Jeferson Miola: CPI dos atos golpistas de 8 de janeiro é um tiro no próprio pé da extrema-direita

Tempo de leitura: 3 min
Ilustração: Schröder (www.facebook.com/celso.schroder)

Um tiro de CPI no próprio pé

Por Jeferson Miola, em seu blog

A oposição bolsonarista fabrica pedidos de impeachment do presidente Lula e pede CPIs contra o governo na mesma proporção com que produz mentiras e dissemina discursos violentos e de ódio.

Nas últimas semanas a ultradireita conseguiu emplacar duas CPIs: a do MST, totalmente sem fundamento legal e com o propósito exclusivo de criminalizar o MST e constranger o governo; e a CPI da intentona golpista de 8 de janeiro, como palco para a construção de uma narrativa delirante.

Para isso, os fascistas contaram inclusive com apoio de parlamentares desleais, integrantes de partidos que comandam ministérios no governo Lula e indicam correligionários para cargos federais.

A extrema-direita não debate projetos para o país, até porque a comparação com o ruinoso governo fascista-militar que jogou o país no precipício a deixa em inapelável desvantagem.

Por isso, no lugar de uma oposição racional e programática, continua empenhada na guerra fascista contra a democracia, fazendo balbúrdia e tumultuando o país.

Esta guerra fascista contra a democracia não acabou com a derrota da chapa militar na eleição de outubro passado, e ainda está bem longe de acabar.

No Congresso e no debate público nas redes sociais e na mídia, essa extrema-direita age como uma malta de depredadores dispostos a destruir tudo o que encontram pela frente; a começar pela destruição da verdade factual e histórica.

No seu estado de transe permanente, os bolsonaristas tinham a ilusão de que com a CPI dos atos golpistas conseguiriam substituir a realidade dos acontecimentos pela narrativa delirante de que o governo Lula foi deliberadamente omisso e, pasme, teria estimulado um autogolpe!

O governo nunca temeu esta CPI. Apenas evitava sua instalação por considerar que a responsabilização dos criminosos, já em curso no âmbito da PF e do STF, liberaria o Congresso Nacional para canalizar toda a energia política e a agenda institucional no enfrentamento das graves urgências nacionais, ao invés de se distrair com espetáculos grotescos armados pelos fascistas.

Agora que a CPI foi aprovada, os bolsonaristas dão sinais de arrependimento. Inventam todo tipo de subterfúgio para retardar sua instalação. Perceberam, enfim, que a CPI é um tiro no próprio pé.

Imagine-se o enredo fabuloso que poderá ser escrito a partir de depoimentos de representantes da “família militar”, a começar pela Dona Cida, esposa do general conspirador Villas Bôas e contumaz frequentadora do acampamento criminoso no QG do Exército, onde orgulhosamente proclamava o grito de guerra “Selva!”, ladeada por criminosos civis e fardados em estado de êxtase.

É extensa, também, a fila de oficiais de altas patentes, da ativa e da reserva, principalmente do Exército, que deverão ser convocados para tentarem explicar o inexplicável – dentre outros, os generais Braga Netto, Júlio César Arruda, Henrique Dutra, Augusto Heleno; o coronel Élcio Franco; os tenentes-coronéis Mauro Cid e Fernandes da Hora; o ex-major Aílton Barros e uma longa lista de militares delinquentes que agem como milicianos fardados.

A CPI poderá inquirir, também, muitos delinquentes civis profundamente implicados com os atentados.

Nesse rol, se enquadram o ministro do TCU Augusto Nardes, que se reunia na caserna e conhecia de perto a conspiração; assim como Anderson Torres, parlamentares, ativistas digitais bolsonaristas e empresários financiadores do terrorismo.

E, por óbvio, o banquete de depoimentos de elementos criminosos abarca, naturalmente, o miliciano-chefe e seu clã.

Se pudessem voltar no tempo, é provável que os fascistas teriam desistido da péssima ideia de CPI. A estratégia rocambolesca poderá dar muito errada.

Se a CPI dos atos golpistas for de fato instalada, a extrema-direita ficará ainda mais desnuda, com suas vísceras golpistas totalmente expostas.

Leia também:

Instalação da CPI é tentativa de criminalizar o MST e pressionar o governo, denuncia o Movimento; nota

Jeferson Miola: Oligarquia quer que Lula governe com o programa da barbárie derrotado na eleição


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Zé Maria

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E a do MST também.
https://mst.org.br/quem-somos

“Maior produtor de arroz orgânico da América Latina,
MST cultiva alimentos sem veneno no país
que voltou ao mapa da fome”

“Atualmente existem 160 cooperativas,
1900 associações e 120 unidades
de agroindústria do MST no Brasil”

Arroz, feijão, café, laticínios e mais:
conheça as principais linhas
de produção do MST

[Reportagem: Gabriela Moncau | Brasil de Fato | 11/12/2022]

Arroz, feijão, farinha, batata, mandioca, tomate,
cenoura, hortaliças, café, leite, açúcar, queijo.

A maioria das comidas que vem à mente quando se pensa na
alimentação básica brasileira é produzida pela agricultura familiar,
que representa 76,8% dos estabelecimentos rurais no país.

Destes, boa parte são do Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST) que tem, atualmente, cerca de 450 mil famílias
assentadas pelo Brasil.

Ao longo da última década, o arroz orgânico se tornou o carro-chefe
das linhas de produção do Movimento.

De acordo com o Instituto Riograndense do Arroz (IRGA),
órgão vinculado ao governo do Rio Grande do Sul,
o MST é o maior produtor de arroz sem veneno
da América Latina.

A Ruptura com o Veneno

Como explica Milton Fornazieri, Dirigente Nacional do Setor de Produção
do Movimento, “nada é por acaso”:
a marca alcançada é fruto de uma escolha tomada no final dos anos 1990.

Desde a criação dos primeiros assentamentos do MST no Rio Grande do Sul,
na década de 1980, as famílias que ocuparam as chamadas terras baixas,
principalmente na região metropolitana de Porto Alegre, passaram a cultivar
arroz.

“Mas dentro do modelo do pacotão fornecido pelas grandes distribuidoras
de veneno e adubo químico”, conta Fornazieri.

Em 1998, com a constatação da degradação ambiental deste modelo,
o alto gasto em insumos e inseticidas e casos de adoecimento,
opta-se por plantar, experimentalmente, arroz sem veneno
em um assentamento, a ser consumido pelas próprias famílias
agricultoras.

“Com essa primeira experiência, se tiram aprendizados.
E então, a partir da direção do MST, se toma a decisão política
de largar o veneno e produzir o orgânico.
Ainda em 1998, 1999”, lembra Fornazieri.

“É um processo longo, de muito estudo, muito conhecimento,
que vem se transformando.”

“A agroecologia não é uma transição. É uma ruptura.
Uma ruptura com o sistema convencional.
Porque você não consegue fazer meia agroecologia”,
enfatiza Nelson Krupinski, presidente da Cooperativa
dos Trabalhadores Assentados da região de Porto Alegre
(Cootap).

A cooperativa integra, junto com outras do Rio Grande do Sul
e do Paraná, o Grupo Gestor do Arroz Orgânico do MST.

ARROZ & FEIJÃO

A estimativa do Grupo Gestor é que a colheita do próximo ano
seja de 16.250 toneladas de arroz orgânico.

A produção é feita por 380 famílias distribuídas em 17 assentamentos
e organizadas em nove cooperativas da Reforma Agrária.

As principais Marcas de Arroz do Movimento são “Terra Livre”,
“Raízes do Campo” e “Campo Vivo”.

As principais variedades plantadas são agulhinha:
Epagri 108, Epagri 118, Irga 417, BR Irga 409, Irga 422,
BRS Pampa e BRS Pampeira.

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Martielo Webery é engenheiro agrônomo, nasceu e se criou
no Assentamento Segredo Farroupilha, na cidade de
Encruzilhada do Sul (RS) e trabalha na área da comercialização
da Cootap.

“A cooperativa financia os agricultores para fomentar a produção,
aí eles colhem seus frutos, nos entregam, a gente processa
e comercializa”, descreve.

“Uma das partes mais complicadas é a comercialização.
Nosso público dos assentamentos, se chegar e pedir
para produzir seja qualquer que for o produto,
de norte a sul do país, vão produzir”, avalia Martielo.
“Só que nosso povo [produtor] ainda não tem toda
a expertise de comercialização.
Que hoje é onde a cooperativa atua de forma mais firme:
organizar os produtos que temos dentro dos assentamentos
e disponibilizar para a sociedade”, diz.

O arroz orgânico do MST é produzido na região Sul do país
e tem o mercado institucional como seu maior comprador,
em especial no estado de São Paulo, com destaque para
a prefeitura da capital paulista, que destina o arroz
sem agrotóxicos para as merendas escolares.

Já o feijão, que forma com o arroz o prato símbolo do país,
é também cultivado em grande escala pelo MST nas
regiões Sul e Sudeste, em especial em São Paulo e
no Paraná.

A produção de cerca de 100 mil toneladas por ano,
no entanto, enfrenta sérios desafios.

‘Commodities’ avançam, alimentos retraem

Basta ter ido ao mercado nesses últimos quatro anos
para constatar que o governo Bolsonaro foi marcado
por um salto inflacionário nos alimentos básicos,
dos quais não escaparam o arroz e o feijão.
O primeiro chegou a subir 75% em 2020
e o feijão preto, 45,3%.

O empobrecimento da população no contexto pandêmico,
o desmonte de políticas públicas voltadas à alimentação
e à agricultura familiar – como o Programa de Aquisição
de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação
Escolar (PNAE) – e, por outro lado, as facilidades de
financiamento para a produção de soja e milho transgênicos
para a exportação criaram uma combinação difícil para os
agricultores familiares enfrentar.

Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab),
os grãos que enchem a barriga da população seguem
perdendo espaço para as ‘commodities’ comercializadas
no exterior. A projeção de novembro da próxima safra de
grãos é de 313 milhões de toneladas.
Desse montante, o arroz e o feijão são só 4,3%.

“Passamos por um momento difícil”, atesta Webery.

“Mas esperamos que no próximo período possamos
melhorar essa situação”, afirma, em frente à barraca
da cooperativa, visitada por milhares de pessoas
ao longo do Festival da Reforma Agrária, realizado
no começo de dezembro em São Paulo:
(https://youtu.be/nKEcUIO9qaQ).

CAFÉ, LEITE & CACAU

Rondônia, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais e Paraná
são os estados onde, distribuídas em 120 territórios
da reforma agrária, 5.000 [cinco] famílias produzem
os cafés do MST.
O mais recente lançamento é um do extremo sul baiano
que, agroecológico e “cultivado com muita luta”,
como diz a embalagem, é da Marca “Terra Justa”,
que já tem tradição na produção de chocolate,
desde o plantio do cacau.

Enquanto isso, no Sul e Sudeste vivem 5,5 mil famílias
assentadas do MST produtoras de leite.
Os laticínios – somando produtos como queijo, iogurte,
manteiga e requeijão – beneficiam 37 milhões de litros
de leite por mês, alimentando, neste período, cerca de
três milhões de pessoas.

Uma das muitas marcas dedicadas a produzir laticínios,
mas também arroz, feijão, hortaliças, verduras, tubérculos,
frutas, entre outros, é a “Produtos da Terra”, criada em 2016
e gerida pela Cooperativa Central da Reforma Agrária
do Paraná (CCA).

“Completamos seis anos agora.
Foi crescendo, crescendo, agora a gente está
com um espaço maior, com dois caminhões
e mais ou menos 200 produtos”,
sorri Vitória Gonçalves, Comunicadora
da “Produtos da Terra”.

“Logo, se Deus quiser, a gente vai abrir o primeiro
‘Armazém do Campo’ do MST em Curitiba”, conta.

Também presente no Festival da Reforma Agrária
em São Paulo, Vitória Gonçalves ficou responsável
por comercializar itens que compõem outra das
principais linhas de produção do movimento:
os derivados da cana. Só na CCA, a produção é de
40 toneladas de açúcar mascavo e oito toneladas
de melado de cana a cada mês, além de uma
produção anual de 15 mil litros de cachaça natural.

HORTALIÇAS, VERDURAS

Nascida em uma família de ativistas do MST, Vitória,
aos 21 anos, já viveu em diferentes acampamentos
no Paraná.
Atualmente mora em Curitiba para trabalhar na
cooperativa e sua mãe vive no Acampamento
Padre Roque, no município de Castro (PR).

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Daniela Ferreira tem trajetória diferente.
Entrou no movimento já adulta, mãe de cinco
crianças.
Antes, morava na região periférica da cidade
de Pindamonhangaba (SP).

“O nosso acesso à alimentação orgânica era nenhum.
Tudo o que a gente consumia era com veneno –
e quando dava. Porque o preço, até com veneno,
era muito caro para uma família do tamanho da nossa”,
conta.

Preocupada com a alimentação de seus filhos, em 2015
ela se muda com a família para o Assentamento Egídio
Brunetto, referência da produção agroecológica do MST,
localizado na cidade de Lagoinha (SP), no Vale do Paraíba.

“Quando a gente foi para o campo, a gente teve a oportunidade
de plantar, produzir alimentos saudáveis a baixo custo, não só
para os meus filhos, como para os filhos dos outros também.
Agora a gente tem uma variedade para comer, beneficiar, vender,
doar”, afirma Daniela, ao lado de maços de salsinha, alface, rúcula
e berinjela.

“Fazemos nossas safras e as primeiras culturas são as hortaliças.
Depois vai ficando assombreado e a gente vai abrindo novas áreas,
rotacionando os canteiros e aproveitando ao máximo, consorciando
dois, três tipos de hortaliças diferentes no mesmo canteiro”, expõe
Daniela.

“A gente posta quinzenalmente tudo o que produzimos, os clientes
fazem as compras e a gente vai entregar em Ubatuba (SP), Ilhabela (SP),
Pindamonhangaba (SP) e Taubaté (SP)”, conta.

Assim como o assentamento de Daniela, muitos outros pelo país,
além de acampamentos, cooperativas e armazéns do MST
organizam os chamados Grupos de Consumo, entregando cestas
agroecológicas para quem se interessar em se alimentar da (ainda minoritária) “comida sem veneno”.

Edição: Rodrigo Durão Coelho.

https://www.brasildefato.com.br/2022/12/11/arroz-feijao-cafe-laticinios-e-mais-conheca-as-principais-linhas-de-producao-do-mst
.

Leia também:

[Governo Bosonaro]

Com queda de 95% em 8 anos, PAA
Programa de Aquisição de Alimentos
– criado no Governo LULA em 2003
dentro da política de combate à fome –
chega a menor nível no Governo Bolsonaro

Em 2012, foram atendidas pelo Programa
de Aquisição de Alimentos da Agricultura
Familiar (PAA) mais de 128 mil famílias
agricultoras pertencentes aos grupos do
Programa Nacional de Fortalecimento
da Agricultura Familiar (Pronaf).
Em 2019, o número caiu para um total de
menos de 6 mil agricultores familiares.

Em relação ao orçamento federal
executado, a queda foi similar: 93%.

No auge do PAA em 2012,
foram executados R$ 587 milhões
na comercialização de 297 mil
toneladas de alimentos produzidos
por 128.804 famílias agricultoras
Em 2019, primeiro ano do Governo
de Jair Bolsonaro, passou para
R$ 41,3 milhões, valor mais baixo
desde a criação do programa
em 2003 dentro da política de
combate à fome do governo de
Luiz Inácio Lula da Silva.
E das 297 mil toneladas de alimentos
comercializadas pelo programa em 2012
o número despencou para apenas 14 mil
em 2019.

https://www.brasildefato.com.br/2020/10/29/com-queda-de-93-em-8-anos-aquisicao-de-alimentos-chega-a-menor-nivel-com-bolsonaro
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“Alimentação em xeque:
produção de feijão perde espaço para soja;
cenário inflaciona produto”

https://www.brasildefato.com.br/2022/02/06/alimentacao-em-xeque-producao-de-feijao-perde-espaco-para-soja-cenario-inflaciona-produto

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