Jean Wyllys: Aécio é conservadorismo moral com economia ultraliberal

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Política

Eleições 2014

Carta para além do muro (ou por que Dilma agora)

Aécio representa uma coligação de partidos de ultradireita, com uma base ainda mais conservadora que a do governo Dilma no Parlamento.

por Jean Wyllys — publicado 08/10/2014 21:37, última modificação 08/10/2014 22:42

da CartaCapital

O muro não é meu lugar, definitivamente. Nunca gostei de muros, nem dos reais nem dos imaginários ou metafóricos.

Sempre preferi as pontes ou as portas e janelas abertas, reais ou imaginárias. Estas representam a comunicação e, logo, o entendimento.

Mas quando, infelizmente, no lugar delas se ergue um muro, não posso tentar me equilibrar sobre ele. O certo é avaliar com discernimento e escolher o lado do muro que está mais de acordo com o que se espera da vida.

O correto é tomar posição; posicionar-se mesmo que a posição tomada não seja a ideal, mas a mais próxima disso.

Jamais lavar as mãos como Pilatos – o que custou a execução de Jesus – ou sugerir dividir o bebê disputado por duas mães ao meio.

Sei que cada escolha é uma renúncia. E, por isso, estou preparado para os insultos e ataques dos que gostariam que eu fizesse escolha semelhante às suas.

Por respeito à democracia interna do meu partido, aguardei a deliberação da direção nacional para dividir, com vocês, minha posição sobre o segundo turno. E agora que o PSOL já se expressou, eu também o faço.

Antes de mais nada, quero dizer que estou muito feliz e orgulhoso pelo papel cumprido ao longo de toda a campanha por Luciana Genro.

Jamais um(a) candidato(a) presidencial tinha assumido em todos os debates, entrevistas e discursos – e, sobretudo, no programa de governo apresentado – um compromisso tão claro com a defesa dos direitos humanos de todos e de todas.

Luciana foi a primeira candidata a falar as palavras “transfobia” e “homofobia” num debate presidencial, além de defender abertamente o casamento civil igualitário, a lei de identidade de gênero e a criminalização da homofobia nos termos em que eu mesmo a defendo; mas também foi a primeira a defender, sem eufemismos, as legalizações do aborto e da maconha como meios eficazes de reduzir a mortalidade da população pobre e negra, a taxação das grandes fortunas, a desmilitarização da polícia e outras pautas que considero fundamentais.

O PSOL saiu da eleição fortalecido.

Agora, no segundo turno, a eleição é entre os dois candidatos que a população escolheu: Dilma Rousseff e Aécio Neves. E eu não vou fugir dessa escolha porque, embora tenha fortes críticas a ambos, acredito que existam diferenças importantes entre eles.

A candidatura de Aécio Neves – com o provável apoio de Marina Silva (e o já declarado apoio dos fundamentalistas MAL-AFAIA e Pastor Everaldo; do ultrarreacionário Levy Fidélix; da quadrilha de difamadores fascistas que tem por sobrenome Bolsonaro e do PSB dos pastores obscurantistas Eurico e Isidoro) – representa um retrocesso: conservadorismo moral, política econômica ultraliberal, menos políticas sociais e de inclusão, mais criminalização dos movimentos sociais, mais corrupção (sim, ao contrário do que sugere parte da imprensa, o PT é um partido menos enredado em esquemas de corrupção que o PSDB), mais repressão à dissidência política e menos direitos civis.

Mesmo com todos as críticas que eu fiz, faço e continuarei fazendo aos governos do PT, a memória da época do tucanato me lembra o quanto tudo pode piorar.

Por outro lado, Aécio representa uma coligação de partidos de ultradireita, com uma base ainda mais conservadora que a do governo Dilma no Parlamento.

Esse alinhamento político-ideológico à direita entre Executivo e Legislativo é um perigo para a democracia.

Vocês, que acompanham meus posicionamentos no Congresso, na imprensa e aqui sabem o quanto eu fui crítico, durante esses quatro anos, das claudicações e recuos do governo Dilma e do tipo de governabilidade que o PT construiu.

Mas sabem, também, que tenho horror a esse antipetismo de leitor da revista marrom, por seu conteúdo udenista, fundamentalista religioso, classista e ultraliberal em matéria econômico-social.

Considero-o uma ameaça às conquistas já feitas, que não são todas as que eu desejo, mas existem e são importantes, principalmente para os mais pobres.

As manifestações de racismo e classismo que vi nos últimos dias nas redes sociais contra o povo nordestino, do qual faço parte como baiano radicado no Rio, mais ainda me horrorizam.

Por isso, aderindo à posição da direção nacional do PSOL, que declarou “Nenhum voto em Aécio”, eu declaro que, neste segundo turno das eleições, eu voto em Dilma e a apoio, mesmo assegurando a vocês, desde já, que farei oposição à esquerda ao seu governo (logo, uma oposição pautada na justiça, na ética, nas minhas convicções e no republicanismo), apoiando aquilo que é coerente com as bandeiras que defendo e me opondo ao que considero contrário aos interesses da população em geral e daqueles que eu represento no Congresso, como sempre fiz.

Hoje, antes de dividir estas palavras com vocês, entrei em contato com a coordenação de campanha da presidenta Dilma para antecipar minha posição e cobrar, dela, um compromisso claro com agendas mínimas que são muito caras a mim e a todas as que me confiaram seu voto.

E a presidenta Dilma, após argumentar que pouco avançou na garantia de direitos humanos de minorias porque, no primeiro mandato, teve de levar em conta o equilíbrio de forças em sua base e priorizar as políticas sociais mais urgentes, garantiu que, desta vez, vai:

1. fazer todos os esforços que lhe cabem como presidenta para convencer sua base a criminalizar a homofobia em consonância com a defesa de um estado penal mínimo;

2. fazer todos os esforços que lhe cabem como presidenta para mobilizar sua base no Legislativo para legalizar algo que já é uma realidade jurídica: o casamento CIVIL igualitário (ela ressaltou, contudo, que vai tranquilizar os religiosos de que jamais fará qualquer ação no sentido de constranger igrejas a realizarem cerimônias de casamento; a presidenta deixou claro que seu compromisso é com a legalização do CASAMENTO CIVIL – aquele que pode ser dissolvido pelo divórcio – entre pessoas do mesmo sexo);

3. realizar maior investimento de recursos nas políticas de prevenção e tratamento das DSTs/Aids, levando em conta as populações mais vulneráveis à doença;

4. dar maior atenção às reivindicações dos povos indígenas, conciliando o atendimento a essas reivindicações com o desenvolvimento sustentável;

5. e implementar o Plano Nacional de Educação (PNE) de modo a assegurar a todos e todas uma educação inclusiva de qualidade, sem discriminações às pessoas com deficiências físicas e cognitivas, LGBTs e adeptos de religiões minoritárias, como as religiões de matriz africana.

Por tudo isso, sobretudo por causa desse compromisso, eu voto em Dilma e apoio sua reeleição. Se ela não cumprir serei o primeiro a cobrar junto a vocês.

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Mailson

O mais recente filme do cineasta Silvio Tendler

Lançado hoje (09), “Privatizações: a Distopia do Capital”, o mais recente filme do cineasta Silvio Tendler, pretende pautar a sociedade brasileira com uma única questão: o que esperamos do futuro?

https://www.youtube.com/watch?v=A8As8mFaRGU

A perspectiva da produtora responsável, a Caliban, e dos realizadores é promover o debate em todas as regiões do país como forma de avançar “na construção da consciência política e denunciar as verdades que se escondem por trás dos discursos hegemônicos”, afirma Silvio Tendler.

“Imagine cidadão, que o ar que você respira agora no Raso da Catarina pode estar sendo vendido em Cingapura ou as águas do rio Amazonas, que há milênios correm no mesmo leito, passarão a ser chamadas de blue gold – ouro azul – e passariam à propriedade de meia dúzia de empresas que vão tentar te convencer que a água paga é melhor do que o livre acesso de água para todos”, questiona um dos trechos do filme.

Afonso Nascimento

O grande problema do Pt e Governo Dilma, foi a ligação circunstancial com um PMDB dividido e o principal foi em julho do ano passado trazer para a discussão com os partidos de esquerda já s e preparando para abandonar uma postura insossa de usar o Centro do partido que agora já discute apoio a Aercio no Rio Grande do Sul. O PT que nasceu de um processo agudo da luta de classe no Brasil, poderá se torna um PFL da vida por não ouvir pessoas como você, parabéns pela postura e reeleição e a luta continua…

Tatiana

Sensacional. Parabens jean, estou feliz de, entre tanta idiotice na internet, alguém possa se expressar de forma honesta, baseado sua opinião na verdade. Sem ser raso e oportunista, como tudo que se vê por ai.

Urbano

O aéreo never representa o mal de A a Z tanto para o Brasil, quanto para o seu povo… Só quem vota nele são os seus iguais.

Pereira

Aécio hoje, na minha opinião, é inimigo número 1 do GLBT. Um homem que está cercado de apoio de toda a Ala homofóbia do País com certeza fala a mesma língua. Meus Deus, a eleição desse homen será o caos, é o fim do 13o. salário, do fundo de garantia, bolsa família em sério risco, será greve e manifestação sem parar. Será do tipo eu era feliz e não sabia.

Wladimir

Parabéns Deputado! Embora não concorde em parte com a linha do seu partido, sempre se pautou pela coerência e firmeza de suas posições! Sucesso em seu novo mandato!

Sergio Govea.

Ontem, pouco antes do início da reunião, eu fui à sede do PSB e deixei lá uma carta ao Dr. Amaral.

Na carta, eu expressei frustração e escrevi que me sentia esbofeteado pelo partido.

O PSB não soube conter Eduardo Campos, na sua sanha de poder inconsequente.

Agora, surgem montanhas de fatos incontestes que desnudam o que foi , verdadeiramente, o governo do PSB em Pernambuco.

O que se percebe é a falta de comando e a anuência à vontade de se tornar um partido hegemônico, jogando no esgoto nomes ilustres e toda uma história.

É isso aí. O PSB cometeu suicídio político , a exemplo do PPS.

Sergio Govea.

    Ester Ligória – BH

    Você disse uma coisa certíssima, Sérgio, a sanha de poder inconsequente de Eduardo Campos o levou a morte prematura. Foi tudo uma lástima. Deixasse ao curso natural… era o candidato para presidente em 2018 de Lula. O PT e o PSB até então andavam alinhados. Agora o PSB perdeu completamente o rumo. Espero que Renata Campos e os filhos não se deixem levar pela onda de direita que virou o partido.

    Em tempo: Parabéns Jean Wyllys pela sua lucidez e coerência.

    ana s.

    “Espero que Renata Campos e os filhos não se deixem levar pela onda de direita que virou o partido.”

    Já se deixaram. Aliás, aqui em Pernambuco eles lideram essa onda da maneira mais raivosa possível. “Esquecem” que grande parte do prestígio angariado por Eduardo junto ao eleitorado deve-se ao apoio decisivo que seu governo recebeu do governo federal. Falta caráter a essa gente.

L@!r M@r+e5

Posição muito coerente. Parabéns Jean Wyllys!

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