Lelê Teles: Lampião de fancaria

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Lampião de Fancaria

“se entrega, corisco! Eu não me entrego, não. Eu não sou um passarinho para viver na prisão… não me entrego ao tenente, não me entrego ao capitão, eu me entrego só na morte de parabélum na mão”, Sérgio Ricardo.

Por Lelê Teles*

Domingão de sol, garotos soltando pipa, cachorro se coçando à sombra de uma marquise, umas famílias churrasqueando, outras roendo ossos, algumas militando unidas pelas ruas, a virar votos…

E a cobra fumando na casa mal-assombrada onde vive o amalucado Bob Jefferson.

“Sintreeeega, Corisco”; gritavam os robocops no portão da casa-prisão onde vive o condenado bolsonarista.

Do lado de dentro, calçando uma tornozeleira eletrônica, como um papagaio doméstico, o valente Bob Jefferson, tal qual aqueles malucos dos filmes de Glauber Rocha, resistia, imbrochavelmente.

Faca nos dentes, fazendo da janela uma barricada, Bob passou a cuspir fogo, disparando mais de vinte projéteis de fuzil contra as forças policiais.

Rata tata pum.

O papoco deixou as viaturas cravejadas de bala.

Não satisfeito, o tarado da boca suja ainda arremessou duas granadas contra os meganhas.

Escatapuuum!

Um delegado e uma agente ficaram feridos.

Bob, coriscamente, seguia orientações do seu chefe, o Lamparina do Planalto, que já havia botado bomba no quartel em que servia e anunciara, soprando o apito de cachorro, que jamais se entregaria à polícia quando essa viesse a bater à sua porta.

E ela irá, em breve!

“Atiro pra matar”, disse o canibal belicoso.

Foi pra matar que Jefferson atirou.

Tendo uma das polícias mais letais do mundo, que segue o olavístico lema “bandido bom é bandido morto”, o povo esperava, após o cerco implacável, ver o sujeito insolente girando, de braços abertos, tendo o corpo alvejado por disparos policiais.

Porém, fon fon fon fon; nada disso aconteceu.

Branco e endinheirado, Bob escapou com vida; fosse ele um sujeito bronzeado, teria as granadas arremessadas de volta para dentro do seu esconderijo e, ao final, os policiais arrastariam o seu cadáver para dentro do camburão, como um molambo velho.

O rastro de sangue rasgando o chão.

“Farão com ele o que fizeram com Lázaro”, garganteavam uns ingênuos; “morrerá como Adriano da Nóbrega”, vaticinavam outros; cresciam as apostas no bar de Bubu, a tevê televisonava tudo.

“É só jogar uma bomba de gás lacrimogêneo dentro da casa que o sujeito sai de lá correndo, como uma barata atordoada”, ensinava um jovem loiro, de dread locks nos cabelos, sentado numa cadeira de rodas.

O Dread Pitt também aconselhou que soltassem os cães pelo quintal para despistar o sujeito, enquanto ninjas desceriam de helicóptero pelo teto da casa.

Os roteiristas de filme bê se acotovelavam no balcão do boteco.

Grande expectativa.

Já na boca da noite, do nada, apareceu um sósia de Jorge Aragão, metido num vestido longo e com uma cruz pendurada no pescoço, oferecendo-se como mediador da refrega.

Atendia pela alcunha de Padre Kelmon; dele o que se sabe é que realizava casamentos em festejos juninos até ser lançado ao posto de candidato à Presidência da República, substituindo o próprio Jefferson; veja você.

Nas redes, bolsonaristas entravam em parafuso: começaram por defender o delinquente, defendendo sua liberdade de opressão, mas os estilhaços da granada atingiram em cheio a campanha do paquerador de menininhas.

O cabra, temeroso com a derrota que levará a polícia até a sua porta, soprou o berrante nas redes, dando uma brochante declaração; aconselhava sua falange a abandonar o bravo soldado entrincheirado.

Bob passou, em segundos e ao vivo, de mártir vivo a fósforo queimado.

O tiro saiu pela culatra, o gado bípede passou a chamar de bandido o nosso pequeno herói de fim de semana.

Fon fon fon fon.

Minutos mais tarde, o padre, pense numa cena glauberróchica, aparece no portão de Bob com dois trabucos na mão.

“Jesus armado!”, gritou uma senhorinha na mesa ao lado, mãos ao rosto, estupefata; o trocadilho saiu sem querer.

Catorze horas depois, a polícia estava dentro da casa de Jeff, tomando chá, comendo biscoito e gargalhando ao lado do cara que tentou matar dois policiais.

“Fica tranquilo”, disse o robocop ao macho branco, “o que o senhor precisar a gente vai fazer”.

Essa foi de torcer os chifres de Baphomet.

Imagina se a cor da pele de Bob fosse outra, pense no que estaria a acontecer agora se, ao invés de se chamar Jefferson, ele se chamasse Genivaldo!

Jeff foi para o presídio de Benfica, ele fica bem lá, ao lado de delinquentes perigosos como ele.

Será esquecido no fundo de uma masmorra, cheio de bolor e brotoejas, até ser devorado por insetos.

Mas a porralouquice seguirá nos atormentando até o dia das eleições: é beato espalhando boatos na internet, gado mocho indo à missa com cerveja na mão, marginais com a camisa da seleção xingando padres dentro das igrejas, vagabundos dando tiro em festa de aniversário de adversários políticos, senadora eleita falando de suas fantasias sexuais para crianças durante o culto, tiros sendo disparados dentro de templos evangélicos, irmão matando irmão, choro e ranger de dentes, como tá na bíblia.

Esse apocalipse de gibi é uma catarse que vai nos depurar.

Sairemos dessa vitoriosos e botaremos esses delinquentes em seus devidos lugares; ou aprendem a conviver em sociedade, democraticamente, ou coloca-se uma bola de ferro em seus calcanhares e passa-se o ferrolho na cela.

Será, assim, o fim da era bozozóica.

Palavra da salvação.

*Lelê Teles é jornalista, publicitário e roteirista.

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