Jair de Souza: A função da linguagem na construção do autoengano bolsonarista

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Fotos: Reprodução de rede social e Fernando Martins/Ponte

A função da linguagem na construção do autoengano bolsonarista

Por Jair de Souza*

O povo brasileiro está vivenciando um momento crucial para a história de toda a humanidade.

O porvir dos embates que estão se desenrolando em nosso país vai ser também, em grande medida, determinante para o desenlace da luta global contra o ressurgimento do nazismo.

A análise da evolução histórica do capitalismo nos mostra que o fascismo é um dos recursos extremos ao qual as forças do grande capital apelam em seus intentos de aniquilar a resistência popular em períodos de sérias crises existenciais para esse sistema de exploração social.

As peculiaridades adotadas pelo fascismo sofrem variações em função das especificidades presentes em cada povo, região ou momento em que o mesmo aparece.

No Brasil da atualidade, em razão de seu acentuado caráter racista, o fascismo apresenta-se com uma faceta mais afinada com o nazismo hitlerista do que com a vertente mussoliniana com a qual despontou na Itália.

E, sem subterfúgios, precisamos dizer:  em nossas terras tupiniquins o nazismo se incorporou adotando as formas típicas do bolsonarismo.

Para que não subsista nenhuma dúvida, o bolsonarismo é, sim, a feição com a qual a mais extremada corrente ideológica do grande capital se impôs em solo brasileiro.

Portanto, para todos os efeitos práticos, um bolsonarista pode e deve ser equiparado a um nazista.

Porém, analogamente ao que sucedeu quando o movimento comandado por Adolf Hitler começou a ganhar expressão na Alemanha, é a inoculação virulenta de um ódio cego e doentio contra certos grupos humanos o que também dá o tom na aglutinação das forças da podridão bolsonarista no Brasil.

Por aqui, a herança do colonialismo acentuou o ódio de classe a o acoplou à perfeição ao ódio de raça, uma vez que, entre nós, ser pobre e ser negro são quase que sinônimos.

Os pilares da ideologia bolsonarista, assim como os de sua inspiradora alemã, não se sustentam na verdade. No entanto, a essência de sua existência mentirosa jamais é admitida.

Em contraposição às suas principais características efetivas, o bolsonarismo costuma adotar palavras e explicações inteiramente opostas aos objetivos práticos que persegue com tenacidade.

Em outras palavras, é a hipocrisia que permeia, norteia e prevalece em tudo o que diz respeito ao bolsonarismo.

Para melhor expressar este fenômeno, vamos dar umas breves pinceladas em alguns dos principais pontos desta nefasta maneira de ver e sentir o mundo.

Reconhecidamente, os bolsonaristas estão entre os maiores entreguistas que nossa pátria já produziu.

Todos eles odeiam a mera possibilidade de imaginar que o Brasil se torne uma nação livre, independente e soberana.

Segundo eles, nosso país e nosso povo deveriam se manter inteiramente subjugados ao domínio e aos interesses das grandes potências do capitalismo ocidental, em especial, dos Estados Unidos.

Ultrapassando inclusive os desígnios de Donald Trump, os bolsonaristas cultivam irrestritamente a ideia do “America First” (“Os Estados Unidos em primeiro lugar”).

O acolhimento do termo América em referência exclusiva aos Estados Unidos é outro ponto que reforça o nível de sua submissão ideológica a seus mentores estadunidenses.

Assim, já se tornou habitual na gestão bolsonarista de governo isso de vestir a camiseta amarela da seleção, cantar o hino nacional, gritar loas à nossa pátria, ao passo que o petróleo e nossas principais riquezas naturais vão sendo entregues a grupos capitalistas estrangeiros.

Não obstante serem notórios por seu elevado grau de depravação, a começar pelo de seu expoente máximo, por sua falta de apego à moralidade ou à ética, os bolsonaristas gostam de se apresentar como paladinos da defesa das tradições familiares e dos bons costumes.

Porém, basta fazer uma sondagem pelos buscadores da internet para constatar que quase todos os casos recentes de podridão moral têm como protagonistas gente marcadamente associada ao bolsonarismo.

Apesar disto, eles persistem na afirmação de que estão engajados numa guerra sem quartel em defesa da família, da moral e dos bons costumes.

No tocante à religião, o bolsonarista é um típico inimigo de tudo o que a figura de Jesus simboliza.

Se o nome de Jesus está intrinsecamente ligado à justiça, à solidariedade, à fraternidade, à paz e ao amor, a motivação que impulsa os bolsonaristas vai em sentido diametralmente oposto.

Os bolsonaristas vivem em função do ódio, da opressão, da guerra, da injustiça e do egoísmo.

Se em seu legado de vida Jesus nos ensinou a repartir o pão e a amparar os mais necessitados, os bolsonaristas, por sua vez, cultuam a diabólica teologia da prosperidade, ou seja, aquela ideologia com a qual seus adeptos se aferram a seus mesquinhos interesses egoístas.

Em outras palavras, não existe nenhuma possibilidade de ser seguidor de Jesus tendo por base essa desumana maneira de pensar.

Nos últimos tempos, vem-se evidenciando que a base de apoio do bolsonarismo político está constituída majoritariamente por seguidores de igrejas que se dizem cristãs, tanto de denominações evangélicas como católicas.

Como admitir que um cristão de verdade seja também um bolsonarista convicto?

Há uma contradição insuperável nessas duas categorias. Assim como ninguém pode servir a Deus e ao diabo ao mesmo tempo, não existe nenhuma possibilidade de se estar bem com Jesus e com o bolsonarismo. O bolsonarismo sintetiza a perversidade contra a qual Jesus sempre lutou.

Nenhuma pessoa em sã consciência refutaria que os postulados da famigerada teologia da prosperidade vão inteiramente na contramão de tudo o que Jesus sempre pregou em sua vida.

Aqueles que se atrevem a fazer a defesa do bolsonarismo por meio do nome de Jesus sabem que estão agindo sorrateiramente para inculcar nos mais incautos valores que têm muito mais a ver com a maldade inerente ao capitalismo selvagem, com a essência do nazismo, ou seja, do bolsonarismo.

Portanto, não devemos permitir que nenhum bolsonarista possa se valer da manipulação para impor interesses que atentam contra o conjunto de nossa nação. Nosso povo aspira a um mundo de justiça, de solidariedade, de amparo aos mais carentes, de amor e de paz.

Para contribuir com a luta no rumo desses objetivos, devemos travar uma forte batalha contra os preconceitos do nazismo e de sua versão brasileira, o bolsonarismo.

Por mais que faça uso deturpado da linguagem, o bolsonarismo se caracteriza pela maldade que lhe é intrínseca.

Todos que se interessam pelo estudo da linguagem tem clareza do poder que as palavras exercem sobre nossa própria mente.

Muitas vezes, elas são empregadas com o propósito de autoengano, buscando justificar um posicionamento em favor de causas que sabemos não serem dignas.

Em vista disto, cabe a cada um de nós desmascarar a hipocrisia praticada pelos bolsonaristas na tentativa de suavizar sua consciência diante das atrocidades induzidas por suas práticas malignas.

*Jair de Souza é economista formado pela UFRJ; mestre em linguística também pela UFRJ.

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Vladimir Safatle: Anistia nunca mais

Jeferson Miola: O fascismo que habita o Brasil


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Zé Maria

Pendráivi Tropical

Charge do Aroeira
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Zé Maria

A Imprensa-Empresa Tradicional Neoliberal
incrementa o Discurso Militar AntiComunista.

Hoje, um Repórter da GloboNews, porta-voz
do Mercado e Lacaio do Patrão, chegou a dizer
que o Nome do Professor Fernando Haddad
para a Economia não é bem visto pelo tal Sr.
Mercado, porque Haddad é Economista que
tem origem na USP, de Tendência ‘Marxista’.

Não sabe o Coitado do Jornalista Ignorante
que todo Curso de Graduação e Pós-Graduação
em Economia de qualquer Universidade leciona
a Teoria Econômica Formulada por Karl Marx, que
sinala-se é um dos Maiores Filósofos da Matéria
na História Acadêmica. É Jornalismo Deste Nível:
https://twitter.com/i/status/1592808753812078592

    Zé Maria

    O Fantasma do Comunismo na Matriz:
    https://twitter.com/i/status/1594775057531813889

    Zé Maria

    Agora, os Porta-Vozes do Sr. Mercado afastaram Fernando Haddad
    do Ministério da Fazenda e nomearam o Professor para o Ministério
    do Planejamento que recriaram.

    Zé Maria

    “O primeiro mês pós-eleição de Lula já serviu
    para confirmar uma convicção antiga:
    a velha mídia age contra o país e como um
    partido de oposição a um governo popular.
    A tônica é a contínua criminalização de todo
    e qualquer ato ou situação para ensejar
    ódio contra Lula e o PT.”

    “A anomalia editorial opera simultaneamente
    com o resgate de mantras antipetistas
    (gastança, corrupção, inchaço, hegemonia)
    para ativar a horda de extremistas e omissão
    ou abrandamento em relação aos crimes
    do governo genocida moribundo para
    blindar os aliados de sempre.”

    “Esse esquema disfuncional de disputa
    do poder servil ao mercado – os donos
    reais do jornalismo corporativo – deve
    ser exposto, denunciado e evitado
    em nome da saúde social brasileira.
    E estimular uma permanente resposta
    progressista para contrapor a fabricação
    de narrativas.”

    TIAGO BARBOSA
    Jornalista, Pós-Graduado
    em História e Jornalismo.
    https://twitter.com/TiagoBarbosa_/status/1597640639382192128
    https://twitter.com/TiagoBarbosa_/status/1597640641940713472
    https://twitter.com/TiagoBarbosa_/status/1597640643547103234

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