Jeferson Miola: Decisão do TSE é uma burla; teria sido menos constrangedor arquivar o processo

Tempo de leitura: 3 min
Foto: Válter Campanato/Agência Brasil

Decisão do TSE é uma burla

Por Jeferson Miola, em seu blog

A decisão do TSE [28/10] no julgamento dos crimes cometidos pela chapa Bolsonaro/Mourão na eleição de 2018 é uma burla.

Pelo menos é assim que define o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.

Os sinônimos de burla são: logro, embuste, fraude, estelionato; brincadeira de mau gosto, atitude jocosa, gracejo, ludíbrio; zombaria, escárnio et cetera.

Na realidade, a decisão do TSE tem o mesmo significado de excepcionalidade jurídica – intrínseca ao Estado de Exceção vigente – da atuação de Sérgio Moro enquanto juiz. Só que com sinais invertidos.

Moro condenou Lula em [1] tempo recorde e [2] sem absolutamente nenhuma prova de culpa, ao passo que o TSE [1] retardou o máximo que pôde o julgamento que deveria ter ocorrido ainda em outubro de 2018 e [2] absolveu a chapa Bolsonaro/Mourão apesar da abundância de provas dos ilícitos cometidos.

Justiça de verdade não se sujeita a estratégias judiciais ou ao sabor de conveniências político-ideológicas das oligarquias que, com os préstimos da gangue de Curitiba, violaram a democracia e corromperam o sistema de justiça para tomarem de assalto o poder.

O relator do processo no TSE, ministro Luis Felipe Salomão, reconheceu a “efetiva participação dos candidatos no ilícito”.

Salomão afirmou, ainda, que “a ciência de candidato acerca da prática de ilícitos eleitorais em seu benefício constitui aspecto qualitativo que deve ser levado em conta para fins de gravidade”.

A despeito, porém, do reconhecimento da autoria do crime e das provas contundentes sobre fake news impulsionadas por meio de WhatsApp sob o patrocínio ilegal de empresários, o relator entendeu faltarem “elementos mínimos quanto ao teor dos disparos e à sua repercussão” [sic].

O ministro Luís Roberto Barroso chegou a dizer que “Todo mundo sabe o que aconteceu. As mídias sociais foram inundadas com ódio, com desinformação, com calúnias, teorias conspiratórias, basta ter olhos de ver”.

A Barroso, tão peremptório em constatar o crime e a autoria, faltou a convicção que seu amigo Deltan Dallagnol teve na farsa judicial para incriminar Lula.

“Apesar de todos reconhecermos a notoriedade dos fatos”, sofisma ele, “para que se possa gerar uma condenação, é preciso que haja prova. Não foi demonstrado o envio de mensagens por aqueles números a grupos de Whatsapp nem a concatenação entre empresários e a campanha dos candidatos”.

Com o que “todo mundo sabe” e com o conteúdo dos autos, este discurso alcança o altar das aulas magnas de hipocrisia!

O voto de Alexandre de Moraes é o que melhor homenageia a decisão burlesca do TSE.

O ministro disse que “Todo mundo sabe o que ocorreu, todo mundo sabe o mecanismo utilizado nas eleições e depois. É fato mais que notório que ocorreu. Houve disparo em massa”.

Enérgico na fala, Moraes reconhece que a punição deveria ser a cassação do registro da chapa e, inclusive, a prisão dos criminosos.

“Vai ser combatido nas eleições 2022. Se houver repetição, o registro será cassado e as pessoas irão para a cadeia”, ameaça o ministro.

Apesar da contundência verbal e da promessa de “valentia futura”, mas não presente, Moraes também entende que há uma vítima mortal do crime – a democracia – mas, na visão dele, não “há a prova específica” para condenar os responsáveis [sic].

A situação, desse modo, ficou curiosa. Ministros da Suprema Corte que atuam no STE identificam a ocorrência de um crime, reconhecem o tipo penal, conhecem os autores e entendem que é caso de prisão e cassação política; mas, todavia, deixam os autores continuarem desfrutando do produto do crime – o mandato presidencial ilegítimo.

Teria sido menos constrangedor para o TSE arquivar o processo por leniência do que julgá-lo como o julgou, ficando exposto ao ridículo. Afinal, sempre se duvidou da possibilidade de haver um julgamento justo.

Quase ninguém acreditava que agora, em outubro de 2021, no penúltimo ano do mandato do Bolsonaro, o TSE praticaria a justiça que não praticou em outubro de 2018, quando deveria ter cassado os candidatos da extrema-direita e mandado prender os autores do crime – como corresponderia, segundo o ministro Moraes.

Naquela circunstância, aliás, o TSE, emparedado pelo “partido dos generais”, também burlou a lei para “aparentar normalidade a uma eleição contaminada pela manipulação em larga escala e financiada por empresários com recursos de caixa 2”.

No livro Os Onze [editora Cia das Letras], os autores Felipe Recondo e Luiz Weber relatam que Toffoli “descreveu um cenário sombrio” [pág. 16] a colegas da Suprema Corte com assento no TSE.

O presidente do STF, tutelado no seu gabinete pelo general Fernando Azevedo e Silva, “lembrou que o então comandante do Exército, general Villas Bôas, tinha 300 mil homens armados que majoritariamente apoiavam a candidatura de Jair Bolsonaro” [pág. 17] [ver aqui – Intimidação do STF pela cúpula militar originou governo ilegítimo].

Como assinalou Perry Anderson em Brasil à Parte [editora Boitempo], é “clara a participação política de militares na tarefa comum, que uniu oficiais e magistrados, de destruir Lula e garantir que o PT não vencesse as eleições de 2018” [ver aqui – É preciso investigar conexão da Lava Jato com plano da cúpula militar]

Leia também:

“Nós sabíamos que Bolsonaro era culpado; agora, temos 1.288 páginas provar”


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Comentários

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Zé Maria

O resultado do julgamento
do Tribunal Superior Eleitoral,
pela improcedência das ações,
“por falta de provas” só serviu
para que os grupos milicianos de
Bolsonaro/Mourão espalhassem
Fake News por Whatsapp/Telegram,
precisamente como o fizeram nas
Eleições Presidenciais de 2018.

Aliás, no curso da instrução das ações
o relator indeferiu a produção de provas [*]
pela Coligação Autora Haddad/Manuela.

Para fazer esse Papelão, o TSE
nem precisaria ter desarquivado
as AIJEs movidas por PT/PCdoB.

[*] Na Sustentação Oral da Acusação, o Advogado Eugênio Aragão, da Chapa Brasil Feliz de Novo [PT/PCdoB], do Candidato Presidencial Fernando Haddad (PT), reclamou do Indeferimento da Produção de Provas [SIC] que se mostrariam sensíveis para caracterizar o abuso em favor
da campanha Bolsonarista:
pedidos de inquirição e depoimento pessoal,
de quebra de sigilo, de acesso à documentação
e de busca e apreensão.

“Embora a Coligação tenha a prerrogativa legal
de propor a AIJE, ela não tem poder de polícia
para arrecadar forçosamente qualquer tipo de prova”,
alegou o Patrono da Chapa Autora.
“Não houve colaboração perfeita entre a parte e o Judiciário”,
afirmou Eugênio Aragão.
“Não logramos deferimento da grande maioria de
nossos pedidos que eram relevantíssimos para a
instrução”, acrescentou o Advogado da Acusação.

Por isso, a Coligação Autora da AIJE pediu Reabertura
da Instrução Probatória.
(Informações de ConJur, 28.10.2021)

Gilmer Góis

Caramba !!! Queriam que aos 45 min. do segundo tempo o juizao cancelasse o jogo. É lógico que nunca fariam isso.
Ainda mais mexer com a turma do tanque e metralhadora.
A esquerda precisa ser menos ingênua.
Até a “ameaça” do xandao já é meio risível pq se fosse para fazer algo já faziam agora. Parece o pai que dá um pito no filho e depois o moleque vai e faz o mesmo mal feito de antes e fica por isso mesmo sempre.

Zé Maria

As Cúpulas dos Tribunais Superiores são Emaranhadas
pelo Neoliberalismo Econômico que é Intrincado com
a Libertinagem da Imprensa no Mercado Financeiro
onde o Abuso é Regra, a Usura é Norma e o Lucro é Lei.

Henrique Martins

Alô Reinaldo Azevedo,

Estou suspeitando de algum tipo de interferência bolsonarista no seu programa ‘O É da Coisa’, na BandNews.
Inclusive, eu notei que eles já conseguiram interferir no sinal da Globo no mínimo duas vezes em pleno jornal Nacional.

Patrice L

Em nada surpreende uma tal decisão. A Justiça aqui, com o “Supremo, Com Tudo”, é sempre “de transição”: do poder da elite para o poder da elite, quando essa última se vê ameaçada e/ou precisa afastar inconvenientes e inconveniências. O propósito, afinal, não era defenestrar, mas sim o de por uma cordinha no atual ditador de plantão. Talvez afastá-lo, sim, mas apenas se um “terceira-via” confiável pra elite se mostrasse hoje eleitoralmente capaz e competitivo a ponto de substituir o Bozo impichado no enfrentamento ao Lula. De preferência outros que não o Ciro, o Moro e o Dória, por inconfiáveis mesmo dentro da direita. Mas até com esses ela marcharia contra a volta do PT e do que isto significar de desmanche de anos de crueldade neoliberal pós golpe de 2016.

Riaj Otim

Uma decisão justa. O mito tá proibido de fazer o mesmo na próxima campanha. Agora outra pessoa fazer no lugar dele ou ele mesmo fizer dierente, tá libereado

Henrique martins

https://www.diariodocentrodomundo.com.br/senador-vitalicio-ideia/

Fiquem à vontade para inventarem o que quiserem. Não tem nada neste mundo que possa livrar Bolsonaro da desonra e da desgraça. Podem dar murro em ponta de faca que enquanto isso eu fico aqui rindo esperando as ‘coisas’ acontecerem.

Henrique Martins

https://www.correiobraziliense.com.br/diversao-e-arte/2021/10/4959122-armeira-de-rust-ja-teve-complicacoes-com-nicolas-cage.html

Garanto que tem algo de muito suspeito para a contratação dessa moça para o filme Rust, .

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