Jeferson Miola: Putin age como Pedro, o Grande, Lênin e Biden agiriam

Tempo de leitura: 3 min
Fotomontagem: Gulf News

Putin age como Pedro, o Grande, Lênin e Biden agiriam

Por Jeferson Miola, em seu blog

Está amplamente documentado que a Ucrânia atua como um enclave dos interesses ocidentais e imperialistas na Eurásia para corroer o poder mundial da Rússia.

O governo ucraniano, de ultradireita neonazista, se originou do golpe de Estado de 2014 que derrubou o governo pró-russo de Viktor Yanukovich. Desde então, o país serve de plataforma para a ação da OTAN e dos EUA no entorno estratégico da Rússia.

Se Pedro I, o Grande, fosse o presidente atual da Rússia, e considerando as circunstâncias atuais, de ameaça à defesa e à soberania do império russo [que não se confunde com imperialismo], ele provavelmente agiria como Putin agiu na Ucrânia.

Se Vladimir Ilyich Ulianiov, o Lênin, fosse hoje o presidente da Rússia e enfrentasse as ameaças militares que a OTAN representa se instalando na porta de entrada da Rússia, provavelmente ele também reagiria nos mesmos moldes que Putin reagiu.

E, se se extrapolar esse exercício hipotético, é bastante provável que se Joe Biden – ou qualquer outro governante ocidental, como Emmanuel Macron, Olav Scholz, Boris Johnson etc –, fosse governante do Estado russo, também agiria da mesma maneira que Putin agiu.

Do ponto de vista geopolítico, a contraofensiva russa em relação à escalada de ameaças belicistas engendrada pela OTAN [leia-se, EUA] nos últimos 8 anos é uma decisão não só coerente e legítima, como perfeitamente inteligível.

Em matéria de geopolítica, perde tempo quem julga movimentos táticos e estratégicos com romantismo idealista ou de olho no perfil psicológico/ideológico dos atores em cena.

Geopolítica não é um jogo de rivalidades entre mocinhos e bandidos, como Washington incute por meio da sua mídia hegemônica com uma narrativa russofóbica racista.

Em geopolítica, não existe esta ideia pueril de torcida organizada de time de futebol. Defender, portanto, o entendimento de escolhas geopolíticas de quem quer que seja, não significa identificação ou alinhamento ideológico automático, mas compreensão do jogo geopolítico.

Vladimir Putin, presidente da Rússia, é um político autoritário e ultraconservador. Entretanto, é equivocado empregar essa classificação para impugnar; e, menos ainda, para julgar as decisões dele em relação aos acontecimentos em curso e à atuação da Rússia na arena mundial.

Putin atua como um chefe de um Estado soberano que assistiu os EUA e seus aliados, com a conivência da ONU, descumprirem o Protocolo de Minsk.

Este protocolo, assinado em 2014 pela Ucrânia, Rússia e as Repúblicas de Donetsk e Lugansk sob os auspícios da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, estabelecia condições que, se cumpridas pela Ucrânia, teriam evitado o conflito presente.

Ante a surdez e a indiferença dos governos europeus e dos EUA aos sucessivos apelos e ultimatos de Moscou uma vez que o protocolo estava sendo desrespeitado, Putin não teve outra alternativa senão agir como representante de um Estado soberano detentor de formidável e, em certos níveis inigualável, poder nuclear.

Para defender sua segurança territorial e existencial, a Rússia se viu contingenciada a agir por conta própria.

Não sobrou outra alternativa diante da expansão ameaçadora da zona de influência e de domínio militar dos EUA-OTAN na direção da fronteira oeste com a Rússia. A inação russa, neste caso, representaria um risco de avanço irrecuperável do terreno nacional pelos agressores.

A defesa do entendimento das escolhas militares da Rússia na Ucrânia, longe de significar qualquer adesão ao militarismo, ao endeusamento do Putin ou à defesa da solução bélica dos conflitos entre as nações, representa o reconhecimento do direito intrínseco de cada país à soberania e à defesa nacional.

Ao defender a soberania da Rússia, Putin trabalha, ao mesmo tempo, para concretizar um mundo multipolar, livre do arbítrio e do poder unipolar e imperial dos EUA. Um mundo multipolar está nascendo.

Leia também:

Miola: Mídia hegemônica é mera repetidora dos mantras russofóbicos fabricados por Washington

Celso Amorim: A expansão da Otan é um absurdo, mas a operação militar da Rússia é “erro”; vídeo

Lula sobre a Ucrânia: “Divergências devem ser resolvidas na mesa de negociação”; vídeo


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

Qualquer Chefe de Estado, Responsável
pela Defesa e Segurança da própria Nação
– e pela sua Soberania – atuaria como o
Presidente da Rússia agiu na Ucrânia,
um país notoriamente {des]governado
por um Fantoche da União Européia e,
sobretudo, da OTAN/EUA que, por certo,
em breve, instalaria suas Bases Militares
com seus Mísseis na Fronteira Russa, a
alguns quilômetros de Moscou.

Marcelo Santanna

Comentário inteligente e didático. Para além dos atores envolvidos, a geopolítica é essencialmente um jogo de poder. A contenção da expansão da Otan em território da Ucrânia serviu para evitar um cheque-mate à Rússia. Feito agora, antes da instalação de bases americanas, restringiu o conflito ao território da Ucrânia. Se fosse deixado para depois, necessariamente seria o início da terceira e talvez última guerra mundial. Naturalmente o projeto americano iniciado com a revolução laranja de fev/2014 na praça Maidan em Kiev, por ter sido frustrado, despertou muitos rosnados e ameaças do ex-hegemon americano, mas não se pode esquecer que já havia sanções antes, e sanções são atos de guerra, embora por ser de baixa intensidade passem despercebidos da maioria. EUA fez uma aposta, perdeu e agora amarga a derrota.

Leo V

É interessante ver que se diz progressista defender bombas na cabeça de proletários.
Essa gente como o senhor Jefferson Miola está confortável no seu escritório, achando que é Pedro o Grande. E conclui coisas sem pé nem cabeça, defendendo imperialismo histórico da Rússia na região, e as atrocidades que Putin já fez na Georgia elo jeito.

Enquanto os minimamente progressistas na Rússia chamam Putin de tirano e saem às ruas, esses ignorantes “esquerdistas” brasileiros justificam e racionalizam, a invasão e a barbárie contra trabalhadores e um povo.

Lenin faria o mesmo, pois depois de tomar o poder, como bem diz Chomsky, ele refez a ordem czarista. Mas quando ele tinha perspectiva da classe trabalhadora, em 1914, e não de opressor, ele escreveu o que colo abaixo. Algo que o Jefferson Miola deveria defender, a menos que eles esteja a soldo de um opressor e tirano:

“O que a a Irlanda foi para a Inglaterra a Ucrânia tem se tornado para a Rússia: explorada ao extremo e não tendo nada em retorno. Portanto os interesses do proletariado mundial em geral e do proletariado russo em particular requerem que a Ucrânia reganhe sua independência de estado,…. Infelizmente alguns dos nossos camaradas têm se tornado patriotas imperialistas russos. Nós moscovitas somos escravizados não apenas porque permitimos que sejamos oprimidos, mas porque nossa passividade permite que outros sejam oprimidos, o que não é do nosso interesse.” (Lenin, 1914).

Deixe seu comentário

Leia também