Marcelo Zero: PACto para um grande Brasil

Tempo de leitura: 5 min
Foto: Ricardo Stuckert/PR

PACto Para Um Grande Brasil

Por Marcelo Zero*

Em seu discurso no lançamento do Novo PAC, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, citou Charles de Gaulle, o qual dizia que a política mais ruinosa, mais prejudicial, era a política de “ser pequeno”.

Ou seja, de não ter ambições, de não ter um horizonte de grandes realizações futuras. De se deixar levar passivamente pelas circunstâncias.

Ainda, se quiserem, em uma outra leitura, de se conduzir pelo curto prazo do “mercado”.

Pois bem, parafraseando Charles de Gaulle, Mercadante afirmou que o Brasil não pode ser Brasil sem grandeza.

Tem toda razão. O Brasil não pode ser pequeno.

Tudo nele, tamanho geográfico, volume populacional, tamanho da economia, abundância de recursos estratégicos, maior biodiversidade do planeta, detentor da maior parte do bioma crucial para o equilíbrio climático (a Amazônia), cultura riquíssima e singular etc., o torna uma nação destinada à grandeza.

Mas isso, como reconhece Mercadante, requer pensar e planejar um futuro. Pois a verdadeira grandeza nunca é dada. Ela tem de ser construída.

E a grandeza não pode ser construída sem visão de longo prazo, sem estratégia, sem planejamento. E, óbvio, sem Estado.

Nenhum grande país se construiu de forma automática, pela simples inércia das forças da “mão invisível’.
Nenhum.

Mesmo os EUA se desenvolveram graças a um Estado que investiu na integração do país, na infraestrutura, na industrialização etc.

Por exemplo, a ferrovia que conectou a região atlântica dos EUA à região do Pacífico, permitindo a primeira grande conexão da gigantesca nação, foi encomendada por Abraham Lincoln, que sabia da importância do planejamento e da ação estatal para induzir e dinamizar as forças de mercado.

Lincoln e outros estadistas, como F. D. Roosevelt, sabiam que a história apresentava janelas de oportunidades que tinham de ser reconhecidas e abertas pelo Estado, para que as forças vivas do país pudessem passar.

Pois bem, como bem assinalou Mercadante em seu discurso, há hoje uma grande janela de oportunidade que se abre para o Brasil.

Tal janela é dada essencialmente pelo desafio do enfrentamento às mudanças climáticas e pela necessidade de se promover uma nova industrialização verde e descarbonizada.

O Brasil, como salienta Mercadante, tem tudo para liderar esse processo.

Além de ter se comprometido com o desmatamento zero na Amazônia e com a total proteção dos direitos dos povos originários do Brasil, o novo governo Lula tenciona iniciar um ciclo econômico baseado na “descarbonização” dos processos produtivos e na implantação de uma economia verde no Brasil.

Nosso país tem tudo para ser uma grande “potência verde”, muito provavelmente a maior do mundo.

Esse potencial poderá sustentar a nossa entrada na 4ª Revolução Industrial, a qual vem criando a economia e a indústria do futuro.

Temos matriz energética limpa, muito mais limpa que a da maioria dos países da OCDE e do mundo.

A matriz elétrica brasileira é composta aproximadamente por 78% de fontes renováveis, contra uma média mundial que beira os 29%, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA).

Quanto à matriz energética, o Brasil tem 48% dela de fontes renováveis, ao passo que a média do planeta é de apenas 15%.

Possuímos também a segunda maior área de florestas naturais do mundo, ficando atrás somente da Rússia, cuja taiga é bem menos biodiversa que a Amazônia e, por ter crescimento lento, captura quantidade significativamente inferior de dióxido de carbono que nossa floresta tropical.

Ademais, o Brasil, tem 20% da biodiversidade internacional e 13% da água doce do planeta.

Poderemos assim, ampliar facilmente nossas vantagens comparativas na economia internacional, se nos próximos anos continuarmos a incorporar a sustentabilidade ambiental como parte fundamental da estratégia de consolidação do nosso desenvolvimento.

Além desse enorme capital ambiental, o maior do mundo, temos também um capital político internacional personificado na incontestável liderança de Lula.

No campo regional, Lula já destacou a necessidade de articular os países da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (Brasil, Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, Venezuela, Suriname e Guiana) para promover uma gestão responsável da floresta e de sua riquíssima biodiversidade.

Essa iniciativa, combinada com a chamada “OPEP das Florestas”, que agregará Brasil, Congo e Indonésia, e com a meta de desmatamento zero na Amazônia, poderá ser um passo fundamental e decisivo para salvar o planeta e a humanidade.

Outra janela de oportunidade é dada, como observou Mercadante, pela geopolítica.

Pode-se dizer o que quiser da política externa de Lula, mas há de se reconhecer que ela é audaz, além de “ativa e altiva”.

Lula pensa grande, como aconselhava de Gaulle, e não enquadra o Brasil na mediocridade de papeis pré-definidos por grandes potências.

Isso é fundamental.

Infelizmente, há, na ordem mundial atual, uma nova Guerra Fria em andamento, que antepõe, artificialmente, do nosso ponto de vista, EUA, Europa e outros países de um lado, e China, Rússia e alguns aliados, de outro.

Trata-se de uma visão simplória, maniqueísta, não-cooperativa e equivocada da nova ordem mundial, a qual parece perpassar boa parte do espectro político ocidental.

Pois bem, entre EUA e Europa, de um lado, e China e Rússia, de outro, destaca Mercadante que o Brasil escolheu o Brasil, país com interesses próprios e independentes, que deseja ter boas relações com todas as nações e que procura contribuir para a conformação de uma ordem mundial multipolar, multilateral e simétrica, capaz de dar soluções para os graves problemas do planeta, como o aquecimento global, a fome, a pobreza, as desigualdades e as guerras.

Afirma Mercadante, com toda razão, que, entre a Guerra e a Paz, o Brasil escolheu a Paz.

Essa posição de neutralidade, de racionalidade e de bom senso, verdadeiramente multipolar e multilateralista, e que lidera o chamado “Sul Global”, coloca o Brasil na invejável posição de poder obter cooperação e investimentos de todos os espectros geopolíticos.

Na realidade, uma bem realizada “arbitragem das influências” pode maximizar nossa inserção exitosa numa ordem mundial, que tende inexoravelmente à diversificação geográfica das oportunidades.

O Novo PAC representa, assim, uma mudança paradigmática.

Após um governo omisso, incompetente e sem nenhuma estratégia de desenvolvimento, industrialização e inserção internacional soberana, que se preocupava mais com joias da Chopard do que com o país, temos, agora, um governo que tem visão de futuro, de mundo, de Brasil.

O governo Lula sabe que a verdadeira riqueza do país, a grande joia da nação, é o seu povo.

Temos um governo que volta a apostar no Brasil e no seu povo. Somente o BNDES de Mercadante disponibilizará R$ 440 bilhões para construir o futuro do país.

Claro que haverá resistências ao planejamento, ao investimento estatal, ao pensar estratégico do Brasil verdadeiramente grande. Sempre houve.

Bom, trata-se gente que vive no passado. Num passado muito pequeno e atrasado. Gente que aposta no Fazendão desigual do passado.

Sequer prestam atenção ao que acontece no mundo, que está passando por um célere rearranjo geoeconômico e por mudanças de paradigmas.

EUA e a União Europeia, por exemplo, estão comprometidos com grandes investimentos estatais para superar a crise econômica e o desafio das mudanças climática.

São como o “Velho do Restelo” de quem falava Camões, nos “Os Lusíadas”. Aquele personagem anacrônico e um tanto patético que condenava os navegantes que fariam a grandeza de Portugal.

São aqueles que, como diriam Charles de Gaulle e Mercadante, praticam a ruinosa política de “ser pequeno”.

Porém, com Lula, Mercadante e todos aqueles que se uniram para salvar o Brasil e sua democracia, escolhemos ser grandes.

*Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais.

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Zé Maria

Privatizações: 884 serviços caros e ruins foram reestatizados no mundo

A Alemanha, a partir de 2007 passou a comprar de volta as distribuidoras de energia que havia vendido em parte ou totalmente durante a década de 1990.
O processo com mais repercussão foi em Hamburgo, onde a população decidiu em referendo em 2013 a reestatização da energia elétrica.

Na França, os serviços de água e esgoto voltaram para a gestão estatal em 106 cidades.
Estudo da entidade de defesa dos consumidores UFC Que Choisir apontou que, entre as cidades francesas com mais de 100 mil habitantes, as menores tarifas tinham gestão pública, e as mais caras estavam, majoritariamente, em mãos privadas.

Nos EUA, boa parte das 67 reestatizações ocorreu nas áreas de água e energia, em estados como Nova York, Flórida e Texas. A cidade de Atlanta cancelou em 2003 concessão de água que iria até 2019 e tivera início em 1999, em decorrência de reclamações de falta de água e má qualidade.

Na Espanha, até 2017 Barcelona e mais 26 cidades haviam tomado de volta as concessões de água.

Uma das razões para isso foi comprovada por levantamento do Tribunal de Contas espanhol, que registrou que o custo médio por habitante da manutenção das redes de água sob gestão privada era 21,7% mais caro do que as sob controle municipal.

A mega concessão da rede de saneamento da região metropolitana de Barcelona foi anulada em 2015 pelo Tribunal Superior de Justiça da Catalunha, em vigor há três anos, por irregularidades no leilão e alta nas tarifas.

Íntegra:
https://horadopovo.com.br/privatizacoes-884-servicos-caros-e-ruins-foram-reestatizados-no-mundo/

Zé Maria

https://cee.fiocruz.br/sites/default/files/mapa-reestatizacao-1551374108898_v2_750x1.jpg

Relatório mapeou serviços privatizados que foram devolvidos ao
controle público em todo o mundo entre os anos de 2000 e 2017

83% dos 884 casos mapeados aconteceram de 2009 em diante.

As reestatizações aconteceram com destaque em países centrais do capitalismo, como EUA e Alemanha.

Isso ocorreu porque as empresas privadas priorizavam o lucro e os serviços estavam caros e ruins, segundo o TNI (Transnational Institute), Centro de Estudos em Democracia e Sustentabilidade sediado na Holanda.
O TNI levantou dados entre 2000 e 2017. Foram registrados casos de serviços públicos essenciais que vão desde fornecimento de água e energia e coleta de lixo até programas habitacionais e serviços funerários.

Término de contratos de concessão que não são renovados é a forma mais clássica de “desprivatização” que aparece entre os mais de 800 casos levantados.

Rompimento antecipado de contrato, como aconteceu com a PPP
(Parceria Público-Privada) do Metrô de Londres em 2010, e mesmo recompras milionárias de infraestruturas que haviam sido vendidas, como vêm fazendo diversas cidades alemãs com suas distribuidoras de energia, são outros tipos de reestatizações que também estão acontecendo.
O levantamento do TNI encontrou processos do gênero em 55 países em todo o Planeta.

Os cinco países que mais retomaram o controle público de serviços privatizados foram a Alemanha (348), França (152), EUA (67),
Reino Unido da Grã Bretanha (65) e Espanha (56)

Íntegra:

https://cee.fiocruz.br/?q=Privatizacoes-revertidas

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Zé Maria

Thread: https://t.co/SyPp2RPq7y
https://threadreaderapp.com/thread/1691224147857113088.html

NOTA

Foi detectado hoje, pela @fupbrasil, um ataque especulativo
de agentes econômicos, em um movimento de formação de estoques
para forçar um suposto desabastecimento do mercado interno
de combustíveis. (1/8)

https://twitter.com/DeyvidBacelar/status/1691224161337716736
Coordenador Geral da @FUP_Brasil
https://threadreaderapp.com/user/deyvidbacelar

As Refinarias Privadas têm de ser Reestatizadas
https://cee.fiocruz.br/?q=Privatizacoes-revertidas
884 serviços caros e ruins foram reestatizados no mundo, mostra instituto

O Centro de Estudos em Democracia e Sustentabilidade do Transnational Institute (TNI), sediado na Holanda, mapeou serviços privatizados que foram devolvidos ao controle público em todo o mundo entre os anos de 2000 e 2017. São casos de concessões não renovadas, contratos rompidos ou empresas compradas de volta, em sua grande maioria de serviços essenciais como distribuição de água, energia, transporte público e coleta de lixo.
Segundo o instituto o processo de reestatização ocorreu porque as empresas privadas priorizavam o lucro e os serviços estavam caros e ruins.

https://horadopovo.com.br/privatizacoes-884-servicos-caros-e-ruins-foram-reestatizados-no-mundo/

Zé Maria

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O PAC 3 é para, em primeiro lugar, concluir as obras dos PACs 1 e 2

que os [des]governos de Temer (MDB) e Bolsonaro (PL) paralisaram.
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Zé Maria

“Dentre as muitas ilegalidades de Bolsonaro pra tentar se reeleger,
uma delas atingiu em cheio o FGTS.
Usou o fundo dos trabalhadores num programa de microcrédito
sem qualquer critério técnico ou seguro e o resultado foi um calote
de R$ 2,3 bilhões no fundo.
É só mais um pra lista do inelegível.”

Deputada Federal GLEISI HOFFMANN (PT/PR)
https://twitter.com/Gleisi/status/1691072397842018304

Zé Maria

Bolsonarismo e Lirismo é só Falcatrua

“Tribunal Regional Eleitoral de Roraima cassa o
mandato do governador Antonio Denarium (PP)
por distribuição de cestas básicas durante o
período eleitoral do ano passado e determina
a realização de novas eleições no estado de RR.”

Cabe recurso da decisão ao TSE e, com isso,
Denarium continuará governando o estado
enquanto o Tribunal Superior analisa o caso.

https://twitter.com/eixopolitico/status/1691134197757366284

É por isso que a Imprensa Venal quer
que o Lula entregue um Ministério ao PP.

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Zé Maria

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Entrementes, no Canal de Merda Verde-Oliva …
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“O General Lourena Cid, pai do presidiário ten. cel. Mauro Cid,
se aposentou em 2019, manteve o soldo de general e foi morar
em Miami. Lá, recebeu a boquinha de ser o representante
comercial da APEX [*]e passou a receber mais R$63 Mil / Mês.”

https://twitter.com/Stedile_MST/status/1691101052391567361

*[@ApexBrasil = Agência de Promoção de Exportações e Investimentos.]
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.”O ‘povo’ tanto falou da lei Rouanet, mas quase nada das aposentadorias
vitalícias das filhas ‘solteiras’ dos militares, que terão impacto no orçamento
até 2080.
O jornalismo brasileiro naturalizou as mamatas fardadas que se escondem
atrás do ‘combate ao comunismo’.”

https://twitter.com/luizazenha23/status/1691136106161385480
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