Ignacio Delgado, sobre a crise econômica: Complicado com Dilma, retrocesso total sem ela

Tempo de leitura: 4 min

Captura de Tela 2015-08-13 às 21.32.17QUATRO RAZÕES PARA LUTAR CONTRA O GOLPE, APESAR DA POLÍTICA ECONÔMICA

por Ignacio Delgado, especial para o Viomundo

1. Defesa da democracia.

Com todos os seus problemas, a ordem democrática em vigor é uma conquista do povo brasileiro, que contou com participação fundamental dos trabalhadores e suas lutas. Um de seus fundamentos é a constituição de governos através da vontade manifesta nas urnas. Derrubar governos na esteira de fenômenos transitórios como índices de popularidade acentua a instabilidade das regras democráticas e anula o processo eleitoral como elemento chave da expressão da soberania popular. Não há fundamento constitucional para o processo de impedimento de Dilma. A revanche dos derrotados e a insatisfação momentânea não o justificam.

Coonestar com isso, na expectativa de favorecer a afirmação de qualquer interesse, ainda que, ilusoriamente, o dos trabalhadores, é abrir espaço para a contestação recorrente dos resultados eleitorais. Dada a concentração oligopólica da mídia e de suas afinidades com a direita, a tendência é que tais contestações se dirijam a governantes alinhados com forças políticas nacionalistas e/ou de esquerda.

Evocar o exemplo de Collor é impróprio. O processo de impedimento de Collor foi desencadeado pelo depoimento do irmão e de um funcionário de sua residência, que alegavam ter presenciado ações para benefício pessoal e de familiares do “caçador de marajás”. Foi rifado por ser um outsider, que se elegeu dado o cenário bonapartista criado com o risco da eleição de Lula, em 1989, num quadro de fragmentação da direita. Não tinha laços orgânicos com as elites econômicas e as forças políticas conservadoras.

2. Preservar o marco regulatório do Pré-Sal.

O quadro no Congresso já é difícil para deter a ofensiva entreguista. Com Dilma, ainda resta o veto do presidente.

Num governo Temer ou Aécio (na hipótese de impugnação da chapa Dilma-Temer pelo TSE, seguida de novas eleições), restará apenas a resistência dos movimentos sociais. A defesa do Pré-Sal, contudo, não é um tema capaz de garantir uma vontade férrea e intransponível, num ambiente de desmoralização do PT, de realinhamento da mídia e de ampla sustentação conservadora do novo governo.

O atual marco regulatório institui o sistema de partilha, define a Petrobrás como operadora única do Pré-Sal e estabelece a obrigatoriedade de sua presença em 30% das explorações, garantindo ao país o controle sobre a mais importante reserva de petróleo recentemente descoberta no mundo. Sua eliminação redundará em perda de recursos para a educação e enfraquecerá a Petrobrás, um instrumento decisivo de política industrial e de inovação, através da política de conteúdo nacional e do investimento em novas energias.

3.Assegurar os direitos do trabalho e o ambiente para que a retomada do crescimento mire a inovação e não a redução do custo do trabalho.

As medidas do ajuste fiscal que alcançaram o seguro-desemprego, o abono salarial e a previdência, conquanto controversas, afetam políticas compensatórias, em meio a preocupações fiscais, mas não propriamente o custo do trabalho. Na década de 1990 sua redução era pedida pelos empresários para compensar a abertura da economia, como se fosse possível buscar a competitividade das empresas com o trabalho barato no Brasil, um país que já completou sua transição rural-urbana e não dispõe dos reservatórios de força de trabalho de países como a China e a Índia, que a vivenciam hoje.

Nos governos de Lula e Dilma, políticas como a elevação do salário mínimo miravam um novo arranjo, em que a elevação dos rendimentos do trabalho favoreceria a disposição inovadora das empresas. O câmbio sobrevalorizado e a pressão dos importados mitigou tal perspectiva. Boa parte dos problemas de Dilma com os empresários estão associados à sua coerência na preservação do arranjo inaugurado em 2003, quando vetou, em seu primeiro governo, a eliminação das multas sobre o FGTS em caso de demissão e garantiu a política de valorização do salário mínimo.

Hoje, com a desvalorização cambial é possível retomar o horizonte de retomada do crescimento com elevação da renda e estímulo à inovação. Sem Dilma fica aberta a porta para o regresso social e sequer o veto à terceirização das atividades fins restará para impedir que a redução do custo do trabalho venha a ser definido como central na política econômica.

4. Garantir a continuidade no combate à corrupção.

As direções do PT ainda devem à base partidária e aos milhões de trabalhadores que apostam nele para construir um Brasil mais justo e soberano, explicações cabais porque não foi colocado na agenda, em momentos mais favoráveis, a proposta da reforma política. Devem, ainda, operar uma profunda revisão de seu alinhamento com as práticas políticas tradicionais. Esse passo é fundamental para preservar os laços do PT com os trabalhadores que, na sua ausência, estariam condenados a mais uma longa travessia na construção de identidades políticas viáveis, em meio e enorme bombardeio conservador.

Os governos do PT, contudo, mais do que qualquer outro, favoreceram o combate à corrupção, com medidas como a criação da CGU, do Portal da Transparência e do fortalecimento e não interferência nas ações do Ministério Público e da Polícia Federal. É o escandaloso aparelhamento de segmentos desses dois por nichos vinculados à oposição, seduzidos pelo embalo da mídia, que conduziu ao cenário em que vivemos, no qual ações idênticas são tratadas de forma diferente e escândalos que atingem pessoas da oposição são acobertados, de modo a criminalizar apenas o PT e converter, numa operação fascista, o petista no novo inimigo do povo. O que esperar, todavia, dos governos da oposição e seus aliados na mídia, senão os velhos engavetamentos?

Preservar democracia, a soberania nacional, os direitos do trabalho e o combate à corrupção são motivos suficientes para lutar contra o golpe. Em meio a tal combate é justo buscar a revisão da política econômica. Ela, contudo, não pode ser motivo para a deserção ou a indolência. Complicado com Dilma. O total retrocesso sem ela.

Ignacio Godinho Delgado é professor de História e Ciência Política na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia-Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (INCT-PPED). Doutorou-se em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 1999, e foi Visiting Senior Fellow na London School of Economics and Political Science (LSE), entre 2011 e 2012.

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Comentários

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Urbano

Volto a dizer que quem criou a crise foram os fascistas da oposição ao Brasil, pois a cada tijolo posto pela Presidenta Dilma na construção da economia, aqueles derrubavam dois, por meios dos mais escroques. Quem sempre fez o custo Brasil foram os aqueles, pois tudo que construíram sempre teve, na melhor das hipóteses, um custo dobrado. A única coisa que eles conseguiram evoluir no Brasil foi a dívida pública. Houve quem pegasse certo estoque de bens materiais e imateriais do Brasil e vendesse, tendo como resultado dessa negociata o determinado estoque e o caixa zerados.

FrancoAtirador

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Enquanto isso, o Bloco Monolítico do Capital Financeiro,
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que tem hoje em suas mãos a Mídia-Empresa Fascista,
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faz um Absoluto Bloqueio à Informação aos Cidadãos,
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a tal ponto que, a toda hora, a Militância aqui embaixo
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tem de esclarecer ao Povão – o que só vê TV e escuta Rádio,
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além de receber Milhares de Spams do PSDB pelo UátizÂpi –
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que a ‘Corrupção Generalizada’ não quebrou a Petrobras,
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que continua uma das Maiores Empresas (28ª) do Mundo
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e que, mesmo com o Massacre da Mídia-Empresa Falsária,
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teve Lucro de quase R$ 6 Bilhões no Primeiro Semestre;
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e está extraindo 800 Mil Barris/Dia de Petróleo no Pré-Sal
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que em pouco tempo elevou o Brasil às Primeiras Posições
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entre os Países com Maiores Reservas Provadas do Planeta.
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(http://www.petrobras.com.br/fatos-e-dados)
(http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/as-25-maiores-empresas-do-mundo)
(http://abdul-haikal.blogspot.com.br/2011/03/10-maiores-reservas-de-petroleo-do.html)
.
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Ademais, este militante aqui debaixo, relativamente informado,
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tem de explicar, com Extrema Paciência e Aplicação Didática,
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que o Aumento do Desemprego no País e que a Queda Brusca
.
na Arrecadação das Receitas da União e de Estados e Municípios,
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atualmente ocorrem por Conseqüências da Operação Lava-Jato
.
que ao indiciar os Empreiteiros – os Sócios das Empresas Nacionais
.
que atuam na Área de Construção Naval, de Sondas e Plataformas –
.
está ao mesmo tempo inviabilizando as Contratações pela Petrobras,
.
provocando à Redução das Atividades na Base Produtiva Industrial,
.
desde a Extração de Minérios, Indústria Metal-Mecânica, Siderurgia
.
até a Produção de Máquinas, Peças e Equipamentos, e o Comércio,
.
quebrando, assim, a Rede de Empregos Gerados por Subcontratações.
.
(http://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/2015/01/petrobras-reduz-investimentos-e-desacelera-ritmo-de-projetos.html)
(http://www.noticiasdemineracao.com/storyview.asp?storyID=826953825&section=Neg%F3cios&sectionsource=s1450700&aspdsc=yes)
(http://www.fiepr.org.br/fomentoedesenvolvimento/cadeiasprodutivas/uploadAddress/metalmecanico%5B19560%5D.pdf)
(http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2015/05/20/internas_economia,649376/freio-nas-usinas.shtml)
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Matéria Ilustrativa
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16/04 às 19h36 – Atualizada em 05/05 às 15h31
Jornal do Brasil
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Crise no Sul Fluminense: Volta Redonda enfrenta queda na atividade econômica
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Reportagem: Pamela Mascarenhas
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Volta Redonda, a 134 km da capital do Rio de Janeiro,
é mais uma das cidades do Sul Fluminense que vem sofrendo uma crise.
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A Prefeitura, que assistiu recentemente ao TSE
cassar o mandato do então prefeito,
Antônio Francisco Neto [PMDB-do Cunha-RJ],
enfrenta Quedas na Arrecadação de ISS, de ICMS
e nos Repasses de Royalties de Petróleo.
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Além disso, sente o reflexo da situação de cidades vizinhas
que têm forte presença da indústria de automóveis,
também em crise.
.
Para completar, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), instalada no município,
lida com problemas devido principalmente à queda dos preços do minério de ferro.
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Com a redução na atividade econômica, as dificuldades chegam ao mercado de trabalho.
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Em uma praça na região central,
desempregados se reúnem todas as manhãs
em busca de contatos.
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“Já não tem mais onde colocar currículo”,
comentou um dos que estavam na praça
quando o JB visitou o local.
.
O Jornal do Brasil esteve com uma equipe de reportagem
em municípios da região Sul Fluminense na última semana,
para conversar com trabalhadores, empresários, prefeitos
e especialistas sobre os efeitos da crise.
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Confira a terceira reportagem da série.
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Numa Praça historicamente usada
como Ponto de Encontro
de Desempregados em Busca de Contatos,
a maioria deles aceitava conversar
apenas em off com a reportagem.
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“Eu tenho um nome a zelar aqui em Volta Redonda,
não posso aparecer dizendo que estou passando fome”,
disse um deles.
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Segundo ele, os trabalhadores “não têm mais onde colocar currículo”.
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Mecânico, ele foi demitido em janeiro da empresa que trabalhava há um ano e nove meses,
devido à crise.
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“O desemprego está muito grande.
Essa turma que você vê aí tudo (sic) está correndo atrás de emprego,
fora os que que não vêm aqui na praça, colega da gente,
que a gente sabe que está desempregado e não vêm aqui”,
comentou Adeir Cruz de Gregório, encanador industrial,
nascido e criado em Volta Redonda.
.
Antigamente, ele contou, empregadores recrutavam pessoas
na própria praça, o que não acontece mais.
.
Adeir estava trabalhando em Itaboraí, na área do COMPERJ,
e foi demitido em janeiro.
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A praça em Volta Redonda, que ficava lotada
em tempos de Fernando Henrique Cardoso
e Fernando Collor de Mello, explicou,
foi esvaziada nos últimos anos
com os governos e Lula e Dilma,
mas voltou a ficar cheia
com a crise criada com a Petrobras.
.
“O Governo do Lula e da Dilma, para Trabalho, foi o Melhor.
No Governo Fernando Henrique, isso aqui ficava Lotado.
Do Collor, ficava Lotado.
Mas agora, que veio essa roubalheira aí [SIC],
as coisas estão só piorando”,
destacou Adeir.
.
“Em Volta Redonda não tem emprego,
a gente tem que sair para trabalhar fora”,
completou.
.
Outro que estava na praça
e trabalhava no COMPERJ
era Evandro, de 31 anos.
.
“Eu só saí porque a crise da Petrobras
mandou todo mundo embora lá do Comperj”,
contou.
.
Ruan Felipe de Oliveira, da construção civil, está desempregado há dois meses.
.
No ano passado, quando também perdeu o empregado,
demorou apenas uma semana para encontrar outra vaga.
.
“Está piorando cada vez mais. Não tem emprego para nada.
Todo dia acordo de manhã cedo e não aparece nada.”
.
Outro que estava na praça, e não quis se identificar, está desempregado desde janeiro.
.
“Eu que pedi para sair, só que eu saí numa péssima hora.
.
No Comércio, a Cidade percebe uma Redução do Consumo
e de Investimentos por parte dos Empresários…
.
(http://www.jb.com.br/economia/noticias/2015/04/16/crise-no-sul-fluminense-volta-redonda-enfrenta-queda-na-atividade-economica)
.
.
Some-se aos Fatos a Queda do Preço do Petróleo no Mercado Internacional,
.
o Recente Choque Cambial Interno na Economia, que já estava se dolarizando,
.
e o Plano Marinécio que, Sem Aviso ao Povo, aplicou um Tarifaço Energético
.
e embarcou a Taxa de Juros numa Sonda da NASA Rumo ao Espaço Sideral,
.
e tem-se a Receita do Mote Midiático: ‘Culpa da Dilma e dos Petralhas do Lula’.
.
.

Julio Silveira

Francamente, a politica economica do governo foi um estelionato, e só me conformo com ela por que sei que a razão para sua existencia foi ser o recurso necessário como consequencia uma fraude articulada por setores poderosos que atuam a decadas no país, para fragilizar todo e qualquer governo progressista, num maior ou menor nivel. Aliás, prá mim isso sim muito mais grave, por que praticada de forma rotineira pela direita, em movimentos orquestrado para fragilizar do governo de diversas formas, e o estado como consequencia, numa luta politica pelo cofre e ao poder que ele conduz. As circunstancias, portanto, criaram a necessidade. Para bom brasileiro, atento, a intenção esteve clara desde o inicio, levar o governo a fazer a politica economica que fez, e com isso lucrar em duas frentes, a primeira os beneficios da concentração de renda, que esse tipo de politica economica propicia, e segundo a covarde argumentação acusadora ao governo de estar praticando uma politica que disse não iria fazer, o que é verdade, mas numa mostra de cafagestagem e canalhice, usando a parte do povo que sofre as consequencias dessa politica e suas verdadeiras vitimas, como se deles fossem parte, e não como se estivessem se beneficiando com as consequências. Fazem da maioria da cidadania ferramenta, querem passar uma empatia que inumeras vezes ficou patente que não possuem com essa parte da cidadania. Já o governo do PT,nesse interim, merece receber credito de confiança, tem credito com a maioria.

    Lukas

    “…a razão para sua existencia foi ser o recurso necessário como consequencia uma fraude articulada por setores poderosos que atuam a decadas no país, para fragilizar todo e qualquer governo progressista, num maior ou menor nivel.”

    Pelo que você nos permitiu entender, a culpa das medidas de ajuste econômico do governo de esquerda também é da direita? É isto?

    Julio Silveira

    Sem sombra de duvidas. O problema foi ter um partido que cresceu e virou governo se dizendo esquerda, e depois ter se acertado com a direita para ser governo e governar nos seus mildes. Isso foi o início da fragilização, inclusive perante as pessoas que rejeitam a direita escrota, que sempre esteve a frente do poder do país manipulando o povo e as instituições devido a construção cultural que lhe deu os meios. Ficaram vulneraveis, e ao sabor das manobras do detentores reais do poder, os que se escondem atrás desses grandes grupos manipuladores que não correm riscos eleitorais, e até recentemente nem de desgastes. Mas as coisas estão mudando, as pessoas com mais que dois neurônios estão percebendo essa turma que diz fazer parte do povo, os tem na verdade na ponta da correia, dizem. na verdade, para ganhar a simpatia popular, a empatia, mas seus interesses são completamente diferentes. Classes sociais completamente diferentes, interesses e necessidades completamente diferentes da maioria. Só os tolos ainda acham que é tudo igual.

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