Grupo Tortura Nunca Mais/RJ homenageia Gonzaguinha, Brizola e movimento BDS com Medalha Chico Mendes de Resistência

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Entre os homenageados com a 36ª Medalha Chico Mendes de Resistência, estão: na parte superior, in memoriam, Leonel Brizola, Gonzaguinha, Norberto Nehring e Ranúsia Alves Rodrigues. Embaixo, três sobreviventes/resistentes: Pastor Mozart Noronha, Wellington Marcelino Romana e Maria Criseide Silva. Foto: Reprodução

Por Conceição Lemes

Em 31 de março de 1989, o Exército concedeu a sua mais alta comenda, a Medalha do Pacificador, a militares e civis que participaram ativamente dos órgãos de repressão na ditadura, inclusive torturadores.

A cerimônia foi realizada em conhecido centro de torturas na cidade do Rio de Janeiro: o antigo prédio do 1º Batalhão da Polícia do Exército, na rua Barão de Mesquita, 425, no bairro da Tijuca. 

Fachada do Quartel do 1º Batalhão da Polícia do Exército, na Tijuca, Rio de Janeiro. Aí, funcionava a sede do Doi-Codi/RJ, conhecido centro de torturas. Foto: Exército

Indignado com tamanho acinte, em resposta, o Grupo Tortura Nunca Mais/Rio de Janeiro (GTNM/RJ) decidiu criar a sua própria medalha, para homenagear pessoas e entidades que tenham se destacado nas lutas de resistência, na defesa dos direitos humanos e no combate a qualquer tipo de ditadura, violência e tortura.

Chico Mendes — trabalhador do campo e conhecido ativista das lutas populares pela floresta Amazônica –, havia sido assassinado poucos meses antes, em 22 de dezembro de 1988.

Para homenageá-lo, o Grupo Tortura Nunca Mais/RJ decidiu, então, dar o nome dele à medalha.  

Desde 1989, todo ano, 10 pessoas ou entidades, de diferentes categorias, são homenageadas com a Medalha de Resistência Chico Mendes.

Hoje, 1º de abril, acontece no Rio a entrega da 36ª Medalha Chico Mendes de Resistência.

A solenidade será às 18h no auditório da Faculdade Nacional de Direito/UFRJ, rua Moncorvo, Centro, conhecido como Largo do CACO, local de memória da resistência nas primeiras horas do golpe.

Os homenageados de 2024 foram escolhidos pelo GTNM/RJ e mais 12 entidades parceiras (veja quais no card abaixo).

São estes:

Boycott, Desinvestment, Sanction (BDS) & Stop te Wall (Boicote, Desenvestimento, Sanções & Pare o Muro) — Movimentos internacionais de apoio à resistência palestina 

Gonzaguinha (in memoriam) — Cantor e compositor, importante voz uma importante voz da resistência à ditadura no Brasil

Histórias Desobedientes — Coletivo composto por filhos e familiares de genocidas argentinos e críticos da última ditadura cívico-militar da Argentina. 

Leonel Brizola (in memoriam) —Histórico político trabalhista, único governador de dois estados (Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro) e fundador do PDT.

Maria Criseide da Silva e Wellington Marcelino Romana — Lutadores por moradia, terra e direitos humanos em Minas Gerais.

Norberto Nehring (in memoriam) — Economista, militante da ALN, preso, torturado e assassinado no Dops/SP, em 1970.

Pastor Mozart Noronha — Resistente e solidário desde os tempos da ditadura, foi forçado a se exilar.

Quilombolas do Sapê do Norte — 32 quilombos no Espírito Santo ainda hoje ameaçados pelas Forças Armadas e o Grupo Suzano/SA.

Ranúsia Alves Rodrigues (in memorian)  — Militante do PCBR assassinada pela ditadura militar, em 1973.

O Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania, de BH/MG, é uma das entidades parceiras do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ nessa homenagem em 2024, quando o golpe que instaurou a ditadura militar no Brasil completa 60 anos.

“Vemos persistir e avançar os genocídios, o racismo, a violência de gênero, a exploração, a destruição da natureza e as mais diversas formas de opressão que estruturam o capitalismo e nossas histórias desde o processo colonial”, afirma Heloisa Greco, a Bizoka, que é como todo mundo conhece a filha da histórica militante de defesa dos direitos humanos, Helena Greco. 

”Nossas homenagens são denúncias e comemorações das vidas de resistência e re-existências que não deixam a pesada borracha do Estado apagar as tradições vivas e as memórias do que somos apesar e à despeito das violência”, completa Bizoca.

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Zé Maria

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DOM PAULO EVARISTO ARNS E O CULTO ECUMÊNICO
EM MEMÓRIA DO JORNALISTA VLADIMIR HERZOG

TORTURADO POR AGENTES DA DITADURA MILITAR
E ASSASSINADO NA PRISÃO DO DOI-CODI EM SP

A ‘versão’ apresentada à época pela Ditadura Militar
foi a de que Herzog teria se enforcado com um cinto,
mas o cardeal não acreditou na farsa do suicídio.

Em vídeo, o cardeal da resistência à ditadura
conta como se deu a primeira manifestação
pública de repúdio ao golpe militar.

https://jornalggn.com.br/wp-content/uploads/2024/04/WhatsApp-Video-2024-04-01-at-07.28.28.mp4

[ Reportagem: Ana Gabriela Sales | Jornal GGN: (https://t.co/yQJeobqJ4d) ]

Em um vídeo (*) que passou a circular nas redes sociais nos 60 anos
do golpe militar de 1964, o arcebispo emérito de São Paulo e símbolo
de resistência, cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, revela os bastidores
do culto ecumênico em memória do jornalista Vladimir Herzog.

A celebração, que se tornara a primeira manifestação pública de repúdio
à ditadura militar, reuniu oito mil pessoas na Praça da Sé, região central
de São Paulo, em 31 de outubro de 1975.

Vladimir Herzog é uma das centenas de vítimas dos anos de chumbo.
Natural da Croácia, o jornalista naturalizou-se brasileiro.
No dia 25 de outubro daquele ano, ele foi preso nas instalações
do DOI-CODI, departamento de repressão aos opositores do regime militar, onde foi torturado e morto.

A versão dos militares apresentada à época foi a de que Herzog teria se enforcado com um cinto, mas o cardeal não acreditou na teoria do suicídio.

Segundo Dom Paulo, ao saberem do ato, cinco rabinos foram à sua casa. “Eles disseram: nós viemos aqui para que o senhor não fizesse culto ao jornalista, porque ele não foi assassinado, ele se suicidou. Aí eu disse: os senhores são rabinos e nós devemos dizer a verdade. Aquele que lavou o corpo dele, no momento em que ele descobriu os ferimentos e a tortura, avisou aos senhores e até foi ameaçado de morte pelos soldados“, contou. “Aí então eles disseram: o senhor sabe tudo. [E eu disse]: sei”, acrescentou o cardeal.

A partir disso, os rabinos teriam percebido que Dom Paulo não desistiria do ato e o mais jovem deles, o rabino Sobel, se levantou e afirmou que estaria presente na celebração e faria uma alocução ao povo se o cardeal confirmasse que iria presidir a sessão, como ocorreu.

Ainda, segundo o cardeal, cerca de 500 policiais estariam em torno da praça, sob a promessa de que se houvesse protesto “metralhariam a população”. Os rabinos manifestaram preocupação sobre isso, mas foram tranquilizados.

“Nós temos em cada janela um jornalista, dois ou três fotógrafos, que estão ali para fotografar de onde sai o tiro. Então, os rabinos não sabiam mais o que responder (…) Eu nunca ia pedir [que a população] gritasse qualquer coisa [contra os militares], mas sim que rezassem comigo”, disse.

“Quando eu entrei na Catedral e vi que não havia lugar nem para um fósforo, tanta gente e gente comovida, chorando, a frente de uma pessoa tão querida na cidade, estimada na cidade, quando eu vi isso eu me enchi de esperança em favor do povo brasileiro”, completou Dom Paulo.

https://twitter.com/JornalGGN/status/1774826761122992630

https://jornalggn.com.br/ditadura/dom-paulo-evaristo-arns-e-o-culto-ecumenico-em-memoria-de-herzog/

Zé Maria

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Autocrítica Histórica de Esquerda

(A Única Razoável e Oportuna):

“BRIZOLA TINHA RAZÃO!”

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