Luiz Gonzaga Belluzzo: A sabedoria dos espertalhões

Tempo de leitura: 3 min

por Luiz Gonzaga Beluzzo, em CartaCapital

No domingo, 14 de outubro, a manchete da Folha de S.Paulo proclama “Intervenções de Dilma e PIB fraco afastam investidores estrangeiros”.

No corpo da reportagem, a jornalista Patrícia Campos Mello esclarece que a deplorada queda no ingresso de capitais está concentrada em ações e títulos de dívida, o chamado investimento de portfólio. Entre janeiro de 2011 e agosto de 2012, essa modalidade de investimento estrangeiro apresentou queda de 1,8% para 0,3% do PIB. Já o investimento direto subiu no mesmo período de 2,3% ­para 2,8% do PIB.

Nas palavras da jornalista, esses números transmitem melhor o humor (sic) dos investidores porque (o investimento de port­fólio) são mais voláteis do que o investimento direto estrangeiro, bem como menos influenciados por uma grande operação.

Em seguida, ela organiza um desfile de opiniões de gestores de fundos dedicados à especulação e à arbitragem com os movimentos esperados de juros e câmbio. Certo Ruchir Sharma, chefe da área de Mercados Emergentes do Morgan Stanley, disparou: “É uma decepção, o Brasil terá crescimento de 1,5% a 2%, nem a metade da média dos emergentes. Para completar, o governo adotou medidas intervencionistas que aproximam o Brasil de países como a Venezuela de Chávez e terão efeito negativo a longo prazo”.

O insigne Michel Shaul, presidente da Marketfield Asset Management, entregou o ouro: “O governo implementou uma série de medidas anticapital que podem até ser boas para a população que vai pagar menos juros no cartão de crédito, mas que não agradam ao investidor”. Já um grande investidor estrangeiro que preferiu o anonimato lamentou: “O governo começou a caça às bruxas contra os bancos, as ações despencaram. Dilma espremeu as elétricas e os papéis desabaram”.

O estudo do FMI intitulado Recent Experiences in Managing Capital Inflows, de fevereiro de 2011, reconhece que a volatilidade dos investimentos de carteira não só é elevada como aumentou depois da crise financeira, com consequências indesejáveis na gestão da política econômica ao provocar o desalinhamento nas taxas de câmbio. No pós-crise, os fluxos líquidos de “dinheiro quente” ganharam força com as sucessivas rodadas de injeção de liquidez pelos bancos centrais. O movimento de capitais de curto prazo na busca de rendimentos mais parrudos cresceu rapidamente e alcançou 435 bilhões de dólares entre o terceiro trimestre de 2009 e o segundo de 2010. Ultrapassou, assim, os picos anteriores à crise em países como ­Brasil, Indonésia, Coreia e Tailândia.

Na maioria dos casos, diz o estudo, o influxo de capitais de portfólio foi determinado pelos diferenciais de taxas de juro, crescimento rápido ou posições fiscais e de endividamento saudáveis, num ambiente global de maior apetite pelo risco. “Em sua maioria, os países adotaram medidas de vários tipos para obviar a valorização das taxas de câmbio. As medidas visaram conter os impactos dos movimentos de capitais de curto prazo sobre os mercados de ativos, ao mesmo tempo preservando o ingresso de capitais produtivos e resguardando a economia das súbitas reversões.”

Nos anos 1990, tempos de glória da globalização financeira, a olímpica tranquilidade dos encantadores de serpente fundava-se nas convenientes falácias da liberalização das contas de capital do balanço de pagamentos. A economia brasileira, ensinavam por aqui, vai pegar no tranco, impulsionada pela entrada pródiga de capitais, aqueles que voavam nas asas da globalização.

Os custos dessa aposta, qualquer um sabe, foram: 1. Perda significativa na liberdade de manejar a taxa de câmbio para conter a invasão das importações e impedir a perda de competitividade das exportações. 2. Rápida ampliação do déficit em conta corrente, derivada de um déficit comercial em expansão e de um passivo externo em processo de ampliação. 3. Crescente e perigosa dependência do financiamento forâneo, ou seja, submissão da política econômica e das metas de crescimento da economia aos humores (sic) dos mercados de capitais internacionalizados, que, como é notório, passam abruptamente da euforia à depressão.

Na inesquecível década dos 90, entre tantas loucuras, os apologetas do capitalismo desbragado e seus ideólogos trataram de convencer a população e a si mesmos de que só eles sabiam das coisas, eram detentores do monopólio das boas ideias, aquelas capazes de salvar a humanidade de suas agruras.

Como toda loucura, essa também tem método: os mandachuvas devem sempre simular que seu poder é fruto da inteligência. É preciso ocultar que só parecem inteligentes porque têm poder. Os sábios globais deram de ombros para as advertências dos críticos. Passada a euforia do dinheiro fácil, os chamados emergentes se afogaram na maré vazante dos capitais em fuga e na repetição dos ajustamentos assimétricos entre países de moeda forte e aqueles de moeda fraca.

 


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Comentários

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Cibele

Adoro o Belluzzo!

João Vargas

Não entendo picas de economia, mas sei quando o meu bolso dá uma respirada. Esta queda nos juros do cheque especial e cartões de crédito foi muito bem vinda. a Dilma neste ponto está se saindo melhor que o Lula que mandou os brasileiros levantarem a bunda da cadeira e procurar juros mais baixos. Procurar onde cara pálida? Parabéns presidenta, são atitudes assim que realmente melhoram a vida das pessoas.

Marcos

Os caras primeiro criam a onda, para depois surfar… e o povo que se afoque.
Para os juristas, o único remédio para todos os males é aumentar juros! Por coincidência, com o juros eles aumentam seus ganhos, mas isto é apenas uma coincidência… É muita CARA DE PAU!

rodrigo

Sobre a nova ordem não adianta falar muito, mas a (bem) grosso modo é a aceitação de um estado totalitarista globalizado por parte da população humana. É a aceitação da dominação sem a mínima crítica, sem nenhum conhecimento do processo.

Bilderberg? Só o que tá na net.

Espero ter podido ajudar.

    rodrigo

    Ops, era pra ter respondido pro Márcio…

Marcelo de Matos

(parte 2) O tema do debate, provocativo segundo Waack, é “O Brasil está voltando a ser uma colônia?” Waack refere-se ao fato de sermos, por DNA, como diz o diplomata Botafogo, também presente, um exportador de commodities. Não entendo piciroca de economia, mas, parece claro que se quisermos mudar esse quadro teremos de ter “o pião na unha”, como se diz na minha terra. Nossa economia depende de capitais e tecnologias “forâneas”, como diz o professor Belluzzo. Esses insumos são obtidos a peso de ouro. A China detém a fórmula caseira para obtê-los, mas, não é fácil. Isso passa pela reformulação do ensino: lá eles têm o básico, que é a disciplina. Aqui, reina a anarquia escolar. Sem bom ensino não iremos “agregar conhecimento” à indústria tupiniquim. Entre os Brics, a China, com certeza, e a Índia, provavelmente, podem aplicar capitais e tecnologias próprias em sua indústria. Brasil e Rússia terão de se conformar com a importação desses insumos e suas nefastas consequências: altos juros, preços abusivos dos carros, do telefone celular, etc.

    Marcelo de Matos

    Conceição, por favor: onde foi parar a parte 1?

    Conceição Lemes

    Marcelo, tinha ficado no spam. Já liberei. Obrigada. abs

Marcelo de Matos

(parte 1) Felizmente, o que não nos falta são pessoas que “sabem das coisas, detentoras do monopólio das boas ideias, aquelas capazes de salvar a humanidade de suas agruras”. Algumas dessas pessoas reúnem-se periodicamente no programa Globo News Painel, capitaneado pelo William Waack. Sérgio Amaral, diplomata e ex-ministro da indústria e comércio de FHC, tem cadeira cativa nesse conclave: é um dos que detêm a fórmula da felicidade humana. O programa inicia de forma amena, para não assustar os ilustres “assinantes”, mas, logo atinge seu leit motiv: a “falta de visão política do governo”; às críticas a Chaves, a quem é preciso “dar um basta”; o problema da Argentina, que não tem sido uma boa parceira econômica, o fraco desempenho do PIB, a desvantagem do Brasil com relação aos outros Brics… http://g1.globo.com/globo-news/globo-news-painel/videos/t/todos-os-videos/v/especialistas-debatem-sobre-as-perspectivas-do-comercio-exterior-brasileiro/2200856/

Luís Carlos

Folha de São Paulo fazendo seu papel, ou seja, de abrir espaço aos seus parceiros, os especuladores para quebrar a nação e ganharem dinheiro as nossas custas. O PIG abre espaço para seus mentores e financiadores, os especuladores, donos do capital vadio. O povo, que se dane! Se os amigos ganham dinheiro, para eles é o que basta.

lia vinhas

Trocando em miúdos, os ‘apologetas” desse capitalismo desbragado que entrou pelo cano nos países do ex-primeiro mundo, querem, através de seus portavozes habituais daqui, os filiados ao Partido da Imprensa Golpista, provocar alarmismo e uma reação a política economica prudente e até agora bem sucedida do nosso governo. Tudo para recuperar aqui o que têm perdido lá. Só que é com a Dilma e o Mantega que eles têm qaue combinar e são eles que terâo que seguir as regras daqui, ao contrário do que acontecia antes. Porque hoje a nossa economia leva em primordial consideração o povo brasileiro, que produz a riqueza da nação.

Márcio

Oi. O que vocês sabem sobre o Grupo BILDEBERG e a nova Ordem?

italo

A folha assim como Estadão,veja,globo também querem convencer que o Brasil era mais honesto antes de 2002, levando o leitor e eleitor à acreditar que realmente a corrupção que não se vê é preferível, todos tem que achar que aquele adversário do PSDB é tão criminoso,mas tão criminoso que é melhor entregar para o PSDB, de novo. A força do PIG diminuiu bastante depois da ‘bolinha que causa mandato de 4 anos’ vitimar o serra.

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