Luís Felipe Miguel: Por que Dilma ainda incomoda tanto?

Tempo de leitura: 2 min
Foto: Roberto Stuckert

Por Luís Felipe Miguel*, em perfil de rede social

Noticia-se que o governo está pensando em promover uma reparação simbólica a Dilma Rousseff, agora que o Poder Judiciário confirmou que o pretexto usado para derrubá-la – as “pedaladas fiscais” – não se sustenta.

É o correto a ser feito. Não só em relação a Dilma, embora só isso já fosse suficiente.

É importante, para a história do Brasil, deixar registrada essa tautologia: o golpe foi um golpe.

Com consequências que foram muito além da retirada ilegal, de seu cargo, de uma presidente eleita.

O golpe marcou a ruptura, de vastos setores da classe dominante brasileira, com o princípio do respeito às regras do jogo.

Inaugurou um período de vale-tudo na política brasileira, com incerteza quanto à vigência das normas constitucionais, marcado pela permanente queda de braço entre os poderes.

Afinal, deslanchado por Eduardo Cunha e impulsionado pela Lava Jato, o golpe não poderia deixar de assinalar o triunfo do gangsterismo político.

O rompimento dos consensos sobre valores democráticos e igualitários básicos, alimentado pela direita tradicional, PSDB à frente, abriu espaço para o crescimento de uma aberração como o bolsonarismo.

Os líderes do golpe em 2016 e aqueles que se reuniram em torno de Bolsonaro, que no script inicial estavam destinados a ser meros coadjuvantes, se irmanavam, porém, no projeto de redução do Estado e desmonte das proteções oferecidas à classe trabalhadora.

Em suma: o golpe nos legou desorganização institucional, violência política e ampliação da desigualdade.

Mas a Folha de S. Paulo publica hoje [segunda-feira, 28/08] um editorial furibundo contra o possível desagravo a Dilma.

É um texto cheio de ódio. Diz que a ideia de Lula, de oferecer uma reparação a Dilma, é um absurdo: “não bastou a sinecura internacional com que a presenteou”.

A Folha julga que Dilma não tem competência para ser presidente do Banco do BRICS? Que apresente seus argumentos. Em vez disso, prefere lançar acusações ao vento.

Mas o central, anunciado já no título, é que “não foi golpe”.

O que o editorial diz é que “a lei dos crimes de responsabilidade […] é flexível a ponto de permitir o enquadramento de virtualmente qualquer governante”. Em seguida, assume que “Não foi a tecnicalidade das pedaladas fiscais […] que de fato derrubou Dilma Rousseff”.

Ela caiu por conta de sua “política econômica” e de sua “inapetência [sic] parlamentar”.

(Está certo que a péssima redação dos editoriais da Folha é lendária, mas este se superou.)

Em suma: o jornal reconhece que a presidente foi retirada do cargo sob falso pretexto. Mas não podemos chamar de golpe mesmo assim.

A mídia corporativa brasileira foi cúmplice do desmonte da Constituição no Brasil, patrocinando a Lava Jato, apoiando o golpe, aplaudindo as práticas autoritárias do governo Temer, normalizando o bolsonarismo.

Depois, quando o fedor neofascista do governo passado começou a ficar forte demais, quis se fazer de paladina da democracia. A Folha ainda mais que seus concorrentes.

Sem nem sombra de autocrítica, é claro. Se é incapaz de se arrepender por ter colaborado com a tortura de opositores da ditadura, por que iria fazer mea culpa pela simples participação coadjuvante numa trama golpista?

O editorial de hoje [segunda-feira, 28/08] só confirma que ela segue nesse caminho.

*Luís Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da UnB. Autor, entre outros livros, de Democracia na periferia capitalista: impasses do Brasil (Autêntica).

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Comentários

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Nilton Carvalho

Vou aproveitar para dizer que mais uma vez o Lula vai roubar o dinheiro dos aposentados que ganham mais de um salário mínimo para dar para quem ganha um salário mínimo.
Com esse roubo, tirar o País da miséria é pura mentira, cada dia os brasileiros ficam mais pobre,
Devo lembrar que o valor do salário mínimo não importa, tanto faz ser mil ou dez mil, o que valei é o poder de compra, devo lembrar que o salário mínimo já foi mais de
CR$300,000,00 e ninguém ficou ficou o milionário,
LULA DEIXA DE SER MENTIROSO E PARE DE ROUBAR OS APOSENTADOS.

abelardo

Eu imagino o seguinte: a verdade é que Dilma Rousseff incomoda porque ela é o flagrante vivo, a prova viva e irrefutável do crime golpista, terrorista, subversivo, traiçoeiro, rasteiro e totalmente ilegal, que foi planejado,organizado e praticado contra ela, por uma grande quadrilha de traidores e traidoras do Brasil. São responsáveis reais pela imensa tragédia que arruinou o país, as instituições, a indústria nacional, as conquistas e o progresso evolutivo do Brasil. Essa horda criminosa que envolveu políticos, juízes, promotores, empresários e foi alimentada e incendiada por jornalistas sem ética e sem moral da grande mídia (cujas principais e reincidentes empresas estão a Globo, o Estadão, a Folha de São Paulo, a Veja, a Época, entre outras), hoje são postos a nus e seus nomes e sobrenomes estarão, para toda eternidade, marcados vergonhosamente no quadro negro e nefasto da história do Brasil. O merecido desespero dessa horda macabra ainda tenta se manifestar com editoriais que só confirmam o estado terminal, morimbundo, desequilibrado e covarde. Perderam a voz, a vergonha, a atenção e a pouca credibilidade que ainda poderia haver. Fracassadas economicamente e administrativamente, ainda querem ensinar o que e a quem? Derrotadas mais uma vez em seus alinhamentos golpistas contra a democracia, o estado de direito e a constituição federal, ainda não estão livres das mãos da justiça, que em breve ainda fará o ajuste de contas, que o povo exige que seja feito contra essa cambada de traidores do Brasil e da população brasileira.

Valdir Rocha de Freitas

simplesmente porque ela é honesta e honrada e quem a ataca são pessoas sem moral e sem caráter

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