
No lugar de idéias, planilhas
por Fernando Brito, do Tijolaço
Terminou em nada a entrevista coletiva do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, sobre as manifestações e também sobre as depredações ocorridas ontem em São Paulo.
Haddad, um homem inteligente, parecia embatucado por um falso dilema que os “especialistas” colocam diante dele.
Dois são, essencialmente os argumentos.
O primeiro é de que o movimento é insuflado pela direita golpista; o segundo, é de que o reajuste é tecnicamente correto, abaixo da inflação e que anulá-lo obrigaria a prefeitura a subsidiar mais os transportes.
É óbvio que ambos são verdadeiros. Mas não servem como argumentos para nortear uma decisão lúcida.
Porque a questão é política e de decidir qual será a percepção da população sobre a posição tomada.
Os episódios de ontem mostraram que é impossível manter pacíficas as manifestações, a esta altura.
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A falta de liderança definida do movimento, sua não organicidade e a composição essencialmente juvenil – não obstante estejam sendo abanados por gente com muita estrada – impedem que os grupos de provocadores sejam isolados e parem de prover a mídia do que ela quer: a imagem de cidades em chamas, de um povo revoltado, à beira de uma revolução.
Agora mesmo ouvi na Globonews um “professor de Direito Constitucional” dizendo que o que move os manifestantes é a PEC 37(!) e a não redução da maioridade penal (!!!!).
Junto veio a Cristiana Lobo com “mais uma pesquisa onde a popularidade de Dilma Rousseff cai.
Logo depois, vídeos produzidos pelos manifestantes, cantando o Hino Nacional.
Como os manifestantes correm a vaia às equipes da Globo, só apelando para os “cinegrafistas amadores”.
A isso vai-se responder como? Com uma planilha de custos das empresas de transportes? Com um discurso condenando os excessos?
A decisão é política, porque é com posicionamentos claros e objetivos que se constrói a percepção popular.
Para o povão, a questão é só uma: o preço das passagens: caras, por um serviço ruim.
Se Lula tivesse ouvido os técnicos e seguido as planilhas de Henrique Meirelles, a crise de 2008/2009 não tinha sido marolinha, tinha sido tsunami.
Agora, é Lula – que não tem cabeça de planilha, para usar a genial expressão criada por Luís Nassif – quem não está sendo ouvido.




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