Igor Felippe: A campanha da Folha contra a eleição de Maduro

Tempo de leitura: 6 min

Foto: Elza Fiúza/ABr

por Igor Felippe Santos, especial para o Viomundo

A Folha de S. Paulo faz uma campanha aberta contra a eleição de Nicolás Maduro para a presidência da Venezuela.

O texto “Presidente interino da Venezuela, Nicolás Maduro colecionou deslizes ao tentar emular Chávez” (12/04) é uma demonstração de reportagem editorializada.

Reparem neste trecho:

“O mandatário interino, escolhido pelo antecessor como herdeiro, colecionou deslizes em horas a fio diante das câmeras e não raro constrangeu seguidores ao tentar emular o carismático Chávez com canto, dança e piadas”.

Mandatário é uma expressão que denota autoritarismo. Herdeiro na política remete a uma Monarquia. Deslizes em horas a fio e constrangimento correspondem a ações negativas.

Depois, a repórter diz: “Maduro é favorito segundo as pesquisas de opinião, mas analistas e institutos afirmam que os dias de campanha intensa prejudicaram os números do governista”.

Em seguida, um consultor de um desses institutos de pesquisa nega os prejuízos, ao afirmar que “Maduro cometeu alguns erros, mas não muda significativamente a correlação de forças”.

Mais interessante ainda é analisar as perguntas da colunista da Folha, Mônica Bergamo, a Maduro (“Maduro no volante”, “Ilustríssima”, 7/4).
Leiam com atenção as perguntas da jornalista da Folha.

1. Como será o chavismo sem Chávez, que era formulador, estrategista e porta-voz do governo?

2. Mas 44% dos venezuelanos, que votaram na oposição nas eleições presidenciais de 2012, não estão de acordo com esse projeto. E se, agora ou no médio prazo, vocês perderem uma eleição?

3. Vocês falam muito de unidade. Mas há vários grupos no chavismo. Não pode ocorrer um racha, como houve com o peronismo na Argentina?

4. Sem a figura incontrastável de Hugo Chávez, haverá alternância na liderança do chavismo?

5. Na Venezuela, canais privados de televisão fazem campanha para o candidato de oposição à Presidência, Henrique Capriles. E canais estatais fazem campanha para o senhor. Os canais públicos são de todos. Não deveriam ser neutros?

6. A Globovisión, emissora privada de oposição, está sendo vendida a um empresário amigo do governo. E assim é possível que quase todos os meios sejam favoráveis ao chavismo.

7. Eles dizem que fizeram de tudo para eleger a oposição a Chávez, o que os levou a uma situação precária.

8. O candidato Capriles diz que não tem acesso às rádios porque as que dão abertura à oposição são perseguidas. Não é importante que as vozes divergentes tenham espaço?

9. Não há um culto à personalidade de Chávez na Venezuela?

10. A chamada “união cívico-militar” é um dos pilares do chavismo. Em um continente como a América Latina, com histórico de golpes militares, não seria melhor que as Forças Armadas estivessem afastadas do processo político?

11. No Brasil é considerado uma grande conquista o fato de as Forças Armadas não interferirem mais na política interna. Por princípio, não seria melhor que na Venezuela elas também estivessem nos quartéis e a disputa política ocorresse somente entre civis?

12. E com forte participação política?

13. O governo do ex-presidente Lula diminuiu a pobreza mas nunca falou em mudar as estruturas capitalistas da sociedade brasileira, como pregava Hugo Chávez na Venezuela. O que o senhor acha de quando colocam o “lulismo” em contraponto ao “chavismo”?

14. Não tem a esquerda boa, com Lula, e a esquerda má?

15. Mas Lula, como eu disse, não fala em mudar o capitalismo.

16. O candidato Capriles diz que o modelo dele é Lula.

17. Ele elogia Lula por combater a pobreza sem mexer no setor privado.

18. No governo Chávez, a presença do Estado avançou. Mas o setor privado ainda representa 58% da economia. Se vitoriosos, vocês vão estatizar mais empresas, mais setores? Até onde vai o que chamam de “socialismo do século 21”?

19. Há lugar então para um setor privado forte?

20. Uma burguesia vinculada fortemente ao Estado?

21. Privado integralmente?

22. Então Cuba é inspiração para o chavismo, mas não o modelo a seguir…. E está se abrindo.

23. Acredita que é possível o socialismo pela via democrática, como Salvador Allende [ex-presidente do Chile que sofreu um golpe militar em 1973] tentou, sem sucesso?

24. Se a Venezuela continuará a ter um setor privado forte, como se chegará então ao socialismo?

25. Quando Chávez morreu, a presidente Dilma Rousseff fez elogios, mas disse que em muitas ocasiões o governo brasileiro não concordou com o da Venezuela.

26. O Banco do Sul, por exemplo, do qual fariam parte os países da América do Sul, não foi aprovado ainda no Congresso brasileiro. Está lento.

27. O Brasil também não integrou a TeleSur [emissora financiada por vários países latino-americanos], o projeto do gasoduto do sul [que ligaria Venezuela, Brasil e Argentina] não andou.

28. E a refinaria Abreu e Lima [parceria da Petrobras com a petroleira venezuelana PDVSA que até agora, por divergências em relação ao financiamento, conta com recursos apenas do Brasil], como está?

29. A economia é considerada uma má herança de Chávez. A inflação é alta. Há um certo nível de desabastecimento, de 20%. E uma dependência muito grande do petróleo. Haverá ajustes no governo? E a inflação? Haverá corte de gastos?

Quase todas as perguntas têm cascas de banana embutidas.

As perguntas tentam arrancar respostas que abram margem para mostrar a fragilidade e divisão das forças que sustentam a Revolução Bolivariana com a morte de Hugo Chávez, a possibilidade de um Golpe de Estado em caso de derrota do PSUV, a ilegitimidade da participação das Forças Armadas no processo, a falta de liberdade de expressão, os problemas na economia venezuelana, as ameaças ao setor privado, críticas ao governo de Cuba, as tensões e diferenças com o presidente Lula e com o Brasil…

De certo, o papel dos jornalistas é questionar os entrevistados. No entanto, entrevistar é mais do que enfrentar o interlocutor, mas discutir temas relevantes para os leitores.

Por exemplo, fazer perguntas sobre as propostas do candidato (o que será a Venezuela daqui pra frente?).

A entrevistadora poderia também fazer um balanço das realizações do governo ao qual Maduro serviu.

Mas não tem nada sobre esses assuntos.

Nada sobre a Venezuela ser o país com menos desigualdade na América Latina, de acordo com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

Nada sobre a Venezuela ser a 4ª maior economia da América Latina, superada somente por Brasil, México e Argentina.

Nada sobre a queda da inflação, que ainda é alta, mas caiu substancialmente em comparação aos governos Andrés Pérez e Rafael Caldeira.

Nada sobre a queda no índice de desemprego, que está abaixo de 10%.

Nada sobre o projeto Gran Misión Vivienda, que construiu 350 mil casas populares, metade das quais edificada em parceria com mutirões de comunidades organizadas.

Nada sobre a erradicação do analfabetismo, que a Venezuela ostenta desde 2006, de acordo com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

Nada sobre a Missão Bairro Adentro, que tem foco na atenção de saúde integral e preventiva, e a construção de mais de 7 mil clínicas populares, 600 Centros de Diagnóstico Integral e Salas de Reabilitação Integral e mais de 20 Centros de Alta Tecnologia.

Nada sobre a ampliação do número de médicos a cada 10 mil habitantes, que subiu de 18 para 58.

Nada sobre a queda da taxa de mortalidade infantil, que desabou de 25 para 13 óbitos por mil nascidos vivos, e a garantia de acesso a água potável a 96% da população.

A Folha poderia ter feito uma única pergunta sobre esses temas. Mas não fez nenhuma. No entanto, se deram mal, porque Maduro não caiu em nenhuma das cascas de banana.

A Folha queria dar uma manchete para prejudicar o candidato do PSUV. No entanto, ele derrotou a campanha do jornal dos Frias. E as pesquisas apontam que derrotará novamente no domingo.

PS do autor: Comparem as perguntas da Folha a Maduro com as do Globo ao candidato adversário, Henrique Capriles, em entrevista publicada nesta quinta-feira.

1. O senhor foi derrotado por Chávez em outubro passado, e a oposição perdeu vários governos regionais em dezembro. Sua nova candidatura, porém, despertou muito entusiasmo em pouco tempo. Por quê?

2. Os chavistas que não se sentem representados por Maduro poderiam votar no senhor, ou o mais provável é que aumente a abstenção?

3. Qual é sua opinião sobre Maduro?

4. Alguns países da região manifestaram seu respaldo a Maduro. No Brasil, o ex-presidente Lula gravou um vídeo no qual disse que “Maduro presidente é a Venezuela que Chávez sonhou”.

5. Por que não o surpreende? Realmente não o incomodou?

6. Muitos analistas locais se perguntam o que fariam as Forças Armadas se o senhor derrotasse Maduro nas urnas…

7. Existe risco de violência depois de domingo?

8. Se o senhor vencer, convocará um governo de união nacional, com os chavistas incluídos?

9. O senhor teria o Congresso controlado pelo chavismo e, também, as principais instituições do Estado…

10. E como imagina sua relação com os demais governos da região?

11. O governo atual tem outros fortes aliados, como a Argentina…

As perguntas, um tanto simpáticas, remetem ao otimismo e entusiasmo popular com a campanha de Capriles, ao descompasso de Maduro com o chavismo, à atitude das Forças Armadas diante do resultado das eleições, ao clima de violência no país, ao governo de “união nacional” e as relações internacionais do candidato… E, mais uma vez, houve uma tentativa de obter uma crítica ao ex-presidente Lula.

Nada sobre o golpe de 2002 contra Chávez, sobre os boicotes ao governo por empresários ligados à oposição, sobre a continuidade dos programas sociais do atual governo, sobre a divisão das forças de oposição… Nada sobre qualquer tema que poderia causar algum constrangimento ao candidato.

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Comentários

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Roberto Locatelli

Sobre a questão de médicos por habitantes.

A Venezuela tem, hoje 58 médicos para cada 10 mil habitantes. Na América Latina e Caribe só é superada por Cuba, que tem 60 médicos para cada 10 mil habitantes.

O Brasil tem, teoricamente, 20 médicos para cada 10 mil habitantes. No entanto, como boa parte se concentra em bairros endinheirados das grandes capitais, na prática a população brasileira tem menos de 10 médicos por 10 mil habitantes.

maria de sobral

Tudo a ver, e a ver mais, com o enfraquecimento da esquerda na AL. Já se sentem vitoriosos com a morte de Chavez, fizeram a diferença na entrevista pra ver se caprilles leva e eles sossegam com esta ameaça da esquerda e se dedicam mais a derrubar Lula e depois vem a argentina.

FrancoAtirador

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Pergunta
Quantas eleições diretas na Venezuela serão necessárias
até que a Mídia Bandida afirme que lá há Democracia?

Resposta
Uma só: a que o candidato da Direita for o vitorioso.
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FrancoAtirador

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A Mídia Bandida Internacional, na qual se inclui a Enxovalhada de S.Paulo,

além de tentar influenciar o internamente no resultado das eleições na Venezuela,

também fez campanha para os mais de 100 mil venezuelanos que estão aptos

a votar nas embaixadas, consulados e escritórios comerciais de 88 países.

(http://www.telesurtv.net/articulos/2013/04/14/maduro-estamos-rompiendo-record-de-participacion-704.html)

Por Iolando Lourenço, da Agência Brasil

Brasília – Os venezuelanos residentes fora do país podem votar hoje (14) para escolher o sucessor do presidente Hugo Chávez, que morreu em março.

No Brasil, 1.108 venezuelanos estão cadastrados para participar da votação.
Para isso, foram montadas sete urnas, uma em cada consulado (total de seis) e mais uma na embaixada, que funciona na capital federal.

O maior número de eleitores concentra-se no consulado de São Paulo, que atende aos estados de São Paulo, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Paraná, de Mato Grosso do Sul e de Mato Grosso, e onde estão cadastradas 534 pessoas.

Em seguida, vem o consulado do Rio de Janeiro, com 358 eleitores, que vivem no Rio, em Minas Gerais e no Espírito Santo.

Em Boa Vista (RR), estão cadastrados 49 eleitores.

Na embaixada em Brasília, podem votar 98 venezuelanos.

Em Manaus (AM), estão aptos 29 venezuelanos que vivem em Rondônia, no Acre e no Amazonas.

Nos estados do Ceará, do Rio Grande do Norte, da Paraíba, de Pernambuco, de Alagoas, de Sergipe, da Bahia e do Piauí estão cadastrados 29 eleitores para votarem em Recife (PE).

Os venezuelanos aptos a votarem em Belém (PA) somam 15 e moram no Pará, Maranhão e no Amapá.

O horário de votação começou às 6h e vai até as 18h (hora de Brasília).

De acordo com a assessoria de imprensa da Embaixada da Venezuela no Brasil, o voto não é obrigatório. O processo de votação é eletrônico.

Sete candidatos se inscreveram para disputar o pleito, mas a disputa está polarizada entre o candidato governista e presidente interino Nicolás Maduro, e o oposicionista Henrique Capriles.

Edição: Carolina Pimentel

(http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-04-14/venezuela-vai-urnas-para-escolher-presidente)

Urbano

Tem que mostrar serviço aos patrões do norte…

JOTACE

É repelente a lista das indagações idiotas da pobre jornalista. Como sempre, a Folha se acocora submissa às ordens emanadas dos poderes imperiais. E a Mônica, obediente, esquece como jornalista/palangrista dos seus deveres mais elementares que é o de levar a verdade dos fatos ao conhecimento dos leitores. Ainda bem que o número deles mesmo na classe média paulista, reduto do jornal dos frias, se reduz a cada dia. Viva Chávez, Viva Maduro, Viva a Venezuela soberana!

FrancoAtirador

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AS RESPOSTAS DE NICOLÁS MADURO:

1. O presidente Chávez fundou um movimento revolucionário e de massas na Venezuela. Deu a ele uma ideologia e uma Constituição. Nosso processo revolucionário está constitucionalizado. Ele nos dotou de um corpo de doutrinas e de princípios. Nos deixou um testamento político, o programa da pátria, com objetivos de curto, médio e longo prazos. E promoveu um nível de participação e de protagonismo das amplas maiorias como nunca se viu na história da Venezuela. Estamos preparados para seguir fazendo a revolução. Ele formou um povo. Nos formou para um projeto.

2. Nós aceitamos todas as eleições que perdemos. A Venezuela tem governadores e prefeitos de oposição. Tem deputados, 40% do Parlamento. Se algum dia ganharem, coisa que eu duvido que se passe no século 21, bem, ganhariam e assumiriam a Presidência. E teriam que ver o que fazer com o país. A Venezuela tem um povo consciente e bases sólidas de país independente em vias do socialismo.

3. O movimento revolucionário nacional está unido ao redor da imagem, da espiritualidade e da ideologia de Chávez. De um projeto de pátria. Pátria grande. Está unido ao redor de uma direção coletiva que ele construiu. E ao redor da designação do comandante Chávez da minha pessoa como condutor da revolução para essa etapa. Estamos unidos.

4. Nem um ‘pitoniso’, um bruxo, um vidente, ninguém pode saber o que nos reserva o destino. O que te digo é que neste momento histórico estamos solidamente unidos. E o mundo deve saber que essa direção coletiva já passou por várias provas de fogo. Estamos prontos para a vitória em 14 de abril e para governar muito bem o nosso país.

5. Os canais públicos, em uma revolução como a que estamos vivendo na Venezuela, têm que formar o povo, educar o povo, prepará-lo para essa revolução. Têm que sair defendendo a verdade frente a uma ditadura midiática que promoveu um golpe de Estado [em 2002, as emissoras privadas apoiaram a tentativa frustrada de depor Chávez]. Foi o primeiro golpe de Estado dado por canais de televisão. É preciso buscar uma leitura mais próxima do que se passa na Venezuela. Os canais públicos têm sido o contrapeso necessário e são o sustentáculo para estabilizar a sociedade. Se tivessem desaparecido nos últimos seis anos, haveria uma guerra civil. Os canais privados nos teriam levado a uma guerra de todos contra todos.

6. Nós soubemos pela imprensa que a Globovisión estava sendo vendida. Em todo caso, é uma negociação entre empresários amigos. É problema deles, realmente. É preciso ver como termina. Quem sabe a mensagem mais poderosa da venda da Globovisión é a de que sabem que estão perdidos.

7. A Globovisión simplesmente jogou para derrubar o governo e fracassou. E o fracasso político e de comunicação os levou a um fracasso econômico. Estão quebrados, dizem eles. E simplesmente estão separados da sociedade. Sabem que vamos governar este país por muitos anos, a revolução continua. E eu creio que estão cansados já. Se cansaram, se renderam.

8. Bem, mas elas têm 80% dos meios de comunicação. Se você vai agora mesmo a qualquer lugar de Barinas e compra os jornais, verá que são privados e contra o governo. As televisões regionais, as rádios, 80% a 90% delas são contra o governo. Fazem seu negócio, vendem seu produto. Eles [oposição] têm todos os meios, nós temos um só: a consciência popular, que os derrota todos os dias. Quanto mais veneno jogam, mais as pessoas reagem. Você pode andar por qualquer lugar em Caracas. Encontrará um povo com consciência. Como se criou isso? Com a liderança do presidente Chávez, que era pedagógico, saía à rua, falava, formava as pessoas.

9. Não houve em vida e agora o que há é amor. Culto ao amor, ao agradecimento do povo a um líder que já é chamado na América de Cristo Redentor dos Pobres. Um homem que transcendeu as nossas fronteiras.

10. Nós temos Forças Armadas que resgataram os valores do libertador Simón Bolívar, que têm uma doutrina anti-imperialista e anticolonialista, latino-americana, própria. Você sabe que os EUA estão funcionando como um vampiro sedento, buscando as riquezas petroleiras e os recursos naturais do mundo com guerras, invasões. E as nossas Forças Armadas têm agora uma doutrina de defesa integral do país, das maiores reservas petroleiras do mundo. Defendem o nosso sonho, a nossa terra.
Têm uma doutrina nacionalista, revolucionária, assumiram o socialismo como causa da humanidade para construir uma nova moral. Aqui se formavam oficiais com os manuais da Escola das Américas [financiada pelos EUA], que formou as Forças Armadas latino-americanas por cem anos. Ensinavam os nossos oficiais em inglês, quase sem tradução. É uma vergonha que não ocorre mais.

11. Não, é um erro. As Forças Armadas não podem estar nos quartéis. Têm que estar nas ruas, na fábrica, nos bairros, com o povo, para poder defender a pátria. Não podem ser uma elite alijada. Não. Têm que fazer parte do mesmo povo.

12. Bom, depende do que você entende por política. O que as nossas Forças Armadas não têm é formação partidária. Você não vai ver nenhum oficial mandando votar por nenhum partido político, nem fazendo campanha por um partido.

13. Cada país tem o seu ritmo. Eu fui testemunha de pelo menos 14 reuniões do presidente Lula com o presidente Chávez. E posso te dizer que eram dois irmãos. Os dois se entendiam perfeitamente. E os dois sabiam que tanto o que Lula fazia, como grande líder do Brasil, quanto o que Chávez fazia aqui era parte de um só processo, de libertação da América Latina.

14. Tentou-se por muito tempo [dizer isso]. Em 2007, havia toda essa campanha brutal contra o presidente Chávez. E Lula propôs, para que eles não brigassem… ele dizia assim: [imitando Lula] ‘Chávess, vamos fazer uma coisa. Vamos nos reunir a cada três meses para acabar com a intriga’. E assim se fez. Foram mais de 14 reuniões a partir daí. Agora, sim, o que posso te dizer: Lula para nós também é um pai. Porque Lula é fundador das correntes de esquerda de novo tipo que surgiram nos anos 80 adiante. Nós nos inspiramos na ética de Lula, na energia dele, em sua liderança trabalhadora.

15. Cada um lidou com a circunstância histórica do seu país. E Lula empurrou o Brasil até uma grande onda progressista, de prosperidade, de desenvolvimento.

16. Para a direita pega muito mal… para uma direita que nunca trabalhou pega muito mal colocar-se ‘barba a barba’ com Lula. Lula ganhou trabalhando nos fornos da luta, da história.

17. Se há algo a dizer de Lula, Néstor Kirchner, Cristina [Kirchner] e outros líderes é que são, na essência, antineoliberais. Libertaram nossos países do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. E essa direita que trata de se colocar disfarçada de Lula é, em sua essência, privatizadora, dependente da forma neoliberal e do FMI. Não têm nada que ver com o legado nem com o patrimônio político e cultural dos valores que Lula representa.

18. O socialismo do século 21 é diverso. Tem as particularidades e está enraizado na dinâmica verdadeira de cada país. Cada um tem a sua realidade. E não podemos achar que há menos ou mais socialismo porque o nosso, o boliviano, o equatoriano, o nicaraguense ou o cubano não se parecem com as experiências da antiga União Soviética ou da Romênia.

19. A história está por ser escrita. Há espaço para investimentos que venham a desenvolver um modelo produtivo e inclusivo. Lamentavelmente na Venezuela os cem anos de modelo de rentismo petroleiro não permitiram que surgisse um capital forte. No fundamental, o capital se articulou à renda petroleira sem gerar capacidade produtiva e desenvolvimento tecnológico. Esse capital não tem visão de país, nacionalista.
É diferente do que se passou no Brasil ou na Argentina, por exemplo, que tiveram burguesias nacionais. Na Venezuela não há burguesia nacional. Nossas dificuldades são então maiores. Os setores que se dedicaram à atividade econômica privada têm laços de dependência muito forte com o capital estadunidense.
É por isso que estão em todos os processos de sabotagem da economia e da política. Quem sabe agora comece a surgir, e vem surgindo, um setor misto de capital venezuelano e de investimentos de outras partes do mundo. Capital brasileiro, argentino, uruguaio, em aliança com um novo capital privado na Venezuela.

20. Todo esse modelo está em elaboração. Nesse momento estamos fazendo um chamado e buscando instrumentos para financiar e construir setores privados que sejam nacionalistas e que nos permitam diversificar a economia.

21. Claro. Totalmente. Com financiamento, incentivo. De todos os tamanhos, pequeno, médio, grande, vinculado à tecnologia, à indústria, ao comércio. Vinculado ao capital de outras partes do mundo, Brasil, Argentina, Rússia, China. Capital estadunidense.

22. Cada um tem suas particularidades. A Cuba coube viver uma história dos anos 60, 70, muito marcada pela chamada Guerra Fria. Bem, Cuba foi contra nossos antigos modelos políticos, sociais, econômicos.
Cuba tem seu próprio processo de aperfeiçoamento do socialismo. Precisamente o bonito da Alba [Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América, integrada por países como Venezuela, Bolívia, Equador, Cuba e Nicarágua] é que nós todos temos formas diversas de economia. E diversos conceitos do que é o socialismo neste momento em cada país. E podemos andar juntos, e vamos aprendendo uns com os outros.

23. Até agora, sim, creio que é possível. Creio inclusive que, salvo se o império estadunidense ficar louco e pretender nos derrotar pela via da força, ou invadir esse país, o caminho da Venezuela seguirá sendo a democracia ampla, profunda, de amplas liberdades e transformações pacíficas, que são as que de verdade deixam raízes. Toda transformação que se dá pela via do debate democrático e da decisão popular são decisões verdadeiras que têm solidez na soberania e na consciência dos povos.

24. O socialismo tem várias dimensões. A principal delas é a espiritual, a moral, a ideológica, de transformação do ser humano. E quando o ser humano dessa sociedade, por todo processo de educação, de nova cultura, de nova prática política, de participação, de novas relações econômicas, de produção, começa a funcionar de outra forma, então existem as condições para a sociedade socialista, que supere o individualismo, o desejo de riqueza individual. E, cavalgando junto, vão as transformações para um novo modelo econômico, que supere, no caso da Venezuela, o capitalismo rentístico, especulador. E que faça as bases de uma economia produtiva, diversificada, que crie riqueza para ser distribuída através da saúde, educação, alimentação, seguridade social, para que o povo tenha níveis de vida dignos, para que se supere a pobreza definitivamente.

25. Nós integramos a Unasul [União das Nações Sul-Americanas], o Mercosul, comunidades democráticas onde se debatem ideias. E quando se debatem ideias normalmente surgem opções.

26. Você sabe que os temas que têm que ver com o parlamento sempre são lentos. Nós temos uma comissão já de caráter presidencial que reúne os delegados de cada presidente do Banco do Sul. Tudo está pronto. Só esperamos que o Congresso brasileiro o aprove para que entre em vigência de maneira rápida, automática.

27. Bem, são projetos sobre os quais têm havido debates. A TeleSur é uma linda realidade de comunicação alternativa que venceu a ditadura midiática das grandes cadeias de televisão. Quem sabe mais adiante [o governo brasileiro se integre ao projeto]. Seguramente as portas da TeleSur estão abertas para o governo da presidenta Dilma e de qualquer iniciativa que venha a fortalecê-la.

28. Não tenho os detalhes atualizados, mas sei que marcha agora melhor. E que vai ter um final feliz.

29. No dia 22 de fevereiro, conversamos por cinco horas com o presidente Chávez sobre temas econômicos. E ele disse: ‘Veja, Nicolás, estamos em uma guerra econômica’. Porque, com a enfermidade do presidente, os interesses econômicos nacionais e internacionais se lançaram a desabastecer [o país] de produtos, a especular com os preços e com o valor do dólar. Eles acreditavam numa hecatombe econômica que chegaria a uma explosão social e a uma desestabilização política. Nós estamos enfrentando. Vamos torcer o braço do dólar paralelo, vamos torcer até lá embaixo.
É um problema do funcionamento especulativo do capital. A inflação nos 14 anos antes do presidente Chávez foi de 34%. Nestes 14 anos com ele, baixou para 22%. Planejamos levá-la à metade nos próximos dez anos. Oxalá possamos chegar a um dígito.
O mais importante é que os gastos se convertam em investimento social para proteger o povo e econômico para girar riqueza no país. E isso é uma dinâmica bendita que vai gerando mudanças na estrutura econômica e vacinando o país da especulação como sistema de fixação de preços e de movimentos da economia.
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    Fabio Passos

    Excelente. Maduro deu uma sova na canalhice do PiG.
    Chupa, PiG!

    FrancoAtirador

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    Que lucidez, né cara!

    Saiu a pesquisa de boca de urna:

    NICOLÁS MADURO = 54%

    Capriles Verdolengo = 46%
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    Mais uma tomatada no rabo da Mídia Bandida.
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Rafa

Algumas pessoas que escrevem nos blogs progressistas(democraticamente, o que não é o caso da grande midia, não é mesmo?)dizem que esses blogs defemdem o governo e não falam com isenção. Essas pessoas precisam admitir que é uma questão de falar a verdade. E esses blogs criticam o governo quando discordam dele, mas tudo com a verdade e sem sofismas. Aqui queremos um país da verdade e honestidade, o que, como sabemos, não são características da grande midia, certo?

Fabio Passos

O PiG ja se tornou um partido caricato, dedicado a racistas e saudosistas de um tempo que nao volta mais… a casa-grande baba de odio e o dissemina entre parte da classe media mal formada e preconceituosa.
Ja passou da hora de um acerto de contas definitivo com as “elites” brancas que oprimem as massas no continente.

Nerson

A Folha não consegue eleger nem um vereador em Higienópolis.

Antonio Lyra Filho

Gostaria saber o porque da Folha se meter na eleição na Venezuela? Será que receber verba dos Estados Unidos para isto.

Sérgio

Chega de jornalões.
Precisamos de grandes jornais.

willian

A jornalista fez perguntas pertinentes e que todo jornalista tem que fazer. Acontece que voces convivem mal com a divergencia. Caso voces entrevistassem Capriles, nao focariam nos aspectos positivos de sua candidatura, certamente.
Mas fiquem tranquilos, Maduro vence hoje, mas uns 40% estão com a oposiçao. Serão todos da elite venezuelana?

    RicardãoCarioca

    Você não é da elite (presumo) e é eleitor da elite direitista entreguista, neoliberal, privatista, rentista e que não governa para o povo. Lunáticos existem em todos os povos.

    A Folha fez perguntas pertinentes sim, mas somente aos seus interesses empresarias e aos interesses daqueles dos quais deve obediência (banqueiros, governos conservadores estrangeiros, etc.). Por preguiça de ler o texto todo ou por deficiência em interpretação de texto, o caro não assimilou que o articulista observou tanto isso como o fato de o jornal não ter feitos perguntas do interesse dos seus leitores.

    Na minha opinião, aquilo não foi entrevista, mas sim mero exercício de politicagem midiática.

    FrancoAtirador

    .
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    Caro RC.

    Há os que não são integrantes da elite de direita,

    mas que são elitistas e desejam fazer parte dela.

    “Explorados que sonham em ser exploradores,
    não sonham em acabar com a exploração,
    pois sua verdadeira pátria é o dinheiro.”
    .
    .

    Paulo

    Engraçado seu comentário dizendo que nós não convivemos bem com a divergência…
    Eu sempre acompanho viomundo, e nunca vi um comentário seu que não fosse “divergente” da opinião do site. O viomundo pública seus comentários, acho que na íntegra ou sem adulterações. Agora, quando expressei minha opinião no blog do Reinaldo Azevedo, eles não deixaram de públicar, ao contrário, publicaram em negrito, mas com outros dizeres… Agora meu nome está lá, nos comentários do blog, apoiando aquela criatura… Nunca mais comento nada lá, porque vcs são parciais e jogam sujo. Vcs não aceitam divergências…

    Conceição Lemes

    Paulo, no Viomundo não editamos os comentários. Publicamos na íntegra, tal como os leitores postam. abs

    Abel

    “Vocês convivem mal com a divergência”. Onde foi mesmo que eu ouvi isso antes? Ah, numa entrevista do Marcelo Madureira, o “comunista arrependido”. Ele afirma que no Brasil há uma “ditadura da maioria”, que impõe a sua opinião e não convive com quem é diferente. Mas, não levem o Madureira (e quem acredita nele) a sério – independentemente dele ser ou não um comediante: também que afirmou que, na maior parte do tempo, a sua idade mental é de 13 ou 14 anos…

    JOTACE

    Caro Willian, quais são os aspectos positivos da candidatura de Capriles?

Murdok

Vai perder mais uma por meter o nariz aonde não foi chamada.

Moacir Moreira

O Sistema Veja-Globo patrocinado pelo crime organizado internacional vai ter que reciclar suas táticas ou morrer.

Todo império um dia vai abaixo.

Rogerio

E o Paulo Bernardo, se fosse venezuelano, em quem iria votar esse traíra, empregadinho da Folha e cria, agora elogiada, da Globo? Quem gosta dele é a Camargo Correa que deu prá mulher dele nada menos do que 28% de tudo que aplicou nas campanhas eleitorais de 2008, segundo o TSE. Investigue as doações a essa senhora Gleisi, Azenha…Você descobrirá porque, na casa do PauloBernardo, moram DOIS MINISTROS DE UMA Só VEZ!

Francisco

A Folha é irrelevante nas eleições venezuelanas e cada dia mais irrelevante nas eleições brasileiras.

O problema é que esperneia contra o inexorável: a alfabetização crscente…

lulipe

Realmente, a Folha será decisiva nas eleições da Venezuela…

    RicardãoCarioca

    A direita em geral, da grande mídia a comentaristas opositores, realmente adoram perder seus tempos.

    lulipe

    E vocês sempre preocupados, não???

Francisco Mattos

Avisa aí pra folha que quem vota na Venezuela é o povo venezuelano! Então “me cago” para a Folha e a elite ppaulista que a lê. O povo venezuelano está com a revolução bolivariana, esta com Chavez e vota Maduro!

    Edson Flores

    Ótima resposta ! Não tem que ficar dando trela pra “Rolha de São Paulo” e seus leitores do “Cansei”.
    A resposta para a “Rolha” e seus “colonistas” é: “Me cago, me cago todo” !!!!

    JOTACE

    Caro Edson Flores,

    Não posso conter o riso com o seu comentário e o do Francisco Mattos…Na incontida e justa revolta contra o palangrismo da Folha, parecem até que vocês saltaram das páginas de uma obra de Hemingway. Nela, “Por Quem os Sinos Dobram”, alguns personagens usavam e abusavam desse jeito de falar, comum àqueles em que ‘la sangre” corre nas veias… Fraternal abraço,Jotace

Fabio Passos

O que mais incomoda o jornaleco do frias e o restante do PiG sao os exemplos positivos deixados por Hugo Chavez.
Incusive a quebra do monopolio da informacao.

Pafúncio Brasileiro

As mesmas questões de mau jornalismo da Foia aconteceu na entrevista com o José Dirceu. Lá a Mônica Bergamo (a mesma) e o Fernando Rodrigues (segundo o Wikileaks, fonte dos americanos)tentaram jogar as mesmas “cascas de banana” nas respostas dos Zé Dirceu (ele mentiu ? O Sr. afirma então que ….) . Se deram mal, O Zé Dirceu não entrou nas entrelinhas deles. Estes pseudos jornalistas estão ficando cada vez mais desmoralizados.

Marcus Vinícius

Para tentar golpear a Venezuela, até elogiam Lula…lixos hipócritas.

willian

Já na blogosfera impera a isenção.

    RicardãoCarioca

    Falou o exemplo-mor.

    Paulo

    Estamos jogando o jogo com as regras da velha mídia. O “outro ponto de vista” a população já tem. Enquanto a Globo sozinha consegue atingir milhões com a parcialidade dela, alguns de nós só consegue alguns milhares. Não estamos em pé de igualdade. Eu posso chamar a atenção de meu filho e continuarei amando-o,não vou querer “trocar” de filho. Agora se demonstrarmos rusgas com Maduro (as mesmas que a folha dá enfoque) o alienado político vai dizer: ‘o pig tem razão’. Nós, da blogosfera, temos o dever de mostrar o outro lado da história aos alienados políticos.

Marco

Nada se aproveita da vassalagem gratuita.Puxam saco pelo simples prazer,sem nenhuma retribuição.Cabe utilizar,para denuncia-los,instrumentos colocados à disposição de internautas,através das redes sociais,e procurar modos de publicismos,além dos blogs.

H. Back™

É sempre a mesma tática. A tática Goebbels de propaganda usada pelos nazistas. Uma mentira dita várias vezes, é quase certo que acabará como uma verdade.

Uélintom

Cara, no fundo é o mesmo problema com o Chaves: a cor da pele incomoda. Ou qualquer outro signo/emblema de procedência não chancelada pela aristocracia: sotaque, pele preta, pele vermelha, jargão…

    Fabio Passos

    Sem duvida.
    A “elite” branca e rica despreza o proprio povo.

    Alemao

    É, os cabelos loiros e olhos azuis de Caprilles o fazem um melhor representante dazeliti.

    Roberto Locatelli

    Os jornais venezuelanos chamavam Chávez de “macaco”. Nunca o perdoaram por ele não ser branco.

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