Marcelo Zero: A conexão Milei-Zelensky

Tempo de leitura: 3 min
Zelensky foi um dos pouquíssimos chefes de Estado a comparecer à posse de Javier Milei. Foto: Reprodução de vídeo

A Conexão Milei-Zelensky

Por Marcelo Zero*

Zelensky foi um dos pouquíssimos chefes de Estado a comparecer à posse de Javier Milei, um ultradireitista radical, que mete medo até no espírito de Milton Friedman.

Percorreu mais de 13 mil quilômetros, desde a longínqua Ucrânia, para posar para a foto oficial com outros sete governantes.

Além posar para a foto, que excluiu o “penetra” Bolsonaro, Zelensky mentiu sobre algumas coisas.

Pelo menos, uma. Afirmou que tinha ido à posse de Milei porque fora convidado, ao contrário do que teria ocorrido na posse de Lula, para a qual não teria recebido convite.

O Itamaraty logo desmentiu a fake news maliciosa.

Ele foi convidado sim, mas decidiu não comparecer. Enviou a vice-presidente da Ucrânia, Iryna Verenshchuc. O Itamaraty, obviamente, envia convite para todos os países com os quais o Brasil mantém relações diplomáticas. Não discrimina ninguém.

Lembre-se que, em maio, na cúpula do G7, Zelensky também decidiu não comparecer ao encontro previamente marcado com Lula. Resolveu “esnobar” nosso presidente.

Mas porque Zelensky se deu ao trabalho de ir até Buenos Aires, numa cerimônia de posse tão esvaziada?

Afinal, as relações bilaterais com a Argentina nunca foram prioridade para a política externa da Ucrânia.

Com efeito, desde 2014, com o surgimento, em Kiev, de governos firmemente alinhados com os interesses do chamado Ocidente, que a política externa da Ucrânia colocou toda sua ênfase nas suas relações com os EUA, a União Europeia e a OTAN.

Mesmo em termos econômicos e comerciais, a Argentina não tem peso para a Ucrânia. Em 2021, a Argentina exportou somente cerca de U$ 61 milhões para a Ucrânia.

A explicação reside, obviamente, no fato de que Zelensky encontrou um raro aliado político em Milei.

Um aliado de extrema-direita, disposto a tentar articular um encontro entre a Ucrânia e países latino-americanos, com o intuito de angariar apoio ao “esforço de guerra”. Zelensky também aproveitou a viagem para se encontrar com os presidentes do Equador e do Paraguai.

Não acreditamos, contudo, que isso venha a funcionar.

Em primeiro lugar, porque Milei não é um bom articulador. Extremista de direita, agressivo, um tanto desequilibrado e “antipolítico”, Milei não goza de muita simpatia na América Latina. Ninguém o vê como um estadista ou um líder regional e mundial, ao contrário do que acontece com Lula.

Em segundo, porque o “esforço de guerra” na Ucrânia está fracassando a olhos vistos e conta com cada vez menos apoio político, mesmo em seu principal aliado, os EUA.

A famosa “contraofensiva” ucraniana não ganhou um milímetro e há a suspeita de que boa parte do dinheiro enviado vem sendo desviado pela corrupção, um problema muito sério na Ucrânia.

Há um cansaço generalizado dessa guerra, especialmente no Sul Global, e uma pressão cada vez maior para que ocorram negociações sérias entre as Partes para colocar fim ao conflito.

Observe-se que a proposta de “paz” da Ucrânia é simplesmente uma exigência de capitulação incondicional da Rússia, algo totalmente inexequível.

Em terceiro, porque uma reunião da Ucrânia com países latino-americanos, sem a participação da Rússia, seria algo inútil para o objetivo da paz. Tratar-se-ia somente de uma reunião para angariar, como afirmamos, apoio político para uma das Partes do conflito.

O Brasil, embora tenha condenado formalmente a intervenção russa, rege sua política externa, entre outros, pelos princípios da não-interferência, da solução pacífica dos conflitos e da defesa da paz.

Assim, o Brasil, de um modo geral, procura, sempre que possível, manter equidistância entre Estados em conflito.

O Brasil só poderia romper com essa equidistância, em casos de Resoluções específicas do Conselho de Segurança da ONU, que imponham eventuais sanções contra algum país. Nesses casos, o Brasil se obriga a cumprir as determinações do CSNU.

Até mesmo a LEI Nº 1.079, DE 10 DE ABRIL DE 1950, a famosa lei que define os crimes de responsabilidade do Presidente da República, lista, como crime de responsabilidade contra a existência política da União, “cometer ato de hostilidade contra nação estrangeira, expondo a República ao perigo da guerra, ou comprometendo-lhe a neutralidade”.

Por conseguinte, o Brasil é muito cuidadoso, não hostiliza nenhum país e sempre procura defender a paz e obedecer às leis internacionais. Não temos a lamentável tradição de unilateralismo e belicismo, cultivada com denodo por alguns países.

Não nos obrigamos a “escolher lado”, como querem nos forçar alguns. Estamos sempre do lado da paz e das negociações, como demonstramos recentemente à exaustão.

Sem o apoio do Brasil, que, espero, não virá, essa reunião, liderada pelo espírito de Conan, o agressivo mastim inglês, deverá fracassar, tal como aconteceu com a contraofensiva ucraniana.

O Brasil e a América Latina deverão estar alinhados com seus interesses próprios, que exigem desenvolvimento e paz para todos.

*Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais

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Zé Maria

“A que ponto de humilhação que um povo pode chegar,
votando na direita burguesa e escravagista:
Emissora argentina de propriedade de Maurício Macri
prega ‘que o povo coma apenas 1 vez por dia’!”
https://twitter.com/mdenser/status/1736415461301010869

Zé Maria

https://t.co/UzUH5BX4iZ
“Para os que quiserem entender a disputa da venezuela com a EXXON
pelo território do Essequibo, leiam esse artigo de um professor da UFRGS:
https://www.brasildefato.com.br/2023/12/12/entenda-porque-o-essequibo-e-da-venezuela
https://twitter.com/Stedile_MST/status/1735007428142318020

Zé Maria

“Cresce Alarme sobre Forças Militares Enfraquecidas
e Arsenais Vazios na Europa, diz Mídia dos EUA.

O Conflito Ucraniano revelou a Quantidade de Problemas
com o Estado das Forças Armadas Europeias, relata
o jornal The Wall Street Journal (WSJ).”

“Grande parte da sua capacidade industrial na área de defesa
foi minada por cortes orçamentais persistentes e pela ausência
de uma ameaça óbvia.”

“Assim, o WSJ dá como exemplo os seguintes dados:
as Forças Armadas do Reino Unido têm apenas
150 tanques de combate.

E há apenas 90 peças de artilharia pesada na França.”

“A Dinamarca não tem nenhuma, nem submarinos,
nem sistemas de defesa antiaérea.

E o Exército alemão tem munições suficientes
para uma batalha de 2 (dois) dias.”

Thread:
https://twitter.com/Sputnik_Brasil/status/1734618435542229227

Pode ser Lobby,
Pode ser Verdade;
Ou Ambos.

.

Zé Maria

“Aliados da Ucrânia alertam que
Estoque de Munição está no Fim”

“As Potências Militares Ocidentais enfrentam uma Escassez
iminente de Munições para apoiar a Defesa da Ucrânia contra a
“Extensa Invasão Russa”, alertaram o Reino Unido da Grã-Bretanha
e a OTAN.”

“Na Frente de Batalha, as Munições
Começam a Esgotar-se para a Ucrânia”.

A Ucrânia está Consumindo Milhares
de Cartuchos Diariamente.
A Maior Parte da Munição é Fornecida
pela OTAN (75% dos EUA).”

“EUA Gastam 50% a Mais em Munição devido
à Alta Taxa de Gastos da Artilharia da Ucrânia,
diz Pentágono.”

“Os Estados Unidos agora precisam gastar 50% mais dinheiro
em munições do que há cinco anos, devido à alta taxa de
destruição de projéteis de artilharia da Ucrânia, disse o
Secretário de Defesa dos EUA.”

“Em comparação com o orçamento de defesa de apenas cinco anos atrás,
estamos investindo quase 50% a mais em munição”, disse Lloyd Austin
em seu discurso no Fórum Nacional de Defesa Ronald Reagan, na Califórnia,
EUA.

(Informações de EuroNews, BBC de Londres e SputnikNews)

Zé Maria

.
.
“Ucrânia com falta de munições pede
mais investimento nas forças armadas”

“Congresso Norte-Americano bloqueia
fundos para apoiar a Ucrânia.

“União Europeia também diminuiu
o envio de Munições para Kiev.”

https://pt.euronews.com/2023/12/14/ucrania-com-falta-de-municoes-pede-mais-investimento-nas-forcas-armadas
.
.
“Magia de Zelensky falhou: Congresso dos EUA rejeita

‘jogar dinheiro em cavalo cansado’ [SIC], diz analista”

A visita de Vladimir Zelensky a Washington ficou aquém de convencer
os legisladores dos Estados Unidos a aprovar os US$ 61 bilhões
(R$ 301,1 bilhões) em financiamento para a Ucrânia este ano,
conforme informou a imprensa dos EUA.

A reunião de terça-feira (12) de Zelensky com os Parlamentares
dos Estados Unidos contrasta com sua visita triunfal de dezembro
de 2022, quando foi recebido e ovacionado de pé na Casa Legislativa
e recebeu uma bandeira norte-americana que voou sobre o Capitólio
dos Estados Unidos da América durante sua visita.

Desta vez, Zelensky teve uma recepção mais fria
em uma reunião de portas fechadas, depois que
o presidente da Câmara dos Representantes,
Mike Johnson, disse à imprensa:

“O que o governo Biden parece estar pedindo
são bilhões de dólares adicionais sem supervisão
apropriada, sem estratégia clara para ganhar
e nenhuma das respostas que acho que são
devidas ao povo americano.”

Como resultado, a Bloomberg não descartou que a Ucrânia
tenha falhado em conseguir mais financiamento este ano.

“A Ucrânia está perdendo o tempo todo”, disse o doutor Jack Rasmus,
professor de economia e política no Saint Mary’s College, na Califórnia,
à Sputnik.

“Eles estão sendo empurrados para trás.
Eles não estão recebendo apoio porque os EUA simplesmente
não podem fornecer toda a sua munição e armas.
Os dias estão contados.”

https://sputniknewsbr.com.br/20231213/magia-de-zelensky-falhou-congresso-dos-eua-rejeita-jogar-dinheiro-em-cavalo-cansado-diz-analista-32006957.html

Vídeo: https://twitter.com/i/status/1720897201566880056
“Tensão entre Zelensky e Chefe do Exército Ucraniano é Alarmante,
diz Conselheiro do Chefe da República Popular de Donetski (RPD).

O Conselheiro do Chefe da RPD, Yan Gagin, comentou sobre a Recente
Entrevista do Chefe do Exército Ucraniano, Valery Zaluzhny.”

https://twitter.com/Sputnik_Brasil/status/1720897201566880056

https://sputniknewsbr.com.br/20231213/midia-zelensky-reconhece-que-sem-ajuda-dos-eua-sera-obrigado-a-ceder-terreno-a-russia-32015400.html

Zé Maria

Venezuela e Guiana buscam solução pacífica
para disputa territorial sobre o Essequibo

Partes concordaram em resolver qualquer disputa
entre os dois Estados conforme o direito internacional

Em mesa de diálogo realizada em São Vicente e Granadinas, governos de Venezuela e Guiana anunciaram na quinta-feira (14) sua intenção de resolver a disputa territorial sobre o Essequibo, região de 159 mil quilômetros quadrados, conforme mecanismos internacionais e o acordo de Genebra de 1966, que prevê uma disputa pacífica.

O comunicado conjunto transmitido pela Venezolana de Televisión detalhou que as partes concordaram em resolver qualquer disputa entre os dois Estados conforme o direito internacional, incluindo o Acordo de Genebra assinado em 17 de fevereiro de 1966.

O encontro de alto nível entre os presidentes Nicolás Maduro, da Venezuela, e Irfaan Ali, da Guiana, foi uma resposta à proposta de diálogo feita pelo presidente brasileiro, Luiz Inácio LULA da Silva (PT), e pelo primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves.

Como resultado da reunião, os líderes se comprometeram a evitar ações que intensifiquem o conflito, destacando a importância de diálogo contínuo para abordar questões pendentes e de mútuo interesse.

Uma comissão conjunta com os chanceleres foi estabelecida para dar continuidade ao acordo, com a obrigação de apresentar uma avaliação aos líderes em três meses, marcando o prazo para a próxima reunião.

Em 5 de dezembro, Maduro anunciou medidas no território disputado após um referendo consultivo que obteve 10,5 milhões de votos.
Estas incluíram a lei orgânica para a criação da Guiana Essequiba, a criação da Zona de Defesa Integral da Guiana Essequiba e a publicação de um novo mapa da Venezuela.

As decisões foram uma resposta à Guiana, que licitou blocos petrolíferos em território não delimitado.

Empresas como ExxonMobil, TotalEnergies e China National Offshore Oil Corporation têm contratos bilionários de perfuração na região.

https://sputniknewsbr.com.br/20231215/venezuela-e-guiana-buscam-solucao-pacifica-para-disputa-territorial-sobre-o-essequibo-32039132.html

Zé Maria

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Nem Liberal
Nem Libertário:
Fascista Safado
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https://www.cartacapital.com.br/mundo/nem-liberal-nem-libertario-como-classificar-javier-milei-no-aspecto-ideologico
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Zé Maria

Polarização.
Existem sim
Dois Pólos:
O da Justiça e
O da Injustiça.

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