Fundação Perseu Abramo lança nos 60 anos do golpe curta-metragem baseado na autobiografia de Wladimir Pomar

Tempo de leitura: 5 min
O documentário ''O nome da vida" baseia-se na autobiografia do militante comunista Wladimir Pomar (1936-2023). A ilustradora e animadora Amanda Pomar, sua neta, é a diretora do filme

Nos anos 1980, Wladimir Pomar filiou-se ao PT, tendo feito parte da executiva nacional do partido e coordenado a campanha Lula Presidente de 1989

Por Conceição Lemes

Nos próximos dias, acontecerão em todo o País mais de 100 atividades para marcar os 60 anos do golpe de 1964, que deu início à ditadura militar.

A Fundação Perseu Abramo, em São Paulo capital, sedia uma delas.

Neste domingo, 31 de março, acolhe a estreia o documentário O nome da vida, curta-metragem baseado na autobiografia do militante comunista Wladimir Pomar, sobrevivente da operação militar que ficou conhecida como o Massacre da Lapa, em 1976.

A direção é de Amanda Pomar, neta de Wladimir Pomar.

Formada em Artes e Cinema pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), ela atua como ilustradora.

Hoje, são duas sessões.

A primeira foi às 16h. A segunda é às 19h.

Amanhã, 1 de abril, haverá mais uma sessão às 19h.

A Fundação Perseu Abramo fica à rua Francisco Cruz 234, perto da estação Vila Mariana do metrô paulistano.

MASSACRE DA LAPA

O Governo Geisel ostentava um discurso moderado, prometendo a transição democrática.

Na prática, porém, continuava a perseguir os opositores do regime militar.

Uma das provas foi o chamado Massacre da Lapa, na cidade de São Paulo, em dezembro de 1976.

Parte do Comitê Central do PCdoB reuniu-se clandestinamente num “aparelho’’ no bairro da Lapa, na cidade de São Paulo, para analisar a derrota da Guerrilha do Araguaia e debater novas estratégias de resistência.

Aparelho nada mais era do que uma casa comum que os militantes comunistas usavam para se encontrar, conversar.

Os partidos comunistas haviam sido banidos da vida política-partidária do Brasil.

Na madrugada de 16 de dezembro, quando o encontro estava terminando, agentes do DOI-CODI (subordinado ao Exército) e do DOPS atacaram o ”aparelho”.

A operação militar, minuciosamente planejada, terminou com três mortes: Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e João Batista Franco Drummond, todos dirigentes do PcdoB.

Os demais participantes foram perseguidos, presos e torturados, entre os quais Wladimir Pomar, filho de Pedro Pomar.

Considerado um dos últimos grandes crimes do governo militar, a chacina foi esquecida pela sociedade e minimizada até mesmo por setores da esquerda.

“No momento em que se completam 60 anos do golpe militar no Brasil, é preciso recuperar a memória dos que tombaram em defesa dos princípios da liberdade, da democracia e da justiça social, em sua correta apresentação perante o povo brasileiro, contá-la, fazê-la sobreviver’’, diz a diretora Amanda Pomar.

‘’Quatro anos de trabalho para chegar a esse objeto, o curta’’, ela conta. ‘’Como um remédio para acordar, esse trabalho foi rapinar uma história torturada do país e dos meus.”

Ao falar sobre o filme, Amanda resgata um episódio de 11 de abril de 1980, quando os restos mortais de Pedro Pomar, seu bisavó, foram trasladados de São Paulo para o Pará. Ela nem era nascida.

Na ocasião, Wladimir fez uma fala dirigida à memória do pai:

“Há, finalmente, quem diga que Pomar deixou uma herança. É verdade. Ele nos deixou o exemplo de sua vida, um legado de modéstia, de retidão de caráter, de dedicação à classe operária, ao povo e a seu partido, de amor entranhado à verdade, de aversão à vaidade e de constante alerta e combate aos próprios erros.

Há quem queira ser dono desse legado. Essa pretensão é uma afronta a meu pai, que sempre se bateu contra o exclusivismo e o espírito de seita.

A herança de Pomar, uma herança digna dos melhores revolucionários, não é patrimônio da família ou de qualquer grupo.

Ela pertence a todo o seu partido, pertence a todos os revolucionários, à classe operária e ao povo explorado e oprimido. Eu a entrego a vós”.

‘’As palavras de Wladimir para o pai, Pedro, hoje refletem o próprio Wladimir e nos leva a um entendimento sobre ele’’, diz Amanda. ”Wladimir presente, agora e sempre!”.

MILITANTE COMUNISTA DESDE OS 13 ANOS

Filho de Catarina Torres e do dirigente comunista Pedro Pomar, uma das vítimas do Massacre da Lapa, Wladimir Pomar (1936-2023) nasceu em Belém do Pará,

Em 1949, aos 13 anos, também se tornou militante do Partido Comunista.

Nos anos 1950, atuou no movimento estudantil e no movimento sindical metalúrgico.

Nos anos 1960 e 1970, foi dirigente do PCdoB. Preso em 1964, por resistir ao golpe militar, viveu na clandestinidade até ser novamente preso em 1976.

Nos anos 1980, ingressou no PT e fez parte da executiva nacional do partido, coordenando o Instituto Cajamar e a campanha Lula Presidente de 1989.

Ao longo de sua vida, Wladimir escreveu diversos livros sobre a realidade brasileira e mundial.

A autobiografia O Nome da Vida foi lançada em 2017 pela editora Página 13 e reeditada no ano seguinte pela Editora da Fundação Perseu Abramo.

FICHA TÉCNICA

Um filme Inhamis

Direção
Amanda Pomar

Roteiro
Amanda Pomar
Francis Frank

Produção Executiva
Fernanda Roque

Supervisão
Fernanda Roque
Francis Frank

Direção de Arte
Amanda Pomar

Layout e cenários
Amanda Pomar
Daniel Marques
Lucas Borges

Storyboard e animatic
Lucas Borges
Animação
Amanda Pomar
Daniel Marques
Yoná Carneiro
Rigging 2D e 3D
Daniel Marques

Produção de animação
Fernanda Roque

Direção de voz e casting
Vinícius Cristóvão

Vozes
Marcos Bavuso: Wladimir Pomar
Sandro Massafera: Pedro Pomar
Jhully Oliveira: Elza Monerat
Vinícius Cristóvão: Evaristo
Bruno Quiossa: Policial Cara Redonda
Jovan Ferreira: Policial Grandalhão
Rodrigo Machado: Policial 1
Paulo Monttero: Policial 2

Montagem
Lucas Borges

Música original e desenho de som
João Castanheira
Lucas Borges

Técnicos de som
André Poty
Ge Alvarenga
“O Que Será (A Flor da Terra)”, de Chico Buarque gentilmente cedido por Marola Edições Musicais LTDA

Intérprete
Alice Santiago

Mixagem
Ultrassom Music Ideas

Correção de cor e encode DCP
DOT Cine

Acessibilidade
CPL – Soluções em acessibilidade

Tradução
Espanhol – Carlos Alfredo Paz
Francês – Mila Frati, Matheus Vieira, Wanda Conti

**********

Agradecimentos

Wladimir Pomar, in memoriam.
Raquel Pomar, Valter Pomar, Nayara Oliveira, Pedro Pomar, Bia Pomar, Filipe Pomar, Carol Proner, Chico Buarque, Aldo Arantes, Dodora Arantes, Maria Ester Cristelli, Fernando Garcia, Jussara Cony, Osvaldo Bertolino, Raul Carrion, Cláudio Gonzalez, Ivone Novaes, Sônia Fardin, Marcella do Carmo, Alessandra Brum, Sérgio Puccini, Rosane Preciosa, Universidade Federal de Juiz de Fora e Fundação Perseu Abramo.

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Zé Maria

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“Ditadura Nunca Mais!”

“Punição para Bolsonaro e os Generais
Promotores da Intentona Golpista de 8J”

Por Milton Alves (*), no Blog do Esmael

1º de abril, há 60 anos um golpe militar derrubava o governo constitucional
do presidente João Goulart, que impulsionava um processo reformista,
com as chamadas reformas de base: agrária, urbana, bancária,
educacional, tributária, a defesa do voto para os analfabetos,
uma política exterior independente, aumentos salariais para
a classe trabalhadora e o controle da remessa de lucros.

A ditadura militar foi um regime de força e arbitrário que suprimiu os direitos
políticos e os partidos, cerceou a liberdade de imprensa, sindical e impôs a
censura cultural, acadêmica e cassou o mandato de deputados,
governadores, juízes e militares de diversas patentes.

Além disso, a partir do famigerado Ato Institucional nº 5 [AI-5]
promoveu uma implacável perseguição aos opositores do
governo militar, implantando o terror de estado — com o exílio,
o assassinato e o desaparecimento de milhares de brasileiros.

A ditadura militar foi também um regime entreguista das riquezas
nacionais, corrupto, e que promoveu uma brutal concentração
de renda.

A partir de 1974, com a vitória eleitoral do MDB e a crescente resistência
popular, o povo começou a perder o medo e enfrentar a ditadura,
que iniciou um processo lento e gradual de transição por cima, culminando
com o colégio eleitoral e a anistia para os militares e para os crimes do
regime.

O ‘fim da ditadura’ legou ainda uma herança pesada para o país, que
além de garantir a impunidade para os militares, criou mecanismos
de tutela militar e privilégios para a casta militar.

Economia
A conjuntura de intensa polarização política, registrada na última década,
demonstra um fio de continuidade entre os agentes políticos da ditadura
e os seus herdeiros promotores do golpe de 2016 contra a presidenta Dilma
Rousseff e da vitória eleitoral de Bolsonaro, em 2018, um filhote assumido
do regime militar.

Resgatar a memória desse período e exigir a punição dos golpistas,
de ontem e de hoje, é uma necessidade para fazer avançar a consciência
democrática do país e evitar novas aventuras golpistas.

A resolução do diretório nacional do Partido dos Trabalhadores (PT),
aprovada na terça-feira (26), “reforça a mobilização contra a anistia
aos golpistas, exige punição de todos que planejaram, financiaram
e organizaram a conspiração golpista e os atentados de 8 de janeiro,
sejam civis ou militares. Todos: desde seu comandante, Jair Bolsonaro,
aos generais e chefes militares golpistas, empresários e demais
envolvidos na conspiração”, diz um trecho da nota.

Punição para Bolsonaro e os Generais Golpistas
O relatório final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI),
que investigou os ataques golpistas e antidemocráticos de 8 de janeiro,
pediu o indiciamento de 61 pessoas por crimes como associação criminosa,
violência política, abolição do Estado Democrático de Direito e golpe
de Estado.

A demanda das forças democráticas e populares é pela efetiva punição
dos verdadeiros chefes políticos, organizadores e financiadores da tentativa
de golpe em 8 de janeiro.

A começar pelo indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, o principal
responsável político pelos atos golpistas — antes, durante e após o processo
eleitoral de 2022.

A CPMI do Congresso Nacional apontou as responsabilidades na intentona
golpista do ex-presidente Jair Bolsonaro e ex-ministros do seu governo,
como o general Walter Braga Neto, que foi ministro da Defesa;
o general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI);
Anderson Torres, ministro da Justiça, que elaborou a “minuta do golpe”.

Na lista constam também integrantes diversos do GSI, da Polícia Militar
do Distrito Federal, empresários rurais e diversos deputados da extrema
direita, abrigados na legenda do PL e outras da direita política.

Novos elementos foram agregados sobre a extensão do plano golpista,
com a delação e os depoimentos do ex-ajudante de ordens de Jair
Bolsonaro (PL), coronel Mauro Cid, e que em depoimento para a Polícia
Federal afirmou que o ex-presidente promoveu uma reunião com os
comandantes do Exército, Marinha e da Aeronáutica, após o resultado das
eleições presidenciais de 2022, para discutir medidas e ações de planejamento de um golpe para impedir a posse de Lula.

A delação de Mauro Cid e os recentes depoimentos dos comandantes
militares do governo bolsonarista confirmam o teor da minuta do golpe,
que supostamente contou com a assessoria do jurista Ives Gandra Martins.

No entanto, o governo do presidente Lula prossegue executando uma
política de apaziguamento e de concessões aos comandantes militares.

A decisão equivocada do governo de evitar promover eventos oficiais
sobre os 60 anos do golpe militar é uma expressão cabal dessa política.

A conduta intimidada e vacilante do governo Lula garantiu a permanência
do GSI sob controle dos generais, um trambolho antidemocrático e herança
do SNI da ditadura;
a continuidade dos nefastos CACs, que foram suspensos e voltaram
sob o controle do Exército;
o impasse sobre a instalação da Comissão de Mortos e Desaparecidos
Políticos da Ditadura, uma promessa de campanha de Lula, e que havia sido
dissolvida pelo governo Bolsonaro;
a manutenção do ministro da Defesa José Mucio, que funciona como
uma espécie de estafeta entre a caserna e o Palácio do Planalto.

Neste mesmo sentido, seguem intactos os dispositivos, como o artigo 142
da CF, que favorecem a abusiva tutela militar das Forças Armadas sobre
os destinos do país, e nada indica um esforço do atual governo para
enfrentar essa questão crucial.

Entidades democráticas da sociedade civil questionam, principalmente,
a lentidão em relação aos militares envolvidos no golpismo da extrema
direita, que até agora não sofreram nenhum tipo de punição, apesar de provas substanciais e fartas surgidas no bojo das investigações da Polícia
Federal.

A palavra de ordem “Sem Anistia” condensa o enfrentamento ao golpismo
da extrema direita neste momento e estrutura um eixo organizativo e
mobilizador para derrotarmos no terreno político, ideológico e cultural
o bolsonarismo.

“Sem Anistia” foi o apelo de milhares de brasileiros aglomerados na posse
histórica do presidente Lula, em 1º de janeiro de 2023, e, com certeza, será
ouvido novamente nas manifestações e atos convocados para este 1º de
abril, que acontecerão em diversas capitais e cidades do Brasil.

(*) Milton Alves é Pós-Graduando em Ciência Política;
Jornalista e Escritor, Autor de “Brasil Sem Máscara –
o Governo Bolsonaro e a Destruição do País” [2022]
e de “Lava Jato, uma Conspiração Contra o Brasil” [2021],
entre outras Obras.

https://www.esmaelmorais.com.br/ditadura-nunca-mais-punicao-para-bolsonaro-e-os-generais-promotores-da-intentona-golpista-de-8j-coluna-do-milton-alves/

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