Luciana Genro: Aécio é suspeito de “associação com o tráfico”; Joesley solto nos EUA é “um absurdo”
Tempo de leitura: 7 min

por Luiz Carlos Azenha
A polêmica, em setembro de 2015, deu muito pano para manga.
Começou numa troca de mensagens no twitter entre a ex-candidata à presidência pelo PSOL, Luciana Genro, e o deputado Marco Feliciano.
Luciana foi interpelada extrajudicialmente através da Procuradoria Parlamentar da Câmara dos Deputados.
A interpelação foi feita em nome de Marco Feliciano e Eduardo Cunha, então presidente da Casa.
Na resposta, a ex-deputada reafirmou (leia íntegra abaixo): “O fato de um helicóptero da família do senador ser apreendido com 450 kg de cocaína é uma evidência que sustenta de forma concreta a suspeita de que os grandes traficantes não estão nas favelas e sim, inclusive, no Congresso Nacional”.
O senador Zezé Perrella prometeu estudar as medidas judiciais cabíveis no caso, mas até hoje elas não se concretizaram.
Porém, a notícia de que uma empresa de Perrella foi o destino de R$ 2 milhões em dinheiro vivo pagos por Joesley Batista, da JBS, a Aécio Neves, acendeu uma luz amarela.
O transporte do dinheiro foi feito por Frederico Pacheco de Medeiros, primo de Aécio e ex-diretor da Companhia Energética de Minas Gerais, a Cemig. Fred e a irmã do senador, Andrea Neves, estão presos. Foi ela quem trocou mensagens com Joesley para acertar os repasses.
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Na gravação da conversa entre Aécio e Joesley, o então presidente do PSDB disse que o dinheiro seria utilizado para pagar os advogados que atuam em sua defesa nos inquéritos da Operação Lava Jato, mas ao menos parte acabou na Limeira Agropecuária, controlada por Gustavo Perrella, filho do senador.
A Limeira é a dona do helicóptero apreendido no Espírito Santo em 24 de novembro de 2013 com 450 quilos de pasta base. O piloto, Rogério Almeida Antunes, era funcionário da Limeira e recebia através da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, onde Gustavo é deputado estadual.
A participação de Zezé Perrella e do filho Gustavo no episódio foi descartada rapidamente pela Polícia Federal. Ou seja, nem mesmo foram investigados. Porém, com as notícias recentes, a ex-deputada federal Luciana Genro avança uma casa: além de dizer que Perrella deveria ser investigado por tráfico de drogas, ela agora acredita que Aécio Neves é suspeito de “associação com o tráfico”.
Defensora desde o início da Lava Jato, Luciana Genro acredita em pelo menos um erro grave da operação: permitir ao delator Joesley Batista que fique livre, leve e solto depois de assumir que foi corruptor em grande escala.
Leiam a íntegra da entrevista:
Viomundo: Temer tem condições de permanecer no poder?
Luciana Genro: Temer nunca teve legitimidade ou apoio popular para estar no poder. Também não tem condições éticas e morais mínimas para estar na Presidência da República. A burguesia o sustentou para garantir o andamento das reformas, mas agora que ele perdeu base parlamentar já vemos setores importantes capitaneados pela Rede Globo que estão descartando Temer para encontrar outro caminho que garanta seus interesses.
Viomundo: Qual é a alternativa?
Luciana Genro: A alternativa estratégica seria um governo popular e radicalmente democrático, através do qual acabássemos com a dominação das grandes empresas e bancos. Infelizmente a classe trabalhadora e o povo em geral ainda não têm organização e mobilização suficientes para alcançar este caminho. A alternativa mais imediata que venho defendendo há muito tempo, desde que o pedido de impeachment da Dilma foi aceito por Cunha, é a convocação de novas eleições gerais. Em tempos de crise, a saída deve ser sempre mais democracia. O povo deve ser chamado a decidir sobre o futuro do país, não as negociatas obscuras de um Congresso dominado por corruptos.
Viomundo: O PSOL teria candidato próprio se porventura forem aprovadas as DiretasJá?
Com certeza. Felizmente, apesar de termos diferenças internas no PSOL, a necessidade de termos candidatura própria tem sido consensual em nossos debates.
Viomundo: O que acha da possibilidade de Henrique Meireles se tornar presidente em eleição indireta?
Seria um acinte, um deboche, uma provocação contra o povo. Não duvido que tentem, pois Henrique Meireles sempre foi o representante do grande capital financeiro, que tem dominado a economia do país, seja com Lula, Dilma ou Temer. Ao mesmo tempo acredito que geraria uma reação popular muito forte , por ele ser uma figura totalmente obscura e claramente anti povo.
Viomundo: O atual Congresso tem credibilidade para eleger alguém?
Não. Este Congresso dominado por corruptos está preocupado apenas com a sua própria sobrevivência e com as iniciativas para barrar a operação Lava Jato e anistiar os crimes de corrupção. Qualquer nome que seja eleito por este Congresso para presidir o país não terá legitimidade.
Viomundo: O que acha do que disse o delator Joesley sobre contas no exterior de Lula e Dilma, em nome do próprio Joesley?
Em princípio não duvido, mas tudo o que é dito precisa ter alguma prova material. Só palavras não são suficientes. Creio que ele deva ter provas das coisas que diz, caso contrário sua delação não deveria ter sido homologada. Para mim o problema de Lula e Dilma é muito mais político do que penal. Ambos governaram em conluio com os interesses da JBS, da Odebrecht, da OAS, dos bancos, etc. Neste sentido sua condenação política, para mim, está muito clara. Penalmente é outra coisa. Quero que tenham o direito de se defender e que sejam absolvidos se forem inocentes destes crimes. Mas não contem comigo para defendê-los. Aliás, nem precisam. Ambos têm advogados pagos a peso de ouro para isto.
Viomundo: O que acha dele, Joesley, ser liberado para viajar ao exterior?
Um absurdo. A Lava Jato tem muitos méritos. E é bom lembrar que Lava Jato não é só o juiz Sergio Moro. É um conjunto de agentes públicos, da Polícia Federal, Ministério Publico e Poder Judiciário. O pedido de prisão de Aécio Neves e de investigação do Temer é obra da Lava Jato. Tenho dito que é um grande mérito desnudar todo este esquema de corrupção, prender políticos que são verdadeiros gangsters, como Eduardo Cunha, desvendar um grande conluio entre empresas e partidos políticos.
Entretanto é um grande equívoco deixar mega empresários corruptos livres leves e soltos, vivendo nos Estados Unidos tranquilamente. Por isso não podemos confiar cegamente em nenhuma instituição. É preciso aproveitar as brechas no sistema, as contradições, apoiar as investigações e exigir punição a todos. A mobilização popular é fundamental para isso.
Viomundo: Aécio Neves foi afastado pelo STF? Acredita que a medida é legal ou deveria ser decidida pelo próprio Senado?
Diante do escândalo demonstrado pelas gravações, que comprovam que ele usava a posição de Senador para interferir nas investigações e ter acesso privilegiado a autoridades e informações, acho que o Supremo tomou a atitude correta para preservar a continuidade do inquérito e limitar a capacidade de manobra de Aécio.
Viomundo: A PGR e a Lava Jato estariam avançando além de suas atribuições, ao adotar a chamada “operação controlada”, que quase equivale ao teste de integridade das 10 Medidas propostas pelo MPF, ainda não aprovadas pelo Congresso?
Não creio. Operações controladas estão dentro da ordem jurídica, e são utilizadas muito frequentemente na investigação de tráfico de drogas e outros crimes comuns. Agora que esta prática chegou no andar de cima tem gente reclamando. Eu acho que o nosso sistema penal precisa de grandes mudanças, e espero que o que está ocorrendo agora sirva para colocar luz nas arbitrariedades que são cometidas todos os dias contra os investigados comuns, que não são políticos ou empresários.
Negro, pobre e favelado, Rafael Braga foi o único condenado preso no contexto das jornadas de junho de 2013, acusado de portar material explosivo quando na verdade levava dois frascos plásticos lacrados de produtos de limpeza. Foi condenado a 11 anos de prisão. Essa é uma arbitrariedade monumental.
No caso da operação controlada não vejo arbitrariedade alguma. Os crimes de colarinho branco são muito difíceis de comprovar, por isso necessitam de uma investigação profunda, que utilize todos os métodos disponíveis na ordem jurídica vigente.
Viomundo: Como resistir ao trator das medidas neoliberais?
Com o povo organizado nas ruas. Não existe outra forma de resistência. As manifestações que vimos nos últimos meses são a prova disso. Muito antes de lotar as ruas para pedir a queda de Temer, como se viu agora no dia 18, o povo já estava mobilizado em grandes marchas contra a reforma da Previdência e todos os ataques deste governo aos direitos dos trabalhadores.
A greve geral de abril foi muito forte e precisamos seguir neste caminho. É preciso intensificar a mobilização contra as reformas e pelo Fora Temer. Dia 24 em Brasilia creio que teremos uma grande marcha.
Viomundo: A sra. disse que o senador Perrella foi blindado no caso do helicoca. Diante das novas informações disponíveis, acredita que exagerou?
De forma alguma. Até hoje ele não respondeu penalmente pelo fato de seu helicóptero estar transportando cocaína.
Ele teria que responder por tráfico. E o fato de Aécio ter mandado R$ 2 milhões de reais para ele faz com que o próprio Aécio torne-se suspeito de associação com o tráfico.
Viomundo: A sra. não teme que o discurso antipolítica acabe levando ao poder alguém sem qualquer compromisso com o interesse público?
Esse é um risco real. A população está revoltada com a política e com os políticos. E tem razão para se sentir assim. A política brasileira é um mar de lama e os políticos se movem apenas em razão de seus próprios interesses.
O fato do PT ter entrado no esquema foi uma grande decepção para muitos que acreditaram neste partido, que cresceu e se fortaleceu denunciando a corrupção. A saída não é defender a antipolítica, mas sim a refundação da política, a derrubada deste sistema corrupto, a realização de mudanças radicais na economia e nas instituições públicas do país.
Sair em defesa deste sistema só nos afastaria ainda mais do povo, dando ainda mais espaço para os “antipoliticos” de plantão.
Viomundo: Como vê a ascensão de Bolsonaro?
Não é um fenômeno exclusivamente brasileiro o fortalecimento de uma direita semi fascista. Este tipo de alternativa se fortalece sempre que a esquerda no poder fracassa e se rende ao sistema. Veja a França por exemplo.
No Brasil a falência do PT desmoralizou a esquerda e uma das consequências disso é o fortalecimento da direita, que durante muitos anos ocupou fartos ministérios e nacos de poder nos governos petistas. Até mesmo o PSOL, que nunca apoiou os governos petistas foi atingido, pelo simples fato de se apresentar como esquerda.
Bolsonaro expressa um reacionarismo praticamente folclórico, mas infelizmente muito presente na vida brasileira, especialmente quando falamos de segurança pública. Mas não acredito que tenha força para se tornar um candidato viável aos olhos da burguesia e do capital financeiro.
Não é um candidato capaz de trazer a estabilidade que o sistema deseja. Além do mais o MBL e sua turma já estão bem mais fracos, sendo desmascarados na sua pretensa anti política. Já não mobilizam ninguém, felizmente.
Viomundo: E a possível candidatura do prefeito de São Paulo, João Doria?
Possível é. Doria é a última esperança do PSDB diante do desmoronamento do partido provocado pelas revelações da operação Lava Jato e o envolvimento de seus principais quadros nas investigações.
Não podemos dissociar o sujeito de seu partido, que está profundamente envolvido em escândalos de corrupção. Doria é uma tentativa de dar ao velho PSDB e seus esquemas um verniz de novidade.
Viomundo: É possível algum tipo de união de esquerda que inclua o PT?
Nós queremos unidade com todas as frentes, movimentos e grupos políticos que estiverem dispostos a ir para as ruas contra as reformas da previdência e trabalhista e contra qualquer ataque à classe trabalhadora e aos direitos civis.
O Fora Temer unifica a todos nós, muito embora eu não tenha visto tanto empenho na cúpula do PT para construir as mobilizações nos últimos dias. Talvez por que as delações que incriminam Temer também atinjam Lula e Dilma.
Espero que o dia 24 em Brasília seja forte, e possamos fazer uma mobilização histórica que enterre as reformas e despache Temer, de preferência.




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