BBC News Brasil: Após afirmar a Biden que respeita eleições, Bolsonaro diz que única forma de evitar problemas é TSE falar com militares

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Jair Bolsonaro durante encontro com Joe Biden na Cúpula das Américas, em Los Angeles (EUA) Foto: Alan Santos/PR

Após afirmar a Biden que respeita eleições, Bolsonaro diz que única forma de evitar problemas é TSE falar com militares

Por Mariana Sanches, enviada da BBC News Brasil a Orlando (EUA)

Depois de afirmar diante do presidente americano Joe Biden que havia chegado ao poder pela via democrática e assim sairia dele e de indicar, na visão do governo dos Estados Unidos, respeito pelo sistema eleitoral atual e seus resultados, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro voltou a citar suspeitas de fraude e a atacar o trabalho do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e os ministros do Supremo Tribunal Federal que compõem o órgão

Bolsonaro chamou o ministro Luís Roberto Barroso de “mau caráter”, questionou se Alexandre de Moraes seria um “psicopata” e afirmou que Edson Fachin convidou observadores eleitorais “para dar ares de legalidade” a um processo eleitoral no qual Bolsonaro diz não confiar.

Na última sexta (10/6) como queria Bolsonaro, o Ministério da Defesa mandou novo ofício ao TSE em que pede para que o tribunal facilite o acesso processo de auditoria das urnas tanto para militares quanto para partidos políticos.

Questionado pela BBC News Brasil se, após a divulgação do resultados das eleições no Brasil, o país poderia viver uma situação de violência análoga à invasão do Capitólio nos EUA, em janeiro de 2021, Bolsonaro disse: “eu não sei o que vai acontecer, de minha parte teremos eleições limpas, com toda certeza nós vamos tomar providências, a própria Defesa que foi convidada, antes das eleições”.

O presidente então citou uma declaração recente de Ciro Gomes, candidato presidencial do PDT: “O Ciro Gomes, terceiro lugar nas pesquisas, acabou de dizer que ‘se Lula ganhar, o Brasil amanhece em guerra’. A população brasileira, a maioria esmagadora, está comigo.”

O presidente voltou a repetir afirmações já desmentidas pelo TSE sobre fraude eleitoral em 2014, quando a petista Dilma Rousseff foi reeleita. Sugeriu que a anulação dos processos judiciais contra Lula seriam orquestrados pela Justiça para que o petista volte ao Planalto em 2023.

Perguntado pela BBC News Brasil se apelaria a seus apoiadores para não haver violência no pleito, qualquer que fosse o resultado, Bolsonaro afirmou:

“Ah, espera um pouquinho. Você acha que eu vou partir para isso? Entendo que a população brasileira é civilizada. Espero que os três ministros do Supremo que estão no TSE sejam civilizados também”, afirmou, em referência a Luís Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes.

Na sequência, emendou:

“Você está apontando uma possibilidade que pode acontecer, a gente não sabe, mas por que não evitar isso? A equipe técnica deles (TSE) conversar com a equipe técnica das Forças Armadas. Não tem outra forma de você evitar problemas. Se a pesquisa está dando aí 49% pro Lula e 30% pra mim, vamos supor que eu ganhe, esses 49% vão ficar indignados? Vão dizer que houve fraude?”, disse Bolsonaro.

Segundo Bolsonaro, “ninguém tem esse poder (de evitar que apoiadores cometam atos de violência), eu menos dos meus”.

O presidente Bolsonaro chamou Barroso de “um mentiroso, sem caráter” por ter dito, em fevereiro, que o presidente havia vazado um inquérito eleitoral sigiloso para apoiar suas alegações de fraude nas urnas e com isso teria “auxiliado milícias digitais e hackers de todo o mundo”.

Na sequência, Bolsonaro emendou: “Eu não estou atacando a Justiça Eleitoral, eu estou atacando o Barroso, que não tem caráter”.

Sobre Moraes, questionou: “o que esse cara tem na cabeça? O que é que ele está ganhando com isso? Quais são seus interesses? Ele está ligado a quem? Ou é um psicopata? Ele tem um problema”.

Moraes conduz as investigações sobre fake news e atos antidemocráticos, que resultaram em punições à parlamentares da base do presidente, como o deputado federal Daniel Silveira. Depois da condenação de Silveira, Bolsonaro deu indulto ao aliado.

“Eu dei um indulto para este parlamentar e ele [Moraes] continua perseguindo, multando ele, agora bloqueando o celular da esposa dele, que é a advogada que o defende. O TSE lá do senhor Alexandre de Moraes desmonetiza páginas, derruba páginas. Isso não é democracia, é censura”, disse Bolsonaro diante da churrascaria brasileira Fogo de Chão, em Orlando, onde almoçou antes de embarcar de volta para Brasília.

Bolsonaro comparou as ações de Moraes com o processo que levou à prisão de Jeanine Añez, ex-presidente da Bolívia condenada por tramar um golpe de Estado, em 2019. Não é a primeira vez em que Bolsonaro cita Añez para comentar a preocupação com o futuro caso deixe o Planalto.

“A turma dela perdeu [as eleições], voltou a turma do Evo Morales. O que aconteceu um ano atrás? Ela foi presa preventivamente. E agora foi confirmado dez anos de cadeia para ela. Qual a acusação? Atos antidemocráticos. Alguém faz alguma correlação com Alexandre de Moraes e os inquéritos por atos antidemocráticos? Ou seja, é uma ameaça para mim quando deixar o governo?”, questionou.

Bolsonaro ainda criticou as ações de Fachin de convidar observadores eleitorais para acompanhar o pleito no Brasil, algo que aconteceu nas últimas eleições.

“O que esses observadores vão fazer lá? Observar? Olha, a não ser que ele tenha um olhar de super-homem que possa observar programas, microchips. Qual a qualificação desses observadores?”.

A BBC News Brasil citou a OEA, Organização dos Estados Americanos, que desenvolve esse trabalho rotineiramente com o apoio inclusive do Brasil.

“Ah, a OEA. Ah, pelamordedeus, você achar que alguém colocar um crachá da OEA tá resolvido o assunto?. Convidaram pra dar ares de legalidade. Sabe o que eu faria no lugar do Barroso, do Fachin e do Alexandre de Moraes? ‘Presidente, vamos conversar’. Mas eles não querem conversar”

Na sexta, um dia após a primeira conversa bilateral entre Biden e Bolsonaro, a porta-voz do Departamento de Estado, Kristina Rosales, afirmou que os EUA veem a presença de observadores internacionais como algo fundamental no processo.

A renovação dos questionamentos e críticas às eleições marcaram o encerramento da viagem do presidente Bolsonaro aos EUA.

Além de se encontrar com Biden, Bolsonaro participou da 9a Cúpula das Américas. Depois, atravessou o país para inaugurar um vice-consulado em Orlando, na Flórida, para discursar na Igreja da Lagoinha, uma denominação evangélica, e para realizar uma motociata com cerca de 350 motociclistas da comunidade brasileira.


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Darcy Brasil Rodrigues da Silva

O principal empecilho à aplicação de qualquer programa nacional de desenvolvimento no Brasil são as Forças Armadas permanentemente alinhadas na defesa do modelo econômico que privilegia o capital financeiro, o agronegócio e o imperialismo ocidental. Elas não estão ao lado de Bolsonaro como temem alguns, mas ao lado dos interesses dessas classes dominantes, jamais serão instrumentos do bolsonarismo, subordinando-se a um miliciano que expulsaram, embora de forma velada, do seu meio, como pretendem algumas análises. Bolsonaro sim é que utilizaram e utilizam como intrumento delas. São impermeáveis a apelos republicanos dos democratas para que cumpram o que lhes prescreve a Constituição, que simulam acatar apenas como rito de camuflagem militar, enquanto zelam pelo projeto neoliberal do imperialismo cujos interesses defendem com armas nas mãos. No plano internacional, consideram integrar a OTAN. Não atuam às cegas, confinadas ao seus egoismos corporativistas , apenas defendo interesses de casta, como se fossem um grupo social acima do resto da sociedade, mas orientadas pela consciência de sua funcionalidade como instrumento de repressão dos trabalhadores e do povo em favor dos interesses da plutocracia financeira nacional e internacional e dos ruralistas. Essa ideologia representa a permanência da identificação das Forças Armadas com o projeto de dominação imperialista neoliberal que nos legou a ditadura militar. A Constituição de 1988, a “democracia” inaugurada com as eleições de 1989, jamais alteraram essa funcionalidade das Forças Armadas brasileiras, que apenas operaram um recuo tático, mantendo-se quase como uma instituição autônoma, fingindo aceitar como superiores hierárquicos os Presidentes da República eleitos e seus indicados como Ministros da Defesa. Enquanto o PT governava, os militares seguiam reproduzindo nas casernas a ideologia que os levaram ao golpe de 1964, acompanhando a evolução dos acontecimentos, prontos para impedir que qualquer governo com pretensão de ser democrático e popular ultrapassesse a linha vermelha, ameaçando os interesses de classe que as FFAAs sempre defenderam e defendem, principalmente a partir do golpe de 1964 (quando expurgaram de seus quadros indivíduos democráticos e nacionalistas, com o perfil do marechal Lott), que são aqueles mesmos interesses antipopulares, antidemocráticos e antinacionais que empolgaram a ditadura militar. Nenhum “cuspe”, nenhuma capacidade de negociação, nenhum interlocutor conhecido pela eficácia de dialogar com os comandantes militares, conseguirá alterar essa realidade, ou seja, o fato de que as Forças Armadas brasileiras defendem interesses de classe contrários aos dos trabalhadores e do povo, estando sempre disponíveis para fazer ameaças contra os partidos, entidades e políticos do campo democrático e popular, buscando coagi-los a não ultrapassar os limites que contrariem os interesses da plutocracia financeira nacional e internacional e dos ruralistas brasileiros. Um verdadeiro projeto nacional de desenvolvimento deveria prever a substituição dessas Forças Armadas a serviço dos interesses da plutocracia, integrante do aparato de repressão imperialista, por outras a serviço dos trabalhadores e do povo e de um projeto nacional de desenvolvimento. Por isso, a transformação do Brasil pressupõe a mobilização permanente, prioritária, incansável, dos trabalhadores e do povo, buscando elevar seu nível de consciência e de organização para opor às forças organizadas por homens armados a serviço das oligarquias dominantes a força dos trabalhadores e do povo a serviço de seus próprios interesses.

    marcio gaúcho

    É isso mesmo! As FFAAs praticam a doutrina do poder através do controle e posse das armas. Quem detém as armas é dono do poder. Essa doutrina é estimulada no mundo inteiro, geopoliticamente falando. Trata-se de um governo real, de força, paralelo às democracias e, também, às ditaduras. Muito bom o seu comentário!

Zé Maria

Mandem os Hackers do GSI tentar provar
que as Urnas Eletrônicas são Vulneráveis.

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