui para o extermínio.

Portanto, está certo Lula ao identificar a afinidade de base entre o que os nazistas pensavam “quando o Hitler resolveu matar os judeus” e o que Israel faz contra os palestinos hoje.

Não são seres humanos, então poderiam – na opinião de nazistas e de sionistas – ser maltratados, espezinhados e mortos.

De outubro para cá foram assassinados, na Faixa de Gaza, cerca de 30 mil pessoas, na sua maioria crianças, mulheres, civis.

Aliás, se algo poderia ser acrescentado ao que Lula disse, é que esta atitude de Israel e do sionismo não começou agora.

A frase de Lula também está certa, entre outros, por um segundo motivo.

A saber: o extermínio do nazismo contra os judeus não começou nos campos de concentração.

Os campos de concentração, aquilo que os nazistas chamaram de “solução final” veio, como o próprio nome diz, ao final.

Entre o ponto de partida e o ponto de chegada, houve uma escalada.

Durante esta escalada, muita “gente de bem” olhou para o lado e não condenou o nazismo.

“Quando o Hitler resolveu matar os judeus”, ainda não havia ainda campos de concentração, mas já havia a política de desumanização e violência crescente.

Passar o pano, deu no que deu.

Quem “passava o pano” nos anos 1920 e 1930 podia alegar, mesmo que hipocritamente, ignorância; quem passa o pano hoje não tem nenhuma desculpa, inclusive porque o genocídio contra os palestinos está sendo feito ao vivo e já sabemos como esta história termina, se não for interrompida.

Tem 2 milhões de pessoas em Rafah.

Milhões foram afetados, desde a Nakba, em 1948.

E o governo de Israel sabe muito bem o que fez e o que segue fazendo.

Apesar disso tudo, parte da imprensa brasileira segue trombeteando as reclamações do governo de Israel.

A mais recente veio do ministro de relações exteriores de Israel, que disse o seguinte no X:

“Presidente do Brasil @LulaOficial, Milhões de judeus em todo o mundo estão à espera do seu pedido de desculpas. Como ousa comparar Israel a Hitler?

É necessário lembrar ao senhor o que Hitler fez? Levou milhões de pessoas para guetos, roubou suas propriedades, as usou como trabalhadores forçados e depois, com brutalidade sem fim, começou a assassiná-las sistematicamente. Primeiro com tiros, depois com gás. Uma indústria de extermínio de judeus, de forma ordeira e cruel.

Israel embarcou numa guerra defensiva contra os novos nazistas que assassinaram qualquer judeu que viam pela frente. Não importava para eles se eram idosos, bebês, deficientes. Eles assassinaram uma garota em uma cadeira de rodas. Eles sequestraram bebês. Se não tivéssemos um exército, eles teriam assassinado mais dezenas de milhares.

Que vergonha. Sua comparação é promíscua, delirante. Vergonha para o Brasil e um cuspe no rosto dos judeus brasileiros.

Ainda não é tarde para aprender História e pedir desculpas. Até então – continuará sendo persona non grata em Israel!”

Como se vê, a técnica é a mesma: frente a uma crítica, dizem “holocausto” e acusam os críticos de antissemitismo.

Há quem diga que não se deve usar a palavra de Deus em vão. E, com certeza, não se deveria usar a palavra holocausto para tentar justificar um genocídio.

Seja como for, uma mentira dita mil vezes não vira verdade.

O nazismo foi derrotado. E Goebbels, sucessor de Hitler, fez como o antecessor e se suicidou.

A Palestina será livre, os sionistas serão derrotados. E, usando parte das palavras do post acima reproduzido, ainda não é tarde para parar a guerra, por fim na ocupação, aprender História e pedir desculpas. Pedir desculpas à humanidade, com bem disse Celso Amorim.

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