Marcelo Zero: O que restou da democracia brasileira está em grande perigo; vital isolar o fascismo

Tempo de leitura: 3 min
Fernando Frazão/Agência Brasil

Isolar o Fascismo

por Marcelo Zero

A tarefa fundamental e inadiável das forças que ainda têm um compromisso mínimo com a democracia é isolar politicamente o neofascismo tupiniquim.

A total ausência de real compromisso democrático das nossas forças políticas conservadoras tradicionais foi o que permitiu a ascensão de um mentecapto extremamente perigoso, que ameaça acabar com o que restou da nossa democracia, após o golpe de 2016 e a prisão política de Lula.

As últimas manifestações, apesar de seu volume apenas mediano, mesmo nos maiores redutos bolsonaristas, foram convocadas pelo capitão com o objetivo principal de emparedar as instituições democráticas, especialmente o Congresso Nacional, que demonstra alguma independência, face ao festival inacreditável de absoluta incompetência do governo.

Nisso, não há surpresa alguma. Bolsonaro fez toda a sua longa carreira política de deputado do baixo clero como opositor ferrenho da democracia. Sempre elogiou a ditadura e os torturadores. Sempre defendeu, sem pejo algum, o extermínio, físico ou político, dos diferentes.

A imprensa sabia disso, os partidos políticos conservadores sabiam disso, os “formadores de opinião” sabiam disso, Sérgio Moro e seus procuradores sabiam disso, a justiça sabia disso, os donos do capital, mais que ninguém, sabiam disso perfeitamente.  Até as capivaras do Lago Paranoá tinham conhecimento do assunto.

Contudo, todos resolveram apoiá-lo, com intuito de derrotar o professor universitário e implementar uma agenda ultraneoliberal de destruição de direitos e da soberania.

Inocentes, nessa história sórdida, só as pobres capivaras e as forças políticas progressistas que brava, mas isoladamente, se opuseram à tragédia anunciada.

O que causa alguma surpresa, no entanto, é o apoio tácito que boa parte da imprensa conservadora e comercial deu às novas manifestações contra a democracia.

Em nome da “necessidade” de se aprovar o fim da Previdência e as demais pautas destrutivas da agenda ultraneoliberal, transmitiram as manifestações ao vivo e buscaram inflar o fascismo nas ruas. Mais uma vez, demonstram que não têm compromisso efetivo com a democracia.

Tentaram disfarçar as manifestações pelo fechamento do Congresso e do STF como manifestações contra a “velha política”, e tentaram justificá-las dizendo que a vertente antidemocrática foi minoritária.

Não foi. O cerne das manifestações foi antidemocrático. Sob a desculpa do combate à “velha política” e à “corrupção”, o querem mesmo é abolir ou levar à inanição às instituições democráticas e instaurar um Estado policial.

Nesse sentido, as manifestações foram tão democráticas quanto as que o partido nazista promovia na Alemanha, na década de 20 e 30 do século passado.

“Povo na rua” nem sempre é sinal de democracia. Pode ser o contrário. Naquela época, as manifestações nazistas também eram apresentadas como manifestações contra a velha política e a corrupção.  Nazismo e fascismo eram o “novo”.

Alguns argumentam que as manifestações, por seu volume modesto, foram um fracasso, que Bolsonaro cometeu um erro tático, etc.

É possível. Bolsonaro, por absoluta mediocridade e incompetência, e também por seu claro vínculo com as milícias, perde popularidade em ritmo de blitzkrieg.

Não obstante, seria um erro crasso menosprezar seu potencial destrutivo.

Estamos em época de crise extremamente grave e crônica. Em cenários semelhantes, a volatilidade política é imensa.

Nas eleições de 1928, o partido nazista teve menos de 3% os votos. Julgaram que Hitler estava acabado. Bismarck até revogou a proibição de Hitler fazer comícios na Prússia, pensando que o perigo havia passado.

Quatro anos depois, no entanto, Hitler fez um retorno triunfal, obtendo mais de um terço dos votos. Poucos meses depois, chegou ao poder. Bastou o agravamento da crise econômica, a partir de 1929, para que os inimigos da democracia triunfassem.

A persistência do impasse econômico e político no Brasil pode, sim, levar a “soluções” autoritárias”.

Há o risco sério de que o ressentimento e a frustração da população sejam dirigidos não contra o governo fascistoide, mas contra o que restou da democracia e suas instituições. Sob a desculpa de se acabar com a “velha política”, pode-se acabar, de vez, com a política.

A atual tutela militar sobre o poder civil, a falta de compromisso democrático de boa parte das nossas oligarquias, a ânsia por aprovar a agenda ultraneoliberal, a crise persistente e a criminalização da atividade política promovida pela Lava Jato compõem um cenário propício para aventuras de todo tipo.

A última pesquisa feita no Brasil pelo Latinobarômetro (2018) demostra que o apoio popular à democracia em nosso país é atualmente muito tênue.

Ante a pergunta, você considera que a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo?, apenas 34% responderam afirmativamente.

Ou seja, praticamente dois terços dos brasileiros admitem apoiar ou, ao menos, suportar um regime autoritário, caso julguem que a democracia (ou a “velha política”) tenha fracassado.

Bolsonaro demonstrou que está disposto a jogar a população contra as instituições democráticas. Está saindo da retórica para a ação. À medida que a crise avança e seu governo se paralisa, cresce a tentação de se apostar numa solução autoritária.

Nesse quadro, há de ocorrer uma reação firme das forças democráticas. Já passou do tempo de haver uma articulação, no Congresso e na sociedade civil, de todas as forças que ainda tem compromisso com a democracia.

Dizem que a grande astúcia do Diabo foi convencer de que ele não existia.

O neofascismo ou protofascismo brasileiro em senso lato existe. Está no poder e demonstra ser extremamente perigoso.

A democracia brasileira ainda existe, parcialmente. Mas o que restou dela corre o risco de não mais existir.


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Comentários

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lulipe

Esses esquerdopatas vivem com essa palavra “fascismo” na boca. Será que sabem realmente o significado dela? Tenho minhas dúvidas….

Zé Maria

https://youtu.be/2YFiKSzQj3A

Bolsonaro é o líder da Ku Klux Klan brasileira?

Por Jessé Souza, via GGN
[…]
Bolsonaro é filho da baixa classe média de imigrantes para os quais a carreira no exército ou na polícia era a promessa de ascensão segura ainda que limitada.

Neste contexto, não se casar com um negro ou com uma negra é a regra familiar mais importante e mais rígida.

Aqui, o preconceito puro, o orgulho da cor da pele e da origem é a única distinção social positiva ao alcance. Se a elite e a classe média exploram economicamente – além de humilhar – os negros, aqui só se pode humilhar.

Enfatizar uma distância social quase inexistente do ponto de vista econômico exige um racismo “racial” turbinado e levado às últimas consequências.

Este é também precisamente o caso do “lixo branco” norte-americano que ajudou a eleger Trump, o objeto do desejo e de imitação de Bolsonaro.

Os brancos do Sul dos EUA, inferiores social e economicamente aos brancos do Norte, são, por conta disso, como uma espécie de “compensação” da riqueza inexistente, os racistas mais ferozes e ativistas de uma “Ku Klux Klan” que assassinava e linchava negros indiscriminadamente.

Este é o caso de Bolsonaro e de seus seguidores no Brasil.

E o que é a “milícia” carioca, com a qual Bolsonaro e seus filhos estão envolvidos até o pescoço, se não a Ku Klux Klan brasileira, que existe para explorar e matar negros e pobres, os supostos “bandidos” das favelas?

Embora a elite e a classe média real e canalha também tenham votado nele, sua real base de apoio é o “lixo branco” brasileiro, próximo do negro e por conta disso ávido por criminalizá-lo, estigmatizá-lo como bandido e por assassiná-lo impunemente.

A associação com a milícia, a tara pelas armas e o discurso de ódio são para matar o preto e o pobre. O que está por trás de Bolsonaro é racismo “racial” mais cruel e expresso do modo mais aberto e canalha que se viu.
O ódio à universidade pública está também ligado ao fato desta, agora, ter sido “invadida” por negros e pobres.
Essa gente não estaria lá para estudar.
‘Só poderia ser para fazer balbúrdia’. [Daí a conclusão de que] ‘Urge cortar as verbas para isso’.

A irracionalidade de Bolsonaro, sua loucura e sua idiotice são a expressão perfeita do ódio racial brasileiro.
O ódio que não se explica racionalmente, nem apenas por motivos puramente econômicos.
O ódio do racista que se vê como fracasso social é um ódio de morte.
Ele não compreende as razões de sua posição social e só tem ressentimento sem direção na alma e no coração.
Ódio em estado puro que Bolsonaro expressa e exprime como ninguém.

Bolsonaro é o líder da Ku Klux Klan e do “lixo branco” brasileiro.

É isso que o define e o explica mais que qualquer outra coisa.

íntegra: https://t.co/Hsly2up7TX

https://twitter.com/luisnassif/status/1133490570767294464

https://jornalggn.com.br/artigos/bolsonaro-e-o-racista-chefe-da-ku-klux-klan-e-do-lixo-branco-brasileiro-por-jesse-souza/

Zé Maria

O #ForaBolsonaro é também o #ForaOlavo.

Zé Maria

A Exaltação do Fascismo no Brasil é Decorrente da Operação Lava Jato.

A Ofensa ao Direito de Defesa, o Desprezo à Presunção de Inocência
e a Inversão do Ônus da Prova, praticados pelo juiz Moro em Conluio
com a Força-Tarefa de Patifes de Curitiba, trouxeram o País a esta
Situação de Degradação Comportamental contra os Direitos Humanos,
em nome de um inverídico Combate à Corrupção, porque unidirecional.

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