Jeferson Miola: Com bandeira da anistia, extrema-direita se posiciona uma conjuntura à frente

Tempo de leitura: 3 min
Ilustração: Nando Motta

Com bandeira da anistia, extrema-direita se posiciona uma conjuntura à frente

Por Jeferson Miola, em seu blog

O ato na avenida Paulista organizou a estratégia de luta da extrema-direita para o período imediato, que tem no horizonte as condenações e prisões do Bolsonaro, de alguns dos generais e oficiais implicados, e outras lideranças do golpe.

Com a bandeira da anistia, a extrema-direita se posiciona, portanto, uma conjuntura à frente, inclusive devendo politizar a eleição municipal com este debate.

Dada a robustez das provas incriminadoras, a intelligentsia bolsonarista sabe que, a essa altura dos acontecimentos, a prisão da liderança golpista é apenas uma questão de tempo; de quando vai acontecer.

Portanto, é plausível se considerar que Bolsonaro não discursou na Paulista para se defender do indefensável ou para reverter o irreversível, mas com o objetivo de armar a extrema-direita para essa nova conjuntura que se avizinha, pós-prisões.

Neste sentido, a proposta de anistia não tem o objetivo imediatista de constranger o STF a suspender os julgamentos e condenações em andamento, inclusive a dele próprio, Bolsonaro, e de alguns oficiais graúdos, mas funciona como palavra de ordem para articular, mobilizar e colocar em movimento a extrema-direita na próxima conjuntura.

Com uma retórica cínica, Bolsonaro inverte os papéis e responsabiliza o governo e o STF pela inviabilização do entendimento nacional e da pacificação do país devido às condenações que ele e os bolsonaristas delirantemente consideram injustas e ilegítimas.

Há quem tenha enxergado desespero e covardia do Bolsonaro, que teria recuado para evitar mais complicações com a polícia e a justiça. Não parece, no entanto, ser este o caso.

A moderação do discurso não teve só o objetivo de evitar a autoincriminação. Parece ter sido estratégia para produzir a narrativa cândida e sóbria de um inocente que é perseguido pelo sistema e está sendo injustamente punido.

O general-senador Hamilton Mourão, “líder do Alto Comando do Exército no Senado”, é autor de projeto de outubro de 2023 que anistia todos que “tenham sido ou venham a ser acusados ou condenados” pelos crimes tipificados nos artigos 359-L e 359-M do Código Penal – tentativas de abolição do Estado de Direito e de deposição de governo legitimamente constituído [grifo meu].

A iniciativa tem potencial de agitar o clima político, catalisar a mobilização do extremismo e amplificar a polarização social. Quase um milhão de pessoas já se manifestaram a favor ou contra o Projeto de Lei no site do Senado em poucas horas.

Como a medida beneficiaria políticos, parlamentares, empresários, funcionários públicos, comunicadores, policiais, populares e, obviamente, os militares, o Congresso sofrerá uma pressão poderosa.

Pressionadas pelas fileiras e por delinquentes fardados da alta hierarquia, as cúpulas militares farão um lobby pesado, com fortes ameaças e pressões sobre deputados e senadores.

A aprovação da anistia pela maioria de direita e extrema-direita do Congresso é uma hipótese realista.

As chances de isso acontecer são ainda maiores na Câmara, fator que aumentará o preço a ser pago pelo governo Lula pelas chantagens e achaques do Arthur Lira.

Qual o cenário do Brasil no caso de aprovação da anistia pelo Congresso? E na eventualidade de o STF declarar sua inconstitucionalidade?

É imponderável, mas não se pode descartar um ambiente de caos, de conflitos políticos e institucionais e recrudescimento das ameaças militares diante da impunidade.

A militância extremista se sentirá ainda mais empoderada e autorizada a continuar esgarçando o Estado de Direito com padrão crescente de violência política.

Essa militância, que na quase totalidade acredita que o TSE fraudou a eleição para eleger Lula [88%], e entende que há uma ditadura do STF no Brasil [94%], considerará que os atos terroristas em Brasília em dezembro de 2022 e os atentados de 8 de janeiro de 2023 foram não só legítimos, como também legais, porque praticados em reação à eleição “roubada”..

As organizações sociais, partidárias, os movimentos do campo democrático, os setores liberais comprometidos com a democracia, a esquerda e o progressismo precisam urgentemente se unir e acumular forças para construir uma potente reação democrática a esta ofensiva da ultradireita e dos fascistas.

A rememoração dos 60 anos do golpe militar em 31 de março representa uma oportunidade para o lançamento da luta democrática prioritária neste momento histórico, e que se organiza em torno das consignas Ditadura Nunca Mais!, e Sem Anistia!.

Leia também

Paulo Nogueira Batista Jr: A força da extrema direita e os desafios da esquerda; vídeo

Altamiro Borges: Bolsonaro mostra força, mas pede arrego

Jeferson Miola: Ato na Paulista organizou estratégia de luta da extrema-direita

Lelê Teles: Lady Gada, Malafaia e a evangelização da política


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

.
.
9 dos 13 Governadores Eleitos pelo ex-Presidente o abandonam;
apenas 4 compareceram à Avenida Paulista no Ato Pró-Bolsonaro.

[ Reportagem: Igor Carvalho | Brasil de Fato: https://t.co/Ko5thKk9cC ]

Dos 13 Governadores Bolsonaristas Eleitos em 2022, apenas
4 (quatro) compareceram ao ato de domingo (25), na Paulista,
em São Paulo (SP), em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Os Aliados Bolsonaristas Presentes na Capital Paulista foram
Ronaldo Caiado (GO), Romeu Zema (MG), Jorginho Mello (SC)
e Tarcísio de Freitas (SP).

Os 9 (Nove) Governadores que não compareceram à manifestação
para demonstrar apoio ao ex-presidente foram Ratinho Jr (PR),
Cláudio Castro (RJ), Ibanêis Rocha (DF), Eduardo Riedel (MS),
Mauro Mendes (MT), Gladson Camelli (AC), Wilson Lima (AM),
Marcos Rocha (RO), Antonio Denarium (RR) e Wanderley Barbosa (TO).
.
Tarcísio de Freitas (SP), que abrigou Jair Bolsonaro e a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro na Residência Oficial do Governador de São Paulo,
o Palácio dos Bandeirantes, falou em Nome dos 4 (quatro) mandatários
que estavam no ato.

https://twitter.com/BrasilDeFato/status/1761837129855127842
.
.
Deputada do PSoL/SP pede investigação sobre Estadia de Bolsonaro
no Palácio Bandeirantes, Sede do Governo do Estado de São Paulo.

Deputada Federal Erika Hilton (PSoL/SP) Pediu Investigação
dos Gastos Públicos Despendidos pelo Erário Estadual de SP
na Gestão Tarcísio de Freitas com Hospedagens do ex-presidente
Jair Bolsonaro (PL) e da ex-primeira-dama Michelle na Residência
Oficial do Governador Paulista.

A Líder do PSOL na Câmara alega que a Estadia do ex-Presidente
na Residência Oficial do Governador de São Paulo viola o princípio
da impessoalidade e gera Despesas que Não Atendem ao Interesse
Público.
https://twitter.com/correio/status/1762298639441965546
.
.
“AÇÃO DE DESPEJO CONTRA BOLSONARO
Eu e a @AmandaPasc38283 entramos com processo para encerrar
as estadias de Bolsonaro no Palácio dos Bandeirantes.
O Palácio dos Bandeirantes é um prédio público, e a estadia de
Bolsonaro representa gasto injustificado do Governo do Estado SP.”
https://twitter.com/ErikakHilton/status/1762265119260549279

“Tarcísio colocou em SIGILO os dados sobre os custos e gastos
do dinheiro público para hospedar Bolsonaro no Palácio do Governo
de SP durante evento político.
Tal como Bolsonaro fazia com seus gastos de cartão corporativo.”
https://twitter.com/ErikakHilton/status/1762266268978037064

Zé Maria

A Extrema-Direita atua visando,
primeiro, a Resultados imediatos,
para conquistar o Poder e, depois,
a se perpetuar nele, à Força Bruta.

Deixe seu comentário

Leia também