Luis Felipe Miguel: Precisamos falar sobre Lula e incendiar, sim, o País quando ele for preso

Tempo de leitura: 3 min

Lula

Precisamos falar sobre Lula 

 por Luis Felipe Miguel, em seu Facebook, sugestão de Luana Tolentino

Ninguém se iluda: passado o frenesi dos resultados do primeiro turno das eleições municipais, o cerco contra Lula retoma seu curso. A questão não é “se” ele será preso na Operação Lava Jato, mas “quando”. Afinal, sua culpa foi determinada desde sempre. É uma operação que não nasce para investigar se há culpa, mas para encontrar algo que justifique uma culpa definida de antemão.

Imagino que, nesse momento, Sérgio Moro e o alto comando de sua Wehrmacht curitibana estejam discutindo se a vitória da direita no pleito de domingo significa que Lula já pode ser preso sem risco de comoção popular ou se esse tipo de interpretação é só o discurso oficial a ser veiculado na mídia.

O antilulismo da direita tem razões claras. Lula é o mau exemplo, Lula é o operário que não soube seu lugar. Lula liderou o movimento que fez a classe trabalhadora ganhar protagonismo na política brasileira, a partir do final da ditadura militar. E Lula conduziu um governo que, com todos os seus problemas, contribuiu para reduzir a vulnerabilidade de milhões de brasileiros e para desafiar hierarquias centenárias.

Embora sempre se lembre que a burguesia lucrou muito nos governos petistas, o antilulismo das elites brasileiras é perfeitamente razoável: para elas, manter a vulnerabilidade extrema da maioria da população e proteger as hierarquias sociais faz muito sentido.

Mais difícil é entender o antilulismo de parte da esquerda. Sim, Lula optou por um pragmatismo político exacerbado e apostou na conciliação de classes. Os governos petistas foram covardes no enfrentamento de muitos privilégios e, quando atacados, só conseguiam reagir fazendo mais concessões. Lula se tornou bem mais amigo de empreiteiros e outros capitalistas do que seria razoável. Há muito o que criticar em sua trajetória.

Mas a esquerda antilulista age não como quem analisa erros políticos e desvios de caminho, mas como quem sofreu uma desilusão amorosa. O maior pecado de Lula é não ter sido aquilo que projetavam nele. E é essa vingança, que se traveste de radicalidade política mas nasce do coração partido, que faz com que o cerco a Lula, a destruição de seu legado e de sua imagem, sejam vistos por alguns com alegria aberta ou disfarçada.

É um sério equívoco, eu creio. Com todos seus erros, Lula é uma liderança popular invulgar – e o que se quer destruir é essa liderança, não os erros.

Lula buscou um caminho, que foi conciliatório, tortuoso e limitado, mas era um caminho para retirar da miséria e ampliar os horizontes dos brasileiros mais desprivilegiados. Pouco, talvez, para quem sonha com o fim da exploração e da alienação.

Mas o caboclo do interior do Brasil que não tinha energia elétrica e viu chegar o Luz para Todos, aquele outro que botou comida na mesa com o Bolsa Família, o trabalhador na base da pirâmide que ganhou com o aumento real do salário mínimo, o menino pobre que chegou na universidade, será que trocariam esses ganhos, ainda que insuficientes, por um punhado de teses sem ressonância no mundo social, brandidas de intelectuais da extrema-esquerda?

Vamos criticar a experiência petista? Vamos.

Ela acomodou, ela cedeu, ela não foi tão firme quanto devia na defesa da classe trabalhadora, dos direitos das mulheres, da cidadania de gays, lésbicas e travestis.

Compactuou com a corrupção, contribuiu para a sobrevida de elites políticas carcomidas, em vários momentos deixou de avançar quando podia, por culpa de sua incontrolável pulsão pela conciliação.

Acreditou na sua própria fantasia de transcendência do conflito social. Terminou por enfraquecer as forças populares, ao promover sua desmobilização como forma de mostrar aos grupos dominantes que permaneceria dentro dos estreitos limites pactuados.

Mas vamos também reconhecer os ganhos que foram alcançados e, sobretudo, a tentativa real de dar uns passos para a frente, poucos que fossem, mas para a frente – nas condições adversas de um país atrasado como o Brasil.

E vamos reconhecer em Lula o que ele é: com seus limites, com suas contradições, com seus vacilos, com o diabo a quatro, ele é a maior liderança popular da história deste país. Alguém que, por mais críticas e discordâncias que possamos ter, está do lado de cá, não do lado de lá.

Não se trata de endeusar Lula, nem torná-lo imune a críticas, mas de compreender quem ele é e o que ele simboliza. Por isso, defender Lula contra a perseguição criminosa que ele sofre, protestar contra a arbitrariedade de que ele é alvo, contribuir para, sim, incendiar o país quando ele for preso – esses são compromissos de qualquer pessoa que se queira de esquerda, progressista ou democrata no Brasil.

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Comentários

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Luis Carlos Saldanha

Mais um idiota a falar q Lula está sendo perseguido por possibilitar q “pobre ande de avião”…

Lula está sendo processado por CORRUPÇÃO!!!

Lula será julgado e, se for provada a sua culpa, condenado e preso!

E se meia dúzia de gatos pingados tentar “incendiar” o país, milhões de brasileiros servirão de bombeiros pra apagar esse fogo…

ps: caramba… mais censura de opinião?

FrancoAtirador

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https://twitter.com/celsorca2011/status/783860972440195072
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weriton

ta feia a coisa pro lado do pt

http://www.morroacontece.com/2016/10/presidente-temer-veta-adicional-de.html

Grilo D

Precisamos mudar, nos unir e agir. Mas precisamos de uma melhor autocrítica também dentro do PT. É um erro crasso afirmar que há uma esquerda significativa “antilulista” ou que quer vingança. A esquerda sempre foi crítica, e isso é bom, porque nos permite evoluir. E todos concordamos que o PT cometeu erros graves. Por que não criticá-los e pressionar por mudanças? Por que os erros graves do PT devem ser esquecidos e as críticas vistas como ataques radicais de maridos traídos? Esta blindagem hermética é parte do que afastou o PT das bases e da esquerda. Por que não adotar um pouco de humildade e aceitar críticas como uma grande chance de crescer de novo?

Lukas

No máximo sai um abaixo assinado.

marta balieiro

Sumiram com meu comentário !!!!! Esquerda democrática ???

Edgar Rocha

Vejo este texto como uma resposta ao texto anterior do Azenha “O PT corre atrás dos desejos que ajudou a despertar”.
Seria preferível, no entanto, que se admitisse que a perseguição descarada a Lula, ao PT e a toda a esquerda – que sofrerá junto, uma vez que o golpe não admitirá resistências – é fruto do fortalecimento progressivo dos setores conservadores graças à política de conciliação de classe e coalizão com “os diferentes”. Somados a isto, o consequente abafamento das vozes populares e das bases históricas da esquerda em geral e do PT, como moeda de troca para a aceitação de setores dirigentes do Governo na festa da política tradicionalmente praticada no país, para a esquerda foi um desastre .
Feitas estas considerações, às lideranças e os articulistas do PT como o autor acima, caberiam admitir a merecidíssima coadjuvância no processo de resgate da cidadania, na condição de apoiador penitente e incondicional da luta em defesa da democracia e no fortalecimento das organizações sociais capazes de contrapor os retrocessos e as consequências da malfada política de coalizão. A defesa de Lula, portanto, vem incluída no pacote de defesa da democracia, do Estado de Direito, das conquistas sociais (aquelas que foram implementadas, com seus avanços exigidos) sob a condição clara de que é preciso rever certas posturas, já que, após este processo, nada deverá ser como antes nos quesitos representatividade e enfrentamento político. Lula e o PT dependerão agora daqueles setores que, no jargão petistas, não foram “contemplados” em seus projetos, para que se “contemplassem” os que se mostravam mais promissores, política e economicamente, em relação àquilo que de fato interessava à casta de eleitos e comissionados da cúpula do partido: ganhar eleições bancando campanhas nos moldes da direita.
A análise de lideranças como as de Valter Pomar no “Outras Palavras” não deixa dúvidas: os números e as estratégias de campanha é que precisam ser analisados em primeiro lugar (leiam “Eleições (3): Sobre os Epitáfios” naquele site). Para ele, a autocrítica – tão evocada nestes tempos – passa pela análise dos erros estratégicos de campanha e pelas avaliações malfeitas sobre o eleitorado.
Lula não pecou por não ter sido aquilo que projetaram nele, como diz o texto acima. Esta afirmação é de uma cafajestagem desmedida. Lula pecou por permitir a projeção em sua figura de uma imagem que ele sabia não poder corresponder. O autor culpabiliza a vítima como sempre se faz neste país. É como se o eleitor pagasse o preço por ser “fácil” (mulheres sabem o que é isto). Deprimente, se imaginarmos que a intenção é receber apoio desta “amélia” chamada militância.
As lideranças e os articulistas do PT querem que a esquerda acredite que tudo foi “obra de Lula”. Ora, não somos idiotas, sabemos de seu valor. Mas, sabemos também que tudo que foi feito é fruto de conquistas. Aquilo que não foi feito é que é fruto dos desvios e nada tem a ver com o esperado por seus eleitores. Ao menos espera-se do partido e do próprio Lula a humildade necessária para reconhecer que, agora, o que está em jogo é o cidadão Lula, vítima de perseguição violenta, de injúria e difamações sem direito à defesa, perseguido pelo que fez de certo e não por seus erros. Um ex-presidente cuja desmoralização se mostra um símbolo de soberania da Casa Grande sobre a Senzala que se atreveu a sair de seu lugar histórico, tal como se fazia em enforcamentos e esquartejamentos exemplares no passado não muito remoto. Isto basta para saberem que o que se está em jogo é a dignidade da maioria dos brasileiros, e não a salvação de um líder político cerceado por forças as quais ele acreditou poder ao menos sensibilizar para o sentimento de nação, bem como por gente que insiste em apostar no antiquário político do messianismo, da submissão cega a figura do líder. Este setor do PT não vê outra forma de cooptar forças que não seja pela coação moral e não aceita outro lugar na coletividade que não seja o de liderança autoritária e centralizadora, com cheque em branco e isenta de dar satisfações às suas bases.
Vão pra rua, voltem a amassar barro e façam o que faz uma liderança de verdade nestas horas: representem os liderados e sejam o primeiro a sentir o cheiro de gás de pimenta, se for o caso.
Se há algo que todos devem admitir é o retorno à lealdade e a submissão das lideranças às forças que os servem de base. Ninguém mais quer ser sabujo, nem no PT, que dirá fora dele.

    Eu

    Chega a ser irritante a insistência da esquerda não-petista em apontar os erros de Lula e do PT como causa do golpe, tanto ou mais que a insistência da militância petista em eximir o partido de qualquer culpa nos eventos de 2015-16. Porém a primeira atitude é muito mais destrutiva. Menos, psolistas, muito menos. Essa estratégia de derrubar o PT enquanto se encontra ferido pela incessante campanha orquestrada pelo Judiciário e pela mídia partidarizada tem duas falhas crassas:
    1) Vocês não serão herdeiros do capital eleitoral do PT, por mais que batam e se apresentem como vestais da esquerda. Isto porque o que granjeou a massa de votantes que transformou o PT em um partido numericamente impactante foi justamente a recusa ao excesso teórico e pouco senso prático sempre demonstrado por vocês. A parte deste eleitorado que aderiu ao PT vindo das comunidades eclesiais de base e das Pastorais católicas não o fez por apreço às teorias leninistas, mas pela noção de justiça social através de mudanças adaptadas à circunstância brasileira. A massa de votos que vieram das categorias médias e baixa da população também pouco ou nada conhecem de teoria da revolução, e a maioria a teme. Acene com propostas incendiárias e muitos dentre eles chamarão a polícia. Elas aderiram à figura de uma liderança popular identificada com elas. Finalmente, os movimentos sindicais têm uma afinidade natural com o PT e Lula que jamais terão pelo PSOL, mesmo se este fosse o único partido da esquerda. Portanto, vocês jamais serão o partido-movimento que o PT foi, pelo fato de que não há identidade interna no PSOL, isto se reflete na dificuldade em angariar apoios. E ninguém governa sozinho em lugar nenhum, exceto nas propostas autoritárias. Se o PT deve, e deve mesmo, fazer uma séria autocrítica sobre seus erros recentes, isto não impede que Lula seja hoje um líder popular que não tem paralelo em nenhum outro partido de esquerda. Alijá-lo de uma disputa eleitoral deve ser sonho da direita, não da esquerda;
    2) Parem de sonhar que a direita deixaria o PSOL crescer enquanto faz um esforço enorme para recuperar a hegemonia político-autoritária com que sempre foi acostumada. Após escorraçarem o PT, qualquer partido de esquerda que pensar em ganhar forças minimamente será arrasado, pela propaganda maciça na imprensa ou pela força bruta. Os donos do poder não costumam ter escrúpulos nos seus cálculos, pragmatismo é isto. Se o sonho de vocês é poderem um dia dizer que foram presos por uma ditadura, boa sorte, pois é tudo o que poderão obter se começarem a reverberar muito o discurso extremado de esquerda revolucionária do século XIX. Aquilo não se encaixará nunca, repito, às circunstâncias brasileiras. Não somos Cuba ou Rússia, o que lá deu certo aqui jamais daria. Lembrem-se da experiência malfadada da guerrilha urbana, que não angariou simpatia nem pra evitar de ser denunciada por camponeses temerosos ou por classe-médias urbanos alienados e doutrinados ao anticomunismo. E hoje temos muito mais destes espécimes por aí.
    O melhor caminho para tentar reverter o estado de coisas que temos hoje seria tentar voltar a ser competitivos eleitoralmente. Isto passa por compor, entre os diferentes partidos de esquerda, alianças com os nomes mais viáveis, ligados por um programa comum que compreenda os pontos de convergência possíveis entre as diferentes visões de cada movimento ou corrente. Ressaltar pontos de divergência, como está ocorrendo, é transformar um massacre imposto de fora pra dentro em suicídio político. E o PT precisaria compor com quadros viáveis de outros partidos, deixando as escolhas das posições de candidato e vice como consequência desta viabilidade, caso a caso. Aliado a isto, as esquerdas vão precisar voltar a esforçar-se, conjuntamente, para denunciar o arbítrio e recapturar corações e mentes, tarefa nada fácil em tempos de lavagem cerebral pelos meios de comunicação de massa. Mas é possível, já foi feito antes. O que não dá é achar que o caminho para resolver a impostura em curso é xingar-se publicamente e preferir denunciar candidaturas de esquerda ao invés de enfrentar as de direita. Aí, até o picolé de chuchu emplaca um poste, fica fácil. Está na hora de saber lutar pelo País que queremos, não apenas de saber morrer por ele. Até porque martírio, hoje em dia, não leva a lugar algum exceto ao cemitério.

    Edgar Rocha

    Colega, em primeiro lugar, eu nunca fui psolista. Não voto nem nunca votei no PSOL.
    1. Dizer que é necessário definir uma pauta única é esquecer que foi justamente o abandono de uma pauta única que fragmentou as representações de esquerda, criando entre elas, partidos como o PSOL. A pretensão puramente eleitoreira já deu no que deu. Graças a ela o PSDB nunca saiu do Governo Federal (3º partido com mais cargos comissionados). Que pauta é esta que poderá ser adiada caso seja mais cômodo governar sem o mínimo enfrentamento?
    2. O maior patrimônio político do PT foi simplesmente abandonado pelo próprio partido para se manter a chamada governabilidade. Como é que pode alguém se lembrar as comunidades eclesiais de base nos dias de hoje, quando as lutas sociais foram esquecidas e quando as próprias CEB’s se viram enfraquecidas no seio da própria Igreja mas, também, nos setores de representação política aos quais dedicou apoio?
    3. Sou um daqueles que compõem a massa que recusa – ou, melhor, que recusou, até então, o conceito de revolução aos moldes europeus. Votei no PT e no Lula por achar que seria pela representação democrática que o Brasil mudaria. Ainda acho, mas as falhas as quais apontei demonstram que quem não acreditou muito neste princípio foi o próprio PT. O culto às lideranças é a prova disto. E se tem alguém falando em por fogo no Brasil não sou eu, embora ache que na atual conjuntura, os conflitos serão necessários e inevitáveis.

    Acho sinceramente que, a depender de lideranças de que, tal como os que acreditam em “Revolução”, alimentam a ilusão de que aqueles que hoje lutam pela democracia vão se curvar à centralidade eleitoreira de quem define uma pauta pré-eleição e depois não faz o menor esforço em levar adiante tais projetos, caso encontre uma mão estendida lhe jogando migalhas de cima, o PT está lascado. É preciso muita falta de senso em querer vencer um golpe com projeto eleitoral. É Golpe, colega! Não é eleição perdida. Querem prender o Lula e já começaram o desmonte daquilo que se preservou no Governo e daquilo que poderia ser nosso futuro. E vocês pretendem se reeleger????? Nada mais lhe passa pela cabeça????
    Bem que falaram que a ideia de Jerico do Rui Falcão era deixar o país se ferrar pra voltar nos braços do povo. Eu – ainda – achei que era bobagem de quem supôs que ele seria tão irresponsável. Pelo jeito, não é só ele.

    Eu

    Grato pelos comentários, a troca de opiniões é sempre gratificante. Me fez reler meu texto, e perceber que havia nele uma agressividade acima do tom necessário, e que não corresponde a minha natureza. Fruto, certamente, do momento que atravessamos, mas se isto explica, certamente não justifica. Minhas sinceras escusas por isto.
    Quanto aos argumentos, cabem alguns esclarecimentos de minha parte, então vamos lá:
    a) Não sou petista militante ou filiado. Minha defesa ao partido não foi fruto de adesão partidária estrita, mas do fato que o PT, mesmo após uma dêbacle terrível, ainda é o partido do espectro das esquerdas com maior organicidade. Defendi e defendo as capacidades que o partido tem, não a sigla em si. Nunca pretendi eximi-lo de suas culpas ou da necessidade de autocrítica, da qual muitos argumentos brandidos por você devem imperiosamente fazer parte;
    b) devo discordar quanto ao abandono de pauta única da parte do PT como origem da fragmentação das representações de esquerda. Elas já eram fragmentadas desde sempre, havia até um aforismo de que as esquerdas brasileiras só se uniam em um lugar, nas celas da cadeia. E isto foi criado bem antes do PT existir. Antes do impeachment ser viabilizado, já havia uma campanha anti-PT levada a cabo por parte da esquerda, ressentida não com quebras de contrato eleitoral, mas com o protagonismo do partido nas últimas décadas e, ao contrário da direita, nada microcéfala. Algumas das críticas mais mordazes que ouvi à Dilma não vieram de crentes empedernidos ou fazendeirões chucros, mas de gente articulada porém apta a deixar de lado a racionalidade para tentar abrir flancos no projeto petista e tentar viabilizar suas visões dogmáticas ou personalistas, incapazes de refletir que isto poderia ser apropriado por uma direita pronta a usar qualquer munição para atingir seus fins. Tudo bem, Dilma não fez um governo maravilhoso, sou o primeiro e segundo a admitir, mas ouvir pessoas dizendo “tudo bem, melhor que a direita derrube o PT do Lula, depois a gente derruba a direita” doía em meus ouvidos. E ouvi isso muito antes da asinina declaração do Rui Falcão, ele não foi o pai da ideia (e acho que ele não consegue ter nenhuma mesmo). Os PSTUs da vida estavam nas ruas e no Congresso dizendo isto no ano passado, juntos ao PSOL da herdeira Genro (de maneira sub-reptícia). Não precisa ter cursado West Point para saber o que fogo “amigo” fez de estragos;
    c) Absolutamente de acordo com a questão do culto à personalidade que fez estragos dentro do PT, alijando do mesmo alguns bons quadros. Nunca defenderia isto. Mas defenderei sim a necessidade de defesa de Lula, como escreveu o autor do artigo, embora ele tenha mesmo esta característica terrível. Por quê? Porque não vejo, hoje, nenhuma personalidade pública com o capital político que o ex-presidente dispõe, em nenhum partido. Se ele perder este quociente eleitoral, deverá ser defendido apenas como vítima do arbítrio, mas por enquanto trata-se de proteger o único nome capaz de enfrentar a direita nas urnas em nível nacional. O ambiente público e político azedou, após a criminosa campanha de difamação contra Dilma e PT, encenada pela mídia orientada. A criminalização da esquerda brasileira, tão desejada juridicamente pelos donos do poder, chegou primeiro no júri popular da população de classe média-baixa para cima, bovina e pronta a aderir ao discurso mais veiculado na televisão. Hoje, dizer-se de esquerda em qualquer lugar é esperar críticas tão ferozes quanto desqualificadas, já que o resultado desejado é o linchamento popular, não é o debate, inviabilizado pela surdez voluntária de uma das partes. Abrir mão de um Lula, nestas circunstâncias, é erro tático;
    d) Não, não se trata de insistir em um projeto eleitoreiro, mas de viabilidade eleitoral. E, se insisto em urnas, não é por achar que este é o melhor caminho para o enfrentamento do golpe, mas por constatar que não haverá outro. Você, certamente, faz parte de uma camada muito mais esclarecida que a massa popular, até por estar escrevendo aonde está. Mas o rebanho chomskyano que compõe a maioria da população brasileira sempre preferiu assistir à participar, e não hesitará em preferir a ordem à justiça se lhe for apresentada esta opção. Isto inviabiliza a velha falácia de que a “voz das ruas” faria, pela força de seu rugido, quaisquer contra-facções recuarem. Ledo engano. Movimentos sociais são mais facilmente criminalizáveis, hoje, após o fogo de barragem desfechado pelos meios de comunicação, que os acusam diuturnamente de agitadores e baderneiros “petralhas”. Isto já impregnou bem os corações e mentes da “nova” classe média. E São Paulo e o Paraná já mostraram que a repressão se sente mais à vontade do que nunca para tomar medidas de força. Se houvesse uma rápida escalada nacional de violência nas ruas e começasse o coro grego de “caos social” pela TV aberta, de que lado ficaria a massa popular?
    Diante deste quadro adverso, como se daria qualquer outra forma de enfrentamento? O golpe já aconteceu, acabou, a ilegalidade já venceu e um mandato popular foi roubado. Agora é tentar reverter o jogo dentro das regras, enquanto dispomos de uma pálida sombra delas. Talvez pela forma já em curso, com amplo esclarecimento diuturno da população sobre a real natureza do golpe e sua repercussão em suas vidas, geração de candidaturas que agreguem as esquerdas viáveis para as próximas eleições. Você escreveu que acha necessário e inevitável que conflitos aconteçam. Torço para que estejas errado, pois seria a senha para a transformação de um regime plutocrático autoritário em repressão supressiva de direitos, inclusive do direito à vida, e isto sob aplausos dos populares, que voltaram a “odiar comunistas”. Não somos a Islândia, que derrubou sua plutocracia pela força popular. A Venezuela também o fez, quando do golpe contra Chávez, e está terminando de pagar a conta amarga de tal atrevimento.
    Mais uma vez, obrigado pelo debate proporcionado. Espero ter contribuído com alguma coisa de útil a ele, mas pra mim já foi extremamente interessante. Saudações!

Marcelo Gaúcho

Entendeu PSOL?

Serjão

Se já não bastasse a perseguição sem tréguas da direita, da GLOBO, da elite, dos apátridas e dos conservadores, ainda temos de assistir a própria esquerda praguejar contra o maior líder que esse miserável País já teve.
Critica-se alguém que errou, nunca por má-fé, ou mesquinharias, ou interesses puramente pessoais; mas sempre no intuito de acertar.
Enquanto que todos os outros do outro lado sempre acertaram por má-fé e seus interesses nefastos e mesquinhos.
Quem no Brasil teria condições e capacidade para fazer o que o Lula fez? Quem souber que aponte um!
É impossível ser um profeta em sua própria terra, ou um mito em seu próprio tempo; quem ainda não é capaz, e não percebe no exato momento dos fatos que o sr. Luis Inácio é esse mito brasileiro, que aguarde a sua consagração no tempo, onde os profetas são perfeitos.

    FrancoAtirador

    .
    .
    E, partindo dali, Jesus retornou,
    após grande tempo afastado,
    à Nazaré, a Sua Terra Natal …

    E quando chegou o Sábado
    começou a Ensinar no Templo.
    E Muitos dos que Outrora
    haviam Convivido com Ele,
    ouvindo-o, ficaram Melindrados
    com Suas Palavras de Sabedoria,
    e comentavam em Alta Voz
    com Arrogante Desprezo:

    “Não é Esse o Carpinteiro, Filho de Maria
    e Irmão de Tiago, José, Judas e Simão?
    E não Convivem Conosco suas Irmãs?”

    Contudo Cristo lhes afirmou:

    “Somente na Própria Terra,
    junto aos seus Parentes
    e em sua Própria Casa,
    é que um Profeta não é
    devidamente Honrado”

    Marcos 6:3-4
    Mateus 13:56-57
    Lucas 4:24
    João 4:44
    .
    .

    Giusepe

    Irretocável seu comentário, parabéns!

marta balieiro

Não consegui encontrar nenhuma análise das eleições ,elaborada por “alguém da esquerda”que fosse minimamente aceitável.
Desde junho de 2013,nas manifestações de mula sem cabeça,que estouraram pelo Brasil,onde a “esquerda” apoiava a direita,inclusive com “fora Dilma”já podia se observar que havia a intenção de fabricar um afastamento da Dilma.Eu pergunto:
Como fazer uma aliança com a “esquerda que não consegue eleger vereador, deputado e senador?
Não tem capacidade de mobilização,
Não tem projeto de Governo,
O discurso da esquerda é de pós revolução,mas e pra chegar la ?
O PT está pagando pelos acertos e não pelos erros!! PT desmoralizou o projeto da direita,mostrou que é possível governar ampliando os direitos civis e conquistas civilizatórias . A maioria da “esquerda” não concordava. Era farinha do mesmo saco!!! Quando a direita se uniu para dar o golpe foi que a esquerda percebeu que era a democracia que estava que estava em jogo!!! Por isso a caçada ao PT. A esquerda ainda não percebeu que para isso querem acabar com o PT e Lula. Mas o discurso da esquerda aponta o PT como Culpado !!!

ORLANDO BERNARDES

Corretíssimo!

A prisão de Lula é questão de tempo. Faz parte do roteiro do golpe. A Lava Jato foi feita para isto. Acabar com as forças populares através da destruição do PT e criminização de seus líderes. Vão querer prender todos. Só o povo unido fará a diferença.

MAAR

Incendiar o país é tudo que os mandantes dos golpes mais desejam. É preciso defender a democracia através dos meios democráticos. Mobilizar as instituições representativas em prol do resgate da legalidade é o caminho para enfrentar a construção do caos.

r

Concordo que a esquerda deve se unir para defender Lula com toda garra e deteterminação, mas o que temos mesmo que fazer e uma união nacional para combater a mídia fascista, que realmente manda e dita as regras no Brasil. Não se iludam se não derrubarmos Globo e mídia em geral não há o que fazer perderemos sempre porque a lavagem no povo já esta feita.

colaborador
Ricardo

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