Jeferson Miola: Ministro Múcio insulta processo de memória, verdade e justiça

Tempo de leitura: 3 min
Ilustração: Renato Aroeira (@arocartum)

Ministro Múcio insulta processo de memória, verdade e justiça

Por Jeferson Miola, em seu blog

Antes de ministro da Defesa, José Múcio Monteiro atua como advogado das cúpulas militares e embaixador dos interesses da caserna perante o poder político e a sociedade civil.

Do ponto de vista civil-republicano, portanto, ele é um anti-ministro.

Múcio é um personagem tragicamente ridículo e dissimulador que insulta o processo de memória, verdade e justiça que seria essencial para o Brasil efetivamente conseguir reconstruir a democracia.

Ele faz troça de quem o critica pela condescendência com a família militar e cobra dele ações legais a respeito de militares conspiradores e golpistas que atentaram contra a democracia.

“Eu acho o máximo, eu gostaria que dissessem mais. Porque todas as vezes que dizem isso as Forças ficam satisfeitas”, afirmou, orgulhoso de ser chamado jocosamente de “general sem farda”.

Contrariando todas as evidências da realidade e os fatos documentados, Múcio sustenta que quem acampou nos quartéis durante meses, cometeu atos terroristas em dezembro de 2022 em Brasília e depredou as sedes dos poderes da República em 8 de janeiro “eram senhoras, crianças, rapazes, moças … Como se fosse um grande piquenique, um arrastão em direção à Praça dos Três Poderes”.

Hoje se sabe que as cúpulas militares, especialmente o Alto Comando do Exército, só não concretizaram o projeto golpista porque o governo Biden, dos EUA, não aprovaria, não apoiaria e promoveria sanções.

A despeito disso, no entanto, e com sinais de uma pessoa em estado delirante, Múcio diz que “podia ser até que algumas pessoas da instituição quisessem, mas as Forças Armadas não queriam um golpe”.

As posições do ministro Múcio são altamente prejudiciais para o esforço do país estabelecer a verdade histórica sobre o 8 de janeiro de 2023, que significou o momento culminante do empreendimento golpista tramado pelos militares desde, pelo menos, o processo de desestabilização do governo Dilma; ou até mesmo antes.

Os generais-conspiradores Sérgio Etchegoyen e Eduardo Villas Bôas, que integravam a alta hierarquia do Exército à época, traíram Dilma, que os havia nomeado, e tramaram secretamente com Temer a derrubada dela, conforme o próprio usurpador revelou em livro.

Os planos militares de tomada do poder civil estavam alinhavados há mais tempo.

A candidatura da chapa militar liderada por Bolsonaro para a eleição de 2018 foi lançada quatro anos antes, em 29 de novembro de 2014 na AMAN, a Academia Militar das Agulhas Negras.

Na ocasião, a Academia era comandada pelo atual comandante do Exército, general Tomás Ribeiro Paiva, outro integrante da atual geração conspiradora do oficialato que era chefe de gabinete do Villas Bôas quando o general publicou o twitter em que o Alto Comando do Exército obrigou o STF a prender Lula.

Nos quatro anos do governo fascista-militar presidido por Bolsonaro, os militares praticamente passaram em revista o Código Penal brasileiro.

Estiveram envolvidos numa infinidade de ilícitos, desvios, genocídio de povos indígenas, contrabando de jóias roubadas da União, tráfico internacional de cocaína, esquemas de corrupção, desastre sanitário na pandemia, ataques às instituições, atentados contra o Estado de Direito, desrespeito ao resultado da eleição e sedição.

Múcio, apesar disso tudo, diz que “para punir os militares, precisamos saber quem são os culpados”, mas até o momento não exigiu dos comandantes das três Forças a abertura de inquéritos sobre o envolvimento de vários oficiais e suboficiais em crimes comuns e contra a democracia

Por isso, com a eficiente ação do seu embaixador, o “general sem farda”, os militares chegam ao 8 de janeiro impunes, beneficiados por uma anistia tácita e ainda mais fortes.

Na primeira crise institucional ou instabilidade política, voltarão a golpear a democracia, pois conhecem o convidativo sabor da impunidade.

Do ponto de vista do poder civil e da República, Múcio é a pessoa errada que ocupa o lugar errado no momento errado. Do ponto de vista militar, no entanto, Múcio cai como uma luva.

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Jeferson Miola: Ministro José Múcio é a pessoa errada, no lugar errado e no momento errado


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Comentários

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abelardo

O fato de eu não simpatizar e não confiar ministro José Múcio Monteiro, não significava que existia, no primeiro, um motivo e que havia, no segundo, uma razão.

Contudo, com o avançar do tempo e dos acontecimentos, o ministro precisou se posicionar claramente sobre certas questões e decisões.

Culminou que, em uma afirmação divulgada pela midia que: as pessoas acampadas em frente ao quartel general do exército: “eram senhoras, crianças, rapazes, moças …”

Então, a partir daí, a minha avaliação tornou-se mais apavorante e preocupante porque além dessa afirmação me confirmar a antipatia e a desconfiança, ainda causou mais três dúvidas:
1) Será que ele está debochando de nós, ao subestimar a nossa inteligência?
2) Será que seu juízo não acompanhou a idade e se perdeu antes do tempo?
3) Será possível que sejam ambas?

Não dá mais para aguentar e aturar esse ministro Múcio.
Ele até me faz lembrar o realista haitiano que previu o fim do governo bolsonaro.
Parodiando o haitiano, eu te digo: “não dá mais para você mas mostro Múcio. Acabou o seu tempo e o seu espaço, no governo progressista e democrático eleito pelo povo, através da vitória que resgatou a vontade popular elegendo Lula, mais uma vez.
A sua continuidade não interessa nos interessa mais.
Portanto, ministro Múcio, aceite que você não aproveitou a oportunidade que lhe foi gentilmente concedida, seja agradecido e peça sua saída, em caráter irrevogável.
Simples assim.

Zé Maria

https://twitter.com/i/status/1744083166036427153

“08/01/2023

Tem Heleno?
Tem!
Tem Bolsonaro?
Tem!
Tem Villas Boas?
Tem!
Tem Mourão?
Tem!
Tem Braga Neto?
Tem também.

As instituições precisam prender
os golpistas criminosos.

Ou seremos sempre os otários…”

https://twitter.com/dmolir/status/1744083166036427153

Zé Maria

.
.
Partidos de Oposição ao Governo de Direita
do Prefeito Bolsonarista Sebastião Melo
mobilizam-se por Entendimento para
Lançamento de Candidat@ Únic@ à
Prefeitura da Capital Gaúcha.

Além de PSOL e PT, a Aliança deve contar com
PCdoB e PV, que compõem, junto com o PT,
a Federação Brasil da Esperança, e da REDE,
que está federada com o PSOL.

PDT e PSB também acenam com Possibilidade.
.
.
“PT e PSOL se aproximam de aliança para
a disputa pela Prefeitura de Porto Alegre”

“Presidentes de Partidos Gaúchos falam
sobre Conversas para a Construção
de Chapa de Oposição ao Prefeito Melo”

“Nenhum nome é maior do que a força
de estarmos todos juntos, o que nós
não conseguimos desde 2004”, afirma
Deputada Estadual LAURA SITO (PT/RS),
Presidente Municipal do PT em Porto Alegre.

“Não achamos que a questão do nome tem
que se sobrepor à questão programática e à
necessidade de ter uma alternativa diante
do [Prefeito] Melo”, diz ROBERTO ROBAINA,
Presidente Municipal do PSOL em Porto Alegre.

“Vamos debater um projeto e um nome de
consenso para ganhar do [Prefeito] Melo.”
JOSÉ VECCHIO FILHO, Presidente Municipal
do PDT em Porto Alegre.

“Não temos uma decisão. Já conversamos com
PT, PDT e estamos conversando com outras
lideranças, outros partidos…
“Estamos trabalhando mais para ficar no
campo da esquerda, porque o vice-presidente
é do nosso partido”, explica MAURI RAMME,
Presidente Municipal do PSB em Porto Alegre.”

[Reportagem: Felipe Prestes | SUL 21 ]

https://sul21.com.br/noticias/politica/2024/01/pt-e-psol-se-aproximam-de-alianca-para-a-disputa-pela-prefeitura-de-porto-alegre/
.
.

Zé Maria

Livro

” Estado Pós-Democrático: Neo-Obscurantismo e Gestão dos ‘Indesejáveis’ ”

Autor: Rubens Roberto Rebello Casara

Nesta obra o autor analisa como a estrutura do neoliberalismo atua
nas instituições que deveriam assegurar o sistema democrático.

Este é um livro essencial, que submete a realidade brasileira
a uma crítica rigorosa e esclarece de que maneira a população
e as instituições, com especial destaque para o Poder Judiciário,
acabam sendo manipuladas para o beneficio de um pequeno e
privilegiado grupo [no topo da pirâmide sócio-econômica].

Em “Estado Pós-Democrático”, Rubens R R Casara levanta a tese de que
a lógica neoliberal minou as estruturas do Estado Democrático de Direito.

Em favor do lucro, do mercado e da circulação do capital financeiro, desaparecem os limites ao exercício do poder e à onipotência
da elite dominante.

Os impactos dessa mudança são sentidos não apenas no campo jurídico,
mas na própria sociedade, que, progressivamente, passa a naturalizar
a opressão e o afastamento dos direitos fundamentais do ser humano.

Segundo a filósofa Marcia Tiburi:

“É a partir da premissa do ‘falso caráter extraordinário do momento’
que Rubens Casara, autor deste livro mais do que necessário
à compreensão de nossa época, nos chama a pensar sobre o sentido
da própria Democracia nas condições do ‘Mercado’, substituto da noção
de Vida no contexto da razão neoliberal.”

https://doi.org/10.1590/2179-8966/2018/36320
https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/orgdemo/article/view/11464/7469

Entrevista: RUBENS CASARA, na Revista Cult.

“Pós-Democracia Instalou-se ‘Docilmente’ no Brasil”

“A Democracia, que antes já havia
sido transformada em mercadoria,
se tornou um obstáculo ao projeto
neoliberal.”

“Limites e constrangimentos democráticos
tornaram-se fatores de instabilidade
para o ‘Mercado’ e à livre circulação
do capital financeiro, razão pela qual,
em nome da manutenção do Capitalismo,
precisam ser ‘relativizados’ ou descartados.”

Nesse panorama forma-se o que Casara
denomina “Estado Pós-Democrático”.

Em sua análise, diversos acontecimentos
contemporâneos caracterizam essa mudança
de paradigmas – como a ascensão de partidos
conservadores, a crise migratória na Europa,
a acentuação da violência de Estado,
a hostilidade a moradores de rua e operações
policiais espetaculosas [como a Lava-Jato]
no Brasil.

Outra face que esse processo assume é a
identificação do poder político e econômico,
uma nova gestão política dos “indesejados”
pelo Capitalismo e a transformação do
Judiciário em mecanismo de ordenação
da lógica de mercado.

Leia a Entrevista de Rubens Casara
concedida ao Jornalista PH Pompermaier:

https://revistacult.uol.com.br/home/rubens-casara-estado-pos-democratico/
.
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