Marcelo Zero: Vazamento da Bloomberg foi proposital, talvez com aval do próprio Biden

Tempo de leitura: 3 min
Marcelo Zero: Ao contrário do que dizem os desinformados, os governos do PT nunca foram “antiamericanos”. Foto: Alan Santos/PR

Os EUA e as Eleições no Brasil

Por Marcelo Zero*

Bolsonaro pediu ajuda a Biden para derrotar Lula e se reeleger, em uma reunião bilateral, realizada em Los Angeles, durante a Cúpula das Américas.

Biden, é claro, desconversou. Fico aqui imaginando a cara do presidente dos EUA e de seus assessores ante tamanha estupidez e despropósito.  

Qualquer pessoa de QI médio e medianamente informada teria informado ao insopitável capitão que essas coisas não se tratam nessas cúpulas. 

São tratadas, quando ocorrem, em intercâmbios de informação muito sigilosos, discretos e não-oficiais, normalmente feitos entre agentes de inteligência.

Como se sabe, os EUA, apesar de afirmarem o contrário, intervêm, sim, em processos políticos e eleitorais de outros países, quando julgam necessário. Mas o fazem pelos canais pertinentes e com os instrumentos apropriados. Podem até ser tolos, em relação aos objetivos, mas não são tolos, no que tange aos métodos.

Contudo, nesse caso específico, parece evidente que o presidente de atitudes asininas deu com os burros n’água.

O vazamento da informação constrangedora para o site de notícias da Bloomberg é indício claro disso. Evidentemente, o vazamento da informação não deve ter sido fortuito, fruto de indiscrição pessoal de um agente público.

Não. O vazamento deve ter sido proposital e bem calculado, feito, provavelmente, com o aval do próprio Biden, que, nos bastidores, nutre desprezo e desconfiança pelo capitão antiambientalista, antidireitos humanos, “trumpista” e saudoso da ditadura e da tortura.  Ele não quer se associar a qualquer aventura autocrática de Bolsonaro e de seus militares.

O canal utilizado também parece ter sido cuidadosamente escolhido.

A agência da Bloomberg é considerada muito confiável e dirigida ao público de empresários e grandes investidores, justamente aqueles que poderiam apoiar, com recursos financeiros e logísticos, uma aventura autocrática e um governo autoritário que favorecesse seus interesses.

Assim, o recado do vazamento parece duplo: não apoiaremos o antidemocrático Bolsonaro em eventual aventura autocrática e não permitiremos que o setor privado também o faça.

A aposta maior de Biden e do Partido Democrata deverá ser numa candidatura da mal chamada “terceira via”, que se alinhe aos interesses econômicos e geopolíticos norte-americanos, mas que tenha também compromissos mínimos com o meio ambiente, direitos humanos e democracia.

Ao menos, compromissos formais e declarados com tais temas. Enfim, uma candidatura conservadora que não cause constrangimentos. Algo minimamente civilizado. Ou com tal aparência.

Mesmo assim, caso a terceira via não vingue, como todas as pesquisas até agora indicam, a administração Biden aceitaria uma eventual vitória do ex-presidente Lula.

Muito embora Lula represente algumas opções econômicas e geopolíticas que não do agrado dos EUA, como a posição contra as privatizações descabidas e por uma política externa “ativa e altiva”, ele é visto como um candidato confiável, com qual a administração Biden poderá estabelecer laços de cooperação sólidos na área ambiental, de direitos humanos, no campo democrático, na área de combate à pandemia etc.

Devemos recordar que, quando governou, Lula manteve bons relacionamentos com governantes dos EUA. Com Bush, embora não concordasse com alguns de seus pedidos, como o referente ao apoio à invasão do Iraque, Lula manteve uma relação amistosa e respeitosa.

Com Obama, as relações foram ainda mais estreitas. Na reunião de Londres do G20, em 2008, Obama chegou a dizer, na frente de todos, que Lula era o “Cara”.

Dilma Rousseff tentou elevar as relações entre Brasil e EUA a um patamar ainda mais elevado, esforço que foi frustrado em razão do escândalo da espionagem feita pela NSA.

Portanto, ao contrário do que dizem os desinformados, os governos do PT nunca foram “antiamericanos”.

Apenas foram pró-Brasil e praticaram uma política externa que colocava ênfase na diversificação das parcerias estratégicas, não se alinhando aos interesses de nenhuma potência.

Lula deverá ganhar as eleições e voltar a praticar uma política externa que, ao contrário da de Bolsonaro, respeite nossa Constituição, nossa soberania e nossos interesses.

Estadista que é, terá o apoio dos democratas do mundo e será, de novo, um líder internacional que contribuirá positivamente para equacionar os graves problemas mundiais. A começar pelo da fome.

Em contraste com Bolsonaro, que é embaraçoso problema, Lula será bem-vinda solução. Biden sabe disso.

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Zé Maria

“Nas Américas, a Cúpula é dos Povos, Não do Imperialismo”

A Cúpula das Américas tem sido, ao longo de suas edições,
um espaço de impulso dos interesses das grandes corporações
e do mercado financeiro.

Em contraposição a ela, em algumas edições, os movimentos
populares do continente organizam as “Cúpulas dos Povos”,
espaços autogestionados e militantes de resistência,
denúncia e de fortalecimento e difusão das alternativas sociais, ambientais e econômicas propostas e postas em prática pelos povos.

Foi assim em 2005, ano em que a mobilização popular continental
se encontrou massivamente nas ruas de Mar del Plata, e a proposta
da ALCA foi derrotada na Cúpula das Américas.

Em 2022, diante dessa edição ainda mais esvaziada de vozes dissonantes ao projeto neoliberal, os movimentos sociais dos Estados Unidos e de outros países das Américas organizaram uma Cúpula dos Povos diversa, posicionada e mobilizada. Reunidos no Colégio Técnico de Comércio de Los Angeles, os e as militantes de diversas partes do continente construíram uma intensa programação de debates, oficinas, atos públicos, intercâmbio setoriais e culturais, integrando as lutas sindicais, feministas, negras e indígenas, LGBT, ambientais, camponesas, comunitárias e anti-imperialistas.

Contra o intervencionismo, as guerras, bloqueios, prisões, dívidas, privatizações, despejos e a violência, os movimentos populares presentes na Cúpula dos Povos apontaram os caminhos da democracia, do internacionalismo, da solidariedade e da soberania.

Democracia para quem?

A sessão de abertura da Cúpula dos povos, chamada “Democracia para quem: as consequências das intervenções dos EUA nas Américas”, reuniu vozes de mulheres de quatro países das Américas: Costa Rica, Cuba, Estados Unidos e México. A partir de suas realidades marcadas pelo imperialismo e pela violência estadunidense, as convidadas denunciaram os mecanismos neoliberais que impedem a democracia real.

O painel se iniciou denunciando a Organização dos Estados Americanos (OEA), que articula as ações e intervenções dos Estados Unidos na América Latina e no Caribe – por isso, Fidel Castro a chamava de “Ministério de Colônias dos Estados Unidos”. “Em nome de uma suposta democracia, a OEA faz o trabalho da CIA, derrubando governos que ousam contradizer os interesses dos Estados Unidos. Isso significa interferir em movimentos populares, de massa, de base, da classe trabalhadora, do campesinato. Isso significa arquitetar golpes contra líderes eleitos democraticamente e promover sanções que estrangulam a subsistência da população comum. Que tipo de democracia é essa?”, se pergunta Sheila Xiao, moderadora da discussão, durante a abertura da mesa.

“A fronteira foi quem nos atravessou”

As participantes enfatizaram a centralidade da questão das fronteiras. Ao mesmo tempo em que são criminalizadas, as migrações de países da América Latina e do Caribe para os Estados Unidos são úteis à superexploração em empregos precários e sem direitos. “Nós nunca atravessamos a fronteira; a fronteira foi quem nos atravessou”, afirmou Alina, categórica. “Os Estados Unidos são um Estado que se construiu sobre o genocídio dos seus povos originários, sobre a escravidão e também com a força migrante que, hoje, eles criminalizam, que, no auge da pandemia, eles chamaram de “trabalhadores essenciais”, mas depois os criminalizam, perseguem, deportam. Esse é o sonho americano: um belo roteiro de Hollywood, mas, na realidade, é um pesadelo para milhões, dentro e fora dos Estados Unidos”.

A militante dos direitos de pessoas trabalhadoras migrantes e refugiadas Fidelina Mena Corrales, da Costa Rica, também criticou o “sonho americano”, e trouxe o tema da migração entre países latino-americanos e caribenhos. Esses países, apesar de não terem o aparato militar dos Estados Unidos, têm fronteiras policiadas, que produzem violências e violações de direitos. Segundo ela, essas são questões que só podem ser resolvidas com mudanças estruturais na política e na sociedade. “Nossos governos nos atacam. Eles não atacam os reais problemas estruturais. Simplesmente o que lhes interessa é legislar e fazer uma democracia para poucos, uma democracia para a economia”.

Para Xochitl Sanchez, do Centro de Recursos da América Central de Los Angeles [Central American Resource Center in Los Angeles – CARECEN-LA], a militarização das fronteiras está em relação direta com a cultura de guerras. Para ela, enquanto o conflito entre Rússia e Ucrânia é uma lembrança da Guerra Fria e do perigo iminente de um conflito global, na América Central também está em curso uma guerra “quente”, armada e militarizada de controle de fronteiras e genocídio das populações tradicionais. Trata-se de um ataque intenso, diário e racista, mas não televisionado.

Essas ações violentas impulsionam a migração e abrem caminhos para a ocupação dos territórios por parte de grandes empresas transnacionais, que expulsam pessoas de suas casas e destroem comunidades. “Houve intenção de permitir que corporações se apropriassem e ocupassem essas terras para lucrar com o que elas sabem ser uma região muito rica. A América Central é de uma beleza tremenda e tem muitos recursos que permitiriam que a população de lá tivesse uma vida de dignidade e abundância”, diz. Xochitl aponta como a pandemia foi uma oportunidade para que as fronteiras dos Estados Unidos fossem ainda mais militarizadas.

Essa falsa democracia neoliberal que governa para poucos também prende, bloqueia e sanciona quem represente riscos aos seus interesses. Por isso, a convidada Cristina Escobar, da União de Jornalistas de Cuba, teve seu visto para entrar no país negado e não pôde falar presencialmente na Cúpula.

Gail Walker, diretora-executiva da organização Pastores pela Paz [Pastors for Peace] perguntou o que os povos querem dizer quando falam de democracia, Para responder isso, relembrou a ideia de Martí de Nuestra América, ou seja, de uma América diversa e pertencente ao seus povos. Para ela, essa ideia é capaz de destruir os esforços dos Estados Unidos de invisibilizar e homogeneizar essa diversidade.

Como povo latino-americano e caribenho, que também faz parte das Américas, ainda que alguns países não falem espanhol, estamos conscientes e presentes de que queremos formar um só povo.

Fidelina Mena Corrales

Apesar de toda uma história de opressões, Gail Walker sinaliza que estamos vivendo um momento de virada e de esperança: “as muitas populações oprimidas nessa região do mundo estão acordando para a coragem e a rebeldia presente no nosso DNA ancestral”. Para ela, o exemplo de Cuba mostra o real caminho para a democracia a partir dos valores de coletividade. “No meio da pandemia, essa nação, pequenina mas poderosa, desenvolveu vacinas para combater a covid e as disponibilizou para o sul global. Cuba é um exemplo de generosidade, representando uma ameaça ao que os EUA representam em sua essência.

Por tudo isso, é preciso reposicionar a ideia de democracia e radicalizá-la, inserindo nela a urgência da participação popular, da soberania, da autodeterminação e da integração. Uma democracia feita pelas e para as pessoas, e não pelo e para o mercado. Como diz Alina Duarte, “gosto mais de falar em poder popular do que em certas democracias que se confundem com ir às urnas a cada poucos anos. Esse poder popular está sendo criado em várias partes da América Latina”.

Íntegra:

https://capiremov.org/experiencias/nas-americas-a-cupula-e-dos-povos-nao-do-imperialismo/

Zé Maria

.
Os Governos dos Estados Unidos da América (EUA)
nunca zelaram pela Democracia na América Latina.
‘Democrata’ e ‘Republicano’ são Nomes Fictícios
de Partidos de Direita Conservadores, quando não,
Reacionários nos EUA, Patrocinadores de Golpes
em todo o Mundo.
Báidi não foge à Regra, é uma Farsa construída
pela Mídia da OTAN para Tripúdio sobre Nações,
um Embuste Engolfado no Crime Internacional.

RiaJ Otim

a parte não vazou o americano confirma que dará o golpe em em troca da Amazônia, como fizeram com o México. E falta a mídia nacional esclarecer que se o presidente ganhar a eleição não precisará de golpe e nem negociar nada com esses abutres

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