José Dirceu: O PT faz 44 anos, parabéns à nossa insistente e resistente militância

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José Dirceu, Eduardo Suplicy e Lula nos anos 80. E Dirceu, atualmente. Fotos: Reprodução e Lula Marques/Fotos Públicas

44 anos

Por José Dirceu*

Nosso PT faz 44 anos de luta e combate.

Ainda me lembro das primeiras reuniões na rua Augusta, na sede da ABI, e da campanha de filiação, percorrendo casa por casa dos bairros dos Jardins – missão difícil, mas não impossível.

Do mesmo modo, me lembro do dia em que fui convidado para ser membro do Diretório Nacional (DN) e optei por militar no diretório zonal do Jardim Paulista, da primeira vez que estive pessoalmente com Lula levado por Paulo Vannuchi e Frei Beto, se minha memória não me trai.

Também não esqueço da primeira sede na rua Santo Amaro, perto da Câmara Municipal de São Paulo, porque antes usávamos, junto com o Comitê da Anistia, os escritórios na Bela Vista do Airton Soares e LEG, como chamamos carinhosamente Luiz Eduardo Greenhalgh.

Em 1983, fui indicado para o Diretório Regional (DR) de São Paulo. Em seguida, para a Comissão Executiva Estadual como secretario de Formação Política e depois secretário-geral.

Era uma executiva que reunia líderes sindicais, Djalma Bom, Devanir Ribeiro e José Cicote, acadêmicos, Marco Aurélio Garcia, nosso MAG, Jose Álvaro Moisés e Eder Sader, todos militantes na luta contra a Ditadura; além de José Machado, Janete Pietá, Luizão, lideranças de correntes políticas como eu.

Juntos construímos o PT em São Paulo, disputamos nossa primeira eleição com Lula candidato a governador em 82 e a campanha das Diretas Já, depois as eleições de 85 com Suplicy candidato a prefeito e a governador em 86.

O PT e as lideranças foram a vanguarda da luta pelas Diretas Já. Fizemos o primeiro comício no Pacaembu e, juntos com o movimento sindical, as greves políticas contra a ditadura.

Derrotada a emenda Dante Oliveira, consolidou-se a transição com a ida ao colégio eleitoral e a eleição de Tancredo Neves.

A importância do PT ao longo dos anos é significativa: na luta social, sindical e popular, no parlamento e governando cidades como Diadema, capitais como Vitória, Rio Branco e Porto Alegre, sem esquecer de São Paulo com Luiza Erundina. Também ao governar Estados como Espírito Santo, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Acre e Rio Grande do Sul.

Após a vitoriosa luta pela Constituinte com as mobilizações e emendas populares, disputamos a eleição presidencial de 89, um marco na história do PT com a ida de Lula ao segundo turno, uma batalha que se travava nas ruas e nas urnas, com o partido sempre ao lado da CUT, MST, CONTAG nas greves e grandes mobilizações em defesa da reforma agrária e dos direitos dos trabalhadores do campo e da cidade.

Em São Paulo, vimos o sinal da vitória em 2002 com a eleição da Marta Suplicy em 2000 para prefeita e com Lula Presidente da República.

Em 2003, nosso PT alcançou seu objetivo de governar o Brasil para retomar o projeto de desenvolvimento nacional sob a hegemonia dos trabalhadores e aliados numa conjuntura que nos favorecia e que nos deu a oportunidade de governar o país por quatro vezes. E de eleger deputados e senadores, milhares de vereadores, centenas de prefeitos, governar a Bahia, Piauí, Pará, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Sergipe e o Ceará.

Nossa difícil missão era — e é — governar, combinando a defesa do interesse nacional e a defesa dos interesses dos trabalhadores e camadas médias da população.

Missão de agregar e articular essas duas frentes de luta e objetivos, para garantir um país soberano e independente, mas com justiça social e democrático, onde o povo tenha seu reconhecimento e para que o Brasil tenha e ocupe seu lugar no mundo.

Um golpe de Estado e um processo jurídico ilegal, sumário e político, nos tiraram do governo e recolocaram o Brasil no caminho do neoliberalismo e do risco do retorno da ditadura militar como hoje sabemos. Afinal, Bolsonaro é filho do golpe parlamentar jurídico, da Lava Jato e da impunidade dos militares na anistia aprovado pelo Congresso Nacional.

Nesses longos anos, fui secretário-geral do PT de São Paulo e Nacional, presidente por quatro vezes, esta última em eleições diretas que instituímos. Além disso, deputado estadual e federal, candidato ao governo de São Paulo em 1994 e ministro da Casa Civil em 2003. Fui arrancado do governo pela farsa do Mensalão e do mandato, o terceiro que o povo de São Paulo me deu, pela ignominiosa cassação no dia 1 de dezembro de 2005.

Cumpri a pena da Ação Penal 470, que agora a Comissão Interamericana de Direitos Humanos aceitou minha reclamação e discutirá sobre a ilegalidade da minha condenação. Além disso, é notória a ilegalidade das prisões e condenações da Lava Jato.

Mesmo assim, como o PT nestes 44 anos, nunca deixei de lutar, nunca me dobrei nem à repressão e à prisão na ditadura e nem agora na Lava Jato, porque nunca duvidei da importância e justiça de nossa causa, tampouco do meu compromisso com meus companheiros e companheiras, guardiões e guia de nossos sonhos, assassinados durante e pela ditadura.

Sou filho da geração de 68, fui forjado na luta contra a ditadura, me considero herdeiro das lutas históricas dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiras, desde a greve geral de 1917 até a primeira vitória de Lula em 2002.

Mas foram o aniversariante PT e a liderança de Lula que nos ensinaram o caminho da luta e a relevância de não desistir.

Minha filiação ao PT também representa a continuidade do meu compromisso de vida com a revolução brasileira, inconclusa e necessária para nosso povo ser dono de seu país e viver em paz e justiça.

Hoje que meu partido, nosso partido, faz 44 anos. Agradeço a militância insistente e resistente, que nunca faltou a mim e a tantos companheiros e companheiras, como José Genoino, Delúbio Soares, João Paulo Cunha, João Vaccari Neto, Silvio Pereira, André Vargas e tantos outros e outras.

Reafirmo meu compromisso com a militância e a luta, o combate contra as injustiças sociais e a opressão, contra o fascismo e pela libertação de nosso povo e do Brasil.

Parabéns à militância, vida longa para nosso PT.

*José Dirceu foi ministro da Casa Civil no primeiro governo Lula. Autor, entre outros livros, de Memórias – Vol. 1 (Geração editorial, 2018, 496 págs.). [https://amzn.to/3H7Ymaq]

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Zé Maria

Nós fazemos parte Viva da História.

Zé Maria

“No começo era só um retalho de pano vermelho que a Marisa [Letícia] pegou e costurou uma estrela branca por cima.
Mas por trás daquela bandeira improvisada havia uma determinação muito sólida: mudar a história deste país.
E nós mudamos.
O PT nasceu enfrentando a ditadura.
E ajudou o Brasil a vencer a ditadura.
O PT cresceu num momento em que o povo não tinha direitos.
E com apenas oito anos de existência ajudou a gravar na Constituição os direitos do povo brasileiro.

O PT enfrentou o neoliberalismo.
A ditadura do pensamento único.
O fim da história.
O fim do Estado.
A crise financeira mundial de 2008.
O golpe e as mentiras.
A injustiça e o ódio das elites.
E nunca se rendeu.

Levamos 22 anos para chegar ao governo.
E em apenas 13 anos no governo conseguimos o que nenhum outro partido, em qualquer momento da história, jamais foi capaz de realizar.
Fizemos o país crescer com inclusão social.
Tiramos o Brasil do Mapa da Fome.
Colocamos o povo pobre no orçamento, na universidade e na vida digna.

Aos 44 anos, temos que avançar ainda mais, mas sem esquecer de onde viemos.
Retornar às nossas raízes, ao mesmo tempo em que nos renovamos para vencer novos desafios da era digital.

É preciso percorrer de novo o Brasil, ocupar as ruas, conversar com as pessoas nos bairros, igrejas, locais de trabalho, movimentos sociais, universidades.
Jamais perder de vista a sabedoria do povo brasileiro.

Mas é preciso também promover o debate nas redes sociais.
Combater o ódio, a desinformação e as fake news.
E assim mostrar àqueles que de tempos em tempos anunciam a morte do PT, que nós estamos mais vivos do que nunca.
E cada vez mais jovens.

Viva o PT. E viva a extraordinária militância do PT.

LULA

https://twitter.com/LulaOficial/status/1756399785936834759

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