Flávio Dino: Nas eleições municipais, antipolítica ganhou nas metrópoles

Tempo de leitura: 4 min

Flávio Dino - reprodução uol

Dino: Vitória significa se deslocar para o centro da sociedade, ampliar as alianças (Reprodução: UOL)

Dino: vitória da Direita não dura

Lava Jato vai determinar futuro do Governo Temer

por Paulo Henrique Amorim, no Conversa Afiada, 31/10/2016 

O ansioso blogueiro entrevistou por telefone, na segunda (31/X), o governador do Maranhão, Flavio Dino, do PCdoB, que confirmou uma ampla vitória nas eleições para prefeitos no Estado, inclusive, no segundo turno, em São Luís, com Edivaldo Holanda Jr, do PDT.

PHA: Primeiro, o que significa essa vitória em São Luís?

Dino: Duas questões fundamentais explicam essa importante vitória. Primeiro, a capacidade de gerar resultados positivos para a população — políticas públicas, obras, serviços. E, em segundo lugar, destaco uma articulação política ampla, uma ampla frente de partidos, capaz de sustentar a candidatura do Edivaldo e leva-lo à vitória. Acho que a combinação dessas duas coisas explica o sucesso que tivemos em São Luís e na imensa maioria das cidades do estado.

PHA: O senhor concorda com a tese, hoje, na manchete dos jornais principais daqui do Sul, de que houve uma guinada significativa à direita e uma vitória acachapante do PSDB?

Dino: Em primeiro lugar, é claro que houve uma guinada à direita. Não me parece duradoura, mas é significativa, sem dúvida. Acho que é típica de períodos de crise econômica muito profunda, já se estende por quase uma década, dizimando empregos e perspectivas de progresso social.

Não me parece, contudo, que você possa identificar uma força partidária como vitoriosa na eleição. Isso me parece mais torcida do que propriamente análise. Na verdade, o que nós tivemos foi a vitória de uma ideologia, hoje, hegemônica, marcada pela anti-política. E isso se traduziu, por exemplo, na vitória do absenteísmo no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, em Porto Alegre — e em São Paulo também, no primeiro turno.

Então, na verdade, nós temos mais uma hegemonia da anti-política do que, propriamente, a vitória de um único ator partidário isolado. A bem da verdade, quem perdeu a eleição foi a política.

De um modo geral, o sistema partidário da Nova República foi posto em cheque. Basta olhar que foram candidatos inorgânicos, desvinculados a essa trajetória, que venceram em São Paulo, no Rio e em Belo Horizonte.

PHA: O senhor falou que a vitória não é duradoura. O que fazer para que, em 2018, o campo de esquerda possa ganhar de novo?

Dino: É preciso uma revisão programática, olhar menos para trás e mais para a frente. Acho que seria um grande erro incorrer nessas armadilhas dos setores conservadores, que cobram uma suposta autocrítica. Acho que não é esse o esforço principal.

Na verdade, é preciso reconstituir um programa baseado nas ideias de desenvolvimento e de direitos sociais e serviços públicos. E, a partir desse programa, constituir uma frente política ampla, capaz de sustentá-lo, e de dialogar com o eleitor médio — o chamado centro político.

Quando eu me refiro ao centro, não falo do partido A, B ou C, mas, sim, ao centro na sociedade.

Esse eleitor médio que acabou optando ou por alternativas exóticas, especialmente nesse segundo turno, ou por, simplesmente, se ausentar.

É esse cidadão, é essa cidadã quem deve ser novamente atraído pela esquerda a partir de um novo programa.

PHA: O seu companheiro de partido, o ex-ministro Aldo Rebelo, e o próprio presidente Lula, com quem estive recentemente, falam que é preciso fazer um movimento em direção ao centro do espectro político. É a isso que o senhor se refere?

Dino: Não me refiro a isso em termos partidários, porque me parece que isso, hoje, é até inviável. Me refiro mais do ponto de vista da sociedade. Acho que, por uma série de razões, inclusive pelo massacre midiático pós-2013, a esquerda acabou indo muito pro canto do ringue, ficando muito até no gueto, num certo sentido, reduzida a 20% ou 25% da sociedade.

Quando eu refiro a disputar o centro, me refiro menos a partidos, a legendas partidárias, e mais ao que se passa na sociedade, em que esse eleitor, que não se identifica com a ideologia A ou B, acabou, nesta eleição — ao meu ver, em razão da crise econômica –, sendo atraído por figuras bastante esquisitas, bastante estranhas.

Ou pela ideia de que a política não é capaz de resolver seus problemas. Isso se traduz nessa enorme ausência das urnas.

Eu acho que o sistema partidário vem como uma consequência dessa compreensão, de que você precisa ter um discurso mais amplo.

Acho que a derrota dos candidatos do PSOL no segundo turno mostra que é um grande equívoco você não procurar dialogar com setores sociais mais amplos. Muito mais do que partido A ou B.

Não sei exatamente o que Lula e Aldo estão pensando, mas eu imagino que isso, uma reorganização partidária, é consequência mais de uma atitude política em relação à sociedade do que propriamente você olhar apenas pro Congresso Nacional.

PHA: O que que o senhor imagina que será o governo Temer daqui pra frente? Ele dura?

Dino: Depende de um fator imponderável na conjuntura, que ninguém domina, ninguém de dentro do sistema político institucional domina, que é a Operação Lava Jato. Acho que essa é a variável bastante poderosa pra responder essa questão, pra definir isso.

Acho, portanto, equivocada essa ideia de que houve um plebiscito em 2016 e, nesse plebiscito, o Golpe foi vitorioso. Acho que não foi nada — rigorosamente nada — disso.

Essa questão não passou na cabeça do povo na hora de votar.

Muito mais pesou a crise econômica, o desemprego, a quebra de perspectiva de melhoria da qualidade de vida do que propriamente questões pertinentes à corrupção ou Golpe ou algo do tipo.

Portanto, acho que a eleição municipal de 2016 não responde à tua pergunta. Acho que tua pergunta está muito mais vinculada ao que vai acontecer com a Operação Lava Jato — que, acho, está num momento crucial de responder, inclusive, às críticas quanto à seletividade de suas atitudes.

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Comentários

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Bernardino Souza Neto

Meu caro Mineiro,faço minhas tuas palavras,penso como você.EM toda minha vida observando a política e sou de família que a praticava,no nordeste,estou pra ver um partido tão covarde e incompetente.
O Sr. LULA queimou o filme das esquerdas brasileiras.Nem tão cedo teremos outra chance!!
Ouvi de fonte fidedigna que o Guerreiro Kirchner fazia restrições ao Lula quando das reuniões dos presidentes.Este sempre defendendo posição de não melindrar os EUA no comunicado final dos encontros!!
Treze anos no poder.Nada de reforma política,tributária e pior deixou livra a imprensa bandida e suas famiglias. A Covardia é a mãe da crueldade(Michael de montaigne).
Na Venezuela,estatística fidedigna,de cada dez pessoas,cinco são CHAVISTAS! As forças armadas estão firmes em torno da figura de Simon Bolívar e Chaves,símbolos da Nação e patriotismo.
As dificuldades econômicas são grandes,mas o preço do petróleo tende a subir a níveis de 80 doláres o Barril.Longa vida aos bolivarianos,aos Kichners e aos Correias do Equador!!!

FrancoAtirador

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O Voto foi Contra TúduÍssuQuíTaí

Dos 81 Parlamentares do Congresso Nacional

que se Candidataram ao Executivo Municipal

só 18 foram Eleitos: 14 Prefeitos e 4 Vices …

http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/politica/nacional/noticia/2016/10/31/dezoito-deputados-federais-deixarao-camara-para-assumir-prefeituras–258870.php
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    FrancoAtirador

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    https://twitter.com/twp201/status/793183845139054592
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    FrancoAtirador

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    Entretanto, Houve Notável Diferença de Percepção

    dos Eleitores das Capitais do Centro-Oeste, Sul e Sudeste,
    onde, excetuando Vitória no Estado do Espírito Santo,
    nenhum Prefeito se Reelegeu ou sequer fez o Sucessor,

    do Eleitorado das Capitais do Norte e do Nordeste,
    que só Não Reelegeram 2 dos 16 Prefeitos
    que foram Candidatos à Reeleição em 2016:
    .
    .
    CAPITAIS DO CENTRO-OESTE, SUL e SUDESTE

    Prefeitos Não Reeleitos
    CAMPO GRANDE (MS): PP
    CURITIBA (PR): PDT
    SÃO PAULO (SP): PT

    Não Fizeram Sucessor
    CUIABÁ (MT): PSB
    GOIÂNIA (GO): PT
    FLORIANÓPOLIS (SC): PSD
    PORTO ALEGRE (RS): PMDB
    BELO HORIZONTE (MG): PSB
    RIO DE JANEIRO (RJ): PMDB

    Prefeito Reeleito
    VITÓRIA (ES): PPS
    .
    .
    CAPITAIS DAS REGIÕES NORTE e NORDESTE

    Prefeitos Não Reeleitos
    PORTO VELHO (RO): PSB
    ARACAJU (SE): DEM

    Prefeitos Reeleitos
    BELÉM (PA): PSDB
    BOA VISTA (RR): PMDB
    MACAPÁ (AP): REDE
    MANAUS (AM): PSDB
    PALMAS (TO): PSD
    RIO BRANCO (AC): PT
    FORTALEZA (CE): PDT
    JOÃO PESSOA (PB): PSD
    MACEIÓ (AL): PSDB
    NATAL (RN): PDT
    RECIFE (PE): PSB
    SALVADOR (BA): DEM
    SÃO LUÍS (MA): PDT
    TEREZINA (PI): PSDB
    .
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    Significando que as Políticas Públicas e os Programas Sociais,

    Implementados pelos Governos do PT, Ainda Surtem Efeito.

    E que a Crise Econômica Atingiu Mais o Centro-Sul do País.
    .
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Mineiro

O Pt do RS do Sul ta fazendo pressão e os desgraçados que pelo jeito manda no partido não quer , que é a direção nacional. Os mesmo lacaios que ainda quer fazer o mesmo desgraçado pacto de desgovernabilidade que ainda pensam que o Lula vai ganhar pra pres. E as coisas voltariam como antes. Alguém duvida que esse Pt podre possa fazer isso de novo ?

Mineiro

Não vai durar não e quem garante que não vai ? O Brasil tá um caos , governado por uma quadrilha junto com o pig golpista mais a elite podre e o governador Maranhão vem com essa conversa. Deus ajude que não é torço lógico pra isso , mas na atual conjuntura política não muda mesmo. Com o Pt na frente aí é que não vai mesmo. Com o governador do Maranhão se tomar frente até pode mas o Pt não. Não esse Pt que está aí, porque esse Pt covarde e conivente não em 2018 eles estão achando que ganha mas não ganha. E outra coisa pior ainda , esse pt covarde que entregou o poder nas mãos dos golpistas do pmdb tá achando que vai ganhar pra pres é ainda vai o mesmo pacto com eles. O Lula tá achando e o resto podre do Pt também, por que eles querem deixar as coisas como estão.

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