Janio de Freitas: Queda brutal da aprovação de Dilma exprime a gigantesca repulsa à sua política econômica
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Foto: Agência Brasil
Fora do lugar
DOM, 06/09/2015 – 12:40
por Janio de Freitas, na Folha de S. Paulo
Se Dilma não pode “resistir por três anos e meio com esse índice baixo” de popularidade, aí está uma hipótese feita por seu vice Michel Temer; que Dilma Rousseff não pode melhorar seu índice de aprovação com a atual política econômica e social, isto é uma realidade.
Do ponto de vista ético, o vice que se diz aliado não poderia fazer, para um auditório de adversários extremados da presidente, as declarações que Michel Temer lhes presenteou. Como conduta pessoal e dever político, não importa quem sejam o vice aliado e o presidente: é ato de aliado desleal. Ainda mais por ser apresentada como certeza, a hipótese de Temer inclui o estímulo indireto de mais hostilidades públicas à sua aliada.
Não termina aí. Temer opinou que Dilma, sendo “uma guerreira”, parece-lhe avessa a renúncia. Ou seja, não termina o mandato sem melhorar a popularidade e não renuncia: Temer fala, sem dizer, em derrubada.
Há um mês, o vice aliado disse ser “preciso alguém com capacidade de unir a todos”. Muitos comentaristas e, claro, o PT acharam que estava se propondo à sucessão imediata. Vê-se que tal papel de unificador não lhe fica bem.
Mas o índice é uma linguagem. Mesmo com as ressalvas que as estatísticas possam merecer, a queda brutal da aprovação a Dilma exprime a dimensão gigantesca da repulsa à sua política econômica e, portanto, também social. E seus efeitos estão só no começo. Como, de resto, estão as próprias medidas apregoadas por Joaquim Levy.
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Parece não haver, em Dilma e na equipe central do governo, nem a menor percepção desse problema. Dilma está preocupada e ocupada com a Câmara, com os partidos, com os cargos reivindicados na chantagem de líderes de bancadas. Mas tudo isso é efeito. O seu problema fundamental está na política econômica e na maneira como (não) é conduzida. Uma e outra não aprovadas por absolutamente ninguém. O pequeno grupo de empresários que pleiteou a permanência de Levy, nos últimos dias, deixou perceptível a ação por medo de agravarem-se ainda mais, na área econômica, a sinuosidade da condução e a obscuridade das medidas vindouras.
Mesmo para a opção por uma política econômica neoliberaloide, como Dilma quis, Joaquim Levy e Alexandre Tombini, no Banco Central, são as pessoas convenientes? Oito meses, dois terços do ano, de respostas insuficientes ou contrárias ao esperado – como dito pelo próprio Joaquim Levy – indicam que não. E atribuir as dificuldades à Câmara é fácil, mas pouco verdadeiro. A perplexidade, os desencontros e a falta de criatividade na condução econômica é que proporcionam espaço e clima para as saliências da Câmara. Quando percebem segurança e clareza, com o consequente apoio de setores influentes, os congressistas não desafiam nem abusam.
O problema fundamental de Dilma Rousseff está onde ela supõe estar a solução.
LAVA JATO
Para entregar esta coluna na sexta-feira, não houve tempo de repassar com cuidado a exposição do procurador Deltan Dallagnol, feita naquele dia, sobre os novos 17 acusados da Lava Jato. Na transmissão ao vivo, a exposição se mostrou coerente. E grave pelos fatos mencionados. Em particular, para José Dirceu.
A impossibilidade de um comentário sobre o exposto por Dallagnol não impede, porém, a reiteração do já dito aqui muitas vezes: para uma visão mais segura, esperemos pela apresentação de provas, que a delação não faz.
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